Já se anuncia a guerra entre a mídia e os que defendem a CPI, que
deve convocar Roberto Civita, da Abril; o argumento será o de que a
liberdade estará em risco no Brasil, mas o que realmente a ameaça é a
indústria de grampos clandestinos; leia editorial do 247 em defesa da
CPI ampla e irrestrita.
No entanto, o Brasil vive hoje sua plenitude democrática, no que diz
respeito à liberdade de expressão. Veículos de comunicação, jornalistas,
blogueiros e leitores podem expressar livremente seus pontos de vista,
sem que sofram qualquer tipo de represália. No mundo online, a
informação chega em tempo real, pode ser contestada, checada,
confrontada e o leitor tem papel decisivo na apuração da verdade. No
247, por exemplo, não há censura alguma aos comentários, nem mesmo
quando somos criticados. A liberdade é plena, total e irrestrita.
Apesar disso, a guerra santa está declarada. O primeiro grito de
combate foi dado pelo deputado Fernando Ferro (PT/PE), que prometeu
convocar o empresário Roberto Civita, dono da Editora Abril, para que
explique as relações da revista Veja com o bicheiro Carlos Cachoeira.
Como já foi divulgado, o diretor da sucursal brasiliense da publicação
trocou vários telefonemas com o contraventor e há sérios indícios de que
a gangue de Cachoeira tenha fornecido vários grampos e filmes ilegais à
publicação. De acordo com o jornalista Ricardo Noblat, boa parte do PT
pretende transformar a CPI do Cachoeira em “CPI da Veja”.
É neste quadro que várias forças da chamada “opinião pública” começam
a se posicionar. Na sua capa deste fim de semana, a revista Carta
Capital, do jornalista Mino Carta, elencou a revista Veja entre os
agentes que temem a realização de uma CPI. Paulo Henrique Amorim, do
Conversa Afiada, é um dos principais incentivadores da investigação
contra uma revista que ele define como “detrito de maré baixa”. Luís
Nassif, por sua vez, questiona se a mídia saberá vencer seu
corporativismo natural e se o Ministério Público estará à altura dos
desafios que se avizinham.
Do outro lado, veículos tradicionais começam a se posicionar.
Reportagem da Folha de S. Paulo desta sexta-feira confere ar de
normalidade à relação entre Veja e Carlos Cachoeira. “Há a intenção de
questionar reportagens sobre o mensalão usadas como prova judicial. A
estratégia é tentar comparar a produção de reportagens investigativas,
que naturalmente envolvem contato de jornalistas com fontes de
informação de várias matizes, a práticas criminosas”, diz o texto da
Folha. Por “fontes de informação de várias matizes”, leia-se criminosos.
A tese implícita é a de que jornalistas podem obter qualquer tipo de
informação, com quem quer que seja, em prol do interesse público – mesmo
quando essas informações sejam fruto de ilegalidade, como
grampos clandestinos, não autorizados judicialmente.
“Não Passarão”
Quem também já se posicionou, naturalmente, foi o blogueiro Reinaldo
Azevedo, da Editora Abril. Em novo texto, ele alerta que resistirá
contra os atentados à liberdade no Brasil, que segundo ele, se
avizinham. “O PT quer o controle da mídia porque quer controlar a
sociedade. Chegou a hora de pôr esses aloprados sob o controle da
democracia e do estado de direito. Como posso encerrar? Assim: NÃO
PASSARÃO!!!”, diz Reinaldo. A seu lado, o blogueiro Fábio Pannunzio, da
Bandeirantes, postou um texto intitulado “PT usa CPI do Cachoeira para
propor regulação da mídia, a nova censura”.
Onde está o controle democrático?
Supondo que Reinaldo Azevedo tenha razão e que “aloprados” do PT
tenham que ser submetidos ao controle democrático, perguntamos: a que
controle democrático estão submetidos Carlos Cachoeira e seus arapongas
Dadá e Jairo Martins? Quem deu a eles delegação popular para grampear,
filmar e escolher os corruptos que devem ser punidos nas páginas da
revista Veja?
Em textos anteriores, Veja argumentou que suas reportagens
economizaram alguns milhões ao País. Em resposta, retrucamos com o
argumento de que, se é assim, Carlos Cachoeira deve ser solto e nomeado
diretor-geral da Polícia Federal.
Veja não é a única
Embora alguns temam e outros se assanhem com a possibilidade de CPI, é
necessário que se diga que Veja não é a única publicação a se valer de
grampos ilegais em suas reportagens.
Ao detonar o escândalo dos grampos do BNDES, Folha de S. Paulo e
Época também publicaram interceptações clandestinas. Na Folha, houve uma
discussão prévia, onde se chegou à conclusão de que tais grampos
deveriam ser publicados porque seu conteúdo era de interesse público.
Mas o fato é que também atendiam a interesses privados. Não fosse aquela
reportagem, o empresário Carlos Jereissati, que chegou à privatização
das telecomunicações sem recursos, não teria se tornado dono da metade
da telefonia no Brasil.
Carta Capital, que hoje comemora o foco na revista Veja, também
publicou grampos ilegais e até mesmo e-mails falsificados ao longo da
disputa societária da telefonia. Ou seja: métodos de Veja também foram
usados por seus adversários. E são métodos que merecem sim ser
discutidos. Caso contrário, o Brasil estará à mercê de criminosos, que
farão da espionagem ilegal um modo de ação política, de enriquecimento
ilícito e de defesa de interessas privados – o “interesse público” é
apenas a homenagem que, nestes casos, o vício presta à virtude.
FONTE. http://brasil247.com/pt/247/midiatech/53666/CPI-nao-representa-ameacas-liberdades-no-Brasil.htm
Nenhum comentário:
Postar um comentário