Atrasos na produção incomodam governo
O Atlântico Sul surgiu como uma espécie de “projeto-de-governo”, na
era Lula. Diante de impasses com outros estaleiros, teve-se a idéia de
se lançar um super-estaleiro, capaz de construir grandes navios e, além
disso, democratizar regionalmente o setor, antes excessivamente
concentrado no Rio de Janeiro – o que hoje não mais ocorre, pois, além
de projetos em Pernambuco e Alagoas, há pólos crescentes no Rio Grande
do Sul e projetos para a Bahia. A descentralização só não é mais intensa
porque Santa Catarina rejeitou o estaleiro de OSX, Eike Batista, que
traria um pouco de poluição e muitos empregos ao estado e agora cresce
de forma acentuada no Norte fluminense. Quando pronto, irá superar o
Atlântico Sul em capacidade de produção.
Um fato gerou grandes problemas para o Atlântico Sul: o navio “João
Cândido”. Houve erros a começar pelo nome do navio, uma provocação
infantil à Marinha do Brasil. João Cândido era um suboficial que liderou
revolta contra a estrutura da entidade, o que a Marinha, sob qualquer
governo, não aceita.
Problemas estruturais e de montagem fizeram com que, primeiro navio
da Transpetro a ser lançado ao mar, o “João Cândido” até hoje não fosse
entregue. O segundo navio a ser lançado, o “Celso Furtado”, do Mauá,
ficou com a láurea de ser o primeiro incorporado pela Transpetro. E, se
houver mais atrasos, o segundo navio a ser entregue será o “Sergio
Buarque de Hollanda”, também do Mauá, ou até mesmo o “Rômulo de
Almeida”. No caso do “João Cândido”, observadores pessimistas garantem
que o navio não pode navegar.
Mas a maioria dos analistas do setor
afirma que os problemas decorreram do excesso de soldagem exigido, pois o
navio foi feito com mais blocos a serem montados do que seria natural. A
pressa de Lula para ter uma solenidade marcante – de recuperação da
construção naval e de renascimento industrial no Nordeste – agravou esse
fato, mas a maioria dos informantes garante que o American Bureau of
Shipping (ABS) irá dar sinal verde ao navio. Com isso, o petroleiro
ganharia uma espécie de classificação AAA para a comunidade
internacional, pois com aprovação de entidade classificadora
internacional, um navio pode ser incorporado à frota alemã ou americana
sem ser submetido a qualquer teste.
Resta saber o que irá pedir a Samsung para assumir o estaleiro.
Certamente, não irá querer desembolsar altos valores, ao contrário do
que desejariam Camargo Corrêa e Queiróz Galvão. Mas, como tem estaleiros
na Coréia, a Samsung pode ser atraída pela possibilidade de receber
outras obras do Brasil (Petrobras), o que lhe compensaria a árdua tarefa
de reorganizar administração e setor técnico do Atlântico Sul. Tudo
indica que o acordo pode ser fechado, pois Camargo e Queiróz colheram
mais dissabores do que alegrias com o estaleiro pioneiro de Pernambuco.
Os estaleiros brasileiros não gostariam de ver obras prometidas ao
mercado interno levadas para a Coréia, mas este pode ser o preço para
pacificação do Atlântico Sul.
FONTE: NetMarinha
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