Amanhã, 17 de setembro de 2012, a luta pela meia-passagem em São
Luís completa 33 anos. Em artigo publicado no Jornal Pequeno de 16 de
setembro de 2004 (A greve de 79 e o grito sufocado), relembrei os 25
anos da luta estudantil pela meia-passagem, um dos grandes momentos
registrados na História maranhense:
'Iniciada pelos
universitários, revoltados com o aumento de passagens concedido de
surpresa pela Prefeitura de São Luís, a greve conquistou apoio de
secundaristas, professores, trabalhadores e se constituiu numa espécie
de 'Maio de 68' da juventude maranhense. A greve de 79 explica-se mais
pelo que denominaríamos de grito sufocado do que pela reivindicação em
si ao direito à meia-passagem.
Em pleno tempo de Ditadura, o
conjunto da sociedade vinha de um ciclo de altíssima repressão ao
movimento social, com tortura, exílio e morte de muitas das lideranças
democráticas do País. Sem a possibilidade de livre manifestação
política, de liberdade de imprensa e direito à livre organização, o
contexto motivou o apoio popular à bandeira estudantil. O apoio à
meia-passagem representou um grito contra a censura, o regime militar, a
carestia, o assassinato desenfreado de trabalhadores rurais na luta
contra a grilagem de terras, a falta de moradia e de pão e feijão na
mesa dos maranhenses!
(...) O momento histórico tornava o
movimento estudantil a única expressão possível da sociedade maranhense
sob o regime autoritário. A ponta de lança da luta pelo fim regime dos
generais. Este grito sufocado ecoou na tribuna da Assembleia pelos
discursos do então deputado estadual Haroldo Saboia, nas páginas do
Jornal Pequeno a partir da intuição democrática de José Ribamar Bogéa,
nas reuniões de mobilização do Pe. Marcos Passerini nos fundos da Igreja
de São João, nos bairros por meio dos núcleos populares em ebulição
mas, sobretudo nas ruas de São Luís através da garganta de cada
estudante.
DITADURA - João Castelo (Governador Bionico) e Gen. Ernesto Geisel |
Se mobilizar 35 mil
pessoas nos dias de hoje já é algo extraordinário, imaginem na São Luís
de quase três décadas atrás. Maior ainda a repressão a tantos.
Pouquíssimos não registraram em suas memórias as bordoadas, cassetetes e
chutes da Polícia Militar.
Muito maior, contudo, a reação popular: quebra-quebra de ônibus, revolta nos bairros, mais mobilização. Uma pichação nos muros da UFMA revela bem ao ponto que a disputa chegara: meia-passagem ou meia cidade!?
Muito maior, contudo, a reação popular: quebra-quebra de ônibus, revolta nos bairros, mais mobilização. Uma pichação nos muros da UFMA revela bem ao ponto que a disputa chegara: meia-passagem ou meia cidade!?
Em 1981, ainda no chamado período
pós-traumático da Greve de 79, movimento estudantil e popular mantinham a
luta contra o aumento das passagens. Naquele ano, estudantes e
populares ocuparam a Câmara Municipal a fim de impedir que os vereadores
aprovassem o aumento das tarifas.
Vindo de uma audiência com o
governador João Castelo, o presidente da Câmara dos Vereadores, Edivaldo
Holanda, chegou anunciando que havia empenhado a palavra no Palácio dos
Leões de que a Câmara seria desocupada, de qualquer jeito. À
meia-noite, soldados isolaram a sede do Poder Legislativo municipal, à
época onde funciona atualmente a JUCEMA, e fizeram um uma espécie de
corredor polonês de lá até a praça Benedito Leite.
Após insistentes
tentativas de negociação com o então deputado estadual Haroldo Saboia, o
comandante encerrou conversas: ?Deputado, chega de bate papo, agora é
porrada na moçada!?. Quem sobreviveu também a essa ?experiência?, e
ainda está aí vivo, certamente lembra desse fato.
Como escrevi
naquele artigo de 2004 ?(...) a Greve de 79 enraizou no imaginário
popular de São Luís a disposição de luta, de resistência e de ilha
rebelde que os setores oposicionistas cultivam sobre a capital
maranhense. Rememorar a cada ano esta conquista faz um bem danado à luta
popular e à História do Maranhão, ainda que faça torcer o nariz dos
donos do poder'.
Esses registros nos servem para evidenciar o
quanto a temática do transporte público está enraizada na população da
capital, seja pela simbologia do que foi a maior conquista dos
estudantes, a meia-passagem, seja por viver no dia a dia as dificuldades
de um sistema falido de transporte.
São Luís tem memória. 33
anos depois, velhos personagens ou novos que já vêm envelhecidos, com
suas propostas mirabolantes (VLT... GPS... BRT... Via Expressa...),
ainda pensam que podem ludibriar a inteligência do cidadão e da cidadã
da ilha rebelde.
Ledo engano. Nos tempos atuais, onde não existe
mais a Ditadura dos Generais, não cabe mais ?porrada na moçada?: nem com
cassetete, nem com proposta mirabolante; nem nas ruas, nem nas urnas!
FONTE:http://www.jornalpequeno.com.br/2012/9/15/porrada-na-mocada-nunca-mais-219496.htm
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