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Imagem: Homem atravessando uma ponte – pinturaartistica-babu.blogspot.com |
#AOutraReflexão
#SomandoVozes
-PULA, PORRA! – uma voz.
-PULA LOGO, PORRA – outra voz.
– PULA! PULA! PERAÍ! PULA NÃO! PULA NÃO QUE MEU CELULAR DE PAU E VOU REINICIAR!
– ainda outra voz.
Pessoas rompem com o destino
e ali permanecem. Estão felizes. A rotina mata e vão matá-la presenciando uma
morte em potencial. Como de costume, foi alguém olhando e que atraiu outros.
Coitado de quem não se deixa levar pelo olhar do outro e perdeu, pensavam
alguns. Chegou um, dois, seis, dez. Formou-se uma significativa torcida não
uniformizada. Os gritos começaram tímidos e alguém possibilitou a coragem necessária
ao fazer-se ouvido. Aí foi geral mesmo.
Explico! Havia uma ponte
feita pela prefeitura que facilitava os trabalhadores irem para seus trabalhos.
Ela nasceu como um projeto de melhoria e foi abandonada. Da maquete inicial,
perdeu a beleza. Tanto que nem mais ligavam pra ela. Era uma ponte. E sua única
serventia consciente era passar no ônibus. Esse era seu uso. Talvez por isso,
numa análise rasa e despretensiosa, aquele homem calculando seus minutos finais
se tornou tão atraente. Antes era concreto e só. Ah… e a frase que alguém
escreveu há tanto tempo que perdeu a cor:
– EU AMO O AMOR!
O homem não almejava as manchetes vista sua enorme vergonha de
estar em evidência. Não tinha amor anterior (recente) para chantagear usando a
própria vida. Não tinha filhos pra chorar sua ausência, tão pouco para
destiná-los à terapia no futuro por este evento. Brigas, acusações… nada disso.
Eu sei. Me contaram depois. Sua angústia nasceu quando o teto de sua casa
arrebentou numa chuva e seus bens foram alagados por boletos. Ao realizar a
soma de teto quebrado + bens estragados + tempo dedicado à resolução +
transtorno do imprevisto, chegou ao resultado final: desemprego. Por sorte não
havia apostado as fichas no dito eleito que, até aquele momento, transitava
pela vida fazendo merda. Eis uma pequena alegria. Caso contrário, já tinha
pulado há tempos!
– NINGUÉM CHAMA A POLÍCIA,
HEIN! SE QUER MORRER, MORRE! – com o celular apontado.
– PULA LOGO! VOU PERDER O FRETADO!
– ÁGUA É 2,00! SUCO É 2,00!
No espetáculo, nasce uma
figura do lado da plateia sem ingresso. Uma senhora um tanto mais na terra que
o futuro morto. Olha a incerteza do homem e entende o tempo como terrível pra
certas decisões. Entende que querem comer aquela alma para depois cagar
numa esquina de boteco. Pacientemente cruza a multidão entre pedidos de
desculpa e licença, se aproxima dentro do que o momento autoriza e sente os
olhos do homem
visualizando cifras. Merda de papel. Arruma o lenço na cabeça, joga levemente a
bolsa pra trás e dispara:
– Pula não, seu moço. Vai que
calha de ter mais vida pra tu viver. Aí se espatifa no chão e nem se dá a
chance de um big mac pra levar todo e qualquer mal da vida. Volta!
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