Akemi Nitahara – Repórter da Agência Brasil
Edição: Stênio Ribeiro
Com o crescimento econômico do
Brasil nos últimos anos, é possível verificar uma mudança nos fluxos
migratórios ilegais no país, que passou a receber mais pessoas
traficadas do que mandar para outros países. A constatação é do chefe da
Interpol no Brasil, delegado federal Luiz Eduardo Telles Pereira, que
participou hoje (30) do 4º Simpósio Internacional para o Enfrentamento
ao Tráfico de Pessoas, no Tribunal Regional do Trabalho, no Rio de
Janeiro.
Segundo ele, não há dados concretos sobre o problema,
mas é possível verificar a mudança de acordo com a situação econômica e a
geração de empregos no país. “Esse tipo de delito é intimamente ligado à
situação econômica. O Brasil está crescendo, e isso gera dois efeitos: a
diminuição da ida dos nossos cidadãos para o exterior - até pela crise
que existe lá fora, principalmente na Europa, e que ainda não afetou o
Brasil - e a atração de estrangeiros em busca de melhores condições de
trabalho”.
Pereira explica que dois casos estão muito evidentes e
geram problemas sociais no Brasil: os bolivianos que trabalham em
confecções de São Paulo já há algum tempo e a chegada em massa de
haitianos pelo Acre, desde o terremoto de 2010, que devastou o país.
Segundo o delegado, muitos deles são trazidos por aliciadores, pelo
Peru.
“Essa situação acaba robustecendo a necessidade de se ter
uma estrutura social que ampare; você não pode simplesmente pegar essas
pessoas e soltar nas ruas. Outros países, principalmente da Ásia, têm
nos procurado, países que estão conflagrados, pessoas que sofrem
perseguições. Então, eles buscam o Brasil na esperança de uma vida
melhor. Infelizmente, nem sempre encontram, principalmente os que caem
nas garras, vamos dizer assim, dessas quadrilhas de aliciadores”,
acrescentou.
No painel Experiências Internacionais Exitosas e
Políticas de Cooperação Internacional no Enfrentamento ao Tráfico de
Pessoas, Pereira explicou a atuação da Interpol - instituição criada em
1923, que congrega 190 países. De acordo com ele, a atuação brasileira
possibilita libertar todos os anos centenas de pessoas da condição de
exploração, tanto de brasileiros no exterior como de estrangeiros no
Brasil.
A magistrada de ligação na Embaixada da França, Carla
Deveille Fontinha, falou sobre as diretivas da União Europeia para
enfrentar o tráfico de pessoas. De acordo com ela, uma das principais
dificuldades é implementar a cooperação judiciária na região, que
começou a ser feita a partir do Tratado de Amsterdã, de 1997.
Ela
disse que “a criminalidade é mais organizada do que nós mesmos. Muitas
vezes nós precisamos que os juízes de outros países façam os pedidos de
extradição, mas em alguns países a definição do crime é diferente.
Desenvolver a cooperação judiciária entre os países é necessário para
que a travessia da fronteira não seja garantia de impunidade para o
criminoso”.
Para a adida de Segurança na Embaixada dos Estados
Unidos, Cheryl Basset, o crime de tráfico de pessoas se caracteriza pela
exploração, apesar de cada país ter uma definição diferente. De acordo
com ela, esse tipo de investigação é a mais difícil que existe.
“É
necessário ter em mente que o crime é a exploração. Todos podemos
concordar que forçar alguém a participar de trabalhos, ou ser explorado
sexualmente, é errado. Nos Estados Unidos, a gente ainda não chegou a
uma definição perfeita de como se fazer esse combate, mas depois do 11
de setembro [de 2001, com o ataque às Torres Gêmeas, em Nova York]
chegamos à conclusão de que seria necessário um centro unificado de
informações. Também temos parceiros internacionais para compartilhar
informações, é muito complicado. Queremos falar do tamanho do problema,
mas na minha opinião, apenas uma vítima já seria muita coisa”, destacou.
De
acordo com ela, é preciso integrar as forças e compartilhar informações
entre as políciais, o que não ocorre muito no Brasil, com as polícias
fazendo investigações separadas. “Nos Estados Unidos, nós trabalhamos em
forças-tarefas; nem sempre funciona, mas é um começo. É preciso
reconhecer que é difícil, mas não podemos desistir”. A esse respeito, o
chefe da Interpol ressaltou que a troca de informações entre as polícias
no Brasil tem melhorado, mas ainda esbarra em alguns problemas técnicos
com sistemas que não são integrados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário