quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Violência Urbana - Crimes como o de Jataí são fruto da “coisificação das relações” .

Universitária morta a facadas por supostamente ter se negado a manter relacionamento com uma jovem foi mais uma vítima da incapacidade de alguns em lidar com frustrações, explica psicóloga.

Ketllyn Fernandes

Bianca Mantelli Pazinatto estava desaparecida desde a
manhã de segunda-feira (29/7). Caso chocou a população
de Jataí e teve repercussão nacional por conta do
envolvimento de duas menores
O caso da estudante de biomedicina Bianca Mantelli Pazinatto poderia ser mais um de tantos outros assassinatos com motivação passional. 

Uma realidade triste que reflete o descontrole emocional de alguns diante do rompimento de uma relação amorosa. Mas pela autoria do crime ser de duas adolescentes que mataram a golpes de faca outra jovem, de 18 anos, o estranhamento e choque põem em xeque os atuais valores que são repassados aos jovens enquanto crianças e coloca em discussão até que ponto estes os assimilam.

Na adolescência, a imaturidade sentimental é encarada como normal por especialistas. Porém, quando chega ao extremo de atentar contra a vida, abrem-se leques para um desequilíbrio cujas causas são inúmeras e intensificadas pelo individualismo do mundo contemporâneo.

O assassinato premeditado, e até pré-anunciado em uma carta de amor (“Faço coisas por amor", escreveu a estudante L.L.M. a Bianca), cometido por uma menor que, ao menos em frente às câmeras, não chegou a demonstrar arrependimento, é um sinal claro da incapacidade de lidar com a frustação que tem levado jovens a protagonizarem crimes bárbaros e até suicídio.

Mestre em Psicologia do Desenvolvimento, a psicóloga Ádria Assunção Santos de Paula apresentou em entrevista ao Opção Online nesta quarta-feira (31/7), alguns possíveis motivos para a conduta de L.L.M., de 17 anos, e M. M. S., de 16 anos, principalmente da primeira, apontada como mentora do crime. Embora o caso tenha sido divulgado como de um relacionamento amoroso, a família da vítima afirma desconhecer a possível homossexualidade de Bianca, o que faz do sentimento de L.L.M. platônico.

O assassinato de Bianca evidenciou, de acordo com a especialista, que a estrutura emocional das menores é frágil e que podem ser percebidos, a partir do planejamento durante cinco dias, indícios de psicopatia. 

A vítima foi encontrada com mãos e pés amarrados e com três ferimentos a faca na altura do pescoço. Os hematomas no rosto evidenciam que antes concretizar o assassinato as menores agrediram bastante Bianca.
Em entrevista nesta terça-feira, um dos delegados que cuida do caso usou a palavra "judiar" e "escabroso" para explicar a forma como a estudante foi encontrada, dentro de um saco plástico debaixo da cama da suposta ex-namorada. 

“Pelo que acompanhei pela imprensa e pude perceber nas palavras da menor que disse ter se relacionado com a vítima, foi que ela demonstrou não perceber limites sociais, uma vez que matou outra jovem para que a mesma não ficasse com mais ninguém, como se só a satisfação do prazer dela fosse importante em detrimento do de todos”, explica Ádria Assunção.

A classificação dada pela psicóloga para a atitude extrema das menores é a de “coisificação das relações”, fruto do consumismo desenfreado a que jovens e crianças estão cada vez mais envoltos.

A psicóloga, que já lecionou na PUC-GO, na UFG e atualmente é professora do IFG, alerta que a sociedade atual coloca a criança e o adolescente no centro das atenções, o que não é de todo ruim, mas que por ser da forma incorreta (alimentando neles o narcisismo exagerado), acaba por acarretar na formação de personalidades defeituosas, “no sentido de perda de valores.”

“É preciso que os pais, principalmente, saibam como lidar com a maneira com que tentam demonstrar atenção aos filhos, porque dar a eles tudo o que querem, quando querem e da forma como querem os leva a pensar que podem tudo, o que não é verdade, ninguém pode ter tudo o que quer”, frisa, elencando que são justamente as perdas e frustrações ocorridas ao longo da vida que dão às pessoas a maturidade necessária para lidar com seus sentimentos nas mais variadas situações.

E esse sentimento de prepotência, típico dos jovens, é aceitável, pontua Ádria Assunção, até o momento em que não cause danos de fato a eles e às outras pessoas. Segundo ela, deve haver afinidade nos discursos dos pais e dos educadores quanto à maneira da criança e do adolescente se perceber e atuar dentro da sociedade, de forma que tenha relações sadias e equilibradas.

“Essa tendência crescente do individualismo, somado ao consumismo e ao imediatismo, se não for combatido dentro de casa e no meio escolar, vai se tornar cada vez mais incontrolável”, sustenta, pontuando que é precisou mostrar às “crianças que amanhã serão jovens e depois adultos”, que eles estão no mundo com outras pessoas. “É por esse motivo que temos tantas pessoas atualmente com problemas de personalidade.”

Link desta matéria: http://www.jornalopcao.com.br/posts/ultimas-noticias/crimes-como-o-de-jatai-sao-fruto-da-coisificacao-das-relacoes

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