Continuamos desiguais porque não criamos
ainda, em mais de 500 anos de história, uma cultura sólida que seja
capaz de subordinar a economia aos objetivos sociais”.
O mais recente relatório do Desenvolvimento Humano (base 2011),
corrigido pela nova metodologia, divulgado pelo Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), classifica o Brasil na 84ª posição
entre 187 países. Numa escala que vai de 0 a 1, alcançamos índice de
0,718, portanto, na categoria de “Desenvolvimento Humano Elevado”. A
título de comparação, os dois melhores IDHs são: Noruega (0,943) e
Austrália (0,929).
Dentre os países da América Latina, estamos na 20ª posição, atrás de
Chile (o melhor classificado com 0,805 e, Argentina, o segundo melhor,
com índice de 0,797). Fora esses países, encontram-se à nossa frente:
Barbados, Uruguai, Cuba, Bahamas, México, Panamá, Antígua e Barbuda e
Trinidad e Tobago.
Os indicadores analisados pelo Pnud são: expectativa de vida, anos
médios de escolaridade, anos esperados de escolaridade e renda nacional
bruta. Nossos “números” a esses critérios são: US$ 10.162 de rendimento
anual per capita; 73,5 anos para a expectativa de vida e, 7,2 anos de escolaridade.
Pelo exposto, a desigualdade, ainda muito persistente, é, de longe, a pedra no sapato do desenvolvimento humano dos brasileiros.
Pois bem. Diante desses dados, uma questão se impõe então como
pertinente: o crescimento econômico em si, buscado em tese pelos
programas econômicos, não resolve a questão da desigualdade social de
imediato como se imagina. Crescer economicamente não significa (e nunca
significou) que a vida das pessoas mais necessitadas irá melhorar,
embora seja, e não tenhamos dúvidas disso, fator benéfico no conjunto
das opções a favor da busca de bem-estar social.
A esse respeito, buscando comprovação nos fatos/dados históricos,
cabe lembrar que de 1870 a 1980, o PIB brasileiro cresceu mais de 150
vezes; houve, assim, crescimento econômico; no entanto, nesse mesmo
período de tempo, excluídos os contratempos e sobressaltos políticos e
econômicos – e verdade seja dita, não foram poucos -, a vida dos
brasileiros, em termos de melhoria substancial na qualidade de vida, não
acompanhou esse elevado crescimento do produto.
Ademais, ainda que a renda per capita dos brasileiros mais
pobres nos últimos dez anos tenha crescido mais de 70%, continuamos na
incômoda posição de sermos um país muito desigual. Isso apenas ressalta a
relação conflituosa existente entre os campos econômico e social,
contribuindo para a latente desigualdade. E somos desiguais basicamente
pela deficiência em ajustar o crescimento da economia em termos de
distribuição equitativa da renda, e de nos negarmos a enfrentar o maior
de todos os desafios em termos de política econômica: conjugar mercado e
virtudes civis, visando construir uma economia com mais eficiência, de
característica tipicamente solidária e acolhedora.
Continuamos desiguais, pois não aproveitamos a potencialidade
econômica de um país que é “dono” da quinta maior extensão territorial
do mundo em favor de um programa de produção de alimentos para o consumo
doméstico; ao contrário: ainda preferimos adoçar a boca dos
estrangeiros com a exportação de alimentos e vitaminas.
Continuamos desiguais visto que não criamos ainda, em mais de 500
anos de história, uma cultura sólida que seja capaz de subordinar a
economia (atividade produtiva) aos objetivos sociais. Somos e assim
permaneceremos desiguais enquanto as políticas econômicas desenhadas
priorizarem o crescimento da riqueza e não a atenuação da indecente taxa
de pobreza. É por isso que ainda somos um país paradoxal: um país rico
com uma triste e dramática pobreza vinculada a um elevado grau de
desigualdade.
Definitivamente, só vamos diminuir essa desigualdade e eliminar os
vexatórios focos de pobreza quando a economia for direcionada para
produzir tudo aquilo que elimina o estado de pobreza absoluta, ou seja,
escola pública de qualidade, saúde pública confiável, saneamento básico,
água potável, cultivar a terra e eliminar o latifúndio, e permitir que
cada brasileiro carente tenha possibilidade de se alimentar três vezes
ao dia. Condições para isso temos de sobra. Falta-nos ação e
determinação!
*Economista e professor de economia da FAC-FITO e do
UNIFIEO. Especialista em Política Internacional pela (FESP) e mestre
pela (USP)
Fonte: http://congressoemfoco.uol.com.br/opiniao/forum/nosso-%E2%80%9Cpobre%E2%80%9D-indice-de-desenvolvimento-humano/
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