O Ministério Público Federal (MPF) abriu procedimento sigiloso para investigar denúncia de supostas atividades de espionagem inclusive grampos telefônicos e infiltração em movimentos sociais – feita contra a Vale por seu ex-gerente de Inteligência André Almeida. O presidente da Vale, Murilo Ferreira, confirmou ontem, a abertura de auditoria interna para apurar as acusações do ex-funcionário.
Almeida
fez a denúncia – referente à gestão de Roger Agnelli na presidência da
companhia -por escrito à Procuradoria da República. O procurador Carlos
Aguiar informou ontem, por meio de assessores, que busca elementos para
confirmar a credibilidade das informações”, que incluem a violação do
sigilo telefônico de uma jornalista.
De
acordo com o advogado Ricardo José Régis Ribeiro, representante e
porta-voz de Almeida, os arapongas obtiveram ilegalmente um extrato
telefônico de uma repórter especializada no acompanhamento da Vale para
saber quem vazava informações internas para a imprensa. O ex-gerente
também relatou que o então chefe da área de Comunicação da empresa teve o
seu telefone grampeado, assim como “pessoas estratégicas” de fora da
companhia.
O
presidente da Vale revelou que a área de segurança da empresa passou
por uma reestruturação logo que ele assumiu o comando da companhia, há
cerca de dois anos. “Fizemos uma reavaliação completa. Inclusive a área
de que fazia parte o senhor André Almeida não existe mais”, disse.
E
apesar de ressaltar que prefere esperar a conclusão da auditoria
interna para esclarecer “a verdade dos fatos”, Ferreira destacou que o
ex-funcionário foi demitido por justa causa há cerca de um ano por
“largo uso” do cartão corporativo para despesas pessoais.
O
advogado Ricardo Ribeiro disse que o cartão foi usado por engano, por
ser da mesma bandeira que o cartão pessoal de Almeida, que teria
devolvido o dinheiro à companhia. O advogado lembrou que a lei proíbe a
divulgação do motivo de demissão (imotivada ou por justa causa) e
prometeu que o ex-gerente processará a Vale no campo trabalhista.
Ainda
de acordo com Ribeiro, Almeida disse que até políticos teriam sido
investigados por espiões da Vale que, segundo o ex-gerente, contratou
dois agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), agência
sucessora do antigo Serviço Nacional de Informações (SNI), outra
possível ilegalidade.
“A
maioria dos integrantes deste setor de segurança é de ex-membros do
CPOR (Centro de Preparação de Oficiais da Reserva) e NPOR (Núcleo de
Preparação de Oficiais da Reserva)”, disse o advogado. Ele explicou que o
ex-gerente serviu no CPOR e é oficial temporário (ou seja, por estar
então em curso superior, prestou serviço militar como oficial e deu
baixa nessa condição), tendo sido recrutado dessa forma para trabalhar
com espionagem.
Almeida
trabalhou oito anos para a empresa: dois para uma terceirizada e seis
diretamente para a Vale. O ex-gerente, segundo o advogado, também
apresentou ao MPF os nomes de empresas que seriam terceirizadas pela
Vale para serviços ilegais de arapongagem. Uma teria infiltrado
informantes no Movimento dos sem terra e na organização Justiça nos
Trilhos, que afetariam interesses da mineradora.
Almeida
também relatou visitas feitas à empresa pelo ex-ministro-chefe da Casa
Civil José Dirceu e pelo ex-tesoureiro Delúbio Soares, embora não tenha
informado os motivos da presença dos visitantes, condenados ano passado
no processo do mensalão.
“Temos
de esperar a auditoria concluir as análises”, disse ontem Murilo
Ferreira, em entrevista por teleconferência; Ele esclareceu que o
trabalho da auditoria responde diretamente ao presidente do conselho de
administração da empresa e não à diretoria executiva. “Aguardo o
resultado da auditoria para tirarmos todas as conclusões sobre o caso”,
disse.
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