Joaquim Barbosa foi o primeiro negro brasileiro a se tornar juiz do Supremo Tribunal Federal.
Thurgood Marshall foi o primeiro da Suprema Corte americana.
Ambos vieram de famílias humildes e tiveram dificuldades para poder estudar.
É possível que Marshall tenha servido de inspiração para a nomeação de Barbosa, mas as semelhanças param ai.
O currículo acadêmico de Barbosa é superior ao de Marshall. Toca
piano e violino, fala alemão e francês, além de português e do inglês de
Marshall. Fez pós graduação na faculdade de direito da Sorbonne na rua
Assas, em Paris, homenageada no nome da empresa que fundou em Miami, a
Assas JB Corporation.
Marshall nunca fez pós graduação, nunca foi bolsista, acadêmico,
funcionário público, nem empresário. Sempre foi advogado dos negros
pobres americanos e uma águia nos tribunais americanos em defesa de seus
pares.
Se Rui Barbosa foi o águia de Haia, Marshall foi a águia negra de Washington.
Nos tempos do colégio, o pai de Marshall - ajudante de um clube
granfinos - gostava de ouvir julgamentos no tribunal e discutir os casos
com os filhos.
Ele, o pai e o irmão mantinham debates acirrados sobre qualquer
coisa. Costumavam discutir cinco noites por semana na mesa de jantar.
No colégio foi um aluno acima da média e usava seu talento como
debatedor para apresentar os trabalhos escolares. Também costumava
aprontar e, como castigo, foi obrigado a decorar toda a Constituição
americana.
Ingressou na Lincoln University - uma universidade para negros da
Pennsylvania - e foi membro da Alpha Phi Alpha - primeira associação
masculina de estudantes negros dos EUA - como Martin Luther King e Jesse
Owens, o velocista que obteve quatro medalhas de ouro nas olimpíadas de
Berlin, deixando Hitler mais revoltado que Malcolm X.
Após formar-se em literatura americana e filosofia, Marshall
decidiu tornar-se advogado. E foi rejeitado pela faculdade de direito da
Universidade de Maryland por ser negro.
Novamente ingressou numa escola para negros, a Howard University.
Seu mentor foi o vice-reitor Charles Hamilton Houston, formado em
Harvard, que só era vice por que era negro também.
Formado em direito com louvor, começou a advogar para a Associação
Nacional para o Desenvolvimento das "Pessoas de Cor" - a NAACP, em
Baltimore. Seu primeiro grande caso foi Murray v. Pearson, em que
defendeu outro estudante negro barrado como ele pela faculdade de
direito da Universidade de Maryland. E venceu, aos 27 anos.
Hoje, a biblioteca da escola de direito da Universidade de Maryland tem o nome dele.
Em 1940, aos 35, obteve a primeira vitória na suprema corte e
tornou-se conselheiro chefe da NAACP pelos próximos 25 anos. Em Chambers
v. Florida conseguiu reverter uma sentença de morte da Flórida contra
um jovem negro acusado de matar um branco após uma confissão forçada
pela polícia.
Em Brown v. Topeka ele acabou com a segregração racial nas escolas.
Até hoje ele é o recordista em número de vitórias pelos direitos civis e a igualdade racial na suprema corte americana.
Após uma série de vitórias nos tribunais que sedimentaram a
jurisprudência da igualdade de oportunidade racial nos EUA, Marshall foi
nomeado por John Kennedy para a corte nacional de apelos, contra a
vontade da bancada democrata sulista.
Nenhuma de suas 98 sentenças foi revertida pela corte suprema.
Lyndon Johnson nomeou-o procurador geral da União em 1965, no auge
do movimento negro pelos direitos civis. Em seguida, forçou a demissão
de um dos juízes da Suprema Corte nomeando seu filho como procurador
geral de justiça. Com isso, abriu a vaga que desejava para colocar
Marshall na corte suprema e torna-lo seu primeiro membro
afrodescendente.
Ele, no entanto, preferia ser chamado de "crioulo" (negro).
Marshall colaborou na redação das constituições de Ghana e da atual Tanzania.
Ao se aposentar em 1991, aos 82 anos, ele lamentou que seu sucessor - Clarence Thomas - seria nomeado por George Bush Jr.
"Thurgood" é uma redução de thoroughgood - completamente bom.
Lula e
Lyndon Johnson acertaram ao decidir equilibrar a composição social das
cortes supremas do Brasil e dos EUA, deixando-a com uma cor mais
parecida com a do povo.
A pele de Barbosa é muito mais negra do que a de Marshall.
Mas a alma - e o currículo -, não.
Ninguém percebeu: nem Frei Betto, nem Thomas Bastos, nem Lula.
Será que Dirceu percebeu?
Link desta Matéria: http://jornalggn.com.br/noticia/thurgood-marshall-o-primeiro-negro-da-suprema-corte-americana
Nenhum comentário:
Postar um comentário