* Berenice Silva
Independente das nossas posições
ou agremiações políticas, algo que nos une é a cultura maranhense
manifestada pelas diversas manifestações de rua que expressam os modos
de vida do nosso povo. Os sotaques, as “pedras de responsa”, os tambores
e os ritmos das músicas e das danças revelam a nossa criatividade e a
nossa forma de articular tradição e inovação. As pessoas na capital e no
interior bringam no “tempo de política” como chamamos o período das
disputas eleitorais, nos jogos dos campeonatos de futebol, nas eleições
nos sindicatos ou até mesmo por motivos banais.
Mas se juntam nos
arraiais, nos reisados, nas festas de santos populares, nas rodas de
tambor de crioula, nas festas de reggae, nas brincadeiras de rua no São
João e no Carnaval. Isto faz parte da nossa maranhensidade. Esta é a
nossa identidade, o nosso grande ponto de convergência e para alguns, a
nossa essência. Sinal de que somos movidos a cultura, pela música, pela
poesia, pelos ritmos. Até me dizem por aí fora que maranhense fala
cantando. Tem coisa mais bonita que alguém falar cantando? Podemos e
devemos ser e pensar diferente, mas quem não se encontra nas festas e
terreiros de Bumba-meu-boi ou na Festa de São Marçal, dia 30 de junho no
João Paulo?
Dia 09 de novembro Recife será
palco de um grande ato: a entrega do Prêmio da Ordem do Mérito da
Cultura. E este evento tem algo inédito: dois maranhenses receberão a
Comenda Ordem do Mérito da Cultura: João do Vale (In memorian), nosso
ilustre poeta popular de Pedreiras e a Profa Claudet Ribeiro, professora
reconhecida na capital, lutadora dos direitos das populações negras e
marginalizadas e atual Secretária Estadual de Igualdade Racial. Além de
maranhense, os homenageados são negros que contribuem com o
reconhecimento da população negra. Suas trajetórias são distintas,
conheço melhor a do João do Vale, como pedreirense de coração que sou.
Assim como Patrícia Galvão, a Pagu, escritora e jornalista feminista a
quem o MinC homenageia com o tema desta Condecoração em 2011, eles
contrariam a ordem “natural” das coisas. No lugar da "presdestinação" à
marginalidade como é condenada a grande maioria do povo negro, a
sabedoria, o conhecimento e a transmissão dos saberes. Claudet, mestre
do conhecimento, como professora de Geografia, referência do seu
trabalho. João do Vale, mestre das obras musicais.
Este ano a Ordem do Mérito da
Cultura contará com 51 condecorações a representantes da Cultura
brasileira, distribuídas nas categorias Grã-Cruz, que é a mais alta
graduação da Ordem, Comendador e Cavaleiro. Nesta edição 18
personalidades serão agraciadas com a Grã-Cruz, 13 com a Comendador e
cinco com a ordem Cavaleiro, além de 15 associações culturais e grupos
artísticos que receberão a comenda da Ordem do Mérito Cultural.
Instituída pelo MinC em 1995, a
OMC já concedeu mais de 500 condecorações a nomes ilustres da história e
das artes brasileiras, tais como Santos Dumont (in memoriam), Bibi
Ferreira, Ângela Maria, Cartola (in memoriam), Ana Botafogo, entre
outros. As comendas são direcionadas a um amplo universo temático, de
forma a abranger a diversidade marcante da cultura do país. Contemplam
as tradições de grupos étnicos, as expressões da cultura popular, as
artes visuais, a música, a literatura, o teatro, o cinema, o design, a
produção intelectual, entre outros segmentos que compõem o grande
espectro cultural.
Este é um ato que honra e une a
todos nós maranhenses. João do Vale saiu da do Lago da Onça, comunidade
rural de Pedreiras e ganhou o mundo, depois de passar grande parte de
sua vida no Rio de Janeiro onde chegou de pés descalços para trabalhar
como pedreiro. Como todos sabem, suas músicas foram gravadas por grandes
artistas como Chico Buarque, Amelinha, Maria Betânia, Fagner, Nara
Leão, Zé Kéti, Miúcha e muitos outros. Podemos destacar sua participação
no Show Opinião, realizado em 1964, em plena Ditadura Militar, só podia
ter sido dirigido por um insubordinado, o Augusto Boal e num celeiro de
resistência ao regime militar: o Centro Popular de Cultura da UNE, no
Rio de Janeiro.
Especialistas atribuem a João do Vale a criação do
música em duplo sentido, lembremos da pipira do Mané que besliscou na
música pipira. Podemos perceber a riqueza dos saberes tradicionais do
povo simples do campo, nas músicas Carcará, Pisa na Fulô, Asa do vento,
no canto da ema, no pé do lajeiro, Ouricuri que é também denominada o
segredo do Sertanejo e em muitas de suas canções de linguagem simples
que demonstram o potencial de um grande compositor e poeta popular.
Negro João dos pés descalços continua inspirando novos e antigos
compositores e emprestar suas composições a muitos artistas, inclusive
suas músicas foram trilhas sonoras de novelas recentes.
De Claudet Ribeiro eu posso não
conhecer tanto, mas o suficiente para saber do seu trabalho à frente da
Fundação da Cirança e do Adolescente do Maranhão e também de sua
referência como professora de geografia, inclusive mestra de grandes
poetas, como o nosso Secretário de Cultura Bulcão. Como eu não pedir
permissão para falar de Claudet Ribeiro, vou resumir ao que conheço e
testemunho da sua incansável luta em pol das coomunidades quilombolas e
da população negra do Maranhão. E espero que esses escritos suscite os
ex alunos(as) da Profa Claudet a se juntarem e elaborar uma lista de
quem foi aluno(a) da profa Claudet. Eis um desafio!
Dois mestres que merecem o reconhecimento do povo maranhense! Viva João do Vale! Parabéns à Profa Claudete!
Berenice Gomes da Silva – amante da cultura maranhense
(Bibliotecária, mestra em sociologia UnB; assessora da
Vice-governadoria/MA).
Informações sobre o evento e sobre a Comenda: http://www.cultura.gov.br/site/2011/11/05/ordem-do-merito-cultura-2011/
Sobre o show opinião: http://pt.wikipedia.org/wiki/Show_Opini%C3%A3o
Contato Riva do Vale: (098): 8871-8056
Materia copiada: http://construindoumnovomaranhao.blogspot.com/