sábado, 3 de novembro de 2012

São Paulo - Disputa (Milicia X PCC) pelo controle de caça-níqueis pode ser motivo de violência no Estado.

De O Globo                                             



Milícia disputa com traficantes controle de caça-níqueis em SP


Grupo criminoso teria participação de PMs aposentados e da ativa.

SÃO PAULO - Uma disputa entre dois grupos pela cobrança de propinas na operação de máquinas caça-níqueis pode estar por trás da onda de violência na Grande São Paulo. 

De um lado, a facção que domina os presídios paulistas. De outro, uma milícia formada por policiais militares (PMs) aposentados e da ativa, criada inicialmente como grupo de extermínio e que, agora, tenta dominar territórios, a exemplo da facção, numa das atividades mais tradicionais da corrupção policial: o jogo do bicho e os caça-níqueis.

O principal negócio da facção é o tráfico de drogas, cujo movimento é estimado em R$ 6 milhões por mês. 

Porém, os caça-níqueis se tornaram rentáveis, e a propina aumentou de R$ 50 para R$ 400 por mês em menos de um ano, o suficiente para atrair concorrência. 

A briga pelos jogos de azar foi relatada ao GLOBO por um agente público ameaçado de morte pelos bandidos. 

A Secretaria de Segurança Pública informou que desconhece a existência da milícia. Uma fonte do alto escalão do governo, porém, confirmou o conhecimento do grupo e a investigação sobre ele pelas execuções dos últimos dias.

A facção paulista domina extensas áreas da periferia. Vende drogas e oferece à população promessa de segurança. Seus líderes ditam as regras e impedem assaltos de bandidos avulsos e drogados, que roubam para sustentar o vício. Se alguém desobedece, é punido. 

Quando a facção domina um bairro, faz chegar a todos que, daquele momento em diante, qualquer assalto ou ato violento deve ser comunicado ao grupo, não à polícia. Assim, impõe a lei do silêncio. 

Como oferece segurança ao comércio local, alguns líderes da facção decidiram que cabe a ela, portanto, receber pela operação das máquinas caça-níqueis.

Em São Paulo, costuma-se dizer que não é preciso ter brigas porque há espaço para todos. A propina do jogo de azar é paga tradicionalmente a policiais civis corruptos. De olho em áreas rentáveis, a milícia de PMs teria tentado cobrar pelos caça-níqueis na favela de Paraisópolis, no bairro do Morumbi, considerada o principal “hipermercado” da cocaína na capital pela proximidade com os consumidores mais ricos. 

Francisco Antonio Cesário da Silva, o Piauí, apontado como integrante da facção e com poder justamente em Paraisópolis, foi preso em Itajaí (SC), em agosto, acirrando os ânimos.

O jogo de azar prosperou em São Paulo nos últimos dois anos com a modernização dos equipamentos. No lugar das máquinas antigas, grandes e, portanto, visíveis, surgiu uma nova, do tamanho de um micro-ondas, feita com tela de LCD e de fácil transporte. 

Na maioria dos locais, geralmente pequeno comércio da periferia, ela só é colocada em operação depois das 18 horas. Estão disponíveis até em açougues, segundo o agente público ameaçado. O valor do jogo varia de R$ 1 a R$ 10. O ganho com cada máquina fica entre R$ 4 mil e R$ 15 mil por mês.

— A sociedade tem que cobrar dos políticos mudanças firmes na legislação, para garantir a investigação até o fim e a segurança de quem investiga. Tenho de punir um funcionário que não é um funcionário qualquer. 

Ele está com a arma na mão. Quando dou voz de prisão, peço a arma. Naquele segundo, ele pode entregar ou atirar. Não sou um chefe comum — desabafa um integrante da cúpula da polícia paulista.

Ele diz que é difícil dizer até que ponto a milícia está envolvida na onda de violência porque há muitos boatos. Em 2010, a polícia chegou perto de prender um integrante da milícia, mas como era apenas suspeito, foi solto pela Justiça.


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