Foto: TASS |
24/10/2012 - Nadejda Sokolova,
Especial para Gazeta Russa.
O vice-premiê russo Dmítri Rogózin afirmou
recentemente que a comissão da indústria bélica está examinando a
possibilidade de criar empresas militares privadas no país.
Com a
declaração, inicia-se a legalização de um mercado paralelo de serviços
de guerra.
Apesar da falta de uma base na legislação russa para o
desenvolvimento das EMP (empresas militares privadas), essas já operam há quase
dez anos em zonas de conflito estratégicas.
A “Antiterror-Oriol”, por exemplo, foi criada por Serguêi
Isaakovi, que foi um alto executivo da empresa de aviação russa “Vnukovskie
Avialinii”. Com apoio do empresário Suleiman Kerimov, a EMP atua desde 2003 no
Iraque, participando ocasionalmente de ações militares na proteção de
propriedades e escolta de cargas.
A baixa competividade das EMPs russas, que são registradas
“offshore”, está tanto na restrita oferta de serviços quanto nos baixos
pagamentos de seus funcionários.
Enquanto as empresas russas oferecem serviços de uma
companhia de segurança comum, os principais players do mercado há muito
passaram à especialização, principalmente em consultoria e preparação especial.
A norte-americana “Academi” (como foi rebatizada a
mundialmente famosa “Blackwater”), por exemplo, tem como principal nicho a
preparação de militares dos EUA.
Em sua própria base de treinamento, a empresa organiza
cursos de tiro, de combate corpo a corpo e de direção em situações de alto
risco. O principal cliente da “Academi” é o governo dos Estados Unidos.
As EMPs israelenses, por sua vez, conquistaram uma posição
sólida no mercado mundial em consultoria, ocupando-se da montagem de complexos
sistemas de segurança e espionagem.
Já as britânicas estão se especializando em administração de
riscos, logística e defesa de infraestrutura financeira.
A segurança e a organização de escoltas nas zonas de maior
risco, em países instáveis, geralmente é entregue a subcontratadas que são
escolhidas entre empresas menores.
Mesmo depois de legalizadas, as EMPs russas dificilmente
terão sucesso no mercado monopolizado por britânicos e norte-americanos. Por
enquanto, elas não podem concorrer em áreas de alta tecnologia, o que as leva a
ter como principal atividade a contratação de mercenários.
Além disso, na atualidade, a Rússia não conduz campanhas
militares no exterior e não precisa fortalecer a “retaguarda”, em forma de
estruturas militarizadas privadas.
O governo está mais interessado em outros tipos de
estruturas militares comerciais: os exércitos paramilitares corporativos e
étnicos.
Os primeiros são representados pelos serviços de segurança
de empresas industriais que atuam em regiões de conflito. O quadro de funcionários
dessas instituições já ultrapassou o do FSB (Serviço Federal de Segurança, na
sigla em russo).
A legalização dos empreendimentos militares de segurança
permitiu o uso de mão de obra externa (“outsourcing”) por essas empresas quando
necessárias habilidades especiais - por exemplo, para o combate a ataques de
piratas. Nesse caso, a preparação dos funcionários da própria companhia não se
justifica comercialmente.
Já as EMPs que contratam especialistas com perfil específico
conseguem realizar a tarefa exigida com mais rapidez e eficiência. Além disso,
elas podem reforçar legalmente o próprio potencial de segurança.
Junto com os serviços corporativos de segurança que contam
com grande autonomia na atividade internacional, os exércitos paramilitares
comerciais podem se mostrar necessários no território nacional.
Uma de suas funções poderia ser a segurança da zona de
fronteira em regiões distantes, onde há evidente pressão migratória de fora,
como no Extremo Oriente.
As vantagens comerciais e táticas da criação de EMPs, porém,
não mudam o fato de que a privatização gradual da defesa, tanto dentro quanto
fora do país, é uma bomba-relógio. Na verdade, sua legalização significa a
ampliação do direito à violência, até então monopólio do poder estatal.
A legalização das EMPs vai acarretar inevitavelmente na
intensificação da rotatividade do mercado paralelo de armas.
No futuro, as empresas militares privadas podem se
transformar em verdadeiros agentes de política interna, tomando partido a favor
de um ou outro “centro de forças”.
Em essência, isso pode estimular uma subsequente espiral de
neofeudalismo na Rússia.
Nadejda Sokolova é pesquisadora no Centro de Análise de
Problemas.
Publicado originalmente
pelo portal Gazeta.Ru
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