domingo, 11 de setembro de 2011

Os Corruptos Somos Nós

Dias atrás gerou-se uma grande polêmica com a absolvição da deputada federal Jaqueline Roriz, filha do ex-governador de Brasília Joaquim Roriz. Apesar dos vídeos mostrando que ela havia recebido propinas em 2006, a tese da defesa de que ela não era deputada à época e portanto não poderia ter seu mandato cassado acabou prevalecendo.


Contudo, não irei debater aqui a insólita tese de defesa, e que abre um precedente perigoso - Fernandinho Beira Mar, por exemplo, não poderia ser cassado se deputado fosse. Vamos falar sobre a indignação seletiva da população.


O que mais se viu nas redes sociais e na imprensa foi um sentimento de "mata e esfola", criticando a corrupção dos políticos e clamando por reforma ou prisões. Havia um sentimento difuso de revolta e de descrença na classe política repercutido pela população, pelo menos a que tem acesso à internet.


Entretanto, leitor: você é corrupto. Eu sou corrupto. Todos somos.


Como escrevi no Twitter de forma insistente durante a semana passada, os políticos de Brasília não nascem por "geração espontânea" do solo árido da Capital Federal. Alguém os coloca lá.


E "esse alguém" é semelhante aos políticos, afinal de contas votou nele e o confiou como seu representante nas esferas de poder político. É o eleitor, que trabalha, paga seus impostos e especialmente vota. Ei, é com você mesmo.


O Congresso Nacional nada mais é que um reflexo da sociedade, sendo um microcosmo das práticas, das virtudes e de seus defeitos. Por mais que seja cômodo imaginar que é algo apartado da sociedade, não é. Se o Congresso é formado por picaretas é porque somos picaretas - nós os colocamos lá.


Sejamos práticos. O cidadão que reclama da deputada não ter sido cassada por ter recebido propina é o mesmo que paga "uma cervejinha" ao guarda para não ser multado, ou trapaceia no trabalho para obter uma melhor posição - ainda que o colega se prejudique. Estamos no mundo do "jeitinho", da acochambração, do desrespeito à lei.


Portanto, o leitor deve estar ciente que os políticos nada mais são que um microcosmo da sociedade. É bastante cômodo entendê-los como um mundo isolado, mas não o é. Se Brasília é corrupta é porque a sociedade é corrupta. Não reclame: melhore.


Tem outra coisa.


Algo que vemos muito é o cidadão dizer que "não se lembra" em quem votou para deputado ou senador, ou que votou em alguém que prometeu algum tipo de vantagem - stricto sensu, corrupção. Ou seja, no momento em que poderia ter mudado a situação e colocado um grupo melhor o eleitor prefere votar "em qualquer um", ou naquele com campanha mais midiática, ou em que lhe prometeu algum tipo de vantagem.


Traduzindo: no momento em que poderia alterar o panorama político, o eleitor prefere não se envolver na escolha ou aproveitar para auferir algum tipo de benefício direto ou indireto da situação. Na prática, compartilha-se o processo anômalo de escolha, acabando-se por "premiar" aqueles mais abastados ou de maior influência midiática.


Em português claro: se você não se lembra em quem votou, votou por algum tipo de conveniência ou não acompanha a atuação de seu parlamentar, não pode reclamar. Tem o político que merece.


Democracia não é para apenas se exercer no momento em que se aperta o número do candidato e o "confirma". Faz-se necessário exercer o acompanhamento das atividades dos Poderes Executivo e Legislativo. Cobrar seu deputado ou senador, observar sua atuação, censurá-lo se o caso for.


No entanto, prefere-se a solução mais fácil. Vota-se em qualquer um ou em alguma conveniência e depois esquece-se tudo. Em um momento como este que narramos basta xingar e protestar. Em português claro? Hipocrisia.


Estamos em um mundo que glorifica o "ser esperto", valoriza o "jeitinho", glorifica a burla das regras. O comportamento dos políticos é semelhante, é um espelho da corrupção e dos vícios do dia a dia das pessoas comuns. Se o deputado é corrupto é porque seu eleitor também o é - senão não teria votado nele.


Vale lembrar, também, que o sistema político brasileiro impele à formação de conchavos - ou acordos - para que se possa governar com um mínimo de estabilidade. Com o excessivo número de partidos acaba se tornando complicado governar e aprovar os projetos de lei necessários sem estabelecer acordos.


Voltarei ao tema, mas procurar manter uma coerência nos votos diminui a necessidade destes acordos - muitas vezes com contrapartidas bastante duvidosas, para se dizer o menos. Uma reforma política se faz necessária, mas parece distante de ser aprovada.


Portanto, não reclame de Brasília: seja uma pessoa melhor.
copiado de: http://pedromigao.blogspot.com

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