À medida em que um número maior de pessoas vai tendo acesso à
internet, fica cada vez mais difícil para os meios tradicionais de
comunicação realizar desvios na produção de notícias. Estão sendo
levantados os véus de interesses que recobrem o noticiário divulgado
por grandes meios de comunicação, não só no Brasil mas em várias outras
partes do mundo.
Numa noite de sábado o Jornal Nacional surpreendeu os
telespectadores. Depois de um intervalo comercial, os apresentadores
titulares do programa (que geralmente não trabalham aos sábados)
passaram a ler o princípios editoriais das Organizações Globo. Muita
gente ficou intrigada. Porque aquilo naquela hora? Não havia mais
nenhuma notícia importante no mundo a ser dada? E porque só agora,
depois de 86 anos de existência, a empresa resolveu divulgar na TV suas
normas de trabalho?
Milhões de telespectadores em todo o Brasil ficaram sem respostas.
Só quem tem acesso à internet soube do que se tratava. A explicação
para o inusitado texto lido no Jornal Nacional estava no
blogue “O Escrevinhador”, de Rodrigo Vianna. Nele eram reproduzidas
informações de um jornalista da Globo sobre como a emissora pretendia
cobrir a indicação do embaixador Celso Amorim para o Ministério da
Defesa.
Durante os oito anos do governo Lula em que esteve à frente do
Ministério das Relações Exteriores, Amorim sempre foi visto com
desagrado pelas Organizações Globo. A empresa não engolia as posições
do ministro em defesa da soberania nacional, principalmente quando elas
não coincidiam com os interesses dos Estados Unidos.
A volta de Amorim ao primeiro escalão do governo foi uma afronta
para a Globo. Segundo o jornalista mencionado no blogue a orientação da
empresa era clara: “os pauteiros devem buscar entrevistados para o Jornal Nacional, Jornal da Globo e Bom dia Brasil
que comprovem a tese de que a escolha de Celso Amorim vai gerar
‘turbulência’ no meio militar. Os repórteres já recebem a pauta assim,
direcionada: o texto final das reportagens deve seguir essa linha. Não
há escolha”.
Pena que só internautas atentos ficaram sabendo disso. Jornais e
revistas não repercutiram o assunto e muita gente acabou achando que,
finalmente, a Globo havia tomado a iniciativa magnânima de expor à
sociedade seus princípios editoriais partindo de vontade própria.
Mas mesmo atingindo um público relativamente muito menor do que o da
televisão, a internet prestou um bom serviço à sociedade. Inibiu um
pouco a ação nefasta armada contra o novo ministro e mostrou que a
poderosa organização não consegue mais fingir que denúncias e criticas
não a atingem. A Globo sentiu o golpe e tentou responder recorrendo a
princípios por ela violados várias vezes ao longo de sua história.
Esperava-se uma mudança de conduta a partir daquele momento. Não foi o que ocorreu. Na mesma edição a apresentadora do Jornal Nacional
disse o seguinte: “está foragida a merendeira que pôs veneno de rato
na comida de crianças e professores numa escola pública de Porto
Alegre”, mostrando uma foto da moça de 23 anos.
Poderia até ser verdade, mas o Jornal Nacional baseava-se
apenas numa versão da policia, negada pela acusada. Seu advogado havia
divulgado a palavra dela, através da Rádio Guaíba, oito horas antes do
JN ir ao ar. Mas para não perder uma notícia espetacular –
envenenamento de crianças – nada disso foi levado em conta. Nem os
tais princípios editoriais.
Se não fosse outra vez a internet, fatos como esse não estariam
sendo contados aqui em detalhes. Foi o blogue do Mello que registrou a
violação dos princípios editorais da Globo, na mesma edição em que eles
foram divulgados, acompanhados da gravação do desmentido da merendeira
feito através do rádio.
Dessa forma vão sendo levantados os véus de interesses que recobrem o
noticiário divulgado por grandes meios de comunicação, não só no
Brasil mas em várias outras partes do mundo. Parece ser um caminho sem
volta.
À medida em que um número maior de pessoas vai tendo acesso à
internet, fica cada vez mais difícil para os meios tradicionais de
comunicação realizar desvios desse tipo.
Materia copiada de : http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/laurindo-lalo-leal-internet-assusta-os-poderosos.html
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