domingo, 22 de julho de 2018

Brasil. Há 54 anos… A mais longeva ditadura de nossa história.

O jornalista Roberto Amaral compara o clima de hoje ao vivido nas vésperas do golpe de 1964, que dividiu o país e abriu espaço para a violência. “Antes da ruptura, a conflagração”, escreve.
Há 54 anos… A mais longeva ditadura de nossa história
Roberto Amaral*
Completaram-se, no último 1º de abril, 54 anos da implantação da mais longeva ditadura de nossa história, com todo o seu acervo de tragédias sociais e individuais, e profundo atraso político. Suas consequências ainda se fazem sentir, pois estão na raiz dos dramas de nossos dias, cujo desfecho não podemos divisar: em alguns momentos a ‘luz no fim do túnel’ nos enche de esperanças; noutros sugere um trem na contramão.
Lamentavelmente, os regimes autoritários e as ditaduras não são fenômenos estranhos à República, marcada por insurreições militares e golpes de Estado, manifestações exacerbadas de um autoritarismo larvar cujas fontes remontam à Colônia e ao escravismo de séculos, construtor da ideologia da casa-grande, profundamente presente em nossa vida política e em nossa vida social, e mesmo nas relações interpessoais.
A própria República é obra de um golpe de Estado construído na caserna, e sua consolidação fez-se dependente de outro golpe, sustentado pela espada de Floriano Peixoto. Assim se firmou a República oligárquico-agrária, sem povo e sem eleitores, que sobreviveria até a ‘revolução de 1930’. Antes, porém, viveria o país a insurreição de 1922 (Levante do Forte de Copacabana), e os dois 5 de julho que desembocariam na Coluna Prestes (1924).
E, na sequência de 1930, o levante paulista de 1932, o levante comunista de 1935, a implantação da ditadura do ‘Estado Novo’, o putsch integralista de 1938 e, fechando o ciclo, o golpe que detonou a ditadura e levou Vargas para seu exílio na estância Santos Reis em 1945.
É a história do ‘tenentismo’ que se estende até o regime de 1964, quando seus líderes já eram generais, almirantes e brigadeiros. No seu currículo constam ainda a deposição e suicídio de Vargas em 1954, o golpe e contragolpe de 1955, a crise de 1961 e a implantação casuística do Parlamentarismo, de vida breve. A história da República tem sido a história da preeminência dos militares sobre a política e a vida institucional.
O clima de hoje muito lembra aqueles vividos nas vésperas do golpe de 1964, dividindo o país e abrindo espaço para a violência. É sempre assim. Antes da ruptura propriamente dita, a conflagração. Os conflitos exacerbados em 1963 foram a preparação ideológica da ditadura militar.
Os anos difíceis que se instalam com as jornadas de 2013, de que se apropriou a direita com seu aparato midiático, abrem as rotas que levariam ao golpe de 2016 e à instauração do regime de exceção jurídica que não sabemos se será declarado perempto com as eleições de 2018. O precedente histórico não é animador.
Esse viés autoritário, cultivado pela casa-grande desde a Colônia, é servido à população pelos aparelhos ideológicos do Estado a serviço dos interesses de nossas elites perversas. Nesta faina destaca-se o papel dos meios de comunicação de massa, a quem se pode tributar, hoje, a maior responsabilidade pelo clima de violência que pervade a política.
Em 1964 os militares e seus associados – na política e no ‘mercado’– encerraram o ciclo da Constituição democrática de 1946, enquanto a consolidação do impeachment de 2016 declarou perempto o ciclo iniciado com a ‘Constituição cidadã’ de Ulisses Guimarães, que culminara com a ascensão e queda do lulismo.
Talvez sejam os dias correntes a boa oportunidade para tentarmos antecipar o que podem ser os tempos vindouros. As lições colhidas dos fatos que não se repetem podem orientar estratégias e corrigir táticas, principalmente quando o distanciamento histórico favorece a análise fria.
Naqueles anos hoje distantes, os anos do pré-golpe e do golpe de 1º de abril, poucos viram para além da superfície, e assim muitos ignoraram a conspiração que se desenvolvia nos subterrâneos da caserna em interlocução com a ordem econômica, o Congresso e os meios de comunicação, para logo estampar-se à luz do dia.
De outra parte, uma vez mais, a continuidade e segurança do governo popular se havia deslocado das ruas para os acordos políticos de cúpula. O povo continuava percebido como elemento tático numa estratégia que se resolveria fora das ruas.
Não obstante os elementos fornecidos pela realidade palpável, não eram poucos, então, os que transferiam da mobilização popular para o ‘dispositivo militar do general Assis Brasil’, chefe da Casa Militar de Jango, a defesa do governo, das ‘reformas de base’ e da ascensão das massas.
Nesta linha pontificava o antigo capitão Luiz Carlos Prestes, secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro.
No dia 17 de março de 1964, para uma plateia que lotava o auditório da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), o antigo Cavaleiro da Esperança, após dissertar sobre ‘a formação popular do Exército brasileiro’, anunciou, com o respaldo de sua biografia, a impossibilidade de um golpe militar no Brasil. E quando este se efetivou, muitos o viram como ‘apenas mais uma quartelada’, como as outras que haviam pontuado a República de 46. Passaria logo.
A história que se segue é conhecida.
Do golpe de 1964 muito se pode afirmar, menos a surpresa, defendido que foi abertamente pela grande imprensa, preparando sua recepção e animando as manifestações dos adversários do governo e de suas teses.
O pretenso combate à corrupção de 2013-2016 era, em 1963-1964, a denúncia de suposta corrupção e de infiltração comunista no governo João Goulart, dando conta das conspirações de toda ordem, militares e civis igualmente conjurados, e, hoje documentalmente comprovada, a arquitetura do Departamento de Estado dos EUA, para quem Goulart, se não era comunista, estava a serviço do comunismo, o que dava no mesmo, segundo Washington. Vivíamos o auge da Guerra Fria e poucos meses nos separavam da crise dos mísseis estocados em Cuba pela União Soviética, incidente que por muito pouco não nos levou ao suicídio nuclear.
A conspiração, aliás, já se iniciara e era visível desde a posse de Goulart, como em suas memórias registra sem peias o Marechal Denis, líder da trinca militar que em agosto de 1961 tentara impedir a posse do vice-presidente constitucional, chamado ao posto pela renúncia do presidente Jânio Quadros.
Hoje também já se sabe que a articulação que culminou com a deposição de Dilma Rousseff já era maquinada nos idos de 2013, a onda preparadora do levante de 2015, com sua inédita carga de violência, deixando para trás os piores momentos de 1963.
Nas duas oportunidades os golpes foram precedidos de grandes mobilizações populares e, ainda em ambos, o leitmotiv unificador da conspiração era, fundamentalmente, a resistência da casa-grande à ascensão político-econômica das grandes massas, naquela altura representada pelo varguismo, em nossos dias pelo lulismo.
Os golpes de 1964 e de 2016 guardam parentesco que precisa ser posto de manifesto. Ambos foram precedidos de mobilizações populares carregadas de atos de violência que expunham a genealogia fascista. Em 1964 importava aos seus verdadeiros formuladores algo muito além da mera deposição de Jango e esse seu caráter profundo só ficou claro aos analistas em 1965, com o Ato Institucional n. 2, baixado pelo presidente que havia jurado a Constituição e prometido defender a democracia.
O significado de 2013 não foi compreendido em seu primeiro momento, e os sismógrafos dos especialistas não perceberam o real significado do impeachment, aquele que se revelaria pelo governo que a ele se segue..
O difícil não está na identificação dos fatos expostos e vividos, mas na arte ou ciência da prospecção social, aquela que revela a realidade ainda em gestação, ou seja, a serpente ainda no ovo.
Em 1964 muitos não lograram antever o significado e os objetivos da ditadura, nem seu largo e profundo mando de 21 anos. Carlos Lacerda, sua principal voz civil, e Juscelino Kubitschek, que votaria no marechal Castello Branco, primeiro ditador, apostaram, olhando para trás, na transitoriedade do novo regime, e logo engrossariam a lista de suas vítimas.
Se não nos foi possível antever a gestação da irrupção popular de 2013, também faltou clareza à esquerda quanto a deposição da presidente Dilma Rousseff, apenas o passo necessário para defenestrar o lulismo, a grande operação de nossos dias.
O ovo da serpente, este é o título da obra-prima de Ingmar Bergman. Quem já assistiu, assista de novo. Quem ainda não o viu, corra para ver. Está no YouTube.
*Roberto Amaral é escritor e ex-ministro de Ciência e Tecnologia.

Texto publicado originalmente em 25 de abril de 2018 https://www.esmaelmorais.com.br/2018/04/ha-54-anos-a-mais-longeva-ditadura-de-nossa-historia/

sábado, 21 de julho de 2018

São Luís. Bairro da Liberdade realiza a primeira Copinha Futebol de Salão nas categorias sub-10 e sub-8.


O Bairro da Liberdade realizou a Primeira Copinha Quilombola de Futsal sub-0 e sub-8 anos, superando todas as expectativas de participação de equipes das diversas comunidades que integram a Liberdade. 

Foi uma competição festiva com a participação de dezenas de atletas e centenas de pais, que oportunizaram manifestações de torcidas e empolgaram as crianças, diz o vereador Cézar Bombeiro (PSD), destacando que o importante é que os meninos manifestavam o sentimento de competição, dentro de um contexto festivo.

A luta das equipes em busca da vitória, acabou mexendo com a sensibilidade dos pais e o resultado é que vencedores e vencidos mereceram os aplausos de todos os presentes. 

O vereador Cézar Bombeiro, que chegou a ficar bastante emocionado com as manifestações dos atletas e dos seus pais, destacou que, competições são muito importante sob o aspecto de educação e participação, numa demonstração de que acima de qualquer disputa deve prevalecer o sentimento de união de todos.

Diante do sucesso da Primeira Copinha Quilombola de Futsal sub-10 e sub-8 anos, a Escolinha CB deve participar de outras competições em outras modalidades esportivas, de acordo com informação da direção da escolinha.

As competições da Copinha Quilombola do bairro da Liberdade foram marcadas com a participação de outras categorias de idade, e que acabou premiando equipes de várias comunidades que integram o bairro da Liberdade. 

O vereador Cézar Bombeiro voltou a ser convocado pela comunidade para dar a sua colaboração nas demais competições e marcar presença para incentivar não apenas as crianças e os jovens, mas os seus familiares, para manterem todos nas práticas esportivas como educação e saúde.

Texto: Da Assessoria do Vereador

Israel declarou-se estado de apartheid.

Ver a imagem de origem

19/7/2018, Moon of Alabama.

Hoje, Israel declarou-se estado de apartheid:

“O Knesset [parlamento israelense] aprovou nessa 5ª-feira uma lei muito controversa que define Israel oficialmente como pátria nacional do povo judeu e afirma que “a realização do direito de autodeterminação em Israel é exclusivo para o povo judeu”, com 62 deputados votando a favor da nova lei, e 55 contra.
A lei do estado-nação também inclui cláusulas pelas quais uma “Jerusalém unida” é a capital de Israel; e o hebraico é idioma oficial do país. Outra cláusula diz que “o estado vê o desenvolvimento de assentamentos [são colônias (NTs)] como valor nacional e agirá para encorajar e promover o estabelecimento e a consolidação [de mais colônias].”

“A lei, que tem status de lei básica (aproximadamente o mesmo de uma lei constitucional em países que têm Constituição escrita), foi aprovada na madrugada da 5ª-feira por 62 votos a favor e 55 contra, depois de horas de discussão e debates ferozes. Entrará em vigor logo que seja publicada no Diário Oficial do Knesset.
Numa cláusula que enfureceu os deputados árabes, a lei declara explicitamente que “o direito de exercer autodeterminação nacional no Estado de Israel é exclusivo do povo judeu.”
A lei determina a segregação:
[parte da lei visa a promover o] “estabelecimento e a consolidação de assentamentos de judeus”.

Israel jamais definiu as próprias fronteiras. Apossou-se ilegalmente de toda a terra pública na Cisjordânia ocupada. Essa terra passa agora a ser garantida com exclusividade a colonos judeus: 
“Ao longo das cinco décadas de controle sobre a Cisjordânia, Israel demarcou como terra pública centenas de milhares de acres, e alocou quase metade disso para uso público. Mas apenas 400 desses acres – 0,24% do total da terra alocada até agora – foi destinada a ser usada por palestinos, segundo dados obtidos por um grupo que se opõe às colônias em terra palestina, e que recebeu informações solicitadas nos termos da lei da liberdade de informação. Cerca de 80% da população da Cisjordânia são palestinos. O grupo Peace Now disse que os demais 99,76% da terra foi entregue para uso de colonos israelenses.”

A população de árabes em Israel e territórios ocupados é igual [em números] à população de judeus israelenses. A alocação para “uso público” de terra roubada às populações nativas proprietárias legais, para uso exclusivo de imigrados judeus, já é uma de várias questões em que se confirma a discriminação por apartheid. Antes, o apartheid estava em contradição até com a lei de Israel. Agora, a criação de colônias exclusivas para judeus passa a ser exigência constitucional. A criação e a expansão acintosamente ilegais de colônias exclusivas para judeus em terra roubada dos palestinos passam a ser exigência da lei constitucional em Israel. Palestinos muçulmanos e cristãos passam agora a ter de pagar impostos para serem, eles mesmos, expropriados.

Existe povo budista? Existe povo católico? Mereceriam ganhar nação e terra exclusivas só deles, por serem budistas ou católicos? Claro que não. Até a ideia é impensável. Judeus da Etiópia, da Índia, da Lituânia, do Irã e da Polônia têm ou aspiram a alguma mesma ‘nacionalidade judaica’? Por que então constituiriam um ‘povo judeu’, nos termos do que estipula a nova lei?

É historicamente aberrante que um grupo de seres humanos que vivem em dúzias dos países da Europa Oriental passem repentinamente a se autodefinir como ‘raça única’, exclusivamente porque creem nos mesmos contos de fada religiosos. O conceito que agora é lei em Israel é o mesmo autodeclarado racismo que fermenta em governos nazistas e fascistas. A autodeclarada ‘etnicidade’ autodeclarou ‘direitos’ de posse sobre terras na Ásia Ocidental baseada em lendas sobre templos dos quais até hoje não se encontrou qualquer registro arqueológico.

Basicamente Grã-Bretanha, França e EUA são os estados que promoveram e continuam a apoiar, a favor de seus próprios interesses, esse sistema etnocrático, colonialista, imperialista e genocida.

É mais que hora de se pôr fim a essa aberração ilegal e imoral.

Traduzido por Vila Vudu.

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Psiquiatras, Capitalismo e Lava Jato.


Resultado de imagem para charge Psiquiatras

Cada vez mais a operação vai me lembrando o Manual de Desordens Mentais. Sugiro, então, incluir novas patologias — como o Transtorno de Acumulação e o messianismo jurídico.
O artigo é de Priscila Figueiredo, poeta e crítica, professora de Literatura Brasileira na USP, publicado por Outras Palavras, 12-07-2018.

Eis o artigo.

Já tinha lido algumas semanas atrás que o processo contra o reitor de Santa Catarina que se suicidou tem 817 páginas e nenhuma prova, mas a intervenção do último domingo, que acabou por impedir que se resgatasse Lula da masmorra da Polícia Federal em Curitiba, recrudesceu meu interesse pela Lava Jato e o alienista-chefe, Sérgio Moro, este que sobe nas tamancas quando descobre um petista solto sem tornozeleira. 
Embora criada a partir de um modelo italiano, a operação acabou por plasmar uma fórmula própria na síntese que fez entre a experiência local, a prisão sem o trânsito em julgado, responsável por mais de 40% da população carcerária, e o modelo europeu, cosmopolita, a operação Mani pulite, que por sua vez, na caça a políticos corruptos, também fez uso do mesmo expediente da prisão preventiva já comum entre nós. 
Como nos foi explicado antes por teoria, em 2004, o que então viria a dar base para a prática anos depois do nosso mais famoso juiz de 1ª instância: “isolamento na prisão era necessário para prevenir que suspeitos soubessem da confissão de outros (…). Não se prende com o objetivo de alcançar confissões. Prende-se quando estão presentes os pressupostos de decretação de uma prisão antes do julgamento”(1).
Mas então por que buscar lá fora o que já fazíamos? Nesse caso teria havido um “desrecalque localista”, para usar a expressão que um mestre da crítica literária entre nós cunhou ao analisar as vanguardas artísticas no Brasil dos anos 20 e aqui aplicamos para entender, feitas as adaptações necessárias, uma vanguarda jurídica: o procedimento italiano nos autorizou a usar em relação agora a outra classe de gente o que sempre fizemos com as classes socialmente inferiores, especialmente com os negros e negras pobres. Descobrimos mais uma vez a nós mesmos por meio do outro em que nos perdemos… A maneira como isso tem sido feito, porém, nos leva a perguntar se se trata de democratização do procedimento ou higienismo político por meio de uma técnica, que remonta à escravidão, de higienismo socialTalvez, e esta é uma a hipótese, pois me falta conhecimento suficiente da matéria, a operação italiana tenha procurado combater a corrupção na política enquanto a nossa, ao menos a partir de certo momento, a política, ou certos grupos políticos, através da corrupção. Ocorre que o métodos de exceção do encarceramento cautelar, já presentes no original, apenas favoreceram a mudança de patamar em que eram usados, potencializados com a produção em massa de delatores – é verdade que muitos deles liberados tão logo prestem seu serviço, pois o fim é, como disse certa vez um procurador, chegar aos peixes grandes por meio dos peixes pequenos, e talvez na verdade já se tenha, apesar de a operação continuar, chegado àquele que é o verdadeiro peixe-rei.
Cada vez mais a Lava-Jato vai me lembrando o DSM, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Desordens Mentais, que, em ampliação constante a cada edição (agora está na quinta), ameaça colocar todos atrás da grade de alguma disfunção psiquiátrica. As semelhanças espantam: ambos teriam começado a engatinhar com uma intenção razoável, depois se deformaram por completo (no caso da Lava-jato, a razão está ainda por esclarecer de modo mais satisfatório..), no caso do DSM, não só pelo falso silogismo ou pelas “piruetas lógicas”, como diz uma inteligente jornalista e médica, da teoria segundo a qual a depressão deriva de desequilíbrios químicos, como pela verdadeira luta por reconhecimento e identidade travada por profissionais de uma área em que diagnósticos sempre padeceram de ser comparativamente mais carentes de fundamentação científica em relação às demais áreas da Medicina, e essa luta acabou apenas por ser reforçada pela aliança com interesses um tanto… patológicos da indústria farmacêutica(2); um sofre de sanha punitivista e se baseia em delações; outro, de inflação diagnóstica e se serve de resultados em experimentos que teriam vindo a confirmar os pressupostos do início da pesquisa, sendo isolados e mesmo guardados a sete chaves todos os demais resultados indesejados que contrariavam as premissas iniciais (“desse modo, em vez de desenvolver um medicamento para tratar uma anormalidade, uma anormalidade foi postulada para se adequar a um medicamento”(3)); um vai fazendo réus onde lhe convém, o outro, doentes em toda parte e idade (de criança de menos de 3 anos a gente cujo luto passa do 16º dia), pois é o que lhe convém.
Mas o mais importante: ambos têm muitas convicções e poucas provas científicas, e fizeram como fazem estragos ainda insuficientemente mensurados. Aliás: como conseguiram medir que passando do 16º dia de luto a pessoa é um depressivo, em vez de supor que se trata de alguém curtindo uma tristeza não apenas justa, mas culturalmente – até bem pouco tempo atrás pelo menos – esperada? Não o é agora por quê? O luto não condiz mais com o dispositivo social? Era transgressor ou suspeito não observá-lo, como bem nos conta a figura da “viúva alegre”; agora a conduta interditada seria respeitá-lo em todas as suas fases, de modo que só me resta esperar que o interditado continue a ser tão sedutor como sempre foi. Porque faz a máquina e o trabalho 24/7 pararem por um tempinho, o velho e universal recolhimento fúnebre, praticado, sob variadas formas e rituais, no Ocidente e no Oriente, na riqueza e na pobreza, passa a ser agora quase ato de delinquente.
Há uma divertida seção no catálogo chamada Transtorno do Controle dos Impulsos Não Classificados em Outro Local… Parece capítulo do Tristam Shandy, mas também podia figurar num planeta do Pequeno Príncipe, no 1984, ou ainda em “Dr. Mabuse”, “Laranja mecânica”, “Blade Runner”, sei lá. Tenho esperança, no entanto, que o próximo DSM, que seria o DSM-6, venha a incluir entre as patologias listadas (concebidas por luminares iluministas ou futuristas) o messianismo jurídico (que poderia entrar no capítulo das manias ou psicoses). Esse manual taxionômico – que não para de crescer e, tão insatisfeito como o Fausto, não dá sinais de que vá dizer em algum momento, como o doutor no entanto esperava depois do pacto com o diabo, “detém-te, és tão belo!” – poderia se converter numa nova Enciclopédia, mas das perversões e delírios do capitalismo, as de sempre e as novas, pois, além de sugerir novas rubricas classificatórias, poderíamos aproveitar as já existentes, como o Transtorno de Acumulação.
Como poderiam ser compreendidas sob essa denominação apenas aquelas pessoas que, por exemplo, acumulam lixo ou gatos e cachorros em sua própria casa, e não aquelas que concentram, de forma inédita, aliás, propriedade fundiária, imobiliária, riqueza nacional, títulos etc.? O que é mais preocupante — ter 40 cachorros no próprio apartamento ou alguns terem metade do PIB de um país? Assim, defendo que a fúria acumulativa do poder econômico possa ser considerada da perspectiva do Manual como uma desordem psiquiátrica de gravidade extrema, pois, se não faz sofrer pais e amigos próximos (como o fazem aqueles que empilham quinquilharias e papéis velhos), que antes os estimulam, a esses entesouradores, pois muitas vezes também sofrem do mesmo distúrbio, submetem a maior parte da sociedade a uma grande provação, quando não a destroem. Evidentemente os grandes laboratórios teriam de dar o bracinho a torcer e acatar o diagnóstico no qual estariam incluídos; por alguma coerência passariam a ser ver como doentes, mas no cálculo de custo e benefício eles sairiam ganhando, pois todos os outros setores do capitalismo, inclusive o financeiro e rentista, seriam obrigados a reconhecer sua própria imagem no espelho, isto é, acatar a exposição da própria morbidez (e então se medicar) naquele que é o código dos códigos, pois o Manual é um dos únicos hoje em dia levados a sério, de alto a baixo, tendo vindo na verdade a tomar o lugar que um dia fora das Tábuas de Moisés.
A vantagem destas é que eram breves e soletradas por toda a comunidade em que passaram a ser referência, enquanto a enormidade dessa bíblia médica e o jargão de que faz uso limitam a sua difusão apenas entre os doutores da Lei, que a aplicam, no entanto, a todos que se confiam a sua sabedoria – e todos que se confiam a sua sabedoria são quase todos. Desconfio que o verdadeiro RH, ou Departamento de Recursos Humanos, do mundo do trabalho seja na verdade o DSM… Sob sua lista de desordens mentais o voluntariado do capitalismo deve ler a contrapelo uma lista de ordenamentos e regras de conduta. E é bom, além de mais produtivo, já ir adestrando as crianças.
À especulação financeira também poderia ser administrada terapia eficaz, tanto mais que o vício do jogo constitui uma compulsão há muito conhecida, ainda que agora num nível jamais concebido, como em Wall Street; esta, aliás, incluindo-se aí as agências de rating, poderia ter seus edifícios já assépticos convertidos em clínicas (devidamente gradeadas, mas onde os pacientes teriam o tratamento conveniente e, claro, humano, como sempre tem de ser, pois desumanidade também haverá de ser morbidez). Os conferencistas e quase todos os participantes do G20 em Davos poderiam ficar aí mesmo, não descer mais para a Terra, e Davos voltaria a ser o que foi no passado, uma montanha mágica para tratamento de doentes (antes de tuberculose, agora de transtornos mentais). O problema é que a tirania do DSM, mesmo desviada para fins anticapitalistas, teria também, por força da lógica, de ser descrita nosologicamente.
Esse seria o momento a que todo dialético digno do nome não pode se furtar, o momento da negação da negação, tal como, no conto “O alienista”, de Machado de Assis, o personagem-título acaba por trancafiar a si mesmo. O maníaco da classificação teria ele mesmo de se por sob tratamento, noblesse oblige, mas nessa altura já estarão devidamente isoladas da sociedade todas as forças antissociais: grandes capitalistas, jogadores do mercado, higienistas e fascistas, religiosos da estupidez, mitônomos irrefreáveis (os produtores de fake-news, os de sempre, gestados no interior da imprensa corporativa sob o comando de seus diretores e secretários de redação, e os atuais, alastrados como células terroristas). E, claro, juízes que na dúvida fazem todos réus, psiquiatras que na dúvida tornam todos doentes…
Referências
(1) Sérgio Fernando Moro“Considerações sobre a operação mani pulite”, revista CEJ, Brasília, n.26, jul/set 2004, p.58.
(2) Marcia Angell, “A epidemia de doença mental”, revista Piauí, agosto de 2011, n.59.
(3) id., ib.

Leia mais


quinta-feira, 19 de julho de 2018

Maranhão. TRE acolhe parecer do MP Eleitoral e mantém cassação de ex-prefeito Orias de Oliveira Mendes e vice de Bela Vista.

Resultado de imagem para Orias de Oliveira Mendes

O Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão (TRE/MA) julgou recurso de Orias de Oliveira Mendes e Vanusa Santos Moraes, ex-prefeito e ex-vice prefeita do município de Bela Vista (MA). 
A solicitação pedia revisão da condenação por abuso de poder e conduta vedada nas eleições de 2016, foi negada pelo TRE.
A decisão inicial foi mantida, de forma unânime, confirmando a cassação e a inelegibilidade dos representados pelo prazo de 8 anos e o pagamento de multa no valor de R$ 5.000,00. A condenação é fruto de ação de investigação judicial eleitoral proposta por José Augusto de Sousa Veloso, também candidato a prefeito de Bela Vista em 2016, na 57ª Zona, em Santa Inês, e de parecer da Procuradoria Regional Eleitoral do Maranhão (PRE/MA). 

Segundo a PRE/MA, os representados utilizaram-se da máquina pública para obter vantagem ilícita para sua candidatura, contratando 35 pessoas para exercerem cargos públicos, sem seletivo ou concurso público, entre julho e agosto do ano da eleição. Essa conduta causou severo desequilíbrio na disputa entre os candidatos no pleito, que foi vencido pelos representados com margem de 0,68%, 45 votos de diferença. 

Sendo assim, comprovado o abuso de poder político por Orias de Oliveira Mendes e Vanusa Santos Moraes, o Ministério Público Eleitoral (MPE) manifestou-se contra o provimento do recurso, posição confirmada, em julgamento, pelo TRE, em 04 de julho deste ano. Da decisão ainda cabem novos recursos.
Assessoria de Comunicação - Procuradoria da República no Maranhão - Tel.: (98) 3213-7161 - E-mail: prma-ascom@mpf.mp.br - Twitter:@MPF_MA.
Leia mais:Prefeito Comunista do Maranhão é destaque no Bom dia Brasil https://www.abimaelcosta.com.br/2017/07/prefeito-comunista-do-maranhao-e.html

75 "jornalistas" na Síria pedem ajuda a Israel.



Rede Voltaire, divulga que um total de 75 "jornalistas" que operam na Síria em áreas "rebeldes" pediram ajuda em Israel. Eles pedem para atravessar a fronteira e depois serem evacuados para a Europa.

Esses "jornalistas", cujos nomes são precisamente desconhecidos, geralmente não são combatentes. Eles cobriram os eventos e creditaram várias condutas supostamente cometidas pela República Árabe da Síria, incluindo o uso de armas químicas.

Se no início, vários desses "jornalistas" foram pagos pelos escritórios editoriais da Al-Arabiya, da BBC, da Al-Jazeera, da France24 ou da Sky, nenhuma mídia internacional os reclama mais.

O MI6 britânico tinha correspondentes encarregados de fornecer "imagens" e "testemunhos" à imprensa ocidental. Dotado de 3 milhões de euros por ano, este dispositivo havia sido tardiamente apresentado como visando lutar contra o Daesh, na verdade, foi concebido desde o início dos acontecimentos e foi usado para justificar a guerra contra a República Árabe da Síria.

Leitura sugerida: "Les techniques de la propagande militaire moderne, par Thierry Meyssan. - http://www.voltairenet.org/article191773 .html".

Entrevista: Marília Arraes, uma petista que inverte a ordem pernambucana

Marília Arraes é a candidata de Lula e da militância petista ao governo de Pernambuco.


Por Cecilia Bacha, Laura Capriglione e Lina Marinelli. 
Neta do ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes (1916-2005), Marília Arraes é a primeira mulher com possibilidade real de chegar ao governo do estado. Em todas as pesquisas feitas recentemente, ela aparece em empate técnico com o atual governador Paulo Câmara (PSB) na disputa do topo do ranking, situação que lhe garante presença no segundo turno. 
Esta seria a chance do PT conquistar o governo na terra natal do ex-presidente Lula. Mas mesmo sendo advogada por formação, vinda de uma família tradicional pernambucana, Marília enfrenta resistência fora e dentro do próprio partido por causa do machismo e do oportunismo de alguns correligionários que buscam o apoio da máquina governamental e pretendem vender a vaga eleitoral em troca de apoio dos pessebistas a nível nacional.
Para vereadora recifense de 34 anos, que está no terceiro mandato na Câmara Municipal, a situação é esdrúxula e seria como se “em 64, Arraes e Jango saíssem de braços dados com os militares”. 
NO VÍDEO, ASSISTA A INTEGRA DA ENTREVISTA CONCEDIDA AOS JORNALISTAS LIVRES NA ÚLTIMA SEGUNDA-FEIRA, 16, EM UM HOTEL DA AVENIDA PAULISTA, CARTÃO POSTAL DE SÃO PAULO.