terça-feira, 18 de julho de 2017

Bilhões de dólares gastos em armas contra a Síria. Uma rede de Tráfico de Armas implicando pelo menos 17 Países.

Por Thierry Meyssan.

Desde há sete anos, vários bilhões de dólares de armamento entraram ilegalmente na Síria; um fato que, só por si, basta para desmentir a narrativa segundo a qual esta guerra seria uma revolução interna democrática. 

Inúmeros documentos atestam que este tráfico foi organizado pelo General David Petraeus, primeiro a título público a partir da CIA da qual ele era o diretor, depois a título privado a partir da sociedade financeira KKR, com a ajuda de altos funcionários. 

Assim, o conflito, que era inicialmente uma operação imperialista dos Estados Unidos e do Reino Unido, transformou-se numa operação capitalista privada, enquanto em Washington a autoridade da Casa Branca era contestada pelo “Estado Profundo”. Novos elementos lançam luz sobre o papel secreto do Azerbaijão na evolução desta guerra.


Como é que os jihadistas de Alepo eram abastecidos com armas búlgaras ?
Quando da libertação de Alepo e da captura do estado-maior saudita que lá se encontrava, a jornalista búlgara Dilyana Gaytandzhieva constatou a presença de armas do seu país em novos armazéns abandonados pelos jihadistas. Ela anotou cuidadosamente as indicações inscritas nas caixas e, de regresso ao seu país, investigou o modo como elas haviam chegado à Síria.
Desde 2009 — com a breve exceção do período entre Março de 2013 a Novembro de 2014— a Bulgária é governada por Boiko Borissov, um personagem colorido, saído de uma das principais organizações criminosas europeias, a SIC. 
Lembremos que a Bulgária é, ao mesmo tempo, membro da OTAN e da União Europeia e que nenhuma destas organizações emitiu a mínima crítica contra a chegada ao poder de um chefe mafioso, desde há longo tempo claramente identificado pelos serviços internacionais de polícia.
Foi, pois, arriscando a sua vida de forma clara que Dilyana Gaytandzhieva rastreou a rede e que a redação do quotidiano de Sofia, Trud, publicou o seu dossiê [1]. Se a Bulgária se colocou como um dos principais exportadores de armas para a Síria, ela contou para tal com a ajuda do Azerbaijão.
Expondo o gigantesco tráfico de armas da CIA contra o Afeganistão, o Iraque, a Líbia, a Síria e a Índia.
Desde o início das Primaveras Árabes, um gigantesco tráfico de armas foi organizado pela CIA e pelo Pentágono em violação de inúmeras resoluções do Conselho de Segurança da ONU. Todas as operações que aqui vamos recapitular são ilegais à luz do Direito Internacional, nelas incluídas, bem entendido, as organizadas publicamente pelo Pentágono.
Em matéria de tráfico de armas, mesmo quando certos indivíduos ou empresas privadas servem como disfarce, é impossível exportar materiais sensíveis sem o assentimento dos governos envolvidos.
Todas as armas de que vamos falar, salvo os sistemas de espionagem electrónica, são de tipo soviético. Por definição, mesmo quando se finge que exércitos equipados com armas de tipo OTAN são os destinatários finais destes fornecimentos isso é impossível de se verificar. A referência a tais exércitos serve apenas para encobrir o tráfico.
Sabia-se já que a CIA tinha recorrido à SIC e a Boiko Borissov para fabricar, com urgência, Captagon com destino aos jiadistas na Líbia, depois na Síria. Desde a investigação de Maria Petkova, publicada na Balkan Investigative Reporting Network (BIRN), sabia-se que a CIA e o SOCOM (Special Operations Command do Pentágono) tinham comprado, para os jiadistas, armas à Bulgária por 500 milhões de dólares, entre 2011 e 2014. Depois, que outras armas foram pagas pela Arábia Saudita e pelos Emirados Árabes Unidos e transportadas pela Saudi Arabian Cargo e Etihad Cargo [2].
Segundo Krešimir Žabec do quotidiano de Zagreb Jutarnji List, no fim de 2012, a Croácia fornecia aos jiadistas sírios 230 toneladas de armas por um valor de 6,5 milhões de dólares. O envio para a Turquia foi feito por três Ilyushin da companhia Jordan International Air Cargo, sendo depois as armas lançadas de pára-quedas pelo Exército Catariano [3]. De acordo com Eric Schmitt, do The New York Times, o conjunto do dispositivo tinha sido imaginado pelo General David Petraeus, director da CIA [4].
Quando, em 2012, o Hezbolla tentou descobrir o tráfico da CIA e do SOCOM foi perpetrado um atentado contra turistas israelitas no aeroporto de Burgas, o centro nevrálgico do tráfico. Em contradição com a investigação da polícia búlgara e as conclusões do médico legista, o governo de Borisov atribuiu este crime ao Hezbolla e a União Europeia classificou a Resistência libanesa como «organização terrorista» (sic). Foi preciso esperar até à queda temporária de Borisov para que o Ministro das Relações Exteriores, Kristian Vigenine, sublinhasse que tal acusação não tinha qualquer fundamento.
Segundo uma fonte próxima do PKK, em Maio e Junho de 2014, os Serviços secretos turcos fretaram comboios (trens-br) especiais para entregar em Rakka, isto é, naquilo que era então chamado o Emirado Islâmico no Iraque e na Síria, e que é conhecido hoje como Daesh, armas ucranianas pagas pela Arábia Saudita e mais de um milhar de Toyota Hilux (pickups de cabine dupla) especialmente arranjadas para resistir às areias do deserto. De acordo com uma fonte belga, a compra dos veículos tinha sido negociada com a japonesa Toyota pela empresa saudita Abdul Latif Jameel.
Segundo Andrey Fomin da Oriental Review, o Catar, que não queria ser deixado à parte, comprou para os jiadistas à sociedade Estatal ucraniana UkrOboronProm a versão mais recente do Air Missile Defense Complex "Pechora-2D". Tendo a entrega sido concluída pela sociedade cipriota Blessway Ltd [5].
Segundo Jeremy Binnie e Neil Gibson, da revista profissional de armamento Jane’s, o US Navy Military Sealift Command (o Comando de Aprovisionamento da Marinha de Guerra dos EUA- ndT) lançou em 2015 dois concursos públicos para transportar armas do porto romeno de Constanta para o porto jordano de Aqaba. O contrato foi ganho pela Transatlantic Lines [6]. Ele foi executado logo após a assinatura do cessar-fogo por Washington, a 12 de Fevereiro, 2016, em total violação do seu compromisso.
De acordo com Pierre Balanian da Asia News, este dispositivo prosseguiu em Março 2017 com a abertura de uma linha marítima regular da companhia norte-americana Liberty Global Logistics ligando Livorno (Itália) / Aqaba (Jordânia) / Jeddah (Arábia Saudita) [7]. Segundo o geógrafo Manlio Dinucci, ela destinava-se principalmente ao fornecimento de blindados para a Síria e para o Iémene [8].
Segundo os jornalistas turcos Yörük Işık e Alper Beler, os últimos contratos da era Obama foram feitos pela Orbital ATK que organizou, via Chemring e a dinamarquesa H. Folmer & Co, uma linha regular entre Burgas (Bulgária) e Jeddah (Arábia Saudita). Pela primeira vez, fala-se aqui não apenas de armas produzidas pela Vazovski Machine Factory Building (VMZ) (Bulgária), mas também pela Tatra Defesa Industrial Ltd. (República Checa) [9].
Muitas outras operações tiveram lugar secretamente como o atestam, por exemplo, os negócios do cargueiro Lutfallah II, apresado pela marinha libanesa a 27 Abril de 2012, ou do cargueiro togolês, o Trader, apresado pela Grécia, a 1 de Março de 2016.
O total destas operações perfaz centenas de toneladas de armas e de munições, talvez milhares, sobretudo pagas pelas monarquias absolutas do Golfo, pretensamente para apoiar uma «revolução democrática». Na realidade, as petro-ditaduras só intervieram para dispensar a administração Obama de prestar contas ao Congresso dos EUA (Opération Timber Sycamore) e lhe fazer aceitar gato por lebre [10]. O decorrer de todo este tráfico foi pessoalmente controlado pelo General David Petraeus, primeiro a partir da CIA da qual ele era o director, depois desde a sociedade de aplicações financeiras KKR onde ingressou. Ele beneficiou-se da ajuda de altos funcionários, algumas vezes sob a presidência de Barack Obama, depois massivamente sob a de Donald Trump.
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O papel até agora secreto do Azerbaijão.
Segundo a antiga funcionária do FBI e fundadora da National Security Whistleblowers Coalition, Sibel Edmonds, de 1997 a 2001, o Azerbaijão do Presidente Heydar Aliyev, acolheu em Baku, a pedido da CIA, o número dois da Alcaida, Ayman al-Zawahiri. Muito embora oficialmente procurado pelo FBI, aquele que era então o número 2 da rede jihadista mundial deslocava-se regularmente por avião da OTAN para o Afeganistão, para a Albânia, para o Egito e para a Turquia. Ele era, igualmente, frequentemente visitado pelo Príncipe Bandar ben Sultan da Arábia Saudita [11].
Às suas relações de segurança com Washington e Riade, o Azerbaijão —cuja população é, portanto, sobretudo xiita— junta Ancara, a sunita, que o apoia no seu conflito contra a Arménia a propósito da secessão da República de Artsakh (Alto-Karabaque ).
À morte de Heydar Aliyev, nos Estados Unidos, em 2003, sucede-lhe o seu filho Ilham Aliyev. A Câmara de Comércio EUA-Azerbaijão torna-se a sala de manobras de Washington tendo ao lado do Presidente Aliyev, Richard Armitage, James Baker III, Zbigniew Brzeziński, Dick Cheney, Henry Kissinger, Richard Perle, Brent Scowcroft e John Sununu.
De acordo com Dilyana Gaytandzhieva, o Ministro dos Transportes, Ziya Mammadov, coloca em 2015 à disposição da CIA a companhia estatal Silk Way Airlines paga pela Arábia Saudita e pelos Emirados Árabes Unidos. O Ministro dos Negócios Estrangeiros, o muito pouco escrupuloso Elmar Mammadyarov, envia a várias das suas embaixadas pedidos de homologação de «vôos diplomáticos», o que interdita as inspeções dos mesmos segundo a Convenção de Viena. Em menos de três anos, mais de 350 vôos disporão deste privilégio extraordinário.
Muito embora segundo os tratados internacionais, nem aviões civis, nem aviões com imunidade diplomática estejam autorizados a transportar material militar, os pedidos de reconhecimento como «voos diplomáticos» fazem menção explícita das cargas transportadas. No entanto, a pedido do Departamento de Estado dos EUA, pelo menos o Afeganistão, a Alemanha, a Arábia Saudita, a Bulgária, o Congo, os Emirados Árabes Unidos, a Hungria, Israel, o Paquistão, a Polónia, a Roménia, a Sérvia, a Eslováquia, a República Checa, a Turquia e o Reino Unido irão fechar os olhos a esta violação do Direito Internacional, tal como já haviam ignorado os vôos da CIA entre as suas prisões secretas.
Em menos de três anos, a Silk Way Airlines transportou assim pelo menos US$ mil milhões (1 bilhão-br) de armas.
De forma exaustiva, a jornalista Dilyana Gaytandzhieva pôs à luz do dia um vasto sistema que aprovisiona os jihadistas não só no Iraque e na Síria, mas também no Afeganistão, no Paquistão e no Congo, sempre às custa dos Sauditas e dos Emirados. Algumas armas entregues na Arábia foram reexpedidas para a África do Sul.
As armas transportadas para o Afeganistão teriam chegado aos talibãs, sob o controle dos Estados Unidos, os quais afirmam combatê-los. As fornecidas ao Paquistão eram provavelmente destinadas a cometer atentados islamitas na Índia. Ignora-se quem são os destinatários finais das armas entregues à Guarda Republicana do Presidente Sassou Nguesso, no Congo, e à África do Sul do Presidente Jacob Zuma.
Sendo os principais negociantes as firmas norte-americanas Chemring (já citada), Culmen International, Orbital ATK (também já citada) e Purpel Shove.
Para além das armas de tipo soviético produzidos pela Bulgária, o Azerbaijão comprou, sob a responsabilidade do Ministro da Indústria de Defesa, Yavar Jamalov, stocks (estoques-br) na Sérvia, na República Checa e incidentalmente em outros Estados, sempre declarando ser o destinatário final dessas compras. Em relação aos equipamentos de espionagem eletrônica, Israel colocou à disposição a firma Elbit Systems, que simulava ser o destinatário final, não possuindo o Azerbaijão o direito de comprar este tipo de material. Estas exceções atestam que o programa do Azerbaijão, mesmo tendo sido requisitado pelos Estados Unidos e pela Arábia Saudita, era controlado, de uma ponta a outra, a partir de Telavive.
O Estado hebreu, que afirma ter permanecido neutro durante todo o conflito sírio, tem, no entanto, bombardeado repetidamente o Exército Árabe Sírio. Todas as vezes que Telavive reconheceu os fatos, pretendeu ter atacado para destruir armas destinadas ao Hezbollah libanês. Na realidade, todas essas operações, salvo talvez uma, foram coordenadas com os jihadistas. Sabe-se, pois, hoje em dia que Telavive estava supervisionando a entrega de armas a esses mesmos jihadistas de tal modo que, se Israel parecia contentar-se em utilizar a sua Força Aérea para os apoiar, de fato jogava um papel central no desenrolar da guerra.
Segundo as convenções internacionais a falsificação de certificados de fornecimento final e o envio de armas para grupos mercenários afim de que eles derrubem governos legítimos, ou destruam Estados reconhecidos, constituem crimes internacionais.
Tradução - Alva
      
[1] “350 diplomatic flights carry weapons for terrorists” («350 vôos diplomáticos carregando armas para terroristas»- ndT), Dilyana Gaytandzhieva, Trud, July 2, 2017.

[2] “War Gains : Bulgarian Arms Add Fuel to Middle East Conflicts” («Proveitos de Guerra :Armas Búlgaras Somam Combustível aos Conflitos do Médio-Oriente»- ndT), Maria Petkova, Balkan Investigative Reporting Network, December 21, 2015.


[4] “In Shift, Saudis Are Said to Arm Rebels in Syria” and “Airlift To Rebels In Syria Expands With C.I.A.’S Help”, C. J. Chivers & Eric Schmitt, The New York Times, February 26 and March 25, 2013.

[5] “Qatar and Ukraine come to deliver Pechora-2D to ISIS” («O Catar e a Ucrânia, acabam de fornecer Pechora-2D ao Daesh-EI»- ndT), by Andrey Fomin, Oriental Review(Russia), Voltaire Network, 22 November 2015.

[6] “US arms shipment to Syrian rebels detailed” («Revelado em detalhe carregamento de armas dos EUA para os rebelde Sírios»- ndT), Jeremy Binnie & Neil Gibson, Jane’s, April 7th, 2016.

[7] “Jordan strengthens military presence on border with Syria and Iraq” («Jordânia reforça presença militar na fronteira com a Síria e o Iraque»- ndT), Pierre Balanian, AsiaNews, April 11, 2017.

[8] « De Camp Darby, des armes US pour la guerre contre la Syrie et le Yémen », par Manlio Dinucci, Traduction Marie-Ange Patrizio, Il Manifesto (Italie), Réseau Voltaire, 18 avril 2017.

[9] “O Pentágono prossegue os contratos de armamento dos jiadistas da era Obama”, Tradução Alva, Rede Voltaire, 30 de Maio de 2017.

[10] “U.S. Relies Heavily on Saudi Money to Support Syrian Rebels” («EUA Baseia-se Sobretudo em Dinheiro Saudita para Apoiar os Rebeldes Sírios»- ndT), Mark Mazzetti & Matt Apuzzojan, The New York Times, January 23, 2016.

[11Classified Woman. The Sibel Edmonds Story: A Memoir((«Mulher da Sombra. A História de Sibel Edmonds : Testemunho ndT) et The Lone Gladio ((«Gládio Solitária»- ndT), Sibel Edmonds. 

Investigação de massacre em presídio do Amazonas ainda não foi concluída.

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Bianca Paiva – Correspondente da Agência Brasil.

Passados mais de seis meses do massacre no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), no Amazonas, não há previsão para o encerramento das investigações, informou, em nota, a Polícia Civil do Estado. 



A rebelião de 1º de janeiro resultou na morte de 56 detentos e na fuga de 119.
“O caso é complexo e algumas centenas de pessoas já foram ouvidas desde o dia 8 de janeiro deste ano, quando começaram as apurações”, acrescenta a nota da Polícia Civil. O inquérito está em fase de oitivas e interrogatórios.
A Polícia Civil estima que pelo menos 200 detentos sejam indiciados por envolvimento nas mortes, mas ressalta que o número que “só será confirmado ao final das investigações”. Os envolvidos vão responder por homicídio, lesão corporal e constrangimento ilegal.
De acordo com dados da Secretaria Estadual de Administração Penitenciária, 43 detentos do regime fechado do Compaj continuam foragidos. Também no primeiro dia do ano, 106 internos do Instituto Penal Antônio Trindade conseguiram escapar e 71 foram recapturados. Ao todo, nas duas penitenciárias, foram 225 fugiram e 145 foram recapturados.
A Força Nacional de Segurança Pública está atuando nos presídios da capital amazonense desde 10 de janeiro. Quase 300 presos ameaçados de morte na rebelião foram transferidos pela Secretaria Estadual Segurança Pública para a Cadeia Desembargador Raimundo Vidal Pessoal, no centro de Manaus, que foi reativada emergencialmente.
No presídio também ocorreram quatro mortes de internos e fugas. Devido às condições precárias do local, no dia 15 de maio, os 162 detentos que ainda estavam na cadeia foram transferidos para um novo presídio, Centro de Detenção Provisória. A Cadeia Pública foi desativada definitivamente. O espaço tem 110 anos e foi fechado pela primeira vez em outubro de 2016 por recomendação do Conselho Nacional de Justiça.

Edição: Nádia Franco

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Suicídio. Getúlio Vargas Neto foi encontrado morto em Porto Alegre.

Assim como o avô e o pai, causa da morte de Getúlio Vargas Neto foi registrada como suicídio com um tiro; corpo do advogado de 61 anos foi encontrado na manhã desta segunda-feira (17), por uma empregada da família, em Porto Alegre; fundador do PDT, o neto de Vargas morava com o filho, que estava viajando.


Rio Grande do Sul 247 - Getúlio Dornelles Vargas Neto, neto do ex-presidente Getúlio Vargas, morreu nesta segunda-feira 17 em Porto Alegre aos 61 anos.
Fundador do PDT, o advogado foi encontrado em seu apartamento no bairro Moinhos de Vento. A Polícia Civil registrou o caso como suicídio. Ele repetiu o gesto do pai, Maneco Vargas, e do avô Getúlio Vargas, ex-presidente da República, que se mataram com um tiro no peito.
Ao lado do corpo de Vargas Neto foi encontrado um bilhete de despedida para a família. O avô também deixou uma carta, escrita antes de se matar no dia 24 de agosto de 1954, no Palácio do Catete, então sede do governo federal.
Vargas Neto atirou contra a cabeça. O corpo do advogado foi encontrado por um funcionária que trabalha para a família. A Polícia Civil não tem dúvidas de que o caso se trata de um suicídio, mas irá instaurar um inquérito e cumprir os procedimentos legais. Vargas Neto morava com um filho, que estava viajando.

Curitiba. Advogado negro é barrado em bar por ‘parecer um segurança’.

Já tem mais de 900 compartilhamentos, no Facebook, a postagem em que o advogado Juliano Trevisan conta um episódio de racismo que sofreu em um bar de Curitiba (PR). Negro e com cabelos dreadlocks, Trevisan relatou que, após um evento com outros amigos advogados na última quinta-feira (13), foi barrado na porta do “James Bar” sob a alegação de que ele seria confundido com um segurança da casa.
Juliano usava exatamente a mesma roupa da foto. “No que cheguei, o funcionário me olhou dos pés a cabeça e informou que pelo meu estilo, com ‘a roupa que estava usando eu não poderia entrar’. Olhei para minha roupa tentando entender o por que, e ele continuou ‘roupa preta gravata e tal, você vai ser confundido com segurança lá dentro, assim não pode entrar’”, relatou o advogado na rede social.
Além de advogado, Juliano é youtuber e tem um canal que trata justamente de negritude e preconceito. “Como militante, vivo expondo situações de preconceito e discriminação e os vários viés. Mas quando acontece comigo, ainda fico chocado sem ação. Me sinto humilhado”, lamentou.

O “James Bar”, por sua vez, se desculpou com Trevisan quando tomou conhecimento do caso e informou que demitiu o funcionário que barrou o advogado.
Confira, abaixo, a íntegra da postagem relatando o episódio.

A imagem pode conter: 1 pessoa, em pé, telefone, selfie, área interna e close-up

CARTA ABERTA AO JAMES BAR.
Imaginem a seguinte situação: Um homem é informado que não poderá entrar em uma casa noturna, por que não esta com roupas adequadas. 

Qual seria esta tal roupa inadequada?

A primeira imagem que viria na cabeça da maioria de vocês (e até mesmo para mim se alguém me contasse isto) seria de alguém com regata, talvez calção, talvez chinelo, talvez sem camisa e por aí vai. MAS NÃO.

O homem que cito aqui, ERA EU.

A roupa em questão, era EXATAMENTE A ROUPA DA FOTO (camisa manga curta preta, calça social, sapato marrom, e gravata preta). 

Parece brincadeira o que vou contar, mas aconteceu. 

Ontem (13/07), saindo de um evento para advogados, do qual participo da organização, combinei com amigos de ir ao James Bar, como saímos tarde do evento, resolvemos ir com a mesma roupa.

Poucos minutos após chegar e ficar na fila do James, fui abordado por um dos seguranças que me chamou para conversar com um funcionário de cargo relevante na balada.

No que cheguei, o funcionário me olhou dos pés a cabeça e informou que pelo meu estilo, com “a roupa que estava usando eu não poderia entrar”. Olhei para minha roupa tentando entender o por que, e ele continuou “roupa preta gravata e tal, você vai ser confundido com segurança lá dentro, assim não pode entrar”.

O segurança que estava do lado e tinha um rabo de cavalo ainda completou: “e não tem como você falar do seu cabelo, pois eu também tenho cabelo comprido, olha”. 

Na hora a situação me chocou tanto, que fiquei bobo. Não quis discutir, não quis “acabar com minha noite e de meus amigos”, então simplesmente falei que iria embora.

No que entrei no carro para ir embora foi que caiu a ficha.

Como militante, vivo expondo situações de preconceito e discriminação e os vários viés. Mas quando acontece comigo, ainda fico chocado sem ação. 

Me sinto humilhado, olhei mil vezes minha roupa, até entender que o problema não é minha roupa, não é meu estilo, não sou eu. E preciso sim, expor esta situação a vocês e demonstrar qual grave ela é, e o que ela representa socialmente falando nos dias de hoje.

“parecendo um segurança” 

Conheço várias pessoas que vão lá de camisa e gravata e nem por isso foram barradas. A verdade mesmo é que, por mais que estivesse parecendo com segurança da casa, isto não justifica barrar entrar no local. Roupa social não é uniforme exclusivo de empresas de segurança, o que dizer de formaturas onde os seguranças estão vestidos igual aos convidados?

Esta atitude só demonstra a parcialidade do funcionário, e o amadorismo por parte da empresa de segurança, que já vem sendo notada por varias outras situações ocorridas na casa.

Pra que um problema social seja resolvido, ele primeiro deve sempre ser apontado. Isto por que parte da sociedade insiste em relutar contra as inumeras situações passadas hoje por negros, mulheres, gays e demais grupos de minoria, insistindo em dizer que o preconceito e a discriminação hoje em dia são “mimimi”.

Tenho a esperança de que um dia as casas noturnas tenham um treinamento profissional adequado para que ninguém mais passe por situações como esta e que apliquem as medidas legalmente cabíveis aos envolvidos quando ocorrerem fatos como este.

domingo, 16 de julho de 2017

Assassinato do defensor de direitos humanos Rosenildo Pereira de Almeida em meio a onda de repressão contra pessoas defensoras do direito à terra.

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Front Line Defenders.
Em 7 de julho de 2017, o defensor de direitos humanos Rosenildo Pereira de Almeida foi assassinado por agressores não identificados em Rio Maria, Pará, Brasil. 
Seu assassinato ocorreu há menos de um mês após o massacre de dez pessoas defensoras do direito à terra em 24 de maio de 2017 pela polícia paraense.
Rosenildo Pereira de Almeida era trabalhador rural e defensor do direito à terra. Ele era um dos líderes do assentamento Santa Lúcia, uma ocupação pacífica para demandar direito à terra e reforma agrária, localizado divisa da fazenda Santa Lúcia em Pau D’Arco, Pará, Brasil. O defensor de direitos humanos havia recebido previamente diversas ameaças em razão de seu trabalho. O número de ameaças aumentou, porém, após o assassinato de dez outros defensores que também faziam parte do assentamento, em razão de disputas pela terra, em 24 de maio de 2017.
Em 7 de julho de 2017, Rosenildo Pereira de Almeida fugiu do assentamento Santa Lúcia quando percebeu que estava sendo vigiado por indivíduos não identificados. O defensor de direitos humanos buscou refúgio em Rio Maria, a 60km de distância. No mesmo dia, no período da noite, dois agressores não identificados, em uma motocicleta, atiraram e mataram Rosenildo Pereira de Almeida, enquanto ele estava saindo de uma igreja em Rio Maria, Pará, Brasil.
Na manhã de 24 de maio de 2017, um grupo de 25 trabalhadores sem-terra decidiu reocupar a fazenda Santa Lúcia, localizada no município de Pau D’Arco, no sul do Pará. Um grande número de outros trabalhadores rurais pretendia se juntar aos demais, porém o veículo contratado por eles para o transporte quebrou e eles não puderam alcançar o local a tempo. O grupo de 25 trabalhadores decidiu estabelecer um acampamento temporário na mata, a 300 metros de distância da sede da fazenda. Por volta de 6:30am., na mesma manhã, quatro veículos policiais chegaram ao local e os trabalhadores sem-terra resolveram fugir para a mata densa próxima. Os policiais perseguiram o grupo na mata e os localizaram. De acordo com os sobreviventes, a polícia disparou contra o grupo desarmado enquanto eles se refugiavam da densa chuva em uma tenda improvisada. Diante disso, as pessoas defensoras do direito à terra Antônio Pereira Milhomem, Bruno Henrique Pereira Gomes, Hecules Santos de Oliveira, Jane Julia de Oliveira, Nelson Souza Milhomem, Ozeir Rodrigues da Silva, Regivaldo Pereira da Silva, Ronaldo Pereira de Souza, Weldson Pereira da Silva e Weclebson Pereira Milhomemforam assassinadas pela polícia.
Desde o massacre de Pau D’Arco, a Polícia Federal foi designada para investigar o caso. De acordo com o Ministério Público, que também investiga os assassinatos, trata-se de execução premeditada. Em 10 de julho de 2017, 11 policiais militares e dois policiais civis foram presos temporariamente a pedido do Ministério Público, a fim de assegurar as investigações e evitar interferência e ameaças a testemunhas.
Diversas pessoas defensoras de direitos humanos e organizações no Brasil temem que a falha das autoridades em identificar os autores e levá-los à justiça possa ameaçar a segurança de outros assentamentos e ocupações, especialmente no Pará. De acordo com a Comissão Pastoral da Terra – CPT, o assentamento Frei Henri no Pará, também conhecido como Fazedinha, o qual abriga mais de 200 famílias às margens da rodovia PA 273, é um dos mais vulneráveis. Desde 2010, as famílias lutam para que a terra seja incluída na reforma agrária. Apesar de diversas vitórias judiciais, as autoridades têm falhado em cumprir as decisões da Justiça e garantir a segurança das famílias, as quais são frequentemente ameaçadas e atacadas por fazendeiros da região.
A violência contra pessoas defensoras de direitos humanos no Brasil aumentou em pararelo à atual crise econômica e política no país. A situação traz particular preocupação uma vez que um dos primeiros atos do governo interino foi extinguir o Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos. Em 2017, após pressão de diferentes setores, o governo criou o Ministério dos Direitos Humanos, com um mandato mais restrito. Além disso, o governo também extinguiu o Ministério do Desenvolvimento Agrário e a Ouvidoria Agrária. Ademais, políticos de alto perfil no país têm feito diversas declarações negativas contra movimentos e organizações da sociedade civil, sugerindo que suas ações tem natureza criminosa. O Ministro da Justiça declarou em discursos que o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra – MST usou “táticas de guerrilha” durante os últimos protestos.
De acordo com a CPT, em 2016 foram registrados 1079 incidentes relacionados a conflitos agrários no país, um aumento vertiginoso comparado aos 771 casos registrados em 2015. No Pará, entre 1995 e 2010 registraram-se 408 incidentes e 61 pessoas assassinadas, aproximadamente 35% dos casos de todo o país. A CPT também registrou que na microrregião que engloba Pau D’Arco e arredores, de 1990 a 2017 foram reportados 72 assassinatos de pessoas defensoras do direito à terra em 39 incidentes.
O Comitê Brasileiro de Defensores e Defensoras de Direitos Humanos reportou 66 assassinatos de pessoas defensoras de direitos humanos em 2016. 32 mortes ocorreram no norte do país, a mesma região onde se localiza o Pará. A maioria ocorreu em razão de conflitos agrários. Até a presente data nesse ano, o Comitê reportou 43 assassinatos de pessoas defensoras de direitos humanos.
A Front Line Defenders condena o assassinato do defensor de direitos humanos Rosenildo Pereira de Almeira e acredita que o ato foi perpetrado somente em razão de sua defesa por direitos à terra no Brasil. A Front Line Defenders ainda expressa profunda preocupação em relação aos reiterados relatórios que apontam números crescentes de assassinatos de pessoas defensoras de direitos humanos no país.
A Front Line Defenders urge as autoridades no Brasil a:
  1. Condenarem publicamente o assassinato de Rosenildo Pereira de Almeida e assegurarem que a investigação em curso relativa a seu assassinato seja completa e imparcial, com o objetivo de levar os responsáveis à justiça de acordo com as normas internacionais;
  2. Tomarem todas as medidas necessárias para garantir a integridade física e psicológica e a segurança dos demaismembros do assentamento Santa Lúcia, bem como dos membros do assentamento Fazendinha e outras ocupações pacíficas do país;
  1.  Assegurarem que a investigação em curso sobre os assassinatos das pessoas defensoras de direitos à terraAntônio Pereira Milhomem, Bruno Henrique Pereira Gomes, Hecules Santos de Oliveira, Jane Julia de Oliveira, Nelson Souza Milhomem, Ozeir Rodrigues da Silva, Regivaldo Pereira da Silva, Ronaldo Pereira de Souza, Weldson Pereira da Silva e Weclebson Pereira Milhomem sejam completas e imparciais com o objetivo de levar os responsáveis à justiça de acordo com as normas internacionais;
  2. Tomarem medidas para garantir que funcionários do governo ou outras figuras públicas se abstenham de fazer declarações estigmatizando o legítimo trabalho das pessoas defensoras de direitos humanos no país;
  3. Garantir em todas as circunstâncias que todas as pessoas defensoras de direitos humanos no Brasil possam realizar suas legítimas atividades de direitos humanos sem medo de represálias e livres de todas as restrições.