Em
assembleia realizada no último dia 17, os estudantes do Instituto de Economia
da Unicamp decidiram propor à Congregação desse Instituto que o ex-governador
de São Paulo e seu ex-docente seja considerado persona non grata.
Em nota, os
estudantes fazem um resgate histórico da atuação do ex-governador no que diz
respeito à educação superior no Estado. Os alunos apontam autoritarismo,
contingenciamento de recursos, privatismo, criminalização dos movimentos, entre
outras críticas, no na relação de Serra com as universidades paulistas.
“José Serra
não só foi contra, de diversas formas e repetidas vezes, a respeitada linha de
pensamento heterodoxo do Instituto de Economia da Universidade Estadual de
Campinas, na qual ele mesmo lecionou como parte do corpo docente de 1979 a
1983, como também atuou contra, tanto por omissão quanto deliberadamente, o
desenvolvimento institucional desta mesma Casa quanto das Universidades
Públicas Paulistas como um todo”, diz o texto.
Leia abaixo:
JOSÉ SERA:
PERSONA NON GRATA
A assembléia
dos estudantes do Instituto de Economia da UNICAMP, realizada no dia
17/11/2011, deliberou que o ex-governador José Serra fosse declarado persona
non grata deste Instituto. Alguns dos motivos para tal declaração são expostos
no texto subseqüente que foi redigido a partir de outra deliberação da
supracitada assembléia. Serra e as universidades paulistas. Importante
conquista para a comunidade universitária como um todo, USP, UNESP e UNICAMP
gozam de autonomia universitária desde 1989. Financeiramente a autonomia se dá
via um repasse direto de 9,57% do ICMS arrecadado no estado de São Paulo, o que
permitiu evitar a política de “pires na mão” do modelo anterior, que sofria
sobressaltos de toda ordem já que os recursos eram repassados sob demanda.
Antes de mais nada, é preciso relembrar o que se
passou antes da posse de José Serra no governo de São Paulo: o ex-governador de
São Paulo, Cláudio Lembo (do PFL), vetou no último dia útil de seu mandato (29
de dezembro de 2006) o aumento de repasse de verba para as três universidades
públicas paulistas (USP, UNICAMP e UNESP) e também para o Centro Paula Souza
(responsável pelas faculdades tecnológicas e escolas técnicas).
Este aumento
tinha sido aprovado pela Assembléia Legislativa depois de pelo menos oito meses
de negociação. O repasse previsto seria de 10,43% do ICMS, mas com o veto ficou
em 9,57%, uma diferença de cerca de R$ 500 milhões. Segundo declaração do
ex-governador Cláudio Lembo, consultou José Serra antes de tomar a medida
afirmando, além disso, que não faltava dinheiro para as universidades públicas
e que o problema é a má administração da verba.
As grandes
decisões de interesse comum para distribuição e utilização desse repasse é
feita pelo Conselho dos Reitores das Universidades Estaduais de São Paulo
(CRUESP), que é sempre presidido por um dos três reitores em forma de rodízio.
Em 2007, em seu primeiro mês de mandato como
governador do estado José Serra criou a Secretaria do Ensino Superior, a qual
vinculou as três universidades paulistas. Além disso, nomeou José Aristodemo
Pinotti o qual, por decreto, passou a ser o novo presidente do CRUESP, com
poderes acima dos reitores das universidades. Seguindo desta ação autoritária e
centralizadora houve o contingenciamento de parte dos repasses às universidades
(só no primeiro mês, a USP teve uma perda de R$11,5 milhões, a UNESP recebeu
apenas R$ 2,4 milhões de R$ 12,7 milhões e a UNICAMP recebeu R$ 5,5 milhões a
menos).
Professor socorrendo Policial ferido. |
Neste contexto houve uma das greves mais cansativas
nas universidades públicas paulistas, com ocupação da reitoria da USP e longo
embate até que o governo estadual retrocedesse e alterasse o decreto,
devolvendo às universidades parte da autonomia que lhes é de direito.
O pacote privatista cindia pesquisa e ensino,
sediava a pesquisa em ilhas, associando-a a empresas, substituía o ensino
presencial por telecursos e submetia o todo a critérios empresariais.
Resultou em
greves por todo o Estado, na primeira ocupação da reitoria da USP (maio-junho,
2007) e na demissão do secretário Pinotti.
O governo, porém, não desistiu. Passou a priorizar
a liquidação do movimento que obstou o primeiro carro-chefe da campanha de
Serra à Presidência. Fez a reitoria nomear um investigador de polícia como
diretor de segurança da USP no final do ano de 2007.
Em 2009, durante o período de negociação de pauta
unificada, onde são discutidas as correções salariais para as três
universidades, José Serra atuou de forma autoritária novamente, enviando a
tropa de choque da PM ao campus, a fim de “garantir o livre acesso” à
universidade.
Em janeiro
de 2010, José Serra recebeu, em suas mãos, a lista tríplice da USP com os nomes
dos três canditados à reitoria que angariaram mais votos dentro da universidade
– por tradição e bom senso, sempre foi nomeado o candidato mais votado como
reitor tanto na USP, UNESP quanto na UNICAMP. O que sucedeu foi que o candidato
mais votado foi preterido em favor de João Grandino Rodas, que deixou a
diretoria da Faculdade de Direito da USP (FDUSP) para assumir a Reitoria.
Recentemente,
dia 29 de setembro de 2011, a Congregação da Faculdade de Direito da USP (da
qual fazem parte alunos, funcionários e professores) decidiu, de forma unânime,
considerar
o reitor da USP, João Grandino Rodas, “persona non grata” na escola.
Além disso,
a mesma decidiu ainda encaminhar ao Ministério Público uma lista de medidas
tomadas por Rodas, ex-diretor da faculdade, que julga merecedoras de atenção,
entre elas gasto com os boletins com críticas pessoais à faculdade, o
fechamento da biblioteca da São Francisco, último ato da gestão de Rodas na
unidade, a assinatura de um contrato de gaveta para batizar uma sala de aula
com o nome do banqueiro Pedro Conde e a transferência para o gabinete da
reitoria de dois tapetes orientais doados pela Fundação Arcadas à direção da
faculdade. Além disso, Rodas tem passado de autoritarismo por ter autorizado a
entrada da Polícia Militar no campus Butantã da USP em 9 de junho de 2009 para
reprimir uma manifestação de funcionários e estudantes e em 2007 por ter
chamado a tropa de choque da Polícia Militar para acabar com uma ocupação
simbólica da Faculdade de Direito, organizada por movimentos sociais.
Tendo este
resgate histórico em vista, consta que José Serra não só foi contra, de
diversas formas e repetidas vezes, a respeitada linha de pensamento heterodoxo
do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas, na qual ele
mesmo lecionou como parte do corpo docente de 1979 a 1983, como também atuou
contra, tanto por omissão quanto deliberadamente, o desenvolvimento
institucional desta mesma Casa quanto das Universidades Públicas Paulistas como
um todo.
Sendo assim,
consideramo-nos obrigados a declarar José Serra como persona non grata desta
Casa e encaminhamos, cordial e respeitosamente, o pedido para que seja
discutida e avaliada a declaração do mesmo como persona non grata pela
Congregação desta Casa.
.......................................
R E L E M B R A N D O.
27 de março de 2010 às 14:06
Leandro Fortes: O mundo bizarro de José Serra
Quase todos perdidos de armas nas mãos
26/03/2010
por Leandro Fortes, no Brasília, eu vi
Muito ainda se falará dessa foto de Clayton de Souza, da Agência
Estado, por tudo que ela significa e dignifica, apesar do imenso
paradoxo que encerra. A insolvência moral da política paulista gerou
esse instantâneo estupendo, repleto de um simbolismo extremamente caro à
natureza humana, cheio de amor e dor.
Este professor que carrega o PM
ferido é um quadro da arte absurda em que se transformou um governo
sustentado artificialmente pela mídia e por coronéis do capital. É um
mural multifacetado de significados, tudo resumido numa imagem
inesquecível eternizada por um fotojornalista num momento solitário de
glória.
Ao desprezar o movimento grevista dos professores, ao debochar
dos movimentos sociais e autorizar sua polícia a descer o cacete no
corpo docente, José Serra conseguiu produzir, ao mesmo tempo, uma obra
prima fotográfica, uma elegia à solidariedade humana e uma peça de
campanha para Dilma Rousseff.
Inesquecível, Serra, inesquecível.
http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/leandro-fortes-o-mundo-bizarro-de-jose-serra.html
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