Demitida por aparecer em um vídeo de
sexo, a ex-assessora do senador Ciro Nogueira desabafa, em entrevista
exclusiva ao Congresso em Foco: “É como se agora eu estivesse sempre
pelada”.
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Foto. Arquivo Pessoal - Denise, no dia em que recebeu sua carteira da OAB. |
Há
até poucos dias, quem chegava ao Senado por um dos dois acessos do
“túnel do tempo”, corredor que liga gabinetes ao plenário, poderia
deparar, nos arredores do gabinete do senador Ciro Nogueira (PP-PI), com
uma loira bem vestida, de semblante sério, quase sempre ao celular.
Cabelos lisos e longos, 1,70 de altura, braços e pernas musculosas, mas
não masculinizadas, a mulher invariavelmente deixava o gabinete 01 da
Ala Teotônio Vilela sem olhar para os lados, em postura de sisudez que
servia como mecanismo de defesa contra abordagens indesejadas.
Desde a instalação da CPI do Cachoeira
em 25 de abril, a tal mulher de pouca conversa passou a circular em uma
área maior àquela contígua ao gabinete de Ciro Nogueira,
quarto-secretário do Senado e membro da comissão de inquérito. Sem a sua
autorização, a publicação de um vídeo de sexo, no qual Denise é
protagonista, fez com que ruíssem todos os mecanismos de defesa que a
advogada de 28 anos usava para ter controle de sua vida íntima.
Assistido por parlamentares e jornalistas que acompanham a CPI do
Cachoeira, o vídeo fez com que Denise ganhasse a alcunha de “furacão” ou
“musa da CPI”. Exposta de forma vil, Denise nada ganhou com isso, a não
ser a companhia de fortes calmantes, sem os quais já não consegue mais
dormir, e a sensação de que, aos olhos de todos, está sempre despida.
Para completar, vítima de um moralismo que não compreende, Denise foi demitida,
perdeu o emprego que tinha como assessora de Ciro Nogueira. O senador
encarregou assessores de comunicar a Denise sua exoneração.
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Sensação de nudez
Desde o vazamento do vídeo, que Denise diz ter sido feito há cerca de
seis anos – dois antes de ser contratada por Ciro Nogueira –, a
advogada tem a vida revirada, exposta em telas, páginas e ondas sonoras
Brasil afora. Fotos que ela postava no Facebook, de biquíni, tomaram
ares de catálogo erótico.
Telejornais chegaram a veicular cenas do tal
filme de sexo, blogs e sites idem, imagens da advogada
foram usadas à exaustão em reportagens ora mal intencionadas, ora
eivadas de erros e falhas de apuração. Passando os dias dopada, em
decorrência do estado de depressão a que chegou, Denise tem evitado dar
declarações mais demoradas à imprensa.
Mas, por telefone, Denise aceitou falar ao Congresso em Foco mais
detidamente, por duas vezes no transcorrer da última semana. Em outra
ocasião, respondeu perguntas por e-mail. E, alternando momentos de
desalento e saudosismo (ela diz que sua vida era o trabalho no Senado e
os cuidados com a saúde), tentou definir como será, daqui para frente,
sua relação com o universo parlamentar que a acolheu nos últimos quatro
anos.
“Totalmente prejudicada. Eu vou passar, vão olhar… Eu vou
cumprimentar os senadores, deputados, e vou achar que eles estão me
vendo pelada. A impressão vai ser essa. Por isso estou indo ao
psicólogo, ao psiquiatra. Estou tomando remédio e tudo…”, relata Denise,
praticante de musculação e outras atividades físicas. O ex-namorado, as
cenas de sexo, o falso moralismo de alguns colegas, o olhar enviesado
de quem sabe quem ela é. E é com essa combinação deletéria, que pôs fim à
sua incipiente trajetória no Parlamento, que Denise terá de lidar daqui
em diante.
“Isso me desmoralizou, está acabando com a minha vida”, desabafa.
Denise, porém, tem um alento: a esperança de que a sua história torne
mais dura a legislação para quem divulga imagens íntimas de outras
pessoas à sua revelia. “Do dia para a noite, vários deputados e
senadores levantaram a bandeira. Mais de 70 projetos estão sendo
discutidos por causa disso [divulgação de material particular em meio
virtual]”. Logo, em seguida, porém, ela volta à sensação de profundo
desconforto que a acompanha nos últimos dias.
“Mas, no final das contas,
quem é a exonerada? Isso vai continuar sendo discutido, a legislação
sobre crimes cibernéticos vai continuar a ser discutida, mas eu sou a
exonerada.”
Geni
Sobre a demissão, Denise lembra que recebeu apoio de parlamentares,
amigos, servidores e até de gente desconhecida, por meio de mensagens na
internet. Ela diz não entender por que Ciro Nogueira decidiu
exonerá-la. “Não sei o que se passou na cabeça da pessoa, vendo que a
opinião pública toda estava contra a demissão. Mesmo assim exonerou. Mas
não posso dar um juízo de valor sobre ele”, lamenta a advogada,
lembrando que, em um primeiro momento, o senador se disse
“constrangido”, para depois mudar o posicionamento e dizer que Denise
era “uma profissional excelente”.
Já sobre uma cirurgia recente da qual ainda convalesce, Denise diz
que “não foi nada estético”, como se chegou a cogitar nas dependências
do Senado. A ex-assessora disse ainda que aproveitou o início do recesso
(17 a 31 de julho) para realizar a intervenção – a informação foi
deturpada por alguns veículos de imprensa, diz Denise, que associaram
seu afastamento ao vídeo de sexo. Por esse raciocínio, ela teria obtido
com o vídeo notoriedade, e estaria fazendo uma reparação estética para
posar para uma revista masculina. “Não se brinca assim com a saúde dos
outros”, protesta ela. “Porque se fosse de mãe, filho etc, ninguém,
brincaria.”
Com a saúde abalada mental e fisicamente, Denise sente-se apedrejada como a Geni
da canção de Chico Buarque. Ajuizou ação para responsabilizar quem
vazou o vídeo, diz ter perdido cinco quilos, evita o pior tipo das
aparições públicas – aquele sob o olhar condenatório de quem nada tem a
ver com a sua vida. Caseira, como ela mesma se define, vai buscar na
família e nos amigos de fato o amparo que não teve no gabinete do
Senado.
Enquanto isso, a CPI do Cachoeira não avança, deputados envolvidos
com o caso não deverão ser punidos, e o julgamento do mensalão acontece
no Supremo Tribunal Federal sem merecer maiores atenções da maioria da
população. “Criticam [o ato sexual]. Mas como é que todo mundo veio ao
mundo? Tem coisa muito pior que acontece na Casa legislativa…”, comenta
ela. Como na canção de Chico Buarque: “Ela se virou de lado, e tentou
até sorrir /Mas logo raiou o dia, e a cidade em cantoria não deixou ela
dormir”.
Fonte:http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/manchetes-anteriores/denise-com-a-corrupcao-ninguem-se-escandaliza
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