Ketllyn Fernandes
Bianca Mantelli Pazinatto estava desaparecida desde a manhã de segunda-feira (29/7). Caso chocou a população de Jataí e teve repercussão nacional por conta do envolvimento de duas menores |
O caso da estudante de biomedicina Bianca Mantelli Pazinatto
poderia ser mais um de tantos outros assassinatos com motivação
passional.
Uma realidade triste que reflete o descontrole emocional de
alguns diante do rompimento de uma relação amorosa. Mas pela autoria do
crime ser de duas adolescentes que mataram a golpes de faca outra jovem,
de 18 anos, o estranhamento e choque põem em xeque os atuais valores
que são repassados aos jovens enquanto crianças e coloca em discussão
até que ponto estes os assimilam.
Na adolescência, a imaturidade sentimental é encarada como normal por
especialistas. Porém, quando chega ao extremo de atentar contra a vida,
abrem-se leques para um desequilíbrio cujas causas são inúmeras e
intensificadas pelo individualismo do mundo contemporâneo.
O assassinato premeditado, e até pré-anunciado em uma carta de amor
(“Faço coisas por amor", escreveu a estudante L.L.M. a Bianca),
cometido por uma menor que, ao menos em frente às câmeras, não chegou a
demonstrar arrependimento, é um sinal claro da incapacidade de lidar com
a frustação que tem levado jovens a protagonizarem crimes bárbaros e
até suicídio.
Mestre em Psicologia do Desenvolvimento, a psicóloga Ádria Assunção Santos de Paula apresentou em entrevista ao Opção Online
nesta quarta-feira (31/7), alguns possíveis motivos para a conduta de
L.L.M., de 17 anos, e M. M. S., de 16 anos, principalmente da primeira,
apontada como mentora do crime. Embora o caso tenha sido divulgado como
de um relacionamento amoroso, a família da vítima afirma desconhecer a
possível homossexualidade de Bianca, o que faz do sentimento de L.L.M.
platônico.
O
assassinato de Bianca evidenciou, de acordo com a especialista, que a
estrutura emocional das menores é frágil e que podem ser percebidos, a
partir do planejamento durante cinco dias, indícios de psicopatia.
A
vítima foi encontrada com mãos e pés amarrados e com três ferimentos a
faca na altura do pescoço. Os hematomas no rosto evidenciam que antes
concretizar o assassinato as menores agrediram bastante Bianca.
Em entrevista nesta terça-feira, um dos delegados que cuida do caso usou a palavra "judiar" e "escabroso" para explicar a forma como a estudante foi encontrada, dentro de um saco plástico debaixo da cama da suposta ex-namorada.
Em entrevista nesta terça-feira, um dos delegados que cuida do caso usou a palavra "judiar" e "escabroso" para explicar a forma como a estudante foi encontrada, dentro de um saco plástico debaixo da cama da suposta ex-namorada.
“Pelo que acompanhei pela imprensa e pude perceber nas palavras da
menor que disse ter se relacionado com a vítima, foi que ela demonstrou
não perceber limites sociais, uma vez que matou outra jovem para que a
mesma não ficasse com mais ninguém, como se só a satisfação do prazer
dela fosse importante em detrimento do de todos”, explica Ádria
Assunção.
A classificação dada pela psicóloga para a atitude extrema das menores é
a de “coisificação das relações”, fruto do consumismo desenfreado a que
jovens e crianças estão cada vez mais envoltos.
A psicóloga, que já lecionou na PUC-GO, na UFG e atualmente é
professora do IFG, alerta que a sociedade atual coloca a criança e o
adolescente no centro das atenções, o que não é de todo ruim, mas que
por ser da forma incorreta (alimentando neles o narcisismo exagerado),
acaba por acarretar na formação de personalidades defeituosas, “no
sentido de perda de valores.”
“É preciso que os pais, principalmente, saibam como lidar com a maneira
com que tentam demonstrar atenção aos filhos, porque dar a eles tudo o
que querem, quando querem e da forma como querem os leva a pensar que
podem tudo, o que não é verdade, ninguém pode ter tudo o que quer”,
frisa, elencando que são justamente as perdas e frustrações ocorridas ao
longo da vida que dão às pessoas a maturidade necessária para lidar com
seus sentimentos nas mais variadas situações.
E esse sentimento de prepotência, típico dos jovens, é aceitável,
pontua Ádria Assunção, até o momento em que não cause danos de fato a
eles e às outras pessoas. Segundo ela, deve haver afinidade nos
discursos dos pais e dos educadores quanto à maneira da criança e do
adolescente se perceber e atuar dentro da sociedade, de forma que tenha
relações sadias e equilibradas.
“Essa tendência crescente do individualismo, somado ao consumismo e ao
imediatismo, se não for combatido dentro de casa e no meio escolar, vai
se tornar cada vez mais incontrolável”, sustenta, pontuando que é
precisou mostrar às “crianças que amanhã serão jovens e depois adultos”,
que eles estão no mundo com outras pessoas. “É por esse motivo que
temos tantas pessoas atualmente com problemas de personalidade.”
Link desta matéria: http://www.jornalopcao.com.br/posts/ultimas-noticias/crimes-como-o-de-jatai-sao-fruto-da-coisificacao-das-relacoes
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