Por Andreia Bahia - Jornal opcao.
Boadyr Veloso, ex-prefeito da cidade de Goiás, foi executado em 2008 por pistoleiros em uma moto.
Assassinato de Boadyr Veloso
Crime envolve briga por controle do jogo do bicho. A polícia já sabe quem é o sócio que assumiu a banca de jogo de bicho do
ex-prefeito assassinado. Ele é suspeito de ser um dos mandantes do crime.
A polícia está prestes a esclarecer a morte do médico Boadyr Veloso,
que foi prefeito da cidade de Goiás. Já existem dois suspeitos de serem
os mandantes do crime, que aconteceu no dia 28 de maio de 2008. O
ex-prefeito, de 71 anos, foi assassinado a tiros ao sair de uma casa de
jogos clandestinos no Centro de Goiânia por volta das 11 horas da noite.
Ele foi executado por dois homens que estavam em uma moto à espera
dele. Os pistoleiros ainda não foram encontrados.
Mas a polícia não tem dúvidas de que a morte de Boadyr Veloso, médico
patologista e funcionário aposentado do Banco do Brasil, esteja
relacionada com a exploração do jogo do bicho e de caça-níqueis em
Goiânia. Ainda não consta no inquérito, mas a polícia investiga
denúncias anônimas que dão conta que Boadyr Veloso teria vendido o
direito de exploração de jogos no Entorno do Distrito Federal a outro
grupo que atua no ramo. Há informações que o negócio teria custado cerca
de R$ 350 milhões. A polícia acredita que Boadyr tenha contrariado
interesses de gente importante que explora o jogo em Goiás. Por isso,
morreu.
Mas a hipótese inicial a ser investigada pela polícia não foi essa. O
delegado Carlos Raimundo Lucas Batista, que primeiro investigou o caso,
suspeitou de crime político. Boadyr era pré-candidato a prefeito da
cidade de Goiás e, segundo o delegado que hoje preside o inquérito,
Alexandre Bruno Barros, só depois de ouvir 15 pessoas o delegado Carlos
Raimundo descartou essa linha de investigação. “Boadyr era um político
moderado e não tinha inimigos declarados”, explica Alexandre. O
inquérito passou pelas mãos de outros três delegados, Jorge Moreira,
Adriana Ribeiro e Ernane Oliveira Cazer, que comandou o inquérito até
abril de 2011. Depois dessa data a investigação paralisou e só há três
semanas o delegado Alexandre reiniciou os trabalhos.
Consta no inquérito que a família não sabia do envolvimento de Boadyr
Veloso com jogo do bicho e que, depois da morte dele, decidiu fechar a
casa de jogos que funcionava em Goiânia. O filho Eládio Neto, que é
policial em Tocantins, testemunhou que esteve em Goiânia, pagou os
funcionários e fechou a banca, que era conhecida como Mega e funcionava
em uma viela da Rua 7, no Centro da cidade. Dias depois, a banca voltou
a funcionar, o que levou delegado Ernane Cazer a desconfiar da
existência de um sócio de Boadyr. A polícia já sabe quem é esse sócio
que assumiu a banca e ele é suspeito de ser um dos mandantes do crime. O
outro suspeito também tem envolvimento com jogo ilegal.
Boadyr Veloso tinha ex-mulher (com quem teve filhos), uma esposa e uma
namorada. Todas foram ouvidas, assim como os genros. Segundo Alexandre
Barros, a família negou qualquer conhecimento da atividade ilícita do
ex-prefeito.
Apenas a namorada — que Alexandre Barros não identifica para preservá-la — ajudou nas investigações ao dizer que Boadyr temia “morrer ou ter que matar” por causa do jogo. O genro Edivaldo Cardoso, considerado pela polícia braço direito de Boadyr nas questões financeiras, também não ajudou nas investigações, relatou Alexandre Barros.
Apenas a namorada — que Alexandre Barros não identifica para preservá-la — ajudou nas investigações ao dizer que Boadyr temia “morrer ou ter que matar” por causa do jogo. O genro Edivaldo Cardoso, considerado pela polícia braço direito de Boadyr nas questões financeiras, também não ajudou nas investigações, relatou Alexandre Barros.
Conversa
No entanto, de acordo com o registro das ligações celulares da vítima
que constam nos autos, Edivaldo Cardoso conversou com o ex-prefeito dez
minutos antes de ele ser morto. Edivaldo não foi último a falar com a
vítima. No momento em que levou os três tiros, Boadyr Veloso conversava
com um assessor de nome Tim e conhecido como “Macaco”, que estava na
cidade de Goiás. Eles falavam sobre as pesquisas de intenção de votos
para prefeito, contou Tim à polícia.
Edivaldo Cardoso pediu exoneração do cargo de presidente do Detran de
Goiás em abril, depois da divulgação de ligações interceptadas pela
Polícia Federal dentro da Operação Monte Carlo. Nelas, Edivaldo Cardoso
conversa com Carlinhos Cachoeira, preso em Brasília suspeito de
diversos crimes. O delegado Alexandre Barros pretende usar as
interceptações da Polícia Federal para esclarecer a morte do
ex-prefeito. “Como as interceptações vinham sendo feitas há muito tempo é
provável que haja trechos que envolvam Boadyr Veloso.” O médico era
sócio de Carlos Cachoeira.
Para não comprometer a construção das provas, o inquérito é sigiloso.
Mas a polícia já tem nome de quem mandou matar Boadyr Veloso e sabe
também a motivação: “Acerto de contas envolvendo jogo do bicho e
caça-níqueis”, afirma Alexandre Barros. Depois da morte de Boadyr, mais
dois bicheiros teriam sido assassinados, possivelmente como queima de
arquivo.
“Até para pescar eu sou contraventor”
Boadyr Veloso era uma pessoa de interesses escusos e o jogo do bicho
era apenas uma das ilegalidades que cometeu ao longo da vida. O médico
chegou a ser condenado a dez anos e oito meses por estupro e a dois anos
e seis meses pelo crime de induzimento à prostituição, totalizando 13
anos e 2 meses de reclusão em regime fechado. Ele foi flagrado em um
motel com sete adolescentes menores de 14 anos, a quem oferecia dinheiro
em troca de favores sexuais.
O Tribunal de Justiça de Goiás extinguiu a pena em 2004 porque as sete
vítimas retiraram as queixas depois que Boadyr Veloso apresentou sete
certidões de casamento de suas vítimas. Seis das sete meninas casaram-se
no mesmo mês, outubro de 2001: três no dia 5 e três no dia 17. Boadyr
se beneficiou da lei, que no inciso VIII, artigo 107 do Código Penal,
determina a extinção da pena se a vítima de estupro se casar com
terceiros e não reivindicar, num prazo de 60 dias, a continuidade do
processo.
Na ocasião, o ex-prefeito declarou para a revista “Época” que estava
“apenas” discutindo política com as meninas no motel. “Agora, é melhor
não falar mais nisso. As meninas tão casadas, com a vida arrumada.” Uma
frase de Boadyr Veloso reflete bem seu comportamento: “Até para pescar
eu sou contraventor. Só pesco de tarrafa."
Boadyr Veloso era visto como um “coronel” pela população da cidade de
Goiás. Na época em que era prefeito, o então vereador Rodrigo Santana o
acusou de usar a cidade para lavar o dinheiro do jogo do bicho. Santana teria sido ameaçado de morte por causa disso.
FONTE: http://www.jornalopcao.com.br/posts/reportagens/crime-envolve-briga-por-controle-do-jogo-do-bicho
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