Enquanto o Ministério da Educação (MEC) estuda formas de 
aumentar o tempo dos alunos nas escolas do País, no interior do Paraná 
um município já se destaca por apresentar uma proposta semelhante. Há 
dez anos, os alunos de Apucarana passam até 8 horas por dia no colégio, 
com mais tempo para estudar e mais contato com os professores e com 
atividades esportivas e culturais, modelo defendido por especialistas em
 educação. Desta forma, as escolas da cidade conseguiram zerar a evasão e
 conquistar um desempenho no Índice de Desenvolvimento da Educação 
Básica (Ideb) de seis pontos, superior à média do País, que é de apenas 
4,6 pontos para as séries iniciais. 
Segundo o presidente do Conselho Nacional da Educação (CNE), 
Antônio Carlos Caruso Ronca, o projeto desenvolvido há uma década em 
Apucarana serve de exemplo de política pública para o País. "A 
implantação da escola integral acabou com a evasão. As crianças trocaram
 a rua pelo ensino", afirma. 
O diretor-presidente da autarquia municipal de Educação da 
cidade, Cláudio Silva, comemora os resultados. "Não é somente a questão 
da evasão. Nós tiramos as crianças da rua, mas e aí, elas estão 
aprendendo? Os resultados nas avaliações oficiais mostram que sim. O 
desempenho das nossas escolas, da periferia ao centro, é superior a 
média esperada para o nosso País daqui dez anos", afirma. Segundo ele, o
 bom desempenho é resultado de uma combinação de fatores: além da 
ampliação da carga horária, os professores são capacitados para atuar no
 novo modelo pedagógico, a alimentação que os alunos recebem é 
diferenciada e os diretores das escolas são preparados para atuar como 
gestores. 
Diretora da Escola Municipal Professor Idalice Moreira Prates, 
Eliane Zanin trabalha com metas e planejamento para garantir o 
aprendizado dos 238 alunos de um bairro carente da cidade. Ela 
administra uma estrutura com laboratório de informática, quadra de 
esportes coberta, sala de jogos, biblioteca, refeitório. "Temos tudo o 
que precisamos para desenvolver um bom trabalho, mas nem sempre foi 
assim", afirma a diretora ao destacar que nos primeiros anos do projeto,
 era preciso ocupar o salão de uma igreja porque não havia espaço para 
abrigar todos os estudantes em turno integral. 
Para Claudio Silva, a infraestrutura não é o principal fator para
 o sucesso do turno integral. "Se ficássemos esperando as condições 
ideais, até hoje não teríamos feito nada. E se a estrutura fosse o 
primordial, os Cieps (Centros Integrados de Educação Pública) do Rio de 
Janeiro teriam sido um sucesso", afirma ao fazer referência às escolas 
construídas pelo então governador do Rio, Leonel Brizola para implantar o
 turno integral. 
Em Apucarana, as escolas fizeram parcerias com empresas e com a 
comunidade para desenvolver as ações. Segundo o presidente da autarquia 
de Educação, após dez anos, todas as instituições de ensino possuem 
quadra coberta de esportes, refeitórios e estrutura para abrigar os 
projetos. "Isso foi feito aos poucos. A prefeitura não tinha recursos 
para construir toda a estrutura de uma vez só, por isso foi feito um 
pacto com a comunidade", afirma. 
Na escola Professor Idalice Moreira Prates, as dificuldades do 
começo do programa deram lugar a um amplo espaço de lazer e educação. 
Hoje os alunos chegam para estudar às 7h30 e saem às 16h30. Fazem quatro
 refeições no colégio e intercalam as disciplinas da grade comum, como 
português e matemática, com oficinas de balé, karatê, arte, música, 
xadrez, literatura e informática. 
"Quando você tem uma diversidade de atividades e sabe conduzir, 
as crianças têm um ganho enorme na aprendizagem", diz a diretora ao 
reforçar que a maioria dos professores é pós-graduado e recebem 
preparação para o planejamento pedagógico. Além disso, o salário também 
estimula: um educador em fase inicial ganha R$ 1,7 mil para trabalhar 40
 horas, valor acima do piso nacional de R$ 1.187. Para garantir essa 
mudança na educação, a prefeitura investe cerca de 32% do orçamento na 
área (o mínimo exigido para os municípios é de 25%). 
Com ensino prolongado, desempenho escolar melhora em Pernambuco
Algumas secretarias de educação estadual também estão criando seus 
próprios projetos de educação integral. Exemplo disso é a Secretaria de 
Educação de Pernambuco, que desenvolveu a campanha Educação Integral. No
 ano passado, o Estado passou a contar com 60 unidades funcionando em 
horário integral e 100 oferecendo jornada semi-integral. Todas as 160 
escolas receberam o nome de Referência em Ensino Médio. 
Uma das primeiras tentativas foi a da Escola de Referência Ensino
 Médio Cícero Dias, em Recife. Inaugurado em 2006, o colégio tem 45 
alunos e uma jornada nove horas e meia. "Os alunos chegam aqui às 7h30 
da manhã e só saem às 17h", conta Sueli Almeida, gestora da instituição. 
Sueli explica que, além do conteúdo tradicional, os estudantes 
também têm ensino profissionalizante de Programação de Jogos Digitais e 
Multimídia. Ou seja, as aulas de matemática, por exemplo, são explicadas
 em cima da criação de games para o computador. "No primeiro ano, eles 
demoram para se adaptar, pois a maioria é acostumada com o ensino 
regular. Mas depois eles gostam muito, pois aqui eles vêem o estudo como
 algo para ser usado na vida profissional deles", diz a gestora. 
A melhor no desempenho escolar pode ser vista em números. No 
Índice de Desenvolvimento da Educação de Pernambuco (Idepe), que é 
aplicado anualmente pelo governo do Estado e mede o aproveitamento dos 
estudantes, as Escolas de Referência tiveram um índice maior de 
desempenho do que a maioria. O aumento do Idepe nessas escolas, de 2008 
para 2010, foi de 0,7 pontos. Era 3,9 em 2008, passou para 4,2 em 2009 e
 chegou a 4,6 no ano passado, ultrapassando a meta de 4,5 projetada pelo
 Ministério da Educação. 
Turno integral também melhora qualidade de vida dos alunos
Além do foco no desempenho escolar, o Ministério da Educação defende
 o turno integral baseado na melhoria da qualidade de vida como outra 
consequência desse formato de ensino. Como exemplo dessa crença, o MEC 
mostra o panorama das aulas de taekwondo, judô, capoeira e karatê, que 
são as artes marciais escolhidas pelas escolas no programa Mais 
Educação. Entre as 15 mil instituições que participam do programa de 
turno integral do ministério, 4.017 escolheram um tipo de arte marcial 
para oferecer a seus alunos. Os praticantes somam 828,7 mil. 
De acordo com o coordenador de educação da Confederação 
Brasileira de Taekwondo, Rubilar Carvalho, a prática desse esporte ajuda
 o estudante a melhorar a concentração e o rendimento escolar, qualifica
 a convivência familiar e o círculo de amizades, atua na prevenção do 
uso de drogas e de agressões. Na prática, explica, a criança aprende que
 as técnicas são de defesa, nunca de agressão. 
Na Escola Carneiro Ribeiro Classe II, em Salvador (BA), 65 
estudantes praticam aulas de capoeira no programa de educação integral. 
Na avaliação do professor Sandro Alex Dias Oliveira, a socialização das 
crianças e as atitudes de respeito com colegas, professores e pais são 
evidentes no grupo. "Acontece uma transformação que é vista por nós e 
relatada pelos pais", conta. 
Pesquisa aponta que apenas 500 municípios aplicam o ensino integral
Segundo pesquisa realizada pelo Núcleo de Estudos Escola Pública de 
Horário Integral (Neephi), da Universidade Federal do Rio de Janeiro 
(Unirio), a pedido do MEC e divulgada em 2009, apenas cerca de 500 
municípios brasileiros adotam uma carga maior de ensino em suas salas de
 aula. De acordo com o mapeamento, são cerca de 1,1 milhão de alunos em 
jornada ampliada, o que corresponde a 2% dos estudantes da educação 
básica. Os Estados com maior número de experiências integral são Rio de 
Janeiro, Ceará, Minas Gerais, Santa Catarina, São Paulo e Pernambuco. 
O estudo também investigou quais atividades eram desenvolvidas 
durante essas horas a mais na escola. As duas principais modalidades 
eram relacionadas à prática de esportes (65% dos casos) e a aulas de 
reforço (61%). Em seguida, foram relatadas oficinas de música, dança, 
teatro, informática, artesanato, tarefas de casa, entre outras. 
Com informações da agência de conteúdo Cartola