Roberto Godoy
16. Dez.2012. Estadao.com.br. - O
Exército do Brasil está desenvolvendo os primeiros mísseis nacionais de
alcance na faixa de 300 quilômetros e com a capacidade de fazer
navegação inteligente até seus alvos.
A carga explosiva fica entre 150
quilos e 200 quilos. O programa de construção do AV-TM é parte do
sistema de artilharia Astros 2020, uma das sete prioridades estratégicas
no processo de modernização da Força Terrestre.
O
contrato para o desenvolvimento do míssil foi assinado no dia 29 de
novembro no Comando do Exército, em Brasília.
Uma cerimônia discreta. A
empresa, dona do projeto, é a Avibrás Aeroespacial. O pacote completo do
investimento no Astros 2020 é avaliado em R$ 1,246 bilhão. O custo, só
da fase de desenvolvimento do AV-TM, será de R$ 195 milhões.
Segundo
Sami Hassuani, presidente da Avibrás, todas as etapas do empreendimento
estarão integralmente cumpridas até 2018, "mas, o primeiro lote, será
entregue ao Exército já em 2016".
Em nota, o Comando do Exército
informou que no período de 2011 e 2012 aplicou, diretamente no plano, R$
220 milhões.
Hassuani
acredita nas possibilidades do produto no mercado internacional. Ele
estima que apenas clientes tradicionais do arranjo atual do Astros, como
a Arábia Saudita, a Malásia e a Indonésia, representem "encomendas na
escala de US$ 2 bilhões" aos quais "se somam novos negócios potenciais
na linha de US$ 3,5 bilhões até 2022".
A
primeira versão do míssil foi criada em 1999 e apresentada em 2001, na
condição de munição alternativa e avançada do lançador múltiplo de
foguetes. Ao longo dos últimos dez anos, a arma passou por constante
aperfeiçoamento. O desenho atual é moderno, mais compacto e dispensa as
asas retráteis da configuração original. O míssil mede 4,5 metros e
utiliza materiais compostos. O motor de aceleração usa combustível
sólido e é usado no lançamento. Durante o voo de cruzeiro, subsônico, o
AV-TM tem o comportamento de uma pequena aeronave - a propulsão é feita
por uma turbina, construída também pela Avibrás.
No
limite. O sistema está no limite do Regime de Controle de Tecnologia de
Mísseis, o MTCR, do qual o Brasil é signatário. O regime pretende
conter a proliferação dessa classe de equipamento militar com raio de
ação acima de 300 quilômetros e ogivas de 500 quilos. Nos termos do
acordo multinacional, os 34 participantes - entre os quais, Estados
Unidos, Grã-Bretanha, Rússia e França, todos potências nucleares -
assumem que cada Estado deve estabelecer a política nacional de
exportação dos vetores de ataque não tripulados. Em 1992 o MT-CR passou a
considerar todas as armas de destruição em massa. "O AV-TM está
rigorosamente dentro da distância fixada e, de forma bem clara, com
folga no peso", explica Sami Hassuani.
Falcão - Vant da Avibras. |
De
acordo com exposição do coronel Geraldo Antonio Diniz Branco, em
seminário do Ministério da Defesa, em 2011, "ser parte do MTCR implica o
grave compromisso de não permitir a proliferação da tecnologia de
mísseis a partir de seu território". Para Diniz Branco, todavia, isso
não impede o desenvolvimento das tecnologias de mísseis, próprias ou de
parceria com outro Estado".
O
Comando do Exército destaca que o Astros 2020 e a plataforma para que a
Força tenha apoio de fogo de longo alcance com elevados índices de
precisão e letalidade". A navegação do AV-TM é feita por uma combinação
de caixa inercial e um GPS. O míssil faz acompanhamento do terreno com
um sensor eletrônico corrigindo o curso em conformidade com as
coordenadas armazenadas a bordo. Seu objetivo ideal é uma instalação
estratégica - refinarias, usinas geradoras de energia, centrais de
telecomunicações, concentrações de tropa, depósitos, portos, bases
militares, complexos industriais.
"Ainda
não tem o radar necessário para buscar alvos móveis; isso pode vir a
ser incorporado, claro, em uma série especial", destaca Sami Hassuani.
Esse recurso permitirá outras façanhas , - por exemplo, um disparo
múltiplo contra uma frota naval, liderada por um porta-aviões, navegando
a até 300 quilômetros do litoral, eventualmente ameaçando as províncias
petrolíferas em alto-mar.
Foguete.
O Astros 2020 terá ainda um novo, - menos sofisticado, mas mais barato -
tipo de munição, o foguete guiado SS-AV-40, para chegar a 40
quilômetros com precisão e pouco "espalhamento", evitando a dispersão em
relação ao ponto de impacto com recursos eletrônicos de direção I -
entretanto, incapaz de navegar e procurar a área do objetivo. O Exército
destinou R$40 milhões ao projeto. Cada bateria do sistema é composta
por seis carretas lançadoras apoiadas por seis remuniciadoras, um
blindado de comando, um carro-radar de tiro, um veículo-estação
meteorológica e um de manutenção (veja gráfico).
O míssil AV-TM é
disparado dois a dois. O SS-30 em salvas de 32 unidades, o SS-40, de 16;
os SS-60 e SS-80 de três em três. O grupo se desloca a 100 km/hora em
estrada semipreparada e precisa de apenas 15 minutos de preparação antes
do lançamento. Cumprida a missão, deixa o local deslocando-se para
outro ponto da ação, antes que possa ser detectado.
A
série 2020 opera os mesmos foguetes regulares do Astros-2, dois deles, o
SS-60 e o SS-80, são dotados de cabeças de guerra de 150 kg de alto
explosivo, ou perto de 70 granadas independentes. O conjunto eletrônico é
da sexta geração. Melhora a exatidão do disparo e permite a
integração do Veículo Aéreo não Tripulado (Vant) Falcão, da mesma
Avibrás, expandindo o reconhecimento.
Fonte: http://www.exercito.gov.br/web/imprensa/resenha
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