Segundo sindicatos, 350 mil funcionários estão parados, reivindicando reajustes que teriam impacto de R$ 92 bilhões no Orçamento, 50% do atual custo da folha salarial. Planalto estuda atender a parte dos pleitos
» PRISCILLA OLIVEIRA
As
manifestações e os efeitos da greve nacional dos servidores públicos
federais, que a cada dia tem mais adeptos, ultrapassaram os limites da
Esplanada dos Ministérios, em Brasília, e ganharam o Brasil. Além de um
grande protesto na capital federal, realizado pelos trabalhadores das
carreiras típicas de Estado, a quarta-feira foi marcada por atos em
diversas unidades da Federação.
Policiais rodoviários federais e até
mesmo professores e técnicos universitários fecharam rodovias e
dificultaram o trânsito da população. Além disso, o movimento de fiscais
agropecuários e de técnicos e analistas da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa) ameaçam o abastecimento de alimentos e de
medicamentos.
Não
bastassem os entraves para a liberação de mercadorias enfrentados nos
postos alfandegários do país, muitos brasileiros que precisaram de
serviços dos pontos de atendimento da Polícia Federal voltaram para casa
sem resolver suas pendências. A emissão e o recebimento de passaportes,
por exemplo, estão prejudicados onde os atendentes são concursados, e
não terceirizados.
Na
Esplanada, cerca de mil servidores das carreiras típicas de Estado
ocuparam a área em frente ao Bloco K, sede do Ministério do
Planejamento, como forma de pressionar o governo para que volte a
negociar com os grevistas. De acordo com o presidente da União Nacional
dos Analistas e Técnicos de Finanças e Controle (UnaconSindical),
Rudinei Marques, caso os trabalhadores não cheguem a um acordo com a
Presidência da República até 31 de agosto, data-limite para inclusão de
emendas à Lei de Diretrizes Orçamentárias, na qual pode-se prever
reajustes, as paralisações vão continuar. “A nossa estratégia é de
pressão constante em médio e em longo prazos”, anunciou. As negociações
devem ser retomadas após o dia 13.
Os
principais pleitos desses profissionais são reestruturação de carreira,
realização de concursos públicos e reposição das perdas inflacionárias
desde 2008. O presidente do Fórum Nacional Permanente de Carreiras
Típicas de Estado (Fonacate), Pedro Delarue, estima que as categorias
assim classificadas reúnam, atualmente, 50 mil ativos. “Ao menos metade
desses servidores está de braços cruzados ou com indicativo de greve”,
calculou. Se uma proposta não for apresentada, todas as categorias
prometem suspender as atividades depois do dia 20”, adiantou. Se as
reivindicações forem aceitas pelo governo, significarão aumento de 50%
na folha de pagamento, com impacto de R$ 92 bilhões sobre o Orçamento.
As
carreiras engrossam a paralisação do Executivo Federal, na qual,
segundo a Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal
(Condsef), já mobiliza 350 mil pessoas. Caso os trabalhadores das 26
carreiras ligadas ao Fonacate parem, operações em setores estratégicos
podem ficar prejudicadas. Com a mobilização dos técnicos e dos analistas
da Controladoria-Geral da União (CGU), por exemplo, as atividades do
Programa de Fiscalização por Sorteios Públicos de Municípios foram
atrapalhadas. Segundo Rudinei Marques, dos 60 municípios que precisariam
ser auditados, apenas 15 passaram por fiscalização, o que pode atingir,
inclusive, o processo eleitoral municipal.
Confusão - Depois
de passar a tarde em frente ao Planejamento, os manifestantes rumaram
para o Palácio do Planalto. As lideranças sindicais chegaram a ter
dúvidas sobre a mudança de lugar, já que o secretário-geral da
Presidência da República, Gilberto Carvalho, estaria proibido de
negociar com grevistas, segundo Delarue. Mas, ainda assim, insistiram em
ser recebidas e houve conflito entre trabalhadores e policiais
militares porque os manifestantes não quiseram ficar atrás do bloqueio
na Praça dos Três Poderes e avançaram para a pista em frente ao
Planalto. A polícia reagiu com gás de pimenta. O embate durou alguns
minutos.
A
ministra do Planejamento, Miriam Belchior, comentou ontem sobre as
paralisações em todo o país. De acordo com ela, o governo está demorando
a responder aos grevistas porque teria sido surpreendido pelos efeitos
da crise que atinge a Europa e os Estados Unidos. “Iniciamos o ano com
uma perspectiva melhor do que seria a economia mundial, mas, no fim de
junho, tudo ficou muito nublado, o que fez com que tivéssemos de refazer
as nossas contas. Então, estamos preferindo fazer uma análise ‘detida’
para, depois, apresentar, nos casos em que for possível, propostas
responsáveis aos servidores”, justificou.
Preocupação - Miriam
garantiu que o Executivo tem feito o possível para que os efeitos do
movimento dos servidores não atinjam o atendimento aos brasileiros.
“Estamos com atenção absoluta para garantir que os serviços sejam
prestados. A presidente Dilma (Rousseff) assinou o Decreto nº 7.777 (que
viabiliza a substituição de servidores de braços cruzados por
terceirizados e por funcionários de estados e municípios) para garantir
que os portos não parem, por exemplo. Vamos continuar atuando para
evitar qualquer comprometimento da prestação de serviços”, ressaltou.
O
ministro do Trabalho, Brizola Neto, reiterou que, apesar de as
negociações estarem a cargo do Ministério do Planejamento, está aberto a
ouvir as reivindicações das lideranças sindicais, como forma de
auxiliar o Planalto. “Não me nego a receber ninguém. Mas é no
Planejamento onde estão os números, e, até por força do decreto
presidencial, é o órgão encarregado das negociações com os servidores”,
explicou. (Colaboraram Grasielle Castro e Vânia Cristino)
Ministro vaiado - O
que deveria ter sido uma cerimônia protocolar de abertura se
transformou, rapidamente, num palco para os protestos dos servidores
públicos em greve contra o governo. Os trabalhadores aproveitaram a
presença do secretário-geral da Presidência da República, Gilberto
Carvalho, na I Conferência Nacional de Emprego e Trabalho Decente para
demonstrar o descontentamento com o governo. Quanto Carvalho começou a
falar foi interrompido com gritos e vaias por cerca de 60 servidores.
Não faltaram xingamentos de pelego, entreguista e coisas do gênero.
Fonte: http://www.exercito.gov.br/web/imprensa/resenha
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