Às vésperas do centenário de
nascimento do Rei do Baião, a realidade econômica de muitos locais
imortalizados nas suas canções mudou para melhor. No interior do
Nordeste, porém, a seca ainda é um cruel flagelo para a população Paulo
Henrique Lobato (textos) e Alexandre Guzanshe (foto) Enviados especiais a
Pernambuco, Bahia e Ceará.
Em Exu (PE), terra de Luiz Gonzaga, a falta d'água ainda castiga o gado e a plantação, trazendo prejuízo para quem persiste no campo |
09.Dez.2012. Correio Braziliense - Nascido
no Dia de Santa Luzia (13 de dezembro), Luizinho herdou do pai,
Januário, a paixão pelo fole. A agilidade com que bulinava sanfonas de
oito baixos, ainda na adolescência, animava os arrasta-pés em sua terra
natal, Exu (PE), no sopé da Serra do Araripe. Já adulto, depois de
servir ao Exército em Belo Horizonte, Juiz de Fora, Ouro Fino e noutros
quartéis Brasil afora, o seu vozeirão, o vasto repertório e a facilidade
com que tirava o som do instrumento musical — agora um fole de 120
baixos — conquistaram uma legião de fãs nos quatro cantos do país.
Luizinho, então, passou a ser conhecido como Luiz Gonzaga (1912-1989), o
rei do baião.
O
ritmo musical criado pelo filho de Januário é um marco na cultura
nacional. Suas músicas lideraram paradas de sucesso, tal qual o Xote das
Meninas. Mas Gonzaga usou o acordeão apenas para divertir o público.
Ele aproveitou o sucesso do baião para revelar, como nenhum outro
artista da época, um Brasil até então desconhecido de boa parte da
população. Em Asa Branca, seu maior sucesso, mostrou o drama da migração
forçada pela seca.
Na
canção Paulo Afonso, nome da hidrelétrica homônima à cidade baiana, ele
ressaltou o desenvolvimento econômico por meio da chegada de energia
elétrica em áreas carentes. Em Minas Gerais, o mesmo ocorreu, há 50
anos, com a construção da represa de Três Marias, transformando o então
povoado de Barreiro Grande na atual cidade batizada em homenagem à
hidrelétrica. Em A marcha da Petrobras, Gonzaga previu que o país seria
uma potência mundial — hoje o Brasil é a sexta nação mais rica do
planeta.
A
lista de músicas que abordam temas econômicos, assim como foi o sucesso
do sanfoneiro de Exu, é grande. É bom frisar que parte do norte de
Minas pertenceu, há quase dois séculos, à província da Bahia, o que
explica as semelhanças climáticas e socioeconômicas da região com o
Nordeste.
Em
muitas cidades, o progresso sonhado por Gonzaga não é mais utopia. Em
Juazeiro do Norte (CE), os arranha-céus mudaram a paisagem local. Em
Montes Claros (MG), o distrito industrial atrai grandes empresas. Por
outro lado, mesmo com o país batendo recordes na geração de empregos, a
seca e outros males cantados à exaustão pelo sanfoneiro ainda ditam o
dia a dia de flagelados.
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