A pistolagem fez mais uma vítima na
imprensa brasileira. Desta vez, o crime ocorreu no Maranhão, na noite de
segunda-feira (23/4), quando o jornalista Décio Sá foi executado com
seis tiros, quatro na cabeça e dois no tórax. O assassino fugiu do local
em uma motocicleta. Quem encomendou o crime tem certeza da impunidade,
pois não utilizou nenhuma sutileza ao planejá-lo.
O assassinato ocorreu
na Avenida Litorânea, área turística da cidade, em um restaurante
tradicional de São Luís, por volta das 23h30. Não bastasse o cenário, o
autor dos disparos não utilizou qualquer proteção para disfarçar sua
identidade e usou arma de porte exclusivo da política (pistola ponto
zero quarenta).
Décio Sá atuava como jornalista político
há quase duas décadas. Além de escrever para o jornal O Estado do
Maranhão, de propriedade do presidente do Senado José Sarney, mantinha
há cinco anos um blog (anteriormente hospedado no portal Imirante.com,
do Sistema Mirante, pertencente à família Sarney), com cerca de 2,7
milhões de acessos por ano. Décio usou este espaço para denunciar e
expor condutas inadmissíveis de políticos maranhenses, como desvio de
recursos, exploração sexual e pistolagem.
Seus alvos preferidos eram os
políticos opositores da família Sarney. Neste percurso ganhou muitos
inimigos e muitas fontes. Passou a fazer parte de um jogo perigoso de
trocas escusas com o poder, sobretudo o poder legislativo do Maranhão.
A morte do jornalista mobilizou
autoridades, políticos, a imprensa local e o governo do Maranhão, que se
prontificou em apontar o mentor intelectual do assassinato. As polícias
federal e civil trabalharão em parceria nas investigações de mais este
crime de encomenda na imprensa brasileira.
Aguarda-se uma resposta
Os jornalistas maranhenses, ainda
chocados com a barbárie, fazem um questionamento preocupante, por meio
das redes sociais: “Se o jornalista político mais próximo da família
Sarney terminou assim, o que se dirá do restante?” E neste momento
forma-se uma bolha de incertezas, medo e intimidação na capital
ludovicense. Este era o objetivo do algoz de Décio Sá, que agiu certo da
impunidade no âmbito da justiça estadual.
As manchetes combinando execução de
jornalistas e pistoleiros em motos estão se tornando cada vez mais
frequentes no Brasil. Só neste ano outras três vítimas foram
encomendadas nestes mesmos moldes. Em 13 de fevereiro, o jornalista
Paulo Roberto Cardoso Rodrigues, de 51 anos, foi assassinado em
Ponta-Porã, fronteira do Mato Grosso do Sul com o Paraguai. Também em
fevereiro, foi assassinado o jornalista Mário Randolfo Marques Lopes, de
50 anos, em Barra do Piraí, Rio de Janeiro. O primeiro homicídio do ano
foi o do radialista Laécio de Souza, morto na região metropolitana de
Salvador, em janeiro.
Paulo Roberto Cardoso, Mário Randolfo
Marques Lopes e Décio Sá foram executados por pistoleiros em pleno
século 21. Os três utilizavam a internet como canal para veicular
denúncias sobre política, tráfico de drogas e outros crimes que ocorriam
no Mato Grosso, no Rio de Janeiro e no Maranhão.
Os dois primeiros
casos seguem sem solução. Um agravante ocorreu no dia 14 de abril,
quando o policial militar Paulo César Santos Magalhães, responsável pela
investigação da morte de Paulo Cardoso, foi executado com 14 tiros, em
Ponta Porã (MS). Todos estes crimes não podem virar apenas estatísticas,
eles aguardam uma resposta da justiça brasileira.