sexta-feira, 11 de abril de 2014

Barbarie - Jovem negro (INOCENTE) é espancado e morto por populares no Espírito Santo.

Por Douglas Belchior. - Fonte: 1, 2, 3 e fotos de reprodução – facebook.
O corpo negro ensanguentado e o olhar assustado que você na foto é do menino Alailton Ferreira, de 17 anos, cercado por um grupo armado com pedras, barras de ferro e pedaços de madeira. Momentos depois, ele foi alvo de um espancamento coletivo. Desacordado, foi levado ao hospital, mas não resistiu e morreu na noite de terça-feira (8).
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Foto - Facebook.
Aos gritos de “mata logo” e de vários xingamentos, o espancamento aconteceu às margens da BR 101, na tarde do último domingo (6), no bairro de Vista da Serra II, cidade de Serra, há cerca de 30km da capital Vitória, no Espírito Santo. Só depois de duas horas de muita violência, a Polícia Militar chegou ao local, colocou o jovem na viatura e o levou até a Unidade de Pronto Atendimento. “Os policiais militares descreveram no boletim de ocorrência que foi necessário utilizar spray de pimenta para conter os populares” disse o delegado-chefe do DPJ, Ludogério Ralff.
Acusação de Estupro
O motivo do linchamento foi causado por acusações controversas. Alguns disseram que o jovem teriatentado estuprar uma mulher. Outros que ele seria suspeito de tentar roubar uma moto e abusar de uma criança de 10 anos. Tudo ocorreu no domingo (6), mas até esta quarta-feira, dia em que Alailton foi enterrado, não havia qualquer denúncia ou relato de testemunhas, segundo a Polícia Civil.
O irmão contesta as acusações e diz que o adolescente sofria de problemas mentais: “Ele chamou a menina, ela se assustou e correu para chamar a família. Os familiares e vizinhos correram atrás dele. Por isso as pessoas falaram que ele era estuprador. Se ele quisesse roubar uma moto, teria feito no próprio bairro, mas ele nem sabe pilotar”. Segundo o tio do jovem, foi um ato de covardia. “Ele estava com uns problemas de saúde e ficava assustado com frequência”.
O morador Uelder Santos, 29, em entrevista para um jornal também colocou as acusações sob suspeita: “Ninguém viu esse tal estupro ou mesmo noticias da suposta vítima”.

“Peçam perdão a Deus pelo que fizeram”, diz a Mãe

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Foto - Diva Suterio Ferreira, mãe de Alailton.
Em entrevista a um jornal, a mãe de Alailton,  a doméstica Diva Suterio Ferreira, 46, disse que  o filho teria sido vítima de uma injustiça: “Ele já foi preso por furto, usava droga, mas não estuprou ninguém, jamais faria isso”. 
Cristã, disse que se apega a Deus para socorrê-la nesse momento difícil: Meu filho era amado, sonhava em me dar uma casa. Dizia que queria um quarto para ele, um para mim e um para irmã.  Minha filha, de 11 anos, só chora, tem medo de sair à rua depois do que aconteceu. Acredito na justiça divina. Peço que essas pessoas peçam perdão a Deus pelo que fizeram ao meu filho”.

Violência endêmica e elemento racial (nada) subjetivo

O escritório das Nações Unidas apresentou nesta quinta-feira (10) um levantamento sobre as taxas de homicídio em que conclui que as Américas são as regiões mais violentas do planeta. O Brasil está entre países mais violentos. Das 30 cidades mais violentas do planeta, 11 são brasileiras. Segundo a publicação, Maceió é a quinta cidade do mundo com mais homicídios por cada 100 mil habitantes. A cidade de Vitória do Espírito Santo, vizinha ao local onde Alailton foi assassinado por populares, é a 14ª da lista mundial.
Não gosto de suposições, por isso fico nas perguntas: qual seria o resultado de uma amostragem com o recorte racial das vítimas desses homicídios em toda América? Teríamos uma proporção parecida com a média brasileira, que aponta 70% de vítimas negras?
Não sei se Alailton estuprou alguém. Era mulher feita ou uma criança de 10 anos? Ambos os crimes são gravíssimos. Mesmo que tenha sido uma “apenas” uma tentativa ou ainda que o jovem tivesse problemas mentais, sem dúvida caberia alguma punição. E a Lei prevê. Mas jamais um linchamento. Jamais!
E pior: nada leva a crer que houve de fato o crime. Aliás, ao que parece (não sou investigador, nem gostaria), ele teria sim sido “vítima de uma injustiça”, como disse a mãe doméstica.
O fato de ser um menino negro teria sido um elemento potencializador do ódio coletivo e da precipitação de um julgamento instantâneo – acusação, julgamento, condenação e execução: Foi ele! Pega ele! Só pode ter sido ele!?
E se fosse um menino branco, a história teria tais requintes de crueldade e terminaria no cemitério? 
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Alailton Ferreira

A bala não é de festim, aqui não tem dublê!

O assassinato covarde do menino negro Alailton Ferreira me fez lembrar dois filmes norte-americanos muito famosos. O primeiro é o clássico “O sol é para todos”, de 1962, que conta a história de Tom Robinson (Brock Peters), um jovem negro que fora acusado de estuprar Mayella Violet Ewell (Collin Wilcox Paxton), uma jovem branca. 
Atticus Finch, um advogado extremamente íntegro, interpretado por Gregory Peck – que viria ganhar o Oscar de melhor ator com esse trabalho, concordou em defendê-lo e, apesar de boa parte da cidade ser contra sua posição, ele decidiu ir adiante e fazer de tudo para absolver o réu. Nos Estados Unidos como aqui, sempre fora comum acusações de estupros e outros crimes recaírem sobre negros, sem que haja grandes contestações.
O outro filme, esse mais recente (1996), faz ainda mais sentido com o momento que vivemos, inclusive no nome: “Tempo de Matar”, que se passa em Canton no Mississipi, onde Carl Lee (Samuel L. Jackson), um negro que, ao matar dois brancos que espancaram e estupraram sua filha de 10 anos é preso, e um advogado branco Jake Brigance (Matthew McConaughey ) e Ellen (Sandra Bullock) uma obstinada estudante de Direito, ambos se voltam contra o preconceito e o racismo existente na comunidade daquela cidade para defender o acusado.
Já no fim da trama, quando tudo parecia perdido, afinal a cidade queria a condenação do acusado, no Tribunal Jake solicita a todos os presentes que fechem os olhos e ouçam a ele e a si mesmos, então ele começa a contar a história de uma garotinha que volta do armazém, e de repente surge uma “pick-up” de onde saltam dois homens e a agarram, eles a arrastam para uma clareira e, depois de amarrá-la, arrancam-lhe as roupas do corpo e montam nela, primeiro um, depois o outro, eles a estupram tirando toda a sua inocência com brutais arremetidas. 
Depois de acabarem, e de ter matado qualquer chance daquele pequeno útero ter filhos, os dois rapazes começaram então a usar a garotinha como alvo, acertando-a com latas cheias de cerveja, cortando sua carne até o osso. Não satisfeitos, eles ainda urinaram sobre ela, e com uma corda fazem um laço e a enrolamo no seu pescoço e num puxão repentino a suspende no ar, esperneando e sem encontrar o chão até o galho quebrar e, milagrosamente cair no chão. 
Nesse momento, eles a colocaram na “pick-up” e, ao chegar em uma ponte, jogam-na de cima da mureta, de onde ela cai de uma altura de 10 metros até o fundo de um córrego. Jake então pára a história e pergunta aos presentes se conseguem vê-la, se conseguem imaginar o corpo daquela garotinha estuprado, espancado, massacrado, molhado da urina, do sêmen deles e do próprio sangue, e depois abandonado para morrer…
E novamente repete para que todos façam uma imagem dessa garotinha, aguarda um instante e pergunta: “Agora imaginem que essa garotinha é branca”!
Carl Lee é inocentado pelo júri.
Ora, “impoluto escrevente”, me perguntaria um dos meus algozes sempre presentes nos comentários deste Blog: “Mas não está a criticar a ideia da justiça pelas próprias mãos? Contraditório o exemplo deste filme, não?”.
E eu responderia:
Sim e não.
Sim. E essa é a parte que não gosto no filme. Ele justifica a ideia de que, em alguns casos, pode-se aceitar a justiça feita pelas próprias mãos. E não podemos tolerá-la em hipótese alguma. Menos ainda quando o pressuposto é inexistente – como parece ser neste caso do Espírito Santo.
E não.
Não por que faz todo o sentido imaginar que, diante da violência sistemática, continuada e explícita contra a população negra, não seria absurdo imaginar que em algum momento pode haver reações, bastando para isso que aflore a percepção – por parte da população negra, de que vivemos sim um estado de desigualdades e de violência racial.
Mas se dirá: Loucura! Radicalismo deste blogueiro afro-lunático racialista! E diante da fúria democrata-gilberto-freyreana presente inclusive na parte bolchevique do mapa, diria por fim:
Sempre caberá o terrível e necessário pedido de reflexão feito pelo advogado branco, Jake Brigance (Matthew McConaughey ), em Tempo de Matar:
“Agora imaginem que essa garotinha é branca”!
Imagine que Alailton é branco!
Imagine que Cláudia é branca!
Imagine que Amarildo é branco!
Imagine que Douglas é branco!
Imagine que José Carlos, é branco.
Imagine que o menino torturado e amarrado nú em um poste na zona sul do Rio de Jaineiro é branco.
Imagine que, quem a polícia mata 3 vezes mais que negros, são os brancos.
Imagine um mundo onde as pessoas pudessem viver em paz.
Consegue?

Rio de Janeiro - CLIMA É TENSO E JORNALISTA É PRESO EM DESOCUPAÇÃO.

Rio de Janeiro - Em Ação de Desocupação proposta pela OI contra Cinco Mil Pessoas, 1.600 policiais usam de violência.

Foto - Brasil 247 - 1.

JORNALISTA É PRESO EM DESOCUPAÇÃO. A Polícia Militar (PM) está com cerca de 1.600 homens na região do Engenho Novo, na zona norte do Rio, para cumprir a reintegração de posse determinada pela Justiça para retirar os cerca de 5 mil moradores que ocupam o terreno há 11 dias; no início, a ocupação foi pacífica, mas pouco depois das 6h30, o grupo começou a reagir e jogou um coquetel-molotov contra os militares.

11 DE ABRIL DE 2014 ÀS 10:16. Douglas Corrêa - Repórter da Agência Brasil.

Efeito Lula: Graça vai ao Senado falar de Petrobras.

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Embora a imprensa diga que é para “esvaziar a CPI” – seria a CPI um balão, a ser inflado ou esvaziado? – a decisão de Graça Foster de se oferecer para ir a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, na próxima terça-feira,  é, evidentemente, reflexo do comando dado por Lula para “partir para cima” da oposição, em defesa da Petrobras.

A rigor, falar do que tem sido a Petrobras nesses últimos anos, longe de ser um problema, deveria ser uma oportunidade ansiada por todos os seus dirigentes.

Hoje, num comentário que fiz na Rádio Nacional, eu disse que as dificuldades porque passa a Petrobras, longe de serem um problema, são o resultado do desafio imenso que ela vem enfrentando de, em poucos anos, fazer em dobro tudo o que foi feito ao longo de 60 anos de história da companhia.

É a oportunidade de mostrar que há duas questões, ambas essenciais e ligadíssimas.

Uma, o controle brasileiro sobre nossa riqueza, o que só pode ser conseguido se for a Petrobras a única e exclusiva a operadora de sua retirada.

Outra, que a extração do petróleo seja a mola impulsionadora de um desenvolvimento tecnológico e industrial de nosso país, o só pode ocorrer se for da Petrobras a liderança deste processo, espalhando por estaleiros, fábricas, escritórios de projeto, consultorias de engenharia, prestadores de serviços técnicos e toda a sua gama imensa de fornecedores os investimentos necessários a esta epopeia em alto-mar.

A presidente Graça Foster deve estar pronta para enfrentar uma abordagem melíflua da oposição, que a vai adular com elogios à sua capacidade como técnica para tentar confrontar isso com uma suposta “politização” da empresa no Governo Lula.

A Petrobras, a melhor e mais bem organizada empresado país, sabe perfeitamente que nada disso a faria gigante se não fosse, ela própria, uma projeção dos desejos de soberania e progresso deste país.

Não é a gestão Graça Foster ou a de José Sérgio Gabrielli, o a de José Eduardo Dutra que estará em questão.

É a Petrobras. sem X, do Brasil e dos brasileiros.

Blog. Tijolaço - http://tijolaco.com.br/blog/?p=16547.Efeito Lula: Graça vai ao Senado falar de Petrobras.





José Dirceu e o princípio da inocência.


"Peça a um amigo trancar a porta de seu quarto por um dia e faça um diário sobre o que fez e viu. Evite ligar a TV, porque ela só é autorizada a quem tem bom comportamento – e ninguém sabe se você merece isso. Não leia jornais nem revistas. Limite a leitura aos livros mas apague a luz às 22 horas. 

Desligue o telefone, não atenda a campainha e, se sentir fome, peça um resto de geladeira para aquecer em banho-maria. Pode ser qualquer coisa que sobrou da véspera mas lembre-se de que, comparado com o que se oferece na Papuda, sempre será um privilégio.

E se você achar que é inocente, e não fez nada para merecer o que está acontecendo, só quis passar por uma experiência existencial, lembre-se: esse pensamento só é válido para quem acredita que toda pessoa é inocente até que se prove o contrário. Esse é o princípio que garante nossa liberdade.

Também é o princípio que deveria definir a situação de Dirceu. Ele passou oito anos sendo acusado como chefe de quadrilha e era este ponto – a quadrilha – que poderia manter seu regime fechado.

Depois que a acusação de quadrilha caiu, ele é chefe de que mesmo?"



José Dirceu - Imagem Google.

Numa injustiça clamorosa que vai além de qualquer opinião sobre as ideias de José Dirceu, seus direitos como prisioneiro não são respeitados

Há momentos em que a vida política deixa de ser um conflito de ideias e projetos para se transformar numa prova de caráter.

Isso é o que acontece com a perseguição a José Dirceu na prisão.

A defesa dos direitos de Dirceu é, hoje, uma linha que define o limite da nossa decência, ajuda a mostrar aonde se encontra a democracia e o abuso, a tolerância diante do ataque aos direitos elementares de uma pessoa.

Ninguém precisa estar convencido de que Dirceu é inocente sobre as denúncias da AP 470. Nem precisa concordar com qualquer uma de suas ideias políticas para reconhecer que ele enfrenta uma situação inaceitável. 

As questões de caráter envolvem nossos princípios e nossa formação. Definem a capacidade de homens e mulheres para reagir diante de uma injustiça de acordo com princípios e valores aprendidos em casa, na escola, ao longo da vida, como explica Hannah Arendt em Origens do Totalitarismo. São essas pessoas que, muitas vezes, ajudam a democracia a enfrentar as tentações de uma ditadura. 

Um desses homens, e nós vamos saber seu nome dentro de alguns parágrafos, “não era herói e certamente não era um mártir. Era apenas aquele tipo de cidadão com interesse normal pelos negócios públicos que, na hora do perigo (mas não um minuto antes) se ergue para defender o país da mesma forma como cumpre seus deveres diários, sem discutir.”

A mais recente iniciativa contra os direitos de Dirceu criou um situação nova.

O Ministério Público pede uma investigação telefônica-monstro envolvendo todas as ligações de celular – de 6 operadoras - entre a região do presídio da Papuda, em Brasília, onde ele se encontra prisioneiro desde 16 de novembro, e uma região em torno de Salvador, na Bahia. São milhares, quem sabe milhões de ligações que devem ser mapeadas, uma a uma, e transcritas – em formato de texto – para exame do ministério público em Brasília. 

Você sabe qual é o motivo alegado dessa investigação: procurar rastros de uma conversa de celular entre Dirceu e um secretário do governo de Jaques Wagner. Detalhe: supõe-se que o telefonema, caso tenha sido feito, teria ocorrido em 6 de janeiro. Pede-se uma investigação de todas as conversas por um período de 16 dias.

Você sabe qual será seu efeito prático: manter a pressão sobre Dirceu e impedir que ele possa deixar o presídio para trabalhar durante o dia – direito que tem todas as condições legais de cumprir. Não só obteve uma oferta de emprego, como tem parecer psicossocial favorável e também do Ministério Público.

Você pode “achar” – assim como “achamos” tantas coisas a respeito de tantas pessoas, não é mesmo? – que ele cometeu, mesmo, essa falta disciplinar, de natureza grave.

O fato é que desde 6 de janeiro procura-se uma prova desse diálogo e nada. O secretário de Estado deu uma entrevista a Folha de S. Paulo, dizendo que havia conversado com Dirceu. Mais tarde, ele se corrigiu e desmentiu o diálogo. Também confirmou o desmentido em depoimento oficial. Dirceu sempre negou ter mantido qualquer conversa nestas condições. 

A conta telefônica do celular do Secretário de Estado não registra nenhuma ligação que, em tese, poderia confirmar a conversa. Uma investigação da polícia do Distrito Federal também concluiu que não há o mais leve indício de que o diálogo tenha ocorrido.

Conforme todos os indícios disponíveis, portanto, quem mentiu foi o Secretário – não Dirceu.

Você pode continuar duvidando da inocência de Dirceu, claro. Mas não pode aceitar que seus direitos sejam subtraídos sem que sua culpa seja demonstrada. Mesmo na prisão, uma pessoa é inocente até que se prove o contrário. 

É verdade que, no julgamento da AP 470, o ministro Luiz Fux chegou a dizer que cabe ao acusado provar sua inocência. Mas foi uma colocação tão fora de qualquer princípio jurídico posterior ao iluminismo que, nos acórdãos, a declaração foi suprimida.

O pedido para esse grampo-monstro foi feito pelo Ministério Público em 26 de fevereiro mas ficou engavetado pelo juiz Bruno Ribeiro por mais de um mês. Quando se retirou do caso, no fim de março, Bruno enviou o pedido a Joaquim Barbosa, a quem caberá a palavra final sobre o semiaberto de Dirceu. Joaquim pode acolher o pedido.

Mas também pode manter Dirceu em regime fechado enquanto aguarda pelos grampos Papuda-Bahia. Seria uma nova injustiça, mesmo para quem é favorável a uma investigação nessa natureza e acha que toda punição a Dirceu será pouca.

A liberdade de Dirceu não pode ser diminuída porque os responsáveis pela sua prisão levaram um tempo absurdo– mais de um mês – para decidir se acatavam a solicitação ou não.

Ninguém pode ficar preso indevidamente porque o Justiça está “pensando.”

Quando foi preso, em 15 de novembro, Dirceu tinha direito ao regime semiaberto, provisoriamente. Antes que os embargos infringentes tivessem sido julgados, havia a possiblidade de que o Supremo confirmasse a condenação por formação de quadrilha.

Mas o STF derrubou a condenação, o que confirmou o semiaberto.

Assim, do ponto de vista de seus direitos, Dirceu perdeu quatro meses de liberdade. 

Se o apreço abstrato do caro leitor pela liberdade dos indivíduos não lhe permite avaliar o que isso significa, sugiro uma experiência concreta.

Peça a um amigo trancar a porta de seu quarto por um dia e faça um diário sobre o que fez e viu. Evite ligar a TV, porque ela só é autorizada a quem tem bom comportamento – e ninguém sabe se você merece isso. Não leia jornais nem revistas. Limite a leitura aos livros mas apague a luz às 22 horas. 

Desligue o telefone, não atenda a campainha e, se sentir fome, peça um resto de geladeira para aquecer em banho-maria. Pode ser qualquer coisa que sobrou da véspera mas lembre-se de que, comparado com o que se oferece na Papuda, sempre será um privilégio.

E se você achar que é inocente, e não fez nada para merecer o que está acontecendo, só quis passar por uma experiência existencial, lembre-se: esse pensamento só é válido para quem acredita que toda pessoa é inocente até que se prove o contrário. Esse é o princípio que garante nossa liberdade.

Também é o princípio que deveria definir a situação de Dirceu. Ele passou oito anos sendo acusado como chefe de quadrilha e era este ponto – a quadrilha – que poderia manter seu regime fechado.

Depois que a acusação de quadrilha caiu, ele é chefe de que mesmo? 

E aí podemos falar do personagem a que Hannah Arendt se refere. Ela está falando de George Picquard, major do Exército francês, que teve um papel decisivo no restabelecimento da verdade no caso do capitão Alfred Dreyfus, condenado em 1894 à prisão perpétua na Ilha do Diabo, na Guiana Francesa, com base em provas falsas.

“Embora dotado de uma boa formação católica” e, como Arendt sublinha para registrar os preconceitos da época, " ‘adequada’ antipatia pelos judeus, ele ainda não havia adotado o princípio de que o fim justifica os meios.” Ela recorda que “esse homem, completamente divorciado do classicismo social e da ambição profissional, espírito simples, calmo e politicamente desinteressado”, iria mostrar que havia encontrado provas que apontavam para outro culpado, sugerindo que o caso fosse reaberto.

Picquard acabou processado e perseguido, a ponto de enfrentar uma condenação num tribunal militar e deixar um posto confortável em Paris por um posto sem perspectiva na África colonial. Mas cinco anos depois de condenado, Dreyfus acabou recebendo indulto presidencial, depois de enfrentar um segundo julgamento – que perdeu, mais uma vez.

A campanha pela libertação de Dreyfus não passou pelo parlamento, que rejeitou seguidos pedidos de um novo exame do caso. Foi fruto de uma movimentação da sociedade civil, à margem dos principais partidos políticos.

Mesmo os socialistas temiam perder votos se colocassem o assunto nos debates eleitorais. Atribui-se uma derrota de um de seus líderes históricos, Jean-Jaurés, hoje nome de boulevard em Paris, ao empenho a favor de Dreyfus. Ninguém recorda o nome dos que se omitiram. 

O alto comando militar, responsável pela condenação de Dreyfus e, mais tarde, pela manutenção da farsa, alimentava a imprensa suja de Paris. Numa avaliação que nos ajuda a entender que a realidade que hoje se vê nos trópicos brasileiros tem muito a dever às asneiras cometidas na capital francesa daquele tempo, Arendt analisa o mais duro dos jornais contra Dreyfus para dizer: “direta ou indiretamente, através de seus artigos e da intervenção pessoal de editores, mobilizou estudantes, monarquistas, anarquistas, aventureiros e simples bandidos, e atirou-os nas ruas.” Essa turba espancava defensores de Dreyfus na rua e por várias vezes apedrejou as janelas de Emile Zola depois de seus artigos e conferências mais contundentes.

Julgado pelo Eu Acuso, Zola recebeu pena máxima. Foi um alívio, pois se fosse absolvido “nenhum de nós sairia vivo do julgamento”, recordou Georges Clemenceau, dono do jornal que publicou o artigo, L ‘Aurore.

Em 1975, em São Paulo, o rabino Henry Sobel deu uma demonstração de caráter semelhante. Ele sequer era o rabino principal da comunidade paulistana. Apenas substituía o rabino principal, que se encontrava em viagem. Norte-americano de nascimento, Sobel admirava John Kennedy e nunca teve simpatias pelo Partido Comunista.

Mas, quando foi informado que o corpo do jornalista Vladimir Herzog apresentava sinais de tortura, como fora percebido pelos funcionários do cemitério judeu que o preparavam para o enterro, Sobel tomou uma decisão de acordo com sua formação e suas convicções.

Impediu que Herzog fosse enterrado na área do cemitério reservada aos suicidas, como seria coerente com a versão oficial para a morte do jornalista – acompanhada até por uma fotografia forjada na cadeia – para lhe dar a dignidade de um enterro comum. 

O resto é história, feita por um cidadão tão humano, tão comum, que mais tarde seria apanhado num pequeno e desagradável incidente num shopping em Miami, como todos nós sabemos.

ISTOÉ - Destaques do ABC!

terça-feira, 8 de abril de 2014

Presidenta Dilma diz que não vai recuar nas disputas políticas

Tijolaço - 7 de abril de 2014 | 22:13 Autor: Fernando Brito
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Parece ter subido uma oitava o tom da Presidenta Dilma Rousseff em relação aos ataques que vem sofrendo, finalmente.

Hoje, ao entregar um pacote de máquinas para prefeituras de cidades do interior, em Contagem, ela reagiu dizendo que já enfrentou isso “em 2006, na reeleição do Lula, e em 2010 na minha eleição. ”

Ela assegurou que seu governo não fará discriminações, mas também que não irá “recuar um milímetro da disputa política quando ela aparecer”.

É bom que seja assim, a partir de agora, porque o Governo anda levando de todo lado e com pouquíssima capacidade de reação.

E reação não é apenas abrir as informações e, eventualmente, punir quem o mereça.

É questionar a autoridade dos acusadores, como hoje, em seu artigo na Folha, fez o colunista Ricardo Mello:

- Com a cara mais lambida do mundo, Aécio e Campos pedem agora CPIs sobre a Petrobras; já em suas searas, vestem a roupa do coronelismo mais retrógrado. Nunca é demais recordar: governos tucanos, que há mais de uma década rapinam o Tesouro paulista em conluio com multinacionais, jamais aceitaram a criação de uma mísera CPI estadual para investigar as denúncias de roubalheiras no Metrô e na CPTM. Uma única!

Ah, como seria bom ver alguém do Governo dizendo as coisas assim, com esta clareza.

Assista o trecho da fala de Dilma.



Sergey Lavrov: Não é a Rússia quem está desestabilizando a Ucrânia.

7/4/2014, [*] Sergey Lavrov, Min. Rel. Exteriores da Rússia, Guardian, UK
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Sergey Lavrov, Ministro das Relações Exteriores da Rússia
A crise profunda e generalizada na Ucrânia é tema de grave preocupação para a Rússia. Entendemos perfeitamente bem a posição de um país que se tornou independente há apenas 20 anos e que ainda tem pela frente tarefas complexas na construção de um estado soberano. Dentre elas, a busca de algum equilíbrio entre os interesses de suas várias regiões, de povos que têm raízes históricas e culturais diferentes, falam línguas diferentes e têm diferentes perspectivas sobre o próprio passado e presente, e sobre o lugar futuro de seu país no mundo.

Dadas essas circunstâncias, o papel de forças externas deve ser ajudar os ucranianos a proteger as fundações da paz civil e do desenvolvimento sustentável, que ainda são frágeis.

A Rússia fez mais que qualquer outro país para apoiar o estado ucraniano independente, incluindo subsidiar por muitos anos a economia ucraniana mediante baixos preços da energia. Em novembro passado, no início da atual crise, apoiamos o desejo de Kiev, de consultas urgentes entre Ucrânia, Rússia e a União Europeia, para discutir a harmonização do processo de integração. Bruxelas rejeitou completamente a ideia. Essa atitude refletiu a linha perigosa e improdutiva já tomada pela União Europeia e pelos EUA, há muito tempo. Tentavam já forçar a Ucrânia a fazer uma dolorosa escolha entre leste e oeste, o que agravou as diferenças internas.

Manifestantes pró-Rússia lotam a Praça Lênin em Donetsk, Ucrânia em 6/4/2014
Sem considerar as realidades na Ucrânia, foi fornecido apoio massivo a movimentos políticos que promoviam a influência ocidental, e isso foi feito em direta violação da Constituição da Ucrânia. Foi o que aconteceu em 2004, quando o presidente Viktor Yushchenko venceu um terceiro turno inconstitucional das eleições, introduzido sob pressão da União Europeia. Agora, o poder em Kiev foi tomado por vias não democráticas, mediante violentas ações de rua das quais participaram diretamente ministros e outros altos funcionários dos EUA e de países da União Europeia.

Afirmativas de que a Rússia tivesse empreendido qualquer esforço para minar parcerias dentro do continente europeu são falsas, não correspondem aos fatos. Ao contrário, nosso país promoveu com constância um sistema de segurança igual e indivisível na área euro-atlântica. Propusemos assinar um tratado para esse efeito, e defendemos a criação de um espaço econômico e humano comum do Atlântico ao Pacífico, que seria também aberto aos países pós-soviéticos.

Simultaneamente, estados ocidentais, apesar de repetidamente garantir que não, promoveram sucessivas ondas de expansão da OTAN, moveram a infraestrutura militar da aliança para o leste e puseram-se a implementar planos de defesa antimísseis. O programa da Parceria Ocidental da União Europeia está desenhado para amarrar fortemente à Europa os chamados estados-foco, vedando-lhes a possibilidade de cooperação com a Rússia.

Os esforços, pelos que encenaram a secessão do Kossovo, hoje separado da Sérvia, e de Mayotte, hoje separado de Comoros, para questionar a livre vontade dos crimeanos só podem ser interpretados como flagrante manifestação de duplicidade de padrões. Não menos estranha é a ação de fingir que não sabe que o principal perigo a ameaçar o futuro da Ucrânia é que o caos gerado por extremistas e neonazistas se espalhe.

Manifestação pró-Russia em Donetsk exige referendo igual ao da Crimeia
A Rússia está fazendo tudo que pode para promover a rápida estabilização na Ucrânia. Estamos firmemente convencidos de que ela pode ser alcançada, mediante, dentre outros passos: uma verdadeira reforma constitucional, que assegure os direitos legítimos de todas as regiões da Ucrânia e responda às demandas da região sudeste, de fazer do idioma russo a segunda língua oficial do estado; firmes garantias de que o status de estado não alinhado da Ucrânia seja consagrado na lei do país, consagrando assim o seu papel de elo de conexão numa arquitetura de segurança indivisível para toda a Europa; e medidas urgentes para pôr fim às formações armadas ilegais do Setor Direita e de outros grupos ultranacionalistas.

Não estamos impondo coisa alguma a ninguém. Apenas vemos que, se isso não for feito, a Ucrânia continuará em espiral rumo à crise, com consequências imprevisíveis. Permanecemos prontos a nos somar aos esforços internacionais que visam a alcançar esses objetivos. Apoiamos o apelo feito pelos ministros de Relações Exteriores de Alemanha, França e Polônia, para que seja implementado o acordo de 21 de fevereiro. A proposta deles – de fazerem-se conversações Rússia-União Europeia, com a participação da Ucrânia e de outros estados da Parceria Ocidental, sobre as consequências de acordos de associação com a União Europeia – corresponde à posição da Rússia.

O mundo de hoje não é escola primitiva, na qual os professores distribuam castigos à vontade. Declarações beligerantes, como as que se ouviram na reunião de ministros da OTAN em Bruxelas, dia 1º de abril, não correspondem a demandas por uma desescalada. A desescalada deve começar por desescalar-se a retórica. É hora de pôr fim ao aumento infundado da tensão, e de voltar ao trabalho conjunto, sério.  
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[*] Sergey Viktorovich Lavrov (russo :Сергей Викторович Лавров, nasceu em 21 de março de 1950) é diplomata e desde 2004 ocupa o cargo de Ministro das Relações Exteriores da Rússia . Sua nomeação foi aprovada por dois presidentes da Rússia , em 2008 por Dmitry Medvedev e em 2012 por Vladimir Putin. Antes disso, Lavrov atuou na diplomacia como embaixador da Rússia à Organização das Nações Unidas (1994-2004).Além de seu russo nativo, Lavrov fala inglês, francês e cingalês.