Por Tarso Veloso | De Brasília
22 Mar 2012
A
bancada ruralista mostrou sua força hoje ao aprovar na Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ), por 38 votos a dois, a Proposta de Emenda
Constitucional (PEC) nº 215, que transfere do Executivo ao Congresso a
responsabilidade sobre demarcações de terras indígenas e áreas de
conservação ambiental.
O
texto já havia sido discutido pela CCJ na terça-feira, mas a sessão
acabou sem consenso. Ontem, os ruralistas avisaram que votariam a PEC.
Com isso, PT e PSB aliaram-se a PV e PPS na tentativa frustrada de
atrasar a votação. Os quatro partidos tentaram, sem sucesso, obstruir a
votação com a verificação nominal do quórum. A derrota, porém, foi
confirmada após registrados 40 votos - o regimento exigia 34.
Os
governistas avisaram, no plenário da comissão, que farão "todo o
esforço possível" para derrubar a PEC na comissão especial que discutirá
o mérito do texto. O deputado Alessandro Molon (PT-RJ) antecipou as
ações: "Nós podemos contestá-la no Supremo Tribunal Federal caso seja
necessário". Para ele, a PEC é inconstitucional. "Está escrito na
Constituição que esse dever é da União. Mas devemos entender que é do
Executivo."
Ligado
aos ambientalistas, Molon admitiu a força dos ruralistas. "A aprovação
aqui, hoje, mostra como podem ser as outras disputas, inclusive no
Código Florestal", disse.
Presidente
da Frente Parlamentar da Agropecuária, o deputado Moreira Mendes
(PSD-RO) defendeu a posição ruralista. "Hoje, a Funai manda e o
presidente da República assina o decreto, sem um debate democrático.
Precisamos ouvir todos os envolvidos", disse.
O
deputado Molon disse que a Câmara não tem como cumprir o que pede a
PEC. "O que faremos? Criar uma comissão de índios? Fazer concurso e
contratar antropólogos para avaliar as demandas?"
A
secretária-executiva da ONG indigenista Instituto Socioambiental (ISA),
Adriana Ramos, considerou um "retrocesso muito grande". "Esse tipo de
direito de minoria esbarra nos interesses econômicos que estão
representados no Congresso hoje", avaliou. "Então, jogar temas como esse
para dentro do Congresso é praticamente não avançar mais nos direitos
de políticas territoriais e de unidades de conservação", disse. E
emendou: "Pelo histórico que a bancada ruralista tem tido, a discussão
de puxar para o Congresso a demarcação de terras indígenas é limitar a
aplicação destes direitos". Para Adriana Ramos, "é lamentável" que o
governo tenha uma base politica no Congresso "que só joga contra a
atribuição política do próprio governo."
A
executiva do ISA lembrou o aspecto operacional da decisão, as
dificuldades técnicas que o Congresso terá ao lidar com este tipo de
decisão. "O Congresso está puxando para si uma atribuição que depende de
uma série de ações do Executivo, que tem que brigar para esta ser uma
atribuição sua", defendeu. "Politicamente, interpreto que esta decisão
deixa claro o jogo de chantagem explícito de uma base que só se coloca
como base do governo quando interessa", disse.
A
secretária do ISA também criticou o PMDB, segundo maior partido da base
governista: "Na hora que interessa uma negociação com o governo, tudo
bem. Na hora em que o interesse é contrário, o PMDB vota com a oposição.
É de lascar."
Na
terça-feira, a PEC também estava na pauta, mas não foi votada na CCJ. O
deputado Luiz Couto (PT-PB) apresentou um requerimento para adiar a
votação, mas foi derrotado. Em seguida, pediu verificação nominal do
quórum. Apenas 33 parlamentares votaram e, como o número ficou abaixo do
exigido pelo regulamento, a reunião foi cancelada.
Os
ruralistas não aceitaram prolongar as conversas hoje, porque consideram
que o assunto já havia sido discutido "em demasia", já que havia acordo
costurado desde o ano passado para que a votação fosse a primeira a ser
realizada na CCJ em 2012.
No
ano passado, os ruralistas lotaram as sessões e conseguiram aprovar um
requerimento de inclusão da PEC na pauta da comissão. Com a PEC prestes a
ser votada, o então líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza
(PT-SP), fez novo acordo para 2012.
O
PV, do líder Sarney Filho (MA), disse isso foi costurado sem a presença
do partido e, que por isso, não poderia concordar com o acordo feito. O
próximo passo da tramitação da PEC será a discussão do mérito na
comissão especial antes de ser votada no plenário da Câmara dos
Deputados. (Colaborou Daniela Chiaretti, de São Paulo)
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