O socialista nunca ocupou um cargo ministerial, era visto como
uma pessoa sem graça e de pouco peso político. Mas soube transformar
seus pontos fracos em vantagens e venceu como o anti-Sarkozy.
Há um ano quase ninguém na França poderia imaginar que o novo
presidente do país se chamaria François Hollande. O socialista de 57
anos era visto como um pessoa sem graça, dono de uma personalidade
pálida e de pouco peso político.
A situação começou a mudar para Hollande quando o ex-chefe do FMI
Dominique Strauss-Kahn, o candidato favorito dos socialistas,
envolveu-se num escândalo sexual com uma camareira, num hotel em Nova
York. Na disputa interna, Hollande acabou emergindo como o candidato dos
socialistas, um candidato que era, ao mesmo tempo, o oposto de
Strauss-Kahn e também do presidente Nicolas Sarkozy.
Até aquele momento, Hollande era o típico "soldado do partido", um
político que havia feito carreira servindo ao Partido Socialista e que
nunca ocupara um cargo de ministro. Em 2008, quando, após 11 anos, foi
substituído por Martine Aubry na chefia do Partido Socialista, a
sucessora definiu o estado do partido como deplorável. A ex-companheira
de Hollande Ségolène Royal foi ainda mais dura: "Os franceses são
capazes de citar alguma coisa que ele tenha realizado em seus 30 anos de
vida política?"
Hollande soube transformar seus pontos fracos em qualidades. Ele não
criou uma euforia em torno de si, mas sua estratégia de se apresentar
como o oposto do impopular Sarkozy surtiu efeito. O socialista não falou
à emoção dos eleitores, mas à razão. Ele jogou com a sua timidez e
cultivou uma imagem de cidadão comum, sem estrelismos, que sabe ser
bem-humorado quando está numa roda de amigos.
Começo da carreira - A trajetória política de Hollande foi irregular desde o início. Em
1981, quando os franceses pela primeira vez elegeram um socialista para a
presidência – François Mitterrand – o partido enviou Hollande, então
com 26 anos, para o interior. O jovem político deveria lutar por um
mandato como deputado justamente no círculo eleitoral de Jacques Chirac,
no departamento rural de Corrèze, no centro da França. Ele não teve
chance alguma.
Entretanto, ao longo dos anos, o graduado pela prestigiada Escola
Nacional de Administração conseguiu o respeito da população rural. Após
uma reformulação das regiões eleitorais, Hollande conseguiu – ao mesmo
tempo que Sarkozy, com quase a mesma idade que o socialista – ingressar
na Assembleia Nacional, em 1988. Desde então, os caminhos dos dois
políticos, ambos criados no nobre subúrbio parisiense de Neuilly,
cruzam-se regularmente.
Contexto europeu - O programa eleitoral de Hollande, intitulado 60 compromissos com a França,
é vago. Mas o socialista moderado fez algumas concessões para as
diversas alas do seu partido. A proposta de renegociação do recente
pacto fiscal da União Europeia causou sensação. Num discurso que
despertou atenção, ainda no início da campanha, Hollande exigiu da
Alemanha "mais solidariedade".
Para o cientista político parisiense Renaud Dehousse, são slogans que
Hollande direciona ao eleitores franceses e não ao exterior. No primeiro
turno, cerca de um terço deles votou em partidos populistas, que exigem
o fim do euro e são a favor do protecionismo à indústria e ao mercado
local.
"Por que Hollande usa a palavra 'renegociação'? Porque ele sabe
exatamente que, entre os eleitores que podem votar nele no segundo
turno, há muita gente que votou contra uma Constituição Europeia no
referendo de 2005", considera Dehousse.
Nada sobre corte de gastos - Dehousse afirma que Hollande não é um antieuropeu. O próprio currículo
do socialista mostra o contrário, com seu trabalho ao lado de Jacques
Delors, fervoroso defensor da ideia europeia. Além disso, Hollande votou
a favor da Constituição Europeia em 2005, apesar de poderosas facções
do partido serem contrárias a ela.
Para Dehousse, Hollande não somente se dedicou à causa europeia, como
também pertence aos raros franceses partidários da integração
supranacional, conforme o previsto pelos fundadores da União Europeia.
"Na minha opinião, isso é muito importante. Caso ele seja eleito, os
alemães terão de lidar com um chefe de Estado francês que está muito
mais próximo das clássicas posições alemãs sobre uma política
comunitária do que seu antecessor", diz o cientista político.
Internamente, Hollande ganhou pontos com a promessa de criar 60 mil
novos postos de trabalho para professores, recuar em parte a reforma
previdenciária iniciada por Sarkozy e adotar um imposto para milionários
de 75%. O dinheiro para bancar tudo isso deverá vir de uma forte
recuperação econômica – que nenhum especialista até agora conseguiu
prever –, pois também Hollande é a favor de um orçamento equilibrado.
Porém, dada a situação econômica calamitosa e por causa da pressão dos
mercados financeiros, observadores afirmam que, como presidente,
Hollande terá de deixar de lado ao menos algumas das suas promessas
eleitorais e encontrar respostas para uma questão que até agora deixou
em aberto: os cortes nos gastos do Estado.
Autor: Andreas Noll (lpf)
Revisão: Alexandre Schossler
Revisão: Alexandre Schossler
FONTE:http://www.dw.de/dw/article/0,,15933433,00.html
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