Aula de excelência na pobreza. Em 82 escolas em áreas carentes do país, ensino é de Primeiro Mundo.
Antônio Gois - AS SUPERESCOLAS.
O
Brasil ainda está distante da meta de garantir a toda criança um ensino
de qualidade, mas há, dentre as mais de 40 mil escolas públicas do
país, um pequeno grupo que se destaca pela excelência. São colégios que,
mais do que simplesmente figurar nas primeiras posições de rankings de
avaliação, conseguem algo ainda mais extraordinário: atender alunos de
baixíssima renda e deixá-los com indicadores de qualidade compatíveis
aos de nações desenvolvidas.
Com
ajuda do economista Ernesto Martins Faria, da Fundação Lemann, O GLOBO
identificou essas escolas e investigou o que há em comum entre elas.
Numa série de reportagens que se inicia hoje, há relatos do bom trabalho
pedagógico em localidades improváveis como o interior amazonense, a
área rural do Piauí, a periferia de Alagoas ou o sertão do Ceará.
Nas
estatísticas e nas visitas realizadas pelos repórteres, foi possível
identificar que o bom resultado não é, como resumiu Faria, fruto do
acaso. Nessas escolas, é notável o esforço da direção e dos professores
em não deixar que nenhum aluno fique para trás e de corrigir as
deficiências na aprendizagem e os problemas de frequência assim que eles
são detectados. Também chama a atenção o bom ambiente escolar, com
poucos casos de indisciplina e professores estimulados.
O
levantamento mostra que há no país 82 estabelecimentos públicos que,
mesmo atendendo alunos que se encontram entre os 25% mais pobres do
Brasil, conseguem atingir no Ideb, principal avaliação federal de
qualidade do ensino, média igual ou superior a 6,0, considerada pelo MEC
como patamar hoje de nações desenvolvidas.
Para
identificar este grupo, Faria calculou, a partir das respostas de
alunos sobre posse de bens de consumo nos questionários respondidos na
Prova Brasil - exame do MEC aplicado a todos os colégios públicos do
país - um indicador do nível socioeconômico de cada estabelecimento. As
43.574 escolas públicas para as quais foi possível fazer este cálculo
foram então ranqueadas por dois critérios: 1) de acordo com o nível de
pobreza dos estudantes e 2) pelo desempenho no Ideb.
Do
confronto entre os dois rankings, foi possível verificar colégios que
ganham mais de 40 mil posições. Ou seja, trabalham com os alunos da
rabeira do ranking de pobreza, mas levam-nos ao topo do aprendizado.
Especialista defende horário integral
Para
o diretor executivo da Fundação Lemann, Denis Mizne, mesmo sendo raras,
o exemplo dessas escolas demonstra que é possível dar um ensino de
qualidade para crianças mais pobres. Para isso, no entanto, é preciso
que as instituições que atendem estes alunos sejam justamente as mais
bem preparadas para compensar a dificuldade que eles apresentam por
causa da condição socioeconômica dos pais.
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A gente se acostumou no Brasil a justificar o mau desempenho do aluno
pela baixa educação dos pais. Agora, precisamos escolher se vamos tratar
a educação pública como ferramenta que mantém as desigualdades ou que
ajuda a compensá-las, de modo que as condições de pobreza da família em
que a criança nasceu não sejam o único determinante de até onde ela
conseguirá chegar. O exemplo dessas escolas prova que isso é possível.
Ser
possível, no entanto, não significa ser simples. Para o pesquisador
Francisco Soares, da UFMG, autor de vários estudos sobre escolas
eficazes, a dificuldade enfrentada por colégios com alunos de baixo
nível socioeconômico é que, além da desvantagem por atender filhos de
pais menos escolarizados, esta condição vem às vezes associada a
problemas como a violência dentro e fora de casa.
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Para estes alunos, a pedagogia precisa ser diferente. É nestas
situações que precisamos de projetos de tempo integral - diz Soares.
FONTE:http://www.exercito.gov.br/web/imprensa/resenha
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