A CartaCapital que sai amanhã traz na capa o livro que há mais de um ano vem fazendo os mais ilustres tucanos roerem as bem tratadas unhas.
A Privataria Tucana, a reportagem de Amaury Ribeiro que se
transformou, ela própria, em notícia, vai aos porões dos anos infames do
Governo FHC, onde o patrimônio do povo brasileiro migrou para mãos
privadas, deixando grossos pingos de sujeira que a nossa zelosa imprensa
nunca quis ver.
Recebemos o livro hoje, por cortesia da Editora – a Geração Editorial
- e a noite será dedicada à leitura do texto, para comentar.
Por enquanto, fica a entrevista dada por Amaury à CartaCapital, reproduzida pelo Conversa Afiada, de Paulo Henrique Amorim.
CartaCapital: Por que você decidiu investigar o processo de privatização no governo Fernando Henrique Cardoso?
Amaury Ribeiro Jr.: Em 2000, quando eu era repórter de O Globo,
tomei gosto pelo tema. Antes, minha área da atuação era a de
reportagens sobre direitos humanos e crimes da ditadura militar. Mas,
no início do século, começaram a estourar os escândalos a envolver
Ricardo Sérgio de Oliveira (ex-tesoureiro de campanha do PSDB e
ex-diretor do Banco do Brasil). Então, comecei a investigar essa coisa
de lavagem de dinheiro. Nunca mais abandonei esse tema. Minha vida
profissional passou a ser sinônimo disso.
CC: Quem lhe pediu para investigar o envolvimento de José Serra nesse esquema de lavagem de dinheiro?
ARJ: Quando comecei, não tinha esse foco. Em 2007, depois de ter
sido baleado em Brasília, voltei a trabalhar em Belo Horizonte, como
repórter do Estado de Minas. Então, me pediram para investigar como
Serra estava colocando espiões para bisbilhotar Aécio Neves, que era o
governador do estado. Era uma informação que vinha de cima, do governo
de Minas. Hoje, sabemos que isso era feito por uma empresa (a Fence,
contratada por Serra), conforme eu explico no livro, que traz
documentação mostrando que foi usado dinheiro público para isso.
CC: Ficou surpreso com o resultado da investigação?
ARJ: A apuração demonstrou aquilo que todo mundo sempre soube que
Serra fazia. Na verdade, são duas coisas que o PSDB sempre fez:
investigação dos adversários e esquemas de contrainformação. Isso ficou
bem evidenciado em muitas ocasiões, como no caso da Lunus (que
derrubou a candidatura de Roseana Sarney, então do PFL, em 2002) e o
núcleo de inteligência da Anvisa (montado por Serra no Ministério da
Saúde), com os personagens de sempre, Marcelo Itagiba (ex-delegado da
PF e ex-deputado federal tucano) à frente. Uma coisa que não está no
livro é que esse mesmo pessoal trabalhou na campanha de Fernando
Henrique Cardoso, em 1994, mas sob o comando de um jornalista de
Brasília, Mino Pedrosa. Era uma turma que tinha também Dadá (Idalísio
dos Santos, araponga da Aeronáutica) e Onézimo Souza (ex-delegado da
PF).
CC: O que você foi fazer na campanha de Dilma Rousseff, em 2010?
ARJ: Um amigo, o jornalista Luiz Lanzetta, era o responsável
pela assessoria de imprensa da campanha da Dilma. Ele me chamou porque
estava preocupado com o vazamento geral de informações na casa onde se
discutia a estratégia de campanha do PT, no Lago Sul de Brasília.
Parecia claro que o pessoal do PSDB havia colocado gente para roubar
informações. Mesmo em reuniões onde só estavam duas ou três pessoas,
tudo aparecia na mídia no dia seguinte. Era uma situação totalmente
complicada.
CC: Você foi chamado para acabar com os vazamentos?
ARJ: Eu fui chamado para dar uma orientação sobre o que fazer,
intermediar um contrato com gente capaz de resolver o problema, o que
acabou não acontecendo. Eu busquei ajuda com o Dadá, que me trouxe, em
seguida, o ex-delegado Onézimo Souza. Não tinha nada de grampear ou
investigar a vida de outros candidatos. Esse “núcleo de inteligência”
que até Prêmio Esso deu nunca existiu, é uma mentira deliberada. Houve
uma única reunião para se discutir o assunto, no restaurante Fritz (na
Asa Sul de Brasília), mas logo depois eu percebi que tinha caído numa
armadilha.
CC: Mas o que, exatamente, vocês pensavam em fazer com relação aos vazamentos?
ARJ: Havia dentro do grupo de Serra um agente da Abin (Agência
Brasileira de Inteligência) que tinha se desentendido com Marcelo
Itagiba. O nome dele é Luiz Fernando Barcellos, conhecido na comunidade
de informações como “agente Jardim”. A gente pensou em usá-lo como
infiltrado, dentro do esquema de Serra, para chegar a quem, na campanha
de Dilma, estava vazando informações. Mas essa ideia nunca foi posta
em prática.
CC: Você é o responsável pela quebra de sigilo de tucanos e da filha de Serra, Verônica, na agência da Receita Federal de Mauá?
ARJ: Aquilo foi uma armação, pagaram para um despachante para me
incriminar. Não conheço ninguém em Mauá, nunca estive lá. Aquilo faz
parte do conhecido esquema de contrainformação, uma especialidade do
PSDB.
CC: E por que o PSDB teria interesse em incriminá-lo?
ARJ: Ficou bem claro durante as eleições passadas que Serra
tinha medo de esse meu livro vir à tona. Quando se descobriu o que eu
tinha em mãos, uma fonte do PSDB veio me contar que Serra ficou
atormentado, começou a tratar mal todo mundo, até jornalistas que o
apoiavam. Entrou em pânico. Aí partiram para cima de mim, primeiro com a
história de Eduardo Jorge Caldeira (vice-presidente do PSDB), depois,
da filha do Serra, o que é uma piada, porque ela já estava incriminada,
justamente por crime de quebra de sigilo. Eu acho, inclusive, que
Eduardo Jorge estimulou essa coisa porque, no fundo, queria apavorar
Serra. Ele nunca perdoou Serra por ter sido colocado de lado na
campanha de 2010.
CC: Mas o fato é que José Serra conseguiu que sua matéria não fosse publicada no Estado de Minas.
ARJ: É verdade, a matéria não saiu. Ele ligou para o próprio
Aécio para intervir no Estado de Minas e, de quebra, conseguiu um
convite para ir à festa de 80 anos do jornal. Nenhuma novidade, porque
todo mundo sabe que Serra tem mania de interferir em redações, que é um
cara vingativo.
Matéria copiada: http://www.tijolaco.com/
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