De O Globo
Milícia disputa com traficantes controle de caça-níqueis em SP
Grupo criminoso teria participação de PMs aposentados e da ativa.
SÃO PAULO - Uma disputa entre dois grupos
pela cobrança de propinas na operação de máquinas caça-níqueis pode
estar por trás da onda de violência na Grande São Paulo.
De um lado, a
facção que domina os presídios paulistas. De outro, uma milícia formada
por policiais militares (PMs) aposentados e da ativa, criada
inicialmente como grupo de extermínio e que, agora, tenta dominar
territórios, a exemplo da facção, numa das atividades mais tradicionais
da corrupção policial: o jogo do bicho e os caça-níqueis.
O principal negócio da facção é o tráfico de drogas, cujo movimento é
estimado em R$ 6 milhões por mês.
Porém, os caça-níqueis se tornaram
rentáveis, e a propina aumentou de R$ 50 para R$ 400 por mês em menos de
um ano, o suficiente para atrair concorrência.
A briga pelos jogos de
azar foi relatada ao GLOBO por um agente público ameaçado de morte pelos
bandidos.
A Secretaria de Segurança Pública informou que desconhece a
existência da milícia. Uma fonte do alto escalão do governo, porém,
confirmou o conhecimento do grupo e a investigação sobre ele pelas
execuções dos últimos dias.
A facção paulista domina extensas áreas da periferia. Vende drogas e
oferece à população promessa de segurança. Seus líderes ditam as regras e
impedem assaltos de bandidos avulsos e drogados, que roubam para
sustentar o vício. Se alguém desobedece, é punido.
Quando a facção
domina um bairro, faz chegar a todos que, daquele momento em diante,
qualquer assalto ou ato violento deve ser comunicado ao grupo, não à
polícia. Assim, impõe a lei do silêncio.
Como oferece segurança ao
comércio local, alguns líderes da facção decidiram que cabe a ela,
portanto, receber pela operação das máquinas caça-níqueis.
Em São Paulo, costuma-se dizer que não é preciso ter brigas porque há
espaço para todos. A propina do jogo de azar é paga tradicionalmente a
policiais civis corruptos. De olho em áreas rentáveis, a milícia de PMs
teria tentado cobrar pelos caça-níqueis na favela de Paraisópolis, no
bairro do Morumbi, considerada o principal “hipermercado” da cocaína na
capital pela proximidade com os consumidores mais ricos.
Francisco
Antonio Cesário da Silva, o Piauí, apontado como integrante da facção e
com poder justamente em Paraisópolis, foi preso em Itajaí (SC), em
agosto, acirrando os ânimos.
O jogo de azar prosperou em São Paulo nos últimos dois anos com a
modernização dos equipamentos. No lugar das máquinas antigas, grandes e,
portanto, visíveis, surgiu uma nova, do tamanho de um micro-ondas,
feita com tela de LCD e de fácil transporte.
Na maioria dos locais,
geralmente pequeno comércio da periferia, ela só é colocada em operação
depois das 18 horas. Estão disponíveis até em açougues, segundo o agente
público ameaçado. O valor do jogo varia de R$ 1 a R$ 10. O ganho com
cada máquina fica entre R$ 4 mil e R$ 15 mil por mês.
— A sociedade tem que cobrar dos políticos mudanças firmes na
legislação, para garantir a investigação até o fim e a segurança de quem
investiga. Tenho de punir um funcionário que não é um funcionário
qualquer.
Ele está com a arma na mão. Quando dou voz de prisão, peço a
arma. Naquele segundo, ele pode entregar ou atirar. Não sou um chefe
comum — desabafa um integrante da cúpula da polícia paulista.
Ele diz que é difícil dizer até que ponto a milícia está envolvida na
onda de violência porque há muitos boatos. Em 2010, a polícia chegou
perto de prender um integrante da milícia, mas como era apenas suspeito,
foi solto pela Justiça.
Fonte: http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/controle-de-caca-niqueis-pode-ser-motivo-de-violencia-em-sp
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