quinta-feira, 27 de abril de 2017

Anglo American procura harmonia coerciva em meio a clima de terror no entorno das suas minas em Minas Gerais, Brasil.

Logo na semana em que a Rede de Articulação e Justiça Ambiental dos Atingidos pelo Projeto Minas Rio (REAJA) e a Rede de Mineração de Londres (London Mining Network, uma rede em que participam 30 organizações) denunciam os graves impactos socioambientais e as ameaças a integridade física dos moradores atingidos em torno da mineração em Conceição de Mato Dentro, MG (http://conflitosambientaismg.lcc.ufmg.br/noticias/mineracao-em-conceicao-do-mato-dentro-denunciada-na-assembleia-da-anglo-american-em-londres/), a empresa inicia a distribuição de convites para uma reunião com representantes da Anglo American.

Tal reunião teria como finalidade o aprimoramento do diálogo com a empresa e o objetivo de “conhecer o EIA/RIMA preparado para a Etapa 3 do Minas-Rio”, procurando, segundo ofício, “...construir soluções que permitam o convívio harmônico”.

Contudo, acontecimentos recentes instauraram um verdadeiro clima de terror nas referidas comunidades, que envolveram desde notas em  redes sociais até ameaças de morte aos autores de uma Ação Popular que obteve, na Justiça, o cancelamento de uma Audiência Pública. O cancelamento da Audiência foi solicitado exatamente porque os Estudos de Impacto Ambiental não foram disponibilizados com tempo suficiente para o conhecimento e análise do mesmo.
Portanto, a audiência seria somente uma propaganda da empresa acerca do empreendimento e não atenderia ao seu objetivo original, relativo à discussão qualificada acerca dos direitos dos atingidos e das falhas e lacunas dos estudos ambientais apresentados.


Diante da escalada de violência, impulsionada por notas, matéria em jornal local, que expuseram os autores, e por vídeo publicado no Facebook da própria Anglo American após o cancelamento da audiência, pesquisadores do Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais (GESTA) e Programa Polos de Cidadania (Polos), da UFMG, que, entre outras instituições, também foram convidados para a mencionada reunião, alegam que, nestas circunstâncias de intimidação e terror, qualquer tentativa de encontros ou audiências públicas junto com os moradores e seus apoiadores revelam uma dupla estratégia: enquanto a população sofre pressões e calunias intimidadoras, as audiências públicas servem apenas como elemento - para “inglês ver” - de "boa governança" por parte da empresa, na busca de um falso consenso.

Nestas condições, segundo os pesquisadores, as tentativas da empresa, assim como determinados setores coniventes na esfera das instituições públicas, configuram uma verdadeira pressão para alcançar uma "harmonia coerciva", enquanto os Direitos Humanos amparados na Constituição Brasileira estão sendo violados, tornando os moradores afetados em vítimas de um verdadeiro descaso planejado, que pode resultar em desastre com prejuízo à segurança dos atingidos, tendo em vista a escalada dos conflitos e multiplicação das intimidações e ameaças.

 

Seguem as cartas-resposta dos pesquisadores do GESTA e Polos à Anglo American, na íntegra:

 
CARTA RESPOSTA GESTA:
 
Belo Horizonte, 26 de Abril de 2017
Prezada Mariana Rosa,
Gerente de Comunicação Anglo American
Prezado Tiago Alves,
Coordenador Corporativo de Desenvolvimento Anglo American

Em resposta ao ofício recebido em 25/04/2017, agradecemos seu convite para um encontro. Apreciamos a sua tentativa de instaurar um “diálogo aberto e respeitoso” [como] “caminho para construirmos juntos um legado positivo para a região”. Contudo, aproveitamos a oportunidade para esclarecer os seguintes pontos:
 
O GESTA é um núcleo acadêmico vinculado ao Departamento de Antropologia e Arqueologia (DAA) da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FAFICH) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Desde 2001, o GESTA é cadastrado no Diretório dos Grupos de Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tec nológico (CNPq) e desenvolve atividades de ensino, pesquisa e extensão relacionadas à compreensão dos conflitos ambientais. O Grupo, de caráter interdisciplinar, é composto por pesquisadores e alunos de graduação e pós-graduação das áreas de Antropologia, Sociologia, Geografia, Direito e Ciências Socioambientais. A atuação do núcleo tem privilegiado a interface entre pesquisa e extensão, buscando refletir sobre os efeitos sociais de grandes projetos e seus processos hegemônicos de apropriação do território, ao mesmo tempo em que procura fomentar a capacitação político-participativa de populações atingidas.
 
Nesse diapasão, desde 2012, o GESTA conduz pesquisas dedicadas ao tema da mineração no estado de Minas Gerais, com destaque para os projetos “Alcances e Limites da Resolução Negociada de Conflitos Ambientais: o caso do projeto de mineração Minas-Rio” (apoio CNPq 408591/2013-7) e “Nova Fronteira Minerária, Land-grabbing e Regimes Fundiários: consequências socioambientais e limites da gestão de conflitos” (apoio CNPq 445550/2014-7), ambos com apoio das agências nacionais de fomento à pesquisa acadêmica e, desde 2015, o projeto “Poder, territóri o e conflito: processos de territorialização e mineração em Conceição do Mato Dentro (MG)”, com apoio da FAPEMIG (APQ-03592-14) . No âmbito da extensão universitária, o grupo desenvolve o programa “Observatório dos Conflitos Ambientais: tecnologias sociais e justiça ambiental” (Registro SIEX/UFMG 500301), através do qual presta assessoria aos grupos atingidos pelo empreendimento Minas Rio em Minas Gerais. Tais atividades de assessoria são efetuadas a partir da demanda apresentada por parte das populações locais. Nossa atuação se restringe, assim, ao acompanhamento e análise do processo de licenciamento, fornecendo aos atingidos subsídios técnicos e políticos que se orientam para: formação e fortalecimento das redes de articulação e mobilização, apoio à troca de experiências e de perspectivas dos atores que experimentam danos e/ou violações aos direitos de acesso e apropriação do meio ambiente, visando uma participação social qualificada, efetiva e igualmente justa no que tange às políticas ambientais.
 
Dito isso, não desempenhamos qualquer protagonismo no caso, não temos o intuito e tampouco legitimidade para representações e/ou deliberações. Nossa atuação está restrita aos espaços e momentos em que nossa presença enquanto pesquisadores-parceiros é demandada pelos grupos que assessoramos. Com efeito, não nos cabe participar do encontro/reunião nos termos propostos pelo referido ‘convite’.
 
Ademais, causa particular estranhamento que a disposição e a abertura para o diálogo sejam acompanhadas e marcadas por iniciativas que buscam a exposição pública de moradores, atingidos pelo empreendimento, que, sistematicamente, buscam denunciar o esvaziamento das condições e possibilidades de participação e a continuidade e agravamento das violações de seus direitos. Materiais como notas anônimas, matéria jornalística, vídeos, s&atild e;o circulados na região de modo a expor e responsabilizar esses atores por supostos atrasos e entraves ao desenvolvimento do projeto. Tais iniciativas contribuem tão somente para a intensificação das cisões e tensões no local, colocando sob ameaça a segurança de cidadãos que, pelos canais institucionalizados, pelas vias formais, públicas e legítimas, buscam a defesa de seus direitos. Em oposição à atmosfera de entendimento e diálogo, tais iniciativas, oficiosas, resultam na escalada de conflitos e da violência na região, com episódios de intimidação, ameaças e constrangimentos que substituem o terreno da discussão política pelo campo das operações policiais. O cenário é de medo e insegurança. Acentuamos a responsabilidade do empreendedor pelo zelo à segurança no local e pela manutenção das condições que garantam a liberdade de manifestação política dos cidadãos, independentemente da natureza de seu posicionamento.
 
Adicionalmente, cabe ressaltar que as reflexões produzidas pelo GESTA acerca dos limites das tecnologias de resolução negociada dos conflitos estão disponíveis em publicações acadêmicas de ampla circulação e cuja consulta recomendamos como forma de prevenir novas interpretações e encaminhamentos equivocados. Ressaltamos abaixo, apenas alguns aspectos dessa extensa reflexão:
 
A “estratégia da resolução negociada de conflitos” é frequentemente consagrada como caminho glorioso para mediação de “interesses divergentes” numa perspectiva semelhante àquela própria ao mundo dos negócios celebrados no âmbito do livre mercado entre partes interessadas, situadas em posições equivalentes. Os projetos da Anglo American no município de Conceição de Mato Dentro, porém, revelam conflitos entre parte s desiguais de duas maneiras:
 
  1. Em relação aos capitais social, político e econômico: por um lado, temos a Anglo American, uma corporação multinacional, com uma equipe de profissionais integralmente dedicados para tratar assuntos jurídicos e técnicos, muito bem articulada com os poderes locais, nacionais e internacionais. De outro lado, estão os moradores da região afetados nas mais variadas formas pelas atividades da mineração, que, muitas vezes, não possuem a formação, conhecimento, tempo e recursos disponíveis que os co loquem em condições de simetria e igualdade para a disputa. Via de regra, eles também não têm as condições econômicas para contratar especialistas que poderiam trazer os esclarecimentos necessários para empoderá-los para uma participação efetiva no processo do licenciamento.
 
2) A Anglo American, sim, é parte interessada, assim como seus funcionários e determinados setores econômicos locais que se beneficiam dos empreendimentos por ela executados. Os moradores locais atingidos, entretanto, são detentores de direitos que, teoricamente, são garantidos pela Constituição Brasileira de 1988, que reforçou a Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas de 1948. Estes direitos, ao contrário dos interesses empresariais, não são negociáveis (i. e. Direito à água, à moradia, ao ambiente ecologicamente saudável, dentre outros, incluindo o direito de decidir sobre a própria vida).
 
Diante desse contexto, tomamos a citação inicial do Secretário-Geral do Conselho Internacional de Filosofia e Ciências Humanas (CIPSH), Luiz Oosterbeek, como motivo de nos referir a um outro pronunciamento, o de Eduardo Cruz, reitor da Universidade de Portugal, realizado durante o mesmo evento:
 
“O Direito está moribundo e suas fontes estão secas, reduzidas a leis, doutrina e jurisprudência. O Direito é diferente de lei e a justiça se aplica não só com o cumprimento da lei, mas com sensibilidade. A lei tem que respeitar o direito” (Pronunciamento durante o "I Seminário Internacional sobre Direito Ambiental e Minerário” em Mariana, 2016, para discussão sobre o desastre tecnológico causado pela SAMARCO (Vale/BHP-Billiton, grifos nossos).
 
O que observamos nas últimas audiências e reuniões públicas em relação aos projetos da Anglo American é um sistemático deslocamento do tratamento da questão dos legítimos direitos dos atingidos para uma discussão genérica organizada em posições polares “a favor” e “contra” o empreendimento”. Esse esvaziamento do sentido político do debate tem sido estimulado pela própria empresa. Neste contexto, não houve espaço de debate sobre os problemas técnicos e jurídicos dos Estudos de Impacto Ambiental e não foram apresentadas propostas adequadas em relação à restauração dos modos de vida dos atingidos. O resultado foi a aprovação das licenças com centenas de condicionantes. Dessa forma, as audiências se transformaram em um palco - aliás, ostensivamente  ocupado por forte aparato policial, estrategicamente colocado do “lado” daqueles que defendem seus direitos e/ou ousam questionar a Anglo -, o que pouco contribui para o esclarecimento dos segmentos mais afetados e prejudicados pelo projeto, ou ainda para o melhoramento dos estudos e programas desenvolvidos, objetivos para os quais as audiências públicas foram originalmente criadas.
 
Em relação à alegação no convite da V. Sa. sobre “o interesse genuíno das partes envolvidas em construir soluções que permitam o convívio harmônico”, cabe ressaltar a falta de uma postura proativa da empresa em relação ao tratamento dos direitos dos atingidos, o que coloca em cheque a natureza genuína desse esforço. Como é de seu conhecimento, aconteceram vários incidentes com os moradores afetados pela mineração da Anglo, tais como a interrupção do sistema de abastecimento de água, a expulsão de idosos e moradores isolados que não aceitaram as condições impostas para a nova moradia. Além disso, percebeu-se em torno da audiência agendada para 11/04/2017 um clima de terror nas referidas comunidades com a circulação de difamações e denúncias caluniosas em redes sociais e por meio de panfletos apócrifos, e até ameaças de morte a alguns dos autores da Ação Popular e seus apoiadores. Não observamos nenhu ma atitude da empresa no sentido de evitar ou coibir o agravamento dessa situação. Neste clima de violência latente, entendemos que não existem atualmente condições para a realização de uma audiência pública que serviria aos seus objetivos originais precípuos relativos à discussão qualificada acerca dos direitos dos atingidos e das falhas e lacunas dos estudos ambientais apresentados. Ao contrário, nestas circunstâncias compartilhamos os temores dos atingidos sobre o agravamento das tensões e da violência no local.
 
Finalmente, seu convite destaca “o debate em benefício do interesse coletivo” em torno de valores abstratos como "o legado positivo da região", mas curiosamente não menciona os direitos daqueles que mais sofrem com os efeitos reais do empreendimento. Tudo indica que o “debate” continua a objetivar o deslocamento da questão dos direitos para uma oposição pouco construtiva reduzida às posições “a favor” ou “contra” a obra. Desse modo, seria desejável que, para alcançar credibilidade junto aos moradores, em direção ao “propósito de fazer uma mineração responsável”, a Anglo American agisse decisivamente de forma a evitar o clima de terror em torno dos seus empreendimentos, separando de forma clara – e sensível –  o tratamento dos direitos individuais, coletivos e difusos dos cidadãos atingidos (conforme o princípio da preservação da dignidade da pessoa humana garantido pelo Estado Democrático do Direito) da discussão acerca dos potenciais e limites do empreendimento em relação ao desenvolvimento da região.
Atenciosamente,
Coordenação GESTA-UFMG
Profa. Dra. Ana Flávia Santos - Professora Adjunta (DAA-UFMG)
Profa. Dra. Raquel Oliveira Santos Teixeira - Professora Adjunta (DSO-UFMG)

CARTA RESPOSTA POLOS DA CIDADANIA:
Ofício: 04/2017

Para: Srª. Mariana Rosa e Sr. Tiago Alves
Respectivos Gerente de Comunicação e Coordenador Corporativo de Desenvolvimento Sustentável da Empresa Anglo American Brasil
Belo Horizonte, 27 de abril de 2017.

Senhora Mariana Rosa e Senhor Tiago Alves,

Vimos por meio deste, responder o documento encaminhado pela Anglo American Brasil e entregue ao Programa Polos de Cidadania da Faculdade de Direito da UFMG, no dia 25 de abril de 2017, na nossa sede em Belo Horizonte, referente ao convite para uma reunião com o propósito, segundo informado pela empresa, de "discutir aspectos da Etapa 3 do Minas-Rio que requeiram melhores esclarecimentos entre todas as partes interessadas".
Conforme informações disponíveis no site Controle Transparente (www.controletransparente.com.br), dedicado à transparência de aplicações dos recursos provenientes do acordo judicial firmado entre o Ministério Público do Estado de Minas Gerais e a empresa Anglo Ferrus Minas-Rio Mineração S/A, nos autos do processo de Ação Civil Pública n. 0175.09.013968-4 da Comarca de Conceição do Mato Dentro, a partir de convite feito pela Coordenadoria de Inclusão e Mobi lização Social (Cimos) do Ministério Público do Estado de Minas Gerais e pela Promotoria de Justiça de Conceição do Mato Dentro e reuniões realizadas com cidadãos, entidades e instituições do município, o Programa Polos de Cidadania da Faculdade de Direito da UFMG apresentou a sua proposta de atuação, tendo por objetivo o desenvolvimento de processos de organização e mobilização social, à realização de práticas de educação e ações comunitárias de proteção e efetivação de direitos fundamentais junto aos moradores da região.

Assim sendo, temos pautado a nossa atuação, desde o início dos trabalhos no município, pelo reconhecido histórico do Programa, criado em 1995, junto a pessoas e comunidades em condições diversas de vulnerabilidades sociais, (1)nos princípios de respeito à centralidade, protagonismo, autonomia e emancipação das coletividades com as quais dialogamos e (2)na observância aos Direitos Humanos, pactuados em Tratados e Convenções Internacionais de que o Brasil é signatário, assim como, no caso de Conceição do Mato Dentro e outras regiões afetadas pelas atividades de mineração, pelas recomendações expressas e defendidas nas Resoluções nºs 26/06, 31/06, 01/07, 02/07, 05/07 - Brasília/DF.

Após a publicação de uma Nota de Esclarecimento, por parte da empresa, quanto ao cancelamento da audiência pública prevista para o dia 11 de abril de 2017, na qual a Anglo American afirma que tal cancelamento coloca em risco a continuidade operacional do Minas-Rio, o Programa Polos de Cidadania da UFMG passou a receber, cotidianamente, inúmeros relatos e depoimentos de graves violações de direitos ocorridas no município, bem como constatado o acirramento dos ânimos e dos conflitos entre pessoas e comunidades locais.

Considerando a citação de Luiz Oosterbeek e a pergunta destacada pelo autor, presente no documento encaminhado pela Anglo American ao Programa Polos de Cidadania da UFMG, "as pessoas não são todas iguais, não têm os mesmos interesses, as mesmas ansiedades. Portanto, nunca vão estar de acordo unanimamente sobre o caminho a prosseguir frente a uma dificuldade (...) Como é que elas podem continuar divergindo e não romper?", < /font>compreendemos e informamos a empresa que rompimentos e fraturas sociais já foram causados, fato que, a nosso ver, justifica uma desaceleração e revisão na condução do processo de licenciamento da etapa 3 do Minas-Rio.

Enquanto um Programa de Extensão Universitária e Pesquisa Social Aplicada da UFMG, com extensa trajetória na busca de efetivação dos direitos humanos e no constante trabalho de colaboração e assessoria técnica junto a várias coletividades, dentre elas, algumas de Conceição do Mato Dentro, compreendemos que o momento requer um extremo cuidado de todas as partes envolvidas com a delicada situação vivenciada na região e a abertura de canais efetivos de diálogo, visand o a imediata interrupção das violações de direitos registradas.

Por fim, compartilhando do argumento defendido pelo renomado autor italiano Norberto Bobbio, em suas reflexões acerca dos problemas fundamentais relacionados aos direitos humanos:

... não se trata de saber de saber quais e quantos são esses direitos, qual é a sua natureza e seu fundamento, se são direitos naturais ou históricos, absolutos ou relativos, mas sim qual é o modo mais seguro para garanti-los, para impedir que, apesar das solenes declarações, eles sejam continuamente violados. (grifo nosso)

Dessa maneira, concluindo este ofício e deixando claros os nossos objetivos e posições, manifestamos que, caso sejamos convidados pelas comunidades a participar de uma reunião ampla com a empresa e/ou diversos outros atores sociais, estaremos presentes, visando a proteção e a defesa dos direitos fundamentais das pessoas e coletividades historicamente vulnerabilizadas na região.

Atenciosamente,

Prof. Dr. André Luiz Freitas Dias
Coordenação Geral e Acadêmica
Programa Polos de Cidadania
Faculdade de Direito da UFMG

Porque Rússia e China apavoram Washington.

The Russian and Chinese national flags are seen on the table as Russia's President Vladimir Putin (back L) and his China's President Xi Jinping (back R) stand during a signing ceremony at the Diaoyutai State Guesthouse in Beijing on November 9, 2014.

Texto de Pepe Escobar, tradução de btpsilveira
Publicado originalmente em SputnikNews.com. 
Unindo os países que o Pentágono declarou serem as principais ameaças “existenciais” para os Estados Unidos, a parceria estratégica Rússia-China não se revela através de um tratado assinado com pompa e circunstância – e uma parada militar.
Mesmo escavando camada após camada de sofisticação sutil, não há como saber a profundidade dos termos acordados entre Pequim e Moscou, nos bastidores dos inumeráveis encontros entre Xi Jinping e Vladimir Putin.

Diplomatas, desde que mantidos no anonimato, ocasionalmente insinuam que uma mensagem em código pode ter sido entregue à OTAN quantos ao que poderia acontecer se um desses parceiros estratégicos fosse maltratado seriamente – seja na Ucrânia seja no Mar do Sul da China – a OTAN teria que lidar com os dois.
Por enquanto, vamos nos concentrar em dois exemplos de como a parceria funciona na prática, e porque Washington não tem noção de como lidar com a situação.
A prova “A” é a iminente visita que Secretário Geral do Partido Comunista Chinês (CCP, na sigla em inglês – NT) Li Zhanshu, fará a Moscou, convidado pelo chefe da Administração Presidencial no Kremlin, Anton Vaino. Pequim ressaltou que as conversações girarão em torno – sem novidade – da parceria estratégica entre China e Rússia “como já acordado previamente entre os líderes dos dois países”.
O encontro acontecerá logo depois que o primeiro Vice Premier chinês Zhang Gaoli, uma das sete personagens mais eminentes do Politburo chinês e um dos condutores das políticas econômicas chinesas foi recebido em Moscou  pelo Presidente Putin. Na ocasião, discutiram investimentos chineses na Rússia e o ângulo crucial da parceria, a questão energética.

Mas principalmente, estão preparando a próxima visita de Putin a Pequim, que será particularmente espetacular, no quadro do encontro de cúpula Um Cinturão, Uma Estrada (One Belt, One Road – OBOR, em inglês – NT) em 14/15 de maio, conduzido por Xi Jinping.

O Secretariado Geral do PCC – subordinado diretamente a Xi Jinping – mantém esse tipo de consultas anuais de alto nível com Moscou, e ninguém mais. Não é necessário acrescentar que Li Zhanshu responde diretamente a Xi tanto quanto Vaino responde diretamente a Putin. Mais altamente estratégico impossível.
Estes acontecimentos estão também ligados diretamente ao último episódio ligando Os Homens (de Trump) Vazios, neste caso, o pomposo/trapalhão Conselheiro para a Segurança Nacional, Tte General H R McMaster.
Resumidamente, a tirada de McMaster, alegremente regurgitada pela imprensa corporativa submissa, é que Trump teria desenvolvido uma espécie de “química especial” com Xi depois que, no encontro Tomahawks-com-bolo-de-chocolate em Mar-a-Lago, Trump teria conseguido desmanchar o acordo entre China e Rússia sobre a Síria e isolado a Rússia no Conselho de Segurança da ONU.  

McMaster deveria ter dedicado alguns minutos para ler o Comunicado Conjunto dos BRICS sobre a Síria para se inteirar que os BRICS estão dando retaguarda à Rússia.

Não é de se admirar que um observador hindu experimentado se sentiu compelido a observar que “Trump e McMaster parecem dois caipiras completamente perdidos na Metrópole”.


Siga o dinheiro

A prova “B” está centrada no avanço discreto nos acordos entre China e Rússia para substituir o dólar dos Estados Unidos como moeda de reserva por um sistema lastreado no ouro.

A questão envolve também a participação primordial do Cazaquistão – muitíssimo interessa em usar ouro como moeda ao longo da OBOR. O Cazaquistão não poderia estar mais estrategicamente bem posicionado; um ponto central chave da OBOR; membro crucial da União Econômica Eurasiana; membro da Shanghai Cooperation Organization (SCO); e não por acaso, o país que funde a maior parte do ouro russo.

Paralelamente, a Rússia e a China avançam com seus próprios sistemas de pagamento. Agora que o Yuan goza do status de moeda global, a China está desenvolvendo o seu próprio sistema de pagamento, o CIPS, cuidadosamente pensado para não antagonizar frontalmente o sistema SWIFT, internacionalmente aceito e controlado pelos Estados Unidos. Por outro lado, a Rússia tem enfatizado a criação de “uma alternativa” nas palavras da presidente do Banco Central da Rússia, Elvira Nabiulina, na forma do sistema de pagamento Mir – uma versão russa do Visa/Mastercard. O que implica que se os Estados Unidos quiser excluir a Rússia do sistema SWIFT, mesmo temporariamente, pelo menos 90% dos caixas eletrônicos da Rússia serão capazes de operar pelo sistema Mir.
O sistema de cartões UnionPay já está implantado em toda a Ásia – entusiasticamente adotado pelo HSBC, entre outros. Combina um modo “alternativo” de pagamento com um sistema lastreado em ouro em desenvolvimento. Chamar a reação do Federal Reserve dos EUA de “tóxica” é dourar a pílula.

E não se trata apenas de Rússia e China. Estamos falando dos BRICS
O que o primeiro vice presidente do Banco Central da Rússia Sergey Shvetsov tem sublinhado é apenas o começo: “os países BRICS são grandes economias com enormes reservas de ouro e um impressionante volume de produção e consumo do metal precioso. Na China, o comércio de ouro acontece em Xangai e na Rússia em Moscou; Nossa ideia é criar um ligação entre as duas cidades para aumentar o comércio entre os dois mercados.”
A Rússia e a China já estabeleceram sistemas para fazer o comércio global tangenciar o dólar dos Estados Unidos. O que Washington conseguiu fazer com o Irã – expulsar seus bancos do sistema SWIFT – atualmente é impensável contra Rússia e China.

Assim, estamos a caminho, devagar mas com segurança, de um sistema BRICS de "mercado para o ouro.” Uma “nova arquitetura financeira” está sendo construída. A iniciativa implica na futura incapacidade do FED (norte)americano de exportar inflação para outros países – especialmente aqueles incluídos nos BRICS, EEU e SCO.


Os homens vazios

Os generais de Trump, liderados pelo “Cachorro Louco” Mattis, podem tagarelar quanto quiserem sobre a necessidade de dominar o planeta com seus sofisticados comandos Aéreos, Marinhos, Terrestres, Espaciais, Cibernéticos. Ainda assim, não serão suficientes para conter a miríade de alternativas que a parceria estratégica entre China e Rússia está desenvolvendo.

Então, mais que nunca, teremos Homens Vazios como o vice presidente Mike Pence, com sua solenidade prolixa, ameaçando a Coreia do Norte; “o escudo está levantado e a espada está desembainhada”. Esqueça que isso seria uma fala pomposa e entediante mesmo em uma refilmagem barata de filmes B de Hollywood; o que temos é um Pence aspirante a ocupar a Casa Branca ameaçando a Rússia e a China de que pode acontecer alguma questão nuclear séria bem perto das regiões fronteiriças entre Estados Unidos e Coreia do Norte.
Não acontecerá. Apresento o grande T. S. Eliot, que descreveu tudo isso com décadas de antecedência:

“Nós somos os homens vazios / aqueles cheios de palha / amparando uns aos outros / enfeitados e cobertos de nada. Pobres de nós! / Nossas vozes áridas / quando sussurramos todos juntos / são quietas e indefinidas / como o vento na grama seca / ou ratos andando sobre copos quebrados / em nossa adega, hoje seca.”


quarta-feira, 26 de abril de 2017

A lógica perversa do capitalismo verde.



Nem tudo o que é econômico é financeiro. Lamentavelmente, porém, tudo o que é financeiro é econômico. 

Amyra El Khalili*

Para entender como e por que o capitalismo verde avança sobre os territórios indígenas e das populações tradicionais, é necessário reconhecer os paradoxos da água; ou seja, a água é vida e morte, liberdade e escravidão, esperança e opressão, guerra e paz. A água é um bem imensurável, insubstituível e indispensável à vida em nosso planeta, considerada pelo Artigo 225 da Constituição Brasileira, bem difuso, de uso comum do povo.

Nesse sentido, a recente descoberta do que pode ser o maior aquífero de água doce do mundo na região amazônica, o Alter do Chão, que se estende sob as bacias do Marajó (PA), Amazonas, Solimões (AM) e Acre, todas na região amazônica , chegando até as bacias subandinas, exige atenção e cuidado por parte da sociedade brasileira.

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Convulsões sociais ocorrerão se não estivermos preparados para novos enfrentamentos geopolíticos, uma vez que o aquífero Alter do Chão, que chega a 162.520 mil quilômetros cúbicos, possui mais que o triplo da capacidade hídrica do Aquífero Guarani com 45 mil quilômetros cúbicos, considerado até então, o maior do mundo. 

Segundo estimativas de cientistas, o Alter do Chão abasteceria o planeta por pelo menos 250 anos. Sendo assim, ele atrai, inevitavelmente, a cobiça dos países do hemisfério Norte, que já não têm mais água para o consumo. Processo similar acontece no Oriente Médio, com disputas sangrentas pelo petróleo e gás natural.

O controle sobre essa riqueza hídrica depende exclusivamente do controle territorial. As águas são transfronteiriças e avançam sobre os limites entre municípios, estados e países. O recorde histórico da cheia do Rio Madeira em 2014, que inundou cidades na Bolívia, além das trágicas inundações nos estados de Rondônia e no Acre, é um bom exemplo dessa característica das águas.

De modo geral, a água está sendo contaminada com a mineração e com o despejo de efluentes, agrotóxicos e químicos, e poderá ser poluída também com a iminência da exploração de gás de xisto, onde a técnica usada para fraturar a rocha pode contaminar as águas subterrâneas, além de intoxicar o ar.

Segundo estimativas de um relatório do projeto Land Matrix, que reúne uma série de organizações internacionais focadas na questão agrária, mais de 83,2 milhões de hectares de terra em países em desenvolvimento foram vendidos em grandes transações internacionais desde 2000. 

Os países economicamente mais vulneráveis da África e da Ásia perderam extensas fatias de terras em transações internacionais nos últimos 10 anos. A África é o principal alvo das aquisições, seguida da Ásia e América Latina. Essas compras foram estimuladas pelo aumento nos preços das commodities agrícolas e pela escassez de água em alguns dos países compradores, que o fazem para a exploração da agricultura, mineração, madeira e do turismo.

Outros países são alvos dessa ofensiva fundiária, como a Indonésia, Filipinas, Malásia, Congo, Etiópia, Sudão e o Brasil, que teve mais de 3,8 milhões de hectares vendidos para estrangeiros somente nos últimos 12 anos. E estamos falando de terras que poderiam ser adquiridas legalmente através da compra; porém, as terras indígenas e de populações tradicionais são terras da União e, portanto, não podem ser negociadas e nem alienadas, pois estão protegidas por leis nacionais e internacionais.

São justamente essas terras que estão preservadas e conservadas ambientalmente, além de serem as mais ricas em biodiversidade, água, minério e energia (bens comuns). São nessas áreas que ocorre o avanço desenfreado do capitalismo verde que, na verdade, é o mesmo velho e desgastado modelo colonialista e extrativista. Com uma nova roupagem ecológica e supostamente sustentável, mas imperialista e expansionista neoliberal, visa, prioritariamente, à apropriação dos bens comuns. De uso público e tutelados pelo Estado, esses bens são definidos como “recursos naturais”, assim como os trabalhadores são considerados pelo sistema como “recursos humanos”. Tudo neste modelo “verde” é transformado em “utilitário” com a finalidade de ser usado ilimitadamente e no curto prazo.

Essa concepção utilitarista do capitalismo verde já é confrontada com outros modelos econômicos e outras propostas de vida, como o Bem Viver, dos povos das florestas e campesinos, a economia socioambiental, a economia solidária e a agroecologia, dentre outras que estão florescendo.

Como já dito, esse modelo econômico com purpurina verde pretende apropriar-se dos bens comuns e, para isso, é necessário tomar as terras que estão sob o guarda-chuva da União e que pertencem há milênios aos povos indígenas e demais povos das florestas.

Para que essa guerra seja viabilizada, algumas leis estão sendo aprovadas com o claro propósito de beneficiar o mercado financeiro. Paralelamente, outras leis são desmanteladas para institucionalizar e legitimar a ocupação de estrangeiros, empresários e banqueiros em territórios latino-americanos e caribenhos, como é o caso dos direitos fundamentais dos povos indígenas, o Código Florestal, os direitos trabalhistas, entre outros.

Dessa forma, contratos unilaterais e perversos são assinados por atores com relações de forças totalmente desiguais (assimétricas), em que confunde-se, propositadamente, “financiar” com “financeirizar”.

Aqui cabe uma elucidativa exemplificação: financiar é, por exemplo, permitir que uma costureira compre uma máquina de costura e consiga pagá-la com o fruto de seu trabalho, tornando-se independente de um empregador para que venha a ser empreendedora.

Já, financeirizar é fazer com que a costureira endivide-se para comprar uma máquina de costura e jamais consiga pagá-la, até que o credor possa tomar a máquina da costureira por inadimplência (não cumprimento do acordo mercantil).

A financeirização faz com que uma parte do acordo, a descapitalizada, fique endividada e tenha que entregar o que ainda possui, como as terras indígenas. E, assim, são desenhados contratos financeiros e mercantis com a finalidade de vincular as terras ricas em bens comuns para que essas garantias fiquem alienadas e à disposição da parte mais forte: a capitalizada.

Nesses termos, as populações indígenas e os povos das florestas deixam de poder usar o que lhes mantêm vivos e o que preservam há séculos para as presentes e futuras gerações, as florestas e as águas, para que terceiros possam utilizá-los, além de passarem a controlar também seus territórios.

É essa a lógica perversa do capitalismo verde, sustentado pelo argumento de que as florestas “em pé” somente serão viáveis se tiverem valor econômico. O que é uma falácia, pois valor econômico as florestas “em pé” e as águas sempre tiveram. O que não tinham, até então, era valor financeiro, já que não há preço que pague o valor econômico das florestas, dos bens comuns e dos “serviços” que a natureza nos proporciona gratuitamente.

O capitalismo somente avança nas fronteiras que consegue quantificar; porém, jamais conseguirá se apropriar do que a sociedade puder qualificar.

O bem ambiental, conforme explica o art. 225 da Constituição, é “de uso comum do povo”, ou seja, não é bem de propriedade pública, mas, sim, de natureza difusa, razão pela qual ninguém pode adotar medidas que impliquem gozar, dispor, fruir do bem ambiental, destruí-lo ou fazer com ele, de forma absolutamente livre, tudo aquilo que é da vontade, do desejo da pessoa humana no plano individual ou metaindividual.

Ao bem ambiental, é somente conferido o direito de usá-lo, garantido o direito das presentes e futuras gerações.

Não podemos nos omitir nem deixar de nos posicionar em favor daqueles que são os guardiões das florestas e das águas. Temos muito que aprender com esses povos para também preservar os conhecimentos milenares da origem da humanidade.

Somente qualificando o bem comum, ao dar-lhe importância econômica pela garantia da qualidade de vida que nos proporciona e nos recusando a colocar-lhe preço (financeirizando-o), é que poderemos impedir o avanço desenfreado do capitalismo verde sobre os territórios indígenas e das populações tradicionais.

Se o povo, o proprietário hereditário dos bens comuns decidir que o ouro, o petróleo e o gás de xisto, dentre outros minérios, devem ficar debaixo do solo para que possamos ter água com segurança hídrica e alimentar, que sua vontade soberana seja cumprida.

Notas:
1 “Aquífero na Amazônia pode ser o maior do mundo, dizem geólogos”. Disponível em: <http://g1.globo.com/brasil/noticia/2010/04/aquifero-na-amazonia-pode-ser-o-maior-do-mundo-dizem-geologos.html>. Acesso em: 19 abr. 2010.

2 “Plantando no vizinho. 10 países que estão comprando terras estrangeiras aos montes”. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/ economia/mundo/noticias/10-paises-que-estao-comprando-terras-estrangeiras-aos-montes>. Acesso em: 24 mai. 2012.

3 MADEIRO, Carlos. Maior aquífero do mundo fica no Brasil e abasteceria o planeta por 250 anos. Disponível em 21 mar. 2015. Acesso em 21 abr. 2017 https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2015/ 03 /21/maior-aquifero-do-mundo-fica-no-brasil-e-abasteceria-o-planeta-por-250-anos.htm.

Referências:
Financeirização da Natureza: a última fronteira do capitalJornal Porantim. Publicação do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), organismo vinculado à CNBB. Ano XXXVI,  nº 368, Brasília, Set 2014.  Disponível em 09 dez. 2014. Acesso em 21 mar. 2017.   http://cimi.org.br/pub/Porantim%20368%20-%20para%20SITE_1.pdf

EL KHALILI, Amyra. A lógica perversa do capitalismo verde. Fórum de Direito Urbano e Ambiental – FDUA, Belo Horizonte, ano 13, n. 78, p. -, nov./dez. 2014.

_____O que está em jogo na “economia verde?. Disponível em 18 mar. 2017 em português: http://www.correiocidadania.com.br/2-uncategorised/ 12409-o-que-esta-em-jogo-na-economia-verdeem espanhol:http://operamun di.uol.com.br/dialogosdelsur/que-esta-en-juego-en-la-economia-verde/ 18032017/. Acesso em 21 de abr. 2017

*Amyra El Khalili é professora de economia socioambiental e editora das redes Movimento Mulheres pela P@Z! e Aliança RECOs – Redes de Cooperação Comunitária Sem Fronteiras.


Prefeitos decretam Ponto Facultativo para que a população participe da Greve Geral de 28 de abril.


Os prefeitos de Farias Brito (Ceará), São Leopoldo (Rio Grande do Sul) e de Porto da Folha (SE) já publicaram decretos de ponto facultativo na sexta-feira (28) para que os trabalhadores não sejam prejudicados ao aderir a paralisação; em Campo Grande (MS), prefeito prometeu não cortar ponto dos funcionários públicos.


A adesão à greve geral convocada por centrais sindicais e movimentos sociais para essa sexta-feira (28) está cada vez maior. Centenas de categorias, por todo o país, já prometeram cruzar os braços no dia de mobilizações contra as reformas da Previdência e trabalhista do governo Temer. Nesta terça-feira (25), ao menos duas prefeituras já decretaram ponto facultativo no dia da greve.

O prefeito de Farias Brito, no Ceará, José Maria Gomes Pereira (PCdoB), decretou ponto facultativo na sexta-feira “considerando que no dia 28 de abril acontecerá uma greve geral com abrangência nacional na defesa dos Direitos Trabalhistas e da Previdência” e “considerando que o direito de greve é de titularidade dos trabalhadores, pois compete a eles decidir sobre a oportunidade e os interesses a serem defendidos”.
“A greve é um direito social, previsto na Constituição Federal de 1988”, completa o decreto.
O prefeito de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, Ary José Vanazzi (PT), foi mas breve, mas também decretou o ponto facultativo no dia 28 de abril “em razão da greve geral”.
Na capital do Mato Grosso do Sul, Campo Grande, o prefeito Marquinhos Trad (PSD) não decretou ponto facultativo, mas prometeu que não cortará o ponto dos servidores municipais que aderirem à greve.
“Existem algumas greves que são ao bem do interesse da nação, da coletividade, e essa é uma delas”, afirmou.
Na contramão, em São Paulo, o prefeito João Doria (PSDB) afirmou, nesta terça-feira (25), que descontará o dia de trabalho dos funcionários públicos municipais que aderirem à mobilização.

terça-feira, 25 de abril de 2017

Brasil. Número de trabalhadores rurais assassinados em 2016 é o maior dos últimos 13 anos.

Da RBA
Para o MST, chacina em Colniza foi “tragédia anunciada” | Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil
A chacina de nove trabalhadores rurais ocorrida no último dia 20, na área rural de Colniza (a 1.065 quilômetros da capital, Cuiabá), no Mato Grosso, aconteceu apenas um dia depois da Comissão Pastoral da Terra (CPT) ter divulgado o relatório “Conflitos no Campo – Brasil 2016”.
Segundo o estudo, 61 pessoas foram mortas em conflitos no campo no ano de 2016, o que equivale a uma média de cinco assassinatos por mês – número inferior, nos últimos 25 anos, apenas a 2003, quando foram registrados 73 assassinatos. Das 61 vítimas, 13 eram indígenas, quatro quilombolas, seis mulheres e 17 jovens de 15 a 29 anos. Essa é a 32ª edição do relatório que reúne dados sobre os conflitos e violências sofridas pelos trabalhadores e trabalhadoras do campo brasileiro.
Os trabalhadores rurais assassinados em Colniza, todos homens e adultos, foram mortos por disparos de armas de fogo e golpes de facas dados por indivíduos encapuzados, segundo a Polícia Civil de Mato Grosso.
“Diante dos últimos acontecimentos no Brasil percebemos que os mecanismos de justiça, de garantia dos direitos e segurança, em quase todas as chacinas, massacres e assassinatos nos conflitos agrários, não são levados a tempo. O que sobra são as injustiças e o sangue dos trabalhadores que jorram a mando ou pelas próprias mãos dos latifundiários e dos barões do agronegócio”, declarou, em nota, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
O MST definiu a chacina como uma “tragédia anunciada” e ressaltou que a região onde se localiza a cidade é uma das mais violentas do Mato Grosso. “Colniza hoje chora a morte e o desaparecimento dessas pessoas abandonadas pelo Estado, como há dois anos choraram a morte de Josias Paulino de Castro e Irani da Silva Castro – dirigentes camponeses do município, assassinados dois dias após denunciar ameaças para o ouvidor nacional do Incra. Mato Grosso chora por saber que há outras mortes anunciadas e que nada esta sendo encaminhado no sentido de impedir essas novas tragédias. O Brasil chora pela repetição desses ocorridos, que marcam o mês de abril. Tragédias como Eldorado dos Carajás que dia 17 completou 21 anos de impunidade, e que deixa a sensação de que trabalhadores podem ser assassinados que nada acontecerá aos mandantes. Assim como tantas outras mortes, não divulgadas”, afirmou o movimento.
A ex-presidenta Dilma Rousseff  também se manifestou na manhã desta segunda-feira (24) sobre a chacina dos trabalhadores rurais cobrando ações que garantam a justiça no campo. “Frente à bárbara chacina na Gleba Taquaruçu do Norte, no Mato Grosso, expresso minha solidariedade às famílias das nove vítimas, trabalhadores rurais. São necessárias ações concretas de governo para realizar a justiça no campo, uma prioridade que defendemos e implementamos em nosso governo. A sociedade brasileira exige a punição dos responsáveis, diretos e mandantes”, escreveu em sua conta do Facebook.

Paraná. Polícia Federal informa que já prendeu oito suspeitos de envolvimento com o mega assalto no Paraguai.

Foto - Whats app.
Paula Laboissière - Repórter da Agência Brasil.
Oito pessoas foram presas, até agora, no Paraná suspeitas de participar do assalto milionário ontem (24) à sede da empresa de transportes de valores Prosegur, em Ciudad del Este, no Paraguai. 

De acordo com informações divulgadas hoje (25) pela Polícia Federal, as buscas na região de Foz do Iguaçu resultaram na apreensão de seis fuzis, munições, dois barcos e sete veículos.
Foto - Whats app.
Nessa segunda-feira, um grupo de cerca de 50 pessoas assaltou a sede da empresa na tríplice fronteira com o Brasil (Foz do Iguaçu) e a Argentina (Puerto Iguazú), para roubar cerca de US$ 40 milhões (cerca de R$ 125 milhões). O dinheiro estava guardado em um cofre, que foi aberto com uso de explosivos e fuzis antiaéreos.
A Polícia Federal também confirmou que três suspeitos morreram durante confrontos com agentes da Polícia Rodoviária Federal, num trecho da BR-277, no Paraná.
Às 10h30, será concedida entrevista coletiva na Delegacia de Polícia Federal em Foz do Iguaçu para detalhar as buscas.
*Texto alterado às 10h02 para corrigir informação. Três suspeitos morreram em confrontos no Brasil, e não no Paraguai.
Edição: Talita Cavalcante.
Link: http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2017-04/chega-oito-o-numero-de-suspeitos-presos-no-parana-apos-assalto-no-paraguai
LEIA MAIS:
1 - Três suspeitos de assalto no Paraguai morrem em confronto com a Polícia Rodoviária Federal. Veja as fotos. https://maranauta.blogspot.com.br/2017/04/tres-suspeitos-de-assalto-no-paraguai.html
2 - Paraguai. Assaltantes roubam US$ 40 milhões de dolares; criminosos são brasileiros, diz ministro. Veja as fotografias. https://maranauta.blogspot.com.br/2017/ 04/paraguai-assaltantes-roubam-us-40.html