sábado, 15 de junho de 2013

Operação Vinagre - São Paulo. Extra! Extra! Vinagre pode virar bomba. Segundo tenente coronel da Policia Militar.

Em São Paulo, Vinagre dá cadeia.

O repórter de CartaCapital Piero Locatelli narra sua prisão por "porte de vinagre", revela a violência contra detidas e lamenta que não-jornalistas não tiveram a mesma sorte e seguiram presos


Eu comprei uma garrafa de plástico de 750ml de vinagre por menos de dois reais nesta quinta-feira 13. Fui a um mercado no caminho para a manifestação contra o reajuste das passagens, que iria cobrir para o site da revista.

Explico o porquê.

Acompanhei o primeiro protesto de perto na semana anterior. Na avenida Paulista, tive contato com bombas de gás lacrimogêneo. No dia seguinte, pela manhã, tinha a impressão de que havia passado um ralador em meu nariz e em meus olhos.

Devemos agora tirar uma licença porte de vinagre?
No segundo protesto, na última sexta-feira 7, manifestantes que seguiam pacificamente foram recebidos com mais bombas na zona oeste da cidade. No meio do ato, uma pessoa só com os olhos de fora espirrou vinagre na minha camiseta, dizendo para eu respirar e me cuidar.

Foi quando descobri que o vinagre atenua os efeitos do gás lacrimogêneo. O exemplo da manifestante desconhecida me fez ser mais precavido desta vez. Nesta quinta-feira, desembarquei do ônibus em frente ao metrô Anhangabaú. Ao chegar, vi dois estudantes sendo presos. Perguntei ao policial o que eles portavam. Ele falou em “artefatos”, sem especificar. Os presos responderam que era vinagre.

Eu não sabia que o mesmo iria acontecer comigo logo em seguida. No viaduto do Chá, a caminho da Praça do Patriarca, para onde os estudantes haviam sido levados, me deparei com jovens sendo revistados. Liguei a câmera do celular para filmá-los, quando gravei o seguinte diálogo:

SD PM Leandro Silva: Tira a sua [mochila] também.

Eu: Eu sou jornalista, amigo. Você quer a minha identificação?

SD PM Leandro Silva: Não, não. Não precisa não.

Piero: Tem vinagre aqui dentro. Tem algum problema?

SD PM Leandro Silva: Tem. Vinagre tem.

Piero: Por quê?

SD PM Leandro Silva: Pode ir lá [ser revistado]

Em seguida, minha mochila foi aberta enquanto eu continuava filmando (como é possível ver no vídeo) e pedia para pessoas próximas fazerem o mesmo. Questionei algumas vezes qual lei, norma ou portaria proibiria o porte de vinagre, mas não obtive resposta.

No caminho, tive a oportunidade de ligar para uma amiga, também jornalista, que estava indo ao ato. Disse a ela que estava sendo levado à praça do Patriarca.

Em seguida, continuei gravando. Foi este meu último diálogo com os policiais antes de ser colocado contra a parede de uma loja fechada na praça:

SD PM Pondé: Tá gravando aí, irmão?

Piero: Tô. Sou jornalista, amigo.

Cap. PM. Toledo: Vinagre... Pode ficar ali com a mão para trás.

Piero: Como é que é? Eu estou sendo preso? É isso?

Cap. PM. Toledo: Pega e fica ali com a mão pra trás! Coloca a mão pra trás aí! Mão pra trás! Mão pra trás e pega a sua bolsa! Mão pra trás!

Fiquei com a cara colada contra a parede. Enquanto isso, meu gravador permaneceu ligado em meu bolso. Este é um dos diálogos captados:

Policial homem não identificado pela reportagem: Encosta na parede! (2x) Mão pra trás! Coloca a mão pra trás! Mão pra trás!

Mulher: Para de me agredir. (2x) Você é homem.

Policial homem não identificado pela reportagem: Cala a boca! (3x)

Mulher: Para de me agredir. Eu não fiz nada (3x)

Policial homem não identificado pela reportagem: Quer uma policial feminina pra te agredir? Tá com spray!

Mulher: Eu não tô com spray! (2x)

Homem (policial?): Cala a sua boca! (3x)

Na sequência, a mesma mulher detida fala baixo com uma colega:

Mulher detida 1: O que ele fez com você?

Mulher detida 2: Ele me bateu com o cassetete.

Mulher detida 1: Onde?

Mulher detida 2: Em tudo. Na minha barriga, nas minhas costas.

(....)

Mulher detida 2: Ele me bateu, ele me agrediu, eu não fiz nada. Eu tava respeitando ele (2x). Ele tem que me respeitar. Eu sou uma cidadã.

Mulher detida 1: Calma. Calma. Calma. Ele não vai te respeitar porque ele tá passando dos limites. Isso é abuso de poder. Calma.

Logo após ter sido colocado contra a parede, estive ao lado de um fotógrafo, conhecido de outras pautas. Ele percebeu os flashes na parede em que nos escorávamos, disse que havia fotógrafos atrás de nós.

Eu tentei virar para ver se havia conhecidos. Não via ninguém e era recebido com gritos de policiais que me mandavam olhar para frente novamente e “não arranjar problema”.

Na terceira vez que virei, vi ao longe outro colega. Gritei o nome dele e fui colocado novamente contra a parede. Esses jornalistas se comunicaram novamente comigo por duas vezes. Na primeira, gritaram para eu virar e tirar uma foto. Na segunda, que haviam conseguido um advogado para mim.

Fui jogado em um ônibus da Polícia. Tentei perguntar por que eu havia sido preso e para onde eu estava sendo levado. Mais uma vez, não obtive resposta.

Dentro do veículo, policiais diziam que, caso houvesse pedras, era para seguir dirigindo. As ruas eram abertas por batedores, algumas motos que seguiam à frente.

Ao meu lado estava uma menina, pré-vestibulanda, que me perguntou cochichando porque estavam tirando fotos de mim no ônibus. Eu expliquei que era jornalista e aqueles eram amigos. Ela disse que “ao menos eu ia poder escrever sobre o que aconteceu, os outros não poderiam fazer o mesmo”. Falei que estávamos presos pelo mesmo motivo.

O ônibus da polícia seguiu por um caminho longo até o 78º DP, nos Jardins. Fomos colocados em fila para a revista. Pedi para colocar a blusa e um policial negou, dizendo que dali a pouco ia “ficar quente”.

Em seguida, finalmente explicaram porque estávamos ali. A delegada dizia que não estávamos presos, estávamos “sob averiguação”. Eu não sei a diferença. Tinham me levado para um departamento policial à força e não me diziam o motivo. Os meus documentos tinham sido retidos pela polícia.

Iriam fazer um Boletim de Ocorrência para todos os presentes. Segundo disseram os policiais, todos os outros (cerca de quarenta pessoas, nas minhas contas) haviam sido levados por conta do vinagre. A exceção era um que havia sido pego com entorpecentes.

Uma vez dentro da Polícia Civil, fui bem tratado. Vários policiais me perguntavam o que eu estava fazendo com um vinagre na mão. Eu tentava explicar e eles, incrédulos, não sabiam que o problema era justamente uma garrafa de vinagre. Cerca de duas horas após ser detido, fui liberado com a chegada de advogados. Deixaram que eu levasse o vinagre.

O fato de eu ser jornalista amenizou os problemas causados pela ação da polícia. A delegada chegou a me perguntar por que eu não havia me identificado como jornalista à Polícia Civil. A minha redação me disponibilizou um advogado e tentou contatar quem fosse possível. 

Meus amigos e outros colegas foram solícitos, mostrando o meu caso em redes sociais. A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) fez um comunicado falando da minha prisão, que foi reproduzido pelos maiores veículos do País.

Sou grato a todos eles por terem me ajudado. Só lamento que as histórias de todos os outros não tiveram a mesma conclusão. Ir e vir com garrafas de vinagre deveria ser um direito de todo cidadão.




Crédito: Foto postada no Facebook.

Continuando a saga dos "MacGayvers", digo, perigosos "homens bombas vinagreiros".
Mais de 30 pessoas foram detidas entre as 16h e 17h por “porte de vinagre” em São Paulo nesta quinta (13) e de acordo com o responsável pela ação, o tenente-coronel da Polícia Militar Ben-Hur Junqueira, o tempero representa uma série de riscos em grandes aglomerações de pessoas e pode dar origem a uma bomba, mas não explicou como chegou a essa conclusão. “Estão fazendo mistura de vinagre com outras substâncias, o que pode vir a dar origem a um objeto que pode virar até uma bomba”, disse ele a um jornalista do Portal R7.

Ainda segundo ele, não há incoerência em deter pessoas com “perfil de manifestante” e que portassem objetos considerados “suspeitos e incomuns de serem portados”. Ele alegou ainda que para saber se era vinagre, dependeria de uma análise técnica mais apurada. “Não tenho condições de pegar uma garrafa e saber que é vinagre. Pode ter cheiro e cor de vinagre, mas só quem vai dizer com certeza o que é isso é o IC (Instituto de Criminalística). É preventivo o que estamos fazendo”, disse.


O vinagre é usado para diminuir os efeitos do gás lacrimogêneo, mas o tenente coronel contesta. “Isso até hoje não foi comprovado [efeito do vinagre sobre o gás lacrimogênio]. A polícia não tem até hoje a confirmação de que o vinagre quebra o efeito químico das substâncias que nós usamos. Mas como vou saber que é vinagre? Parece vinagre, mas...”, disse.

Nota da redação - Aproveitamos o ensejo, para divulgar a campanha pela legalização do produto no facebook, que pede a legalização do produto. 

Além disso, já que está em voga uma discussão tão importante em torno do produto, reproduzimos abaixo um texto de João Peres, para o site Rede Brasil Atual, que explica tudo sobre as variedades à disposição para cortar o efeito do gás lacrimogêneo e ressaltando que, “independente do tipo de vinagre escolhido, importante é ser preso com estilo”.  Acreditamos que o texto está no tom exato que o tema merece. 

Vai à manifestação de segunda? Saiba qual vinagre faz seu tipo

Por João Peres, da Rede Brasil Atual – Como vinagre virou clichê nas manifestações contra o aumento das tarifas de transporte público em São Paulo, é hora de se diferenciar. Afinal, você não quer que seus amigos te vejam sendo preso com um produto básico, que todo mundo anda usando por aí, né? Resolvemos seu problema com um guia dos melhores modelos para serem usados no próximo ato, marcado para segunda-feira, às 17h, no Largo da Batata, zona oeste da capital.

Antes de definir qual tipo melhor se adequa a suas necessidades é preciso escolher o lugar da compra. Surpreende-se quem acha que mercadinhos de bairro estão por fora das novas tendências. Há uma boa variedade, embora, claro, produtos mais refinados costumem ficar de fora. 
 
Crédito: Foto postada no Facebook.
A melhor pedida são os hipermercados, que oferecem opções para todos os gostos, ainda que empórios e até mesmo padarias um pouco melhor equipadas possam dar conta e oferecer produtos muito refinados.

A bibliografia disponível sobre o uso do vinagre não acumulou evidências sobre a cepa que melhor protege olhos e narinas. Então, se estiver apertado, não hesite em apelar ao vinagre de álcool, que sai por menos de R$ 2. 

Não é preciso ficar com complexo de gente comum: customize a embalagem usando canetas, cola e pedaços de tecido – pode combinar com as roupas, fazendo uma garrafa no estilo da tribo urbana com a qual você se identifica.

Se o orçamento estiver um pouco mais folgado, mas não o suficiente para ser chique, apele aos clássicos de vinho. O de vinho tinho tem notas ácidas, perfeitas para combinar com os tons obtidos pelo gás lacrimogêneo. Mas as notas doces do vinagre de vinho branco conferem status, sem dúvida, e demonstram bom gosto.

Nos últimos anos multplicaram-se os produtos disponíveis usando o branco, e os preços vão de R$ 2,5 a R$ 15. Produzir em casa é a melhor saída para quem quer um produto ecologicamente correto: deixe o resto de vinho alguns dias fora da geladeira, e pronto, tem-se um resultado de qualidade.

Os vinagres de maçã, também com tons adocicados, têm a vantagem de que as sobras do protesto podem ser aproveitadas em receitas salgadas diversas. Com a salada de repolho, por exemplo, fica perfeito, e melhor se for acompanhada de um kebab – a região da Paulista tem várias casas árabes, ou seja, convença os amigos a levar o protesto para lá.

Quem gosta de desfrutar novos sabores pode provar o vinagre de kiwi, que, segundo o fabricante, destaca o sabor das frutas tradicionais, além de preservar aminoácidos, vitaminas, sais minerais e capacidade anti-oxidante – aqui, de novo, a bibliografia médica falha, e não se responde se a interação gás lacrimogêneo-vinagre provoca efeitos positivos para a pele. 

Esta variedade cumpre ainda os princípios da sustentabilidade, produzida unicamente a partir de kiwis orgânicos. Este é outro daqueles que devem ser preservados após o fim da manifestação porque ajuda a eliminar toxinas e contribui para o equilíbrio do metabolismo, dois fatores fundamentais no day after.

Outra variedade com propriedades terapêuticas é o vinagre de mel. Se tiver tempo de comprar um artesanal, melhor, porque realça a característica de combate à hipertensão. Além do baixo valor calórico, importante se você não quer ficar para trás na hora da marcha, o produto combate os radicais livres, retardando o envelhecimento. 

A versão industrializada, embora de menor sabor, sai mais em conta, em torno de R$ 12, e pode ser utilizada para fazer uma calda de maracujá para acompanhar peixes de sabor forte, como salmão.

Finalmente é hora de falar do supra-sumo em termos de vinagre para manifestação. O balsâmico confere graça, estilo e um caráter diferenciado a quem o porta. Quer todo mundo te invejando? Vai de balsâmico. É bem verdade que a textura mais espessa pode cortar um pouco do efeito anti-gás, mas vale a pena, né? Você paga um pouquinho mais e tem um produto exclusivo, ou quase isso.
Os nacionais não são ruins, mas nada se compara aos Di Modena, originais, com uvas produzidas nos ares vulcânicos. Se não está com dinheiro para pagar, escolha um restaurante de estilo, leve um potinho e vá em frente: o importante é ser feliz. 
A harmonização entre açúcar mascavo e balsâmico é um achado da cozinha contemporânea, fica perfeita na preparação de conservas e de pratos com batata e alecrim. A combinação com os aromas de gás lacrimogêneo nunca foi testada, até onde se sabe, mas sempre é tempo de descobrir novos sabores. Inove e impressione.

LEIA MAIS.

Operação Vinagre I - Prisões realizadas nesta quinta são ilegais, afirmam advogados. http://maranauta.blogspot.com.br/2013/06/operacao-vinagre-prisoes-realizadas.html

Operação Vinagre II - São Paulo. Repúdio internacional contra violência da Policia Militar contra jornalistas. http://maranauta.blogspot.com.br/2013/06/sao-paulo-repudio-internacional-contra.html

Operação Vinagre III -
São Paulo. Protestos contra aumento da passagem ganham ato de apoio em 15 países. http://maranauta.blogspot.com.br/2013/06/operacao-vinagre-iii-sao-paulo.html


Operação Vinagre IV - São Paulo. Jânio: a PM é que incita a desordem.  http://maranauta.blogspot.com.br/2013/06/sao-paulo-janio-pm-e-que-incita-desordem.html  

Operação Vinagre V - Secretário de Segurança de SP quer reunião com liderança do Movimento Passe Livre. http://maranauta.blogspot.com.br/2013/06/operacao-vinagre-v-secretario-de.html

Operação Vinagre VI - Governo Alckmin: "Não haverá mais prisão por porte de VINAGRE" http://maranauta.blogspot.com.br/2013/06/operacao-vinagre-vi-governo-alckmin-nao.html

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