Escutas comprometem 1/10 do batalhão de Caxias, acusado de achacar traficantes
Ana Claudia Costa,Fabio Vasconcellos e Renata Leite.
05. Dez. 2012. Jornal O GLOBO. O 15º BPM (Duque de Caxias), conhecido pelos casos
de corrupção envolvendo policiais, voltou a ser palco de novo escândalo.
Ontem, 63 policiais originários da unidade foram presos, dois deles em
flagrante, durante uma operação conduzida por agentes da Subsecretaria
de Inteligência da Secretaria estadual de Segurança, do Grupo de Atuação
Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público estadual,
e da Coordenadoria de Inteligência da Polícia Militar e da Polícia
Federal.
Além dos militares, foram presas outras 11 pessoas por tráfico.
A
ação, que recebeu o nome de Operação Purificação, tinha como objetivo o
cumprimento de 83 mandados de prisão, sendo 65 contra PMs. O grupo é
acusado de formação de quadrilha armada, tráfico de drogas, corrupção e
extorsão mediante sequestro, entre outros crimes.
Quatro militares estão
foragidos.
A operação também tinha como objetivo o cumprimento de 112
mandatos de busca e apreensão. No armário do sargento Emerson Vagner
Costa Souza, um dos presos, foram encontradas uma touca ninja, cocaína e
munição irregular.
Apesar de o
grupo de militares acusados ser formado por praças, a ação acabou
respingando em policiais de patentes mais altas.
O comandante do 15º
BPM, tenente-coronel Claudio de Lucas Lima, foi exonerado logo pela
manhã, bem como todos os oficiais ligados a ele.
Em seu lugar, assumiu o
tenente-coronel Maurício Faria da Silva.
Segundo informações do
Ministério Público, o ex-comandante chegou a ser citado pelos policiais
acusados em escutas telefônicas, mas não foram descobertos indícios de
seu envolvimento no esquema.
Na avaliação do comando da corporação, no
entanto, ele falhou ao não fiscalizar os seus comandados.
-
Se lá atrás não conseguimos apresentar provas o bastante para manter os
acusados presos, desta vez conseguimos a materialidade dos crimes.
Mostra que a PM pode cortar a própria carne e contar com a parceria e a
integração com outras instituições.
Essa é uma luta do bem contra o mal -
disse o secretário de segurança, José Mariano Beltrame, ontem à tarde.
Batalhão já foi alvo de operação - O
secretário se referia a uma operação semelhante, conduzida em 2007, que
denunciou 59 PMs do Batalhão de Caxias. Na época, eles foram acusados
de envolvimento com o tráfico, mas, por falta de provas, acabaram
soltos.
De acordo com o comandante
da PM, coronel Erir Costa Filho, os militares denunciados serão
excluídos em um prazo que vai de 15 a no máximo 30 dias.
Todos foram
encaminhados para Bangu 8, no Complexo de Gericinó.
- Nós não aceitamos mais ser humilhados por desvios de conduta praticado por alguns - disse o comandante.
Segundo
o MP, os policiais vendiam armas e drogas apreendidas para traficantes
de 13 favelas da região.
Além disso, recebiam propina (mesmo nas férias)
para não fazer operações e não efetuar prisões na favela Vai Quem Quer,
em Caxias.
O grupo também chegava a sequestrar traficantes e seus
familiares quando os criminosos se recusavam a pagar.
Segundo as
investigações, policiais chegaram a pedir um resgate de R$ 200 mil por
um traficante sequestrado.
Na negociação, o valor caiu para R$ 10 mil,
mas, como os criminosos só aceitaram pagar R$ 3 mil, o bandido foi
entregue à polícia.
O MP afirma
ainda que cada Grupo de Ações Táticas (GAT) do batalhão recebia R$ 2.500
por plantão para não coibir o tráfico, e que um fuzil foi vendido para
um traficante por R$ 45 mil.
De
acordo com os promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao
Crime Organizado do MP, as investigações começaram em setembro do ano
passado. Desde então, oito PMs envolvidos no esquema foram transferidos
para outras unidades.
A denúncia
deixa claro que esses policiais estavam envolvidos com a maior facção
criminosa do Rio. E que a prática de extorsão se estendia a outras
favelas.
Juiz classista também foi preso - Entre
os presos está o juiz classista aposentado Lemuel Santos de Santana,
conhecido entre os acusados como "Desembarcador", que usava de tráfico
de influência para conseguir vantagens para a quadrilha. De acordo com a
polícia, ele foi diretor do Presídio Muniz Sodré no governo de Moreira
Franco.
Fabio Galvão, subsecretário
de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública, disse que a relação
entre PMs e bandidos beirava a amizade:
-
PMs falavam com traficantes: "se vai ficar bom para você, vai ficar
para a gente". Nesse esquema um policial de férias chegou a fornecer o
número de sua conta bancária para que a propina fosse depositada -
concluiu.
Fonte:http://www.exercito.gov.br/web/imprensa/resenha
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