Foto: Sérgio Lima/ Folhapress |
Em primeira mão, 247 publica artigo escrito por Delúbio Soares em que, de maneira até aqui inédita, ele aborda diretamente a Ação Penal 470, o chamado mensalão; hoje, o ex-tesoureiro do PT e mais 37 réus começarão a ser julgados pelo Supremo Tribunal Federal; "creio em Deus, no povo e na justiça", diz; leia
247 – Em primeira mão, 247 publica artigo
de Delúbio Soares no qual, de maneira inédita até aqui, ele aborda
frontamente a Ação Penal 470, o chamado mensalão, do qual é réu. A
partir das 14h00, o Supremo Tribunal Federal começa a julgar o caso. A
seguir:
CREIO EM DEUS, NO POVO E NA JUSTIÇA.
Delúbio Soares (*)
Nos mais de três anos em que ocupo esse espaço semanal em centenas de
sites, blogs, jornais e revistas de todo Brasil, jamais abordei o tema
da Ação Penal 470, popularizada (por equívoco de uns e má-fé de outros)
como o "mensalão". Discorri sobre os mais variados temas políticos,
sociais e econômicos de nossa atualidade, buscando agregar informações,
dados e opiniões ao debate político e à discussão civilizada de nossa
realidade nacional. Não fugi do assunto, apenas me guardando para a
abordagem objetiva, sincera e sem emocionalismo algum na hora em que ela
se fizesse oportuna e necessária.
Em maio de 2009, dirigindo-me aos companheiros do PT reafirmei que
"não fui, não sou e nem serei vítima", além de recusar e dispensar esse
papel menor. Disse mais: "em todos os momentos de minha vida como
professor, como sindicalista e, especialmente, como fundador e militante
do Partido dos Trabalhadores, soube dos riscos e das dificuldades.
Não
fui um alegre, um néscio, um ingênuo. Escolhi os caminhos a serem
percorridos e aceitei os riscos da luta. Mas não fui, senão, em todos os
instantes, sem exceção, fiel cumpridor das tarefas que me destinou o
PT". E afiançava aos meus companheiros petistas ser um homem sem rancor,
sem ressentimentos, sem medo e sem ódio.
De lá para cá, mais de três anos depois, continuo absolutamente
isento da companhia insalubre de tais sentimentos, que parecem habitar
somente os corações e mentes dos que tentam transformar uma Ação Penal
num circo midiático, negando-me a presunção da inocência e colocando a
"faca no pescoço" dos magistrados da mais alta e respeitável Corte de
nosso país.
Não me furtei ao debate e falei a milhares de pessoas e,
também, com o mesmo entusiasmo e respeito para platéias escassas. Fui à
sindicatos, universidades, escolas, seccionais da OAB, partidos
políticos, onde me convidaram. Trago nas solas dos sapatos a geografia
do país que amo, percorrido de ponta a ponta, numa luta desigual, mas
reconfortante.
Ingênuos são os que não conseguem ver a mais cristalina das verdades,
que brilha sob o sol desse país tropical: a manipulação midiática e as
mais abjetas pressões, que pensam se esconder sob o manto roto da
cobrança por justiça, são apenas o óbvio e felliniano terceiro turno das
seguidas eleições presidenciais que vencemos com Luiz Inácio Lula da
Silva e Dilma Rousseff.
Vencemos nas urnas e realizamos as mais profundas transformações
sociais e econômicas de toda nossa história, retirando 40 milhões de
brasileiros da pobreza e os levando à classe média, mas isso parece não
ter importância para os veículos que tentam transformar em verdade
absoluta uma mentira que lhes é providencial.
Convivemos em pleno século
XXI com elementos anacrônicos, paralisados na década de 50, na "Guerra
Fria". Ontem era o "mar de lama" contra Getúlio, a "maioria absoluta"
contra JK, a "república sindicalista" contra Jango. Hoje, é o
"mensalão". No passado, eram "vivandeiras de quartel", sem votos e com
teses esdruxúlas tentando evitar a posse dos eleitos através
do descarado golpe de estado.
Nos dias de hoje, são pauteiros de
redação, assassinando reputações e rasgando biografias, buscando pelo
engodo o poder que o povo lhes nega seguidamente nas eleições que
perdem. Se a verdade não os favorece, dane-se a verdade. Se os fatos não
corroboram suas versões, os fatos deixam de ter qualquer importância.
Tristes tempos, tristes costumes.
No momento em que o Brasil se apresta a acompanhar o julgamento da
Ação Penal 470, o pelotão de fuzilamento moral montado pelos adversários
que derrotamos não tem a menor importância. Importantes são os autos do
processo e a serenidade dos que irão julgar. Os ódios e ressentimentos,
expressos na deplorável fase adjetiva de parte da grande imprensa
brasileira, todavia, tiveram o condão pedagógico de mostrar aos
brasileiros uma face cruel, até então dissimulada e oculta.
Chegamos ao mais esperado momento do processo em curso. E, às
vésperas do início do julgamento, reafirmo tanto a verdade de minha
defesa - expressa em memorável trabalho de juristas do porte de Arnaldo
Malheiros, Celso Vilardi, Flávia Rahal, Camila Austregésilo Vargas do
Amaral e toda equipe, reconhecidos tanto pelo saber jurídico como pelo
firme credo democrático que professam – quanto a inabalável confiança
na imparcialidade dos magistrados que o julgarão. Aguardo o veredicto
com a serenidade que jamais me abandonou, isento de rancores e firme nos
ideais maiores que norteiam minha vida.
Fui, por oito anos, representando a CUT, partícipe da gestão do
CODEFAT. Em um desses anos exerci a presidência do Codefat e respondi
diretamente por astronômicos valores que, atualizados, superam os 10
bilhões de dólares. Era o governo de Fernando Henrique Cardoso. Na única
oportunidade em que o dinheiro público esteve ao alcance das minhas
mãos, o Tribunal de Contas da União constatou a seriedade com que lidei
com ele, aprovando minhas contas sem reparo algum. Informação por demais
relevante, mas tenazmente omitida à opinião pública.
Reafirmo, uma vez mais e por ser a absoluta expressão da verdade dos
fatos: não houve dinheiro público, um centavo sequer, envolvido nos
fatos que ocasionaram o atual processo. Não houve a compra de partidos
políticos, de senadores ou de deputados para que votassem matérias de
interesse do governo. Não existiu "mensalão" algum. Não existe
o enriquecimento de nenhuma das pessoas denunciadas na Ação Penal 470.
Em 394 depoimentos ao longo da investigação, sendo 79 senadores e
deputados, não há sequer a citação de algo que lembre, mesmo de longe,
compra de votos ou corrupção: ZERO.
Há nos tribunais de todo o Brasil, mofando em tranquilas prateleiras
ou dormitando em gavetas providenciais e obsequiosas, processos como a
Ação Penal 470, tratando de recursos não contabilizados em campanhas
eleitorais. Não somos os únicos, nem os primeiros, nem os pioneiros.
Mas, no centro do mais conhecido deles, cabe-nos relembrar tanto a
ausência de um centavo sequer de dinheiro público quanto a flagrante,
evidente e reconhecida indigência probatória da espetaculosa denúncia
oferecida pelo Ministério Público Federal.
Não creio na judicialização da vida institucional. Nem creio na
politização do Poder Judiciário. Creio na Justiça de meu país como creio
em Deus e no meu povo. E essa crença vem do coração, da alma, do
espírito de luta e dos ideais que movem minha vida pública e acalentam a
imorredoura confiança na verdade.
(*) Delúbio Soares é professor.
www.delubio.com.br
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companheirodelubio@gmail.com
Fonte: http://brasil247.com/pt/247/brasil/73017/Com-a-palavra-Delubio.htm
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