Brasilia. Governistas e oposicionistas se unem para abafar escândalos
Em dezembro do ano passado,
imensa mobilização nas redes sociais converteu o livro A Privataria
Tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Júnior, no maior best-seller
político do século XXI no Brasil, com mais de cem mil exemplares
vendidos – até a última divulgação da tiragem, feita há mais ou menos um
mês. Esse êxito editorial foi logrado sem a menor participação da
grande imprensa.
O livro apresentou provas
irrefutáveis de que o ex-governador José Serra, parentes e amigos
receberam verdadeiras fortunas do exterior, dinheiro que jamais teve
comprovação de origem. Diante disso, o deputado comunista Protógenes
Queiroz (SP) formulou um requerimento de CPI que obteve mais assinaturas
do que o mínimo exigido. Esperava-se que fosse instalada logo após o
fim do recesso parlamentar de fim de ano.
À época, o presidente da Câmara
dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), dera declarações ambíguas sobre a
instalação da CPI e, na volta dos trabalhos do Congresso, continuou na
mesma toada. O tempo foi passando, já vai para um mês que o Congresso
retomou seus trabalhos e a CPI da Privataria vai tendo o mesmo destino
da CPI do Banestado, em 2003: o abafamento.
Ninguém nega que aquela CPI foi
abafada por governistas e oposicionistas. O máximo que os governistas
dizem é que estávamos no primeiro ano do governo Lula, quando o país
vivia uma crise econômica muito séria após o desastre FHC e o governo
ainda estava sendo ”testado” pela comunidade financeira internacional,
de maneira que não seria interesse do país estabelecer uma “guerra
política”.
Agora, como não há desculpa
para não instalar a CPI da Privataria, no Congresso não se fala mais do
assunto. Só o autor do requerimento de investigação e alguns raros
deputados ainda tentam manter o assunto vivo.
Durante a semana que finda,
mais um acordão de impunidade uniu petistas, tucanos, demos e companhia
limitada. Veio à tona que o senador pelo DEM goiano, Demóstenes Torres,
durante seis meses do ano passado conversou por telefone duas vezes por
dia, todo dia, com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, mais conhecido como
Carlinhos Cachoeira, além de ter sido presenteado pelo contraventor com
uma cozinha importada no valor de 30 mil dólares.
O nome de Carlinhos Cachoeira
ganhou repercussão nacional em 2004, após a divulgação de um vídeo que o
flagrou oferecendo propina a Waldomiro Diniz, o que gerou a CPI dos
Correios, que seria o começo do ataque da imprensa ao governo Lula, que
duraria até o fim do seu segundo mandato.
Em 29 de fevereiro deste ano,
Cachoeira foi preso pela Polícia Federal durante a Operação Monte Carlo,
que desarticulou organização que explorava máquinas de caça-níqueis no
Estado de Goiás. A notícia de que Demóstenes conversava duas vezes por
dia, todo dia, com o senador do DEM goiano foi minimizada ou ocultada
pela mídia oposicionista (Veja, Folha, Estadão e Globo).
Não satisfeito com o
acobertamento da mídia, Demóstenes, “indignado” por acharem estranho que
um senador, durante longo período, conversasse por telefone duas vezes
ao dia, todo dia, com um criminoso e recebesse dele presentes caros, foi
à tribuna do Senado manifestar a sua “indignação”. A reação esperável
de seus pares seria que o interrogassem duramente, mas nem mesmo os seus
adversários fizeram isso.
O pronunciamento de Demóstenes
recebeu 44 apartes de representantes de todas as bancadas, do DEM ao PT.
Os senadores Pedro Simon, Jarbas Vasconcelos, Romero Jucá, Lobão Filho,
Aécio Neves, Aloysio Nunes Ferreira, Alfredo Nascimento, Eduardo
Suplicy e Marta Suplicy, entre muitos outros, derramaram-se em elogios
ao colega e o disseram “injustiçado”.
A conclusão que se impõe é a de
que governistas e oposicionistas podem ter feito um acordo de leniência
mútua, explicável, em parte, pelo ano eleitoral. A CPI da Privataria,
por exemplo, parece que ficará como uma carta na manga dos governistas
caso a oposição decida explorar o julgamento do mensalão pelo Supremo
Tribunal Federal, que deverá ocorrer ainda neste semestre.
O mais interessante, para usar
um eufemismo, é que simpatizantes do governo e da oposição se
engalfinham na internet todo dia e, enquanto isso, os políticos das duas
vertentes se lambem, protegem-se, elogiam-se, acobertam-se mutuamente.
Para os que temos simpatias políticas e nada mais, talvez seja hora de
começarmos a entender que estamos fazendo papéis de idiotas.
FONTE: http://www.blogcidadania.com.br/2012/03/governistas-e-oposicionistas-se-unem-para-abafar-escandalos/
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