Autor:Luis Nassif
Coluna Econômica
Esgotada a fase das passeatas e manifestações públicas, com algumas
recaídas aqui e ali, o país entrará na fase do pós-manifestações.
Então, haverá desafio para estadista nenhum botar defeito. Quem
entender os novos tempos, se consagrará; quem não entender, estará fora
do jogo.
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Qualquer estratégia política não pode ignorar as características dos novos tempos:
1 - O campo político, doravante, é o online, as redes sociais. São as
novas ágoras, as praças púbicas das democracias gregas. Não dá para
fugir da arena.
2 - As decisões políticas de gabinete estão definitivamente superadas. O
país já avançou com a Lei de Transparência, que expõe alguns dados a
posteriori. Terá que começar a trabalhar com formas de democracia
direta.
3 - O cidadão entrou, finalmente, no centro das políticas públicas. Na
segunda-feira, por exemplo, no embalo das manifestações, a OAB (Ordem
dos Advogados do Brasil) anunciará uma comissão de juristas para
trabalhar a Lei de Proteção aos Direitos do Usuário de Serviços
Públicos. É típica reação civilizatória contra um dos pontos centrais de
abuso, a ausência de Estado na regulação dos serviços públicos.
5 - É hora de se repensar a questão da militarização da Polícia Militar.
***
A presidente da República Dilma Rousseff tem a faca e o queijo na
mão. Se tiver discernimento, as manifestações poderão se constituir no
empurrão definitivo para lançar o país em uma nova etapa da democracia.
Há um roteiro à vista, a ser protagonizado por Dilma.
O primeiro passo é radicalizar uma iniciativa sua, a Lei da
Transparência – que obriga todos os órgãos públicos a disponibilizarem
dados na Internet. Já existem experiências no Brasil e no mundo, sobre o
uso inteligente das redes sociais para fiscalização de obras e serviços
públicos.
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Tome-se o caso dos transportes urbanos em São Paulo. Embora
atropelado pelos fatos, o prefeito Fernando Haddad é um dos políticos
com cabeça mais aberta para participação popular.
Ora, aproveite o impulso dado pelo Movimento Passe Livre e exponha
todos os dados das empresas de transporte à fiscalização das redes
sociais. Coloque os GPs dos ônibus, as rotas seguidas, o número de
passageiros de cada trajeto, os dados do trajeto, as planilhas de custos
e peça a parceria da rapaziada, ensinando como analisar os dados e como
disciplinar as empresas.
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Já existem ferramentas tecnológicas para monitoramento de obras
públicas, para análises de contratos, para montar fóruns de discussão,
para captar os sentimentos nas redes sociais.
Através de um sistema de
redes, o governo não ficará prisioneiro de indicadores que, muitas
vezes, servem de biombo para esconder funcionários relapsos.
Sem rompantes, Dilma abriu os dados públicos com a Lei de
Transparência. É hora de avançar e expor os sistemas de decisão aos
olhos das redes sociais.
A crise, se bem interpretada, poderá permitir ao Brasil montar o primeiro movimento sério de cidadania digital.
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