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O prefeito de São Paulo e seu núcleo duro de
assessores sabiam desde o final de semana que ex-altos funcionários da
Prefeitura seriam presos; no comando da gestão Fernando Haddad, o medo
de que pudessem ocorrer fugas prevaleceu até o último momento; após
sucesso da operação policial, receio passou a ser o de não politizar o
caso; extensão das fraudes ainda é incógnita, mas golpes somaram pelo
menos meio bilhão em prejuízos para a arrecadação municipal; "Quadrilha
atuou por anos na Prefeitura", afirmou Haddad; "Investigações até agora
não encontraram conexões políticas"; um dos presos era dono de uma
pousada.
Marco Damiani 247 – Um pequeno e seleto grupo de
auxiliares diretos do prefeito Fernando Haddad dividiu com ele, desde o
último final de semana, a angústia de guardar um segredo de meio bilhão
de reais.
Este é o volume que se calcula, inicialmente, do que pode ter sido
deixado de arrecadar em impostos municipais em razão da ação da
quadrilha ex-altos funcionários da Secretaria Municipal de Finanças
presa na manhã desta quarta-feira 30, em diferentes pontos da cidade.
Nos últimos dias, quando o cruzamento de dados obtidos pela
Controladoria Geral do Município e promotores do Ministério Público
Estadual já tinha volume suficiente para a obtenção, na Justiça, de
ordens de prisão para os quatro ex-funcionários públicos considerados
chefes do esquema, a tensão aumentou na cúpula da administração
municipal.
Temia-se que qualquer vazamento de informações pudesse
alertar o ex-subsecretário Rolilson Bezerra Rodrigues, o ex-diretor de
arrecadação Eduardo Horle Barcelos e os auditores Carlos Augusto Di
Lallo Leite do Amaral e Luis Alexandre Cardoso Magalhães para o que iria
acontecer. "Os crimes foram muito grosseiros, e se estenderam por muito tempo,
era difícil acreditar que eles se achavam tão impunes", contou ao 247 um
dos que partilharam antecipadamente com o prefeito o desfecho da
operação. "Além disso, já havia o precedente do Aref", continuou,
referindo-se ao ex-diretor do setor de Aprovações de Obras da
Prefeitura,
Hussain Aref Saab. Esse funcionário municipal tornou-se
famoso por ter juntado 106 imóveis em seu nome pessoal, no da mulher e
de um filho. "Os caras presos hoje poderiam fugir para o exterior, onde
devem muito dinheiro guardado". No curso das apurações a Interpol deve
ser acionada para localizar possíveis rastros da quadrilha em outros
países.
Em entrevista coletiva, Haddad afirmou que a quadrilha atuou "por
anos dentro da Prefeitura", sem especificar, no entanto, desde quando.
Politicamente, ele passou o dia visivelmente satisfeito com a efetivação
das prisões. "Esse é um dia importante porque mostra que foi um acerto
termos criado a Controladoria Geral do Município", resgatou o prefeito.
Para o cargo de controlador geral, o prefeito escolhera a dedo o ex-
secretário nacional de Prevenção da Corrupção e Informações
Estratégicas, da Controladoria Geral da União (CGU), Mario Vinicius
Claussen Spinelli. Com um vasto currículo de análise de informações, ele
viu a pasta ser criada já no segundo dia da gestão de Haddad, em
atendimento a uma das principais promessas de campanha do atual
prefeito. Hoje já exibe em seu currículo a abertura de mais de uma
centena de processos administrativos contra servidores municipais
suspeito de corrupção e má conduta, além de ter fisgado os seus quatro
peixes grandes.
O prefeito vinha mantendo uma postura discreta sobre problemas
encontrados na máquina da administração municipal, apenas dando pistas,
em suas entrevistas, de que ao menos um grande caso estava para ser
divulgado. Em suas conversas regulares com o controlador geral, o
prefeito têm procurado se informar sem, no entanto, colocar pressão em
Spinelli por resultados cinematográficos.
"A confiança do prefeito nos métodos de investigação do controlador geral é total", frisou ao 247 um dos colaboradores de Haddad. A
equipe de auditores comandada por Spinelli percebeu discrepâncias na
arrecadação de ISS de empresas do setor imobiliário e, mirando-se no
exemplo do modus operandi de Hussain Aref, passou a cruzar os índices
abaixo da média com dados patrimoniais de funcionários público do setor.
Começaram a surgir, nos CPFs desses funcionários, uma série de
imóveis, entre os quais até uma pousada de luxo que, agora, tem imagens
estampadas em toda a mídia. Casas lotéricas e carros de luxo igualmente
foram encontrados no nome dos acusados e de pessoas ligadas a eles.
Para
espanto dos auditores, os funcionários públicos que serão exonerados e
responderão a processos administrativos, além dos processos legais,
receberam mais de uma vez grandes depósitos em dinheiros, feitos,
acredita-se, por representantes de grandes construtoras, em suas
próprias contas correntes. "Eles operaram com a certeza da impunidade e mal fizeram para apagar seus rastros", assinalou o colaborador de Haddad ao 247.
Após o sucesso das prisões, as informações saídas da Prefeitura procuraram acentuar os aspectos técnicos da ocorrência, de modo a deixar próximo a zero o risco de politização do episódio. Até as vidraças do prédio da Prefeitura sabem que o escândalo remete diretamente aos pontos mais frágeis das gestões de Gilberto Kassab e seu antecessor e padrinho político José Serra, mas da boca do atual prefeito Haddad, está combinado, não sairá uma palavra sobre isso. "Não vimos conexões políticas nesse caso", disse hoje o prefeito – que tende a repetir isso.
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