Anelise Infante. De Madri para a BBC Brasil. Atualizado em 20 de janeiro, 2012.
Madri - Espanha. A crise econômica está levando ao renascimento da prática de escambo na Europa e em outros continentes.
Impulsionados pelas redes sociais, os chamados swap shops,
mercados de troca onde os clientes não usam dinheiro para adquirir
produtos de segunda mão, já funcionam oficialmente em 18 países.
Só na
Espanha as feiras de escambo passaram de algumas dezenas em 2007 para
cerca de 600 em 2012.
Além disso, um grupo de jovens
espanhóis também criou uma alternativa radical para contornar a crise:
"lojas" em que todos os produtos são de graça.
Para os organizadores, a razão é a crise, mas também há um forte apelo ao consumo "responsável".
"Não se trata apenas de obter um produto sem ter
que gastar, o mais importante é conscientizar as pessoas de que temos
que reaprender a consumir", disse à BBC Brasil um porta-voz do Movimento
Indignados-15M, que lidera os grupos de escambos organizados na
Espanha.
"E aprender (também) a dar valor ao que é
realmente útil e necessário para não cair na tentação de comprar de
maneira compulsiva e irracional."
'Economia solidária'
Os escambos organizados em redes internacionais
começaram em 2003 e aumentaram com a chegada da crise econômica em 2008,
multiplicando-se a partir de 2010. Associações de estudantes, ativistas
anticapitalistas e ONGs promoviam reuniões que acabaram se tornando um
espaço de intercâmbio de produtos e serviços.
Feiras são vistas como incentivo ao consumo consciente e à economia solidária, atualmente, há mais de 8 mil grupos organizados
espalhados pelo mundo em redes de trocas que colocam à disposição
pública quase todos os tipos de artigos e serviços.
Na feira madrilenha La Charca, os organizadores
pedem aos consumidores que levem uma manta ou esteira para colocar os
artigos à mostra e comida para compartilhar. Vale trocar de truques
caseiros até habilidades profissionais.
Ao contrário dos antigos escambos de peças em
mau estado que atraíam colecionadores e clientes pobres, os novos
mercados são frequentados por todo tipo de público.
"As pessoas estão vendo nesses escambos um
conceito de economia solidária. Uma ideia de colaboração sem avaria",
disse à BBC Brasil a socióloga Elena Rodríguez, professora da
Universidade Complutense de Madri.
"Também uma forma de atenuar a depressão
psicológica surgida com a crise, porque reintegra clientes que tinham
deixado de consumir e provedores que tinham deixado de oferecer seus
produtos. Humaniza o processo comercial", explicou.
Tudo de graça
Além das feiras de escambo, o Movimento
Indignados, também organiza lojas que oferecem roupas e livros usados de
graça. A única condição é que a peça escolhida seja utilizada.
Os artigos expostos são todos doados (devem
estar em bom estado) e não há limites para o número de peças que um
cliente queira levar.
Um dos primeiros mercados, o Tienda Grátis (Loja
Grátis, em tradução livre), apareceu na cidade de Málaga, no sul do
país, servindo de inspiração para uma franquia que já tem sete filiais
na Espanha.
O procedimento é praticamente igual ao de uma
loja convencional: escolher a roupa e experimentá-la numa cabine com
espelho. Só que não é preciso pagar nem doar outra peça em troca da
desejada.
Cartazes avisam: "Leve o que quiser, mas deixe o
espaço arrumado. O que passou de moda para você tem novo futuro na loja
grátis".
"Nós nos baseamos numa conscientização
completamente nova dos hábitos de consumo", explica o diretor do centro
cultural A Invisível, que abriga uma loja, Santiago Fernández.
"Todo mundo reclama da atitude feroz de
mercados, tecnocratas, políticos. Também é nossa responsabilidade mudar
essas atitudes. Aqui está nosso grão de areia, para mostrar que outro
mundo é possível", disse.
Exemplo
Outras ONGs espanholas também oferecem objetos
doados sem exigências. É o caso da "Não jogo fora.com", "Sem
dinheiro.org" e "Segunda Mãozinha", essa última especializada em artigos
para bebês.
O Brasil já possui um movimento de escambo,
ainda que incipiente. Em São Paulo, a feira mensal Desapegue! faz
intercâmbio de roupas e terá sua 21ª edição em 31 de janeiro.
O Desapegue! reúne cerca de 50 participantes que
pagam entre R$ 25 e 30 pelo ingresso.
Mas os organizadores dizem que é o
único gasto. Depois da entrada, cada pessoa recebe em botões o
equivalente às peças que cedeu. Os botões são trocados por outros
artigos.
Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/01/120119_escambo_espanha_ai.shtml
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