27/11/2011 13:11,
Por Redação, com colaboradores - de Natal e São Paulo
João Faustino ocupou altos cargos nas administrações de Serra. |
Sob custódia da polícia potiguar, o estado de saúde do suplente de senador João Faustino
Ferreira Neto é considerado regular pelos médicos da Casa de Saúde São
Lucas. O primeiro boletim médico, liberado na manhã deste domingo,
esclarece que o político passa bem e deverá receber alta nas proximas
horas. Por volta das 15h deste sábado, João Faustino havia reclamado de
dores no peito enquanto estava preso no quartel do Comando Geral da
Polícia Militar. Uma vez liberado do hospital, Faustino voltará para a
cadeia, nos arredores de Natal.
João Faustino é suplente do senador Agripino Maia (DEM-RN) e homem de
confiança do candidato tucano derrotado nas últimas eleições, José
Serra. Na época em que Serra ocupava o Palácio dos Bandeirantes,
Faustino despachava diretamente com ele. Como subchefe da Casa Civil,
era subordinado ao então chefe da Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira,
hoje senador do PSDB. Quando Serra se lançou candidato, João Faustino
passou a coordenar a arrecadação de fundos de campanha fora de São
Paulo. No Estado paulista, a coordenação era de Paulo Vieira de Souza,
conhecido como Paulo Preto, alvo também de investigações da
Polícia Federal por suspeitas de desvios de recursos destinados ao
complexo viário conhecido como Rodoanel.
A prisão de João Faustino ocorreu na manhã desta quinta-feira, no bojo da da Operação Sinal Fechado,
deflagrada pelo Ministério Público Estadual. O MP investiga supostas
fraudes no Departamento de Trânsito do Rio Grande do Norte (DetranRN),
nas quais o nome de João Faustino aparece como membro da suposta
organização criminosa. Policiais militares da Companhia de Policiamento
Ambiental (Cipam) realizam a escolta do político, que permanece sob
tutela do Estado.
Na manhã deste sábado, os médicos do Hospital São Lucas, nesta
capital, divulgaram boletim no qual informam que João Faustino permanece
internado na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do hospital. As
visitas estão restritas aos familiares conforme determinação da equipe
médica assistente e normas da instituição.
Leia, na íntegra, a nota do Hospital São Lucas:
Informamos que o senhor João Faustino Ferreira Neto encontra-se
hospitalizado na Unidade de Terapia Intensiva da Casa de Saúde São Lucas
desde as 15 horas do dia 26 de agosto do corrente ano, ora sob
tratamento médico especializado. O estado clínico do paciente é regular.
As visitas estão restritas aos familiares conforme determinação da equipe médica assistente e normas desta instituição.
Natal, 27 de novembro
Miguel Angel Sicolo – Coordenador Médico
Francisco Edênio Rego Costa – Médico Cardiologista
Sem habeas corpus
Os envolvidos na Operação Sinal Fechado que tiveram a prisão
preventiva e temporária decretada seguem detidos no Quartel do Comando
Geral da Polícia Militar. Nesta sexta-feira, o desembargador Herval
Sampaio negou o pedido de habeas corpus impetrado em favor de João
Faustino e do empresário Marcus Vinícius Saldanha Procópio. Para o
magistrado, o período da prisão temporária – cinco dias – não é
suficiente de acarretar sérios prejuízos aos prisioneiros. Juíza da 6ª
Vara Criminal de Natal, Emanuella Cristina Pereira Fernandes também
indeferiu o pedido de revogação da prisão de outros sete detentos.
Para o desembargador Sampaio, que substitui o desembargador Caio
Alencar no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, a prisão de João
Faustino e Marcus Procópio torna-se necessária devido à complexidade do
caso, em que se investiga uma suposta organização criminosa muito bem
estruturada, constituída por pessoas influentes no Rio Grande do Norte
que tendem a interferir na busca de elementos probatórios feita pelo
Ministério Público. O magistrado acrescentou, em conversa com
jornalistas, que a análise do material apreendido até o agora implicará,
certamente, na realização de outras diligências, diante da
possibilidade do surgimento de novas provas, o que justifica a
manutenção dos réus em confinamento.
O desembargador Sampaio também negou o pedido de prisão domiciliar
feito pelos advogados de João Faustino. A defesa do ex-parlamentar
argumenta, nos autos, que ele é uma pessoa idosa (70 anos) e sofre de
problemas cardíacos. Herval Sampaio afirmou que o pedido não se
justifica, pois o período de prisão é breve e o tratamento da
cardiopatia não será interrompido, pois é feito a base de medicamentos.
“A substituição da prisão domiciliar não é cabível em prisão
temporária, sob pena do objetivo da mesma perder o seu sentido”,
sentenciou.
Na véspera, a juíza Emanuella Fernandes também indeferiu o pedido de
revogação da prisão de José Gilmar de Carvalho Lopes, Marco Aurélio
Doninelli Fernandes, Nilton José de Meira, Flávio Ganem Rillo, Carlos
Theodorico de Carvalho Bezerra, Fabiano Lindemberg Santos, e Edson César
Cavalcante Silva. Segundo a magistrada, os suspeitos integram a
quadrilha que fraudou o Detran/RN e devem permanecer presos para
“resguardar toda a investigação criminal que envolve outros elementos de
prova que não apenas a busca e apreensão”.
Ex-governadora citada
Entre os denunciantes do esquema de corrupção que piora a situação da
direita no país, o empresário José Gilmar de Carvalho Lopes, conhecido
como Gilmar da Montana, confirmou em depoimento que teria informações
sobre atividades ilícitas da ex-governadora Wilma de Faria. Ela e Iberê
Paiva Ferreira de Souza, outro ex-governador do Rio Grande do Norte,
“receberiam cotas de lucro do consórcio Inspar”, disse Carvalho Lopes
aos promotores. A informação divulgada pelo promotor de Justiça Eudo
Rodrigues Leite foi confirmada pelos advogados Diógenes da Cunha Neto e
Augusto Araújo, que representam o empresário perante a Justiça.
Segundo os advogados, Gilmar não chegou a presenciar a suposta
concretização da garantia das cotas de lucro no consórcio Inspar. Porém,
em envolvimento com outros membros da suposta organização criminosa,
teria ouvido falar que o ex-governador Iberê de Souza e a atual
governadora, Wilma Faria, receberiam, cada um, 15% da cota de George
Olímpio no consórcio Inspar. Olímpio, apontado como chefe da organização
criminosa, detinha 40% do total do consórcio que iria realizar a
inspeção veicular ambiental no Rio Grande do Norte.
Os advogados de defesa de Gilmar alegam que ele havia ingressado no
negócio de forma lícita. Proprietário da construtora Montana, Gilmar foi
contratado pelo consórcio Inspar para construir a maioria de suas sedes
em todo o Estado. “O empresário foi convidado para construir as sedes. O
relacionamento das partes era comercial. Não fazemos parte do
consórcio”, disse, nos autos, o advogado Diógenes da Cunha Neto. Apesar
das informações liberadas no depoimento inicial, os advogados
esclareceram que não existiu oferta de delação premiada, e que este
recurso demanda tempo e análise.
Nota de Wilma
Logo após ser lançada ao centro do episódio que abala a aliança
conservadora no poder, a ex-governadora Wilma Faria emitiu nota na qual
questiona a deflagração da operação do Ministério Público em que seu
nome é envolvido. “O envolvimento do meu nome é um ato de absoluta má
fé. Não sou ré e as 189 laudas da petição do ministério público mostram
que não sou. Não há na peça acusatória nenhuma denúncia que exija de mim
pelo menos uma explicação”, alega.
Na nota, ela lança ataques a líderes políticos supostamente interessados em prejudicá-la: “Desafio que provem qualquer envolvimento da minha pessoa nas
denúncias de recebimento de propinas ou de conivência com lobistas”,
acrescentou.
Ministério Público Estadual investiga Wilma Faria por ter enviado
projeto de lei referente à inspeção veicular à Assembleia Legislativa do
RN, o qual foi supostamente elaborado com a participação ativa de
membros da quadrilha.
Filho da ex-governadora
O filho da ex-governadora Wilma, Lauro Maia, aproveitou para também
se manifestar após ter sido citado como um dos integrantes do esquema de
corrupção. Em nota, ele disse ter sido “surpreendido com acusação
infundada”. “Mais uma vez, são construídas ilações a partir de citações
feitas ao meu nome por pessoas estranhas ao meu convívio social”,
afirma. Por fim, disse esperar “serenamente que a verdade e a justiça ao
final prevaleçam”.
Em São Paulo, operação semelhante resultou no bloqueio dos bens do
prefeito paulistano, Gilberto Kassab. Tanto na capital paulista quanto
em Natal, a polícia investiga a inspeção veicular, no esquema que teria
sido criado pela empresa Controlar, do empreiteiro Carlos Suarez,
ex-dono da OAS.
Em São Paulo, a Controlar teria fechado negócio ainda na
gestão Celso Pitta, mas o contrato somente foi validado 12 anos depois,
por Kassab. Assim, Suarez conseguiu vender a empresa para a CCR, das
empreiteiras Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez. Na transação, segundo o
MP, Suarez teria lucrado R$ 170 milhões. Em Natal, por sua vez, o
contrato de inspeção veicular, também feito de forma irregular, renderia
R$ 1 bilhão aos empreiteiros durante o prazo de concessão.
Tanto em São Paulo quanto em Natal, as investigações se aproximam de
personagens muito próximas ao ex-governador e ex-presidenciável tucano,
José Serra.
Matéria copiada: http://correiodobrasil.com.br/prisao-de -joao-faustino-lanca-novas-suspeitas-de-corrupcao-contra-serra-e-kassab/333859/
Nenhum comentário:
Postar um comentário