Padre Gerard e Claudete estão casados há 13 anos |
Uma vez padre, sempre padre. Mesmo que, um
dia, o religioso se case. “A gente continua padre, mesmo sem exercer o
ministério”, explica Gerard Frencken, casado há 13 anos com a cearense
Claudete da Silva Morais.
O casal participa esta semana do 19º Encontro
das Famílias dos Padres Casados, evento bienal que reúne famílias de
todo o Brasil.
Segundo Frencken, após o matrimônio não é
mais permitido ao sacerdote guiar celebrações e sacramentos, como
missas, casamentos e batismos.
A estimativa é que existam
cerca de oito mil padres da Igreja Católica Romana que optaram por
constituir família somente no Brasil, conforme a organização do
Movimento das Famílias dos Padres Casados. A atuação desses padres varia
de diocese para diocese. “Algumas dioceses são mais abertas e outras
mais fechadas”, comenta Frencken.
Sem entender as restrições
impostas pela Igreja, Claudete diz que o movimento atua de forma
profética, denunciando a postura fechada da hierarquia e anunciando uma
nova forma de vivenciar o cristianismo. “A comunidade não tem nenhuma
restrição e recebe muito bem os padres casados”, conta Claudete. Para
Frencken, existe um tabu em torno da existência dos padres casados. “A
tática da hierarquia é silenciar o assunto”.
Vindos do
Maranhão, o padre João Tavares e sua esposa, a teóloga Sofia da Graça,
estão casados há 33 anos, tendo duas filhas e uma neta. Sofia aponta a
exclusão como a principal dificuldade enfrentada pelo casal. “É como se
fosse uma guerra fria”, conta. A teóloga diz ter o dom da evangelização,
sem possuir vocação para ser freira. “O padre casado passa a ter uma
companheira que comunga com os ideais cristãos dele”, afirma.
Padre
Tavares diz não sentir raiva nem arrependimento de sua formação
religiosa. “Fui ordenado sabendo muito bem o que era ser padre. Tinha 26
anos, não era uma criança. Foram anos muitos felizes. Saí porque quis.
Não foi por falta de fé”, explica o padre, que casou aos 38 anos. Sem a
autorização do Vaticano, o matrimônio se deu inicialmente no civil. A
permissão para o casamento religioso só veio 13 anos depois, com
diversas restrições. A cerimônia, por exemplo, não poderia ser pública e
o casal deveria morar longe do local onde atuava como padre. “É um
profundo desrespeito”, desabafa.
ENTENDA A NOTÍCIA - O
Movimento das Famílias dos Padres Casados agrega familiares de padres
da Igreja Católica Romana que optaram por constituir família. Após o
matrimônio, o sacerdote não pode mais exercer o ministério.
Serviço - Encontro das Famílias dos Padres Casados
Quando: até 1º de julho, sempre a partir das 8 horas
Onde: Sesc Iparana
Outras informações: www.padrescasados.org
Saiba mais - A
função do Movimento das Famílias dos Padres Casados é orientar e
acolher padres casados das novas gerações. “O movimento nasceu da
necessidade de formar um grupo de mútua ajuda, de estar com nossos
semelhantes. Alguns padres chegam até a passar fome, pois saem sem
nada”, revela o padre João Tavares.
No entanto, ele
esclarece que a maioria consegue se dar bem e manter um bom nível de
vida. “Cada um tem que se empenhar de acordo com sua vocação para
melhorar o mundo. Se precisarem de nós, estamos aqui”, avisa.
FONTE:
http://www.opovo.com.br/app/opovo/fortaleza/2012/06/29/noticiasjornalfortaleza,2868663/brasil-tem-cerca-de-oito-mil-padres-casados.shtml
Aline Moura
cotidiano@opovo.com.br.
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