domingo, 15 de junho de 2014

UFMA - Assassinato na Cidade Universitária surge uma outra versão.

O nome dele era Igor. Sim, ele era negro e pobre. 

Ele morava aqui na minha rua, na Vila Bacanga, em uma casinha alugada junto com a mãe e a irmã. Eu não o conheci pessoalmente. Moravam a pouco tempo no Bairro. 

Segundo eu já ouvi dos moradores, ou outro lado da história é que eram apenas jovens, voltando do arraial da UFMA. Que há tempos o jovem Igor vinha sendo ameaçado por esse segurança que efetuou o disparo, que o acusava de ter participado de assaltos dentro do campus juntamente com outros caras que já haviam sido presos.

Que na volta do arraial o segurança o ameaçou novamente, e que o jovem começou a discutir com o segurança, afirmando que não era assaltante, mas sem nenhum contato físico, até porque ele, e todos os outros jovens que ali estavam, se encontravam desarmados.
 

Foto distribuida pela Segurança da UFMA, realmente proximo ao Portão de saída do Bacanga...
Os seguranças seguiram o grupo nessa discussão, e ao chegar próximo ao portão que dá acesso a Vila Bacanga, os jovens jogaram pedras nas câmeras de segurança, e o segurança respondeu a isso com tiros. Todos os jovens correram, para fora do campus, inclusive o Igor, que se protegeu dos tiros atrás de um poste próximo ao portão de acesso, já do lado de fora do muro.

De acordo com os outros jovens, nesse momento, o segurança correu até o muro, colocou o braço pra fora através dos blocos e gritou, quando o garoto se assustou com o grito, ele mirou e acertou ele com um tiro no peito. O garoto morreu ao chegar na emergência do Socorrão.

A família dele dependeu da solidariedade de todos do bairro pras despesas com velório e enterro. A mãe e os familiares se sentem impotentes para procurar a justiça, diante do aparato da universidade.
 
E assim o Igor, que até agora ninguém citou o nome, e que a mídia nem fez questão de saber por ser nego e pobre, vai virar estatística.


Disso tudo eu só consigo pensar:
A questão é que, por mais que todos digam que ele era bandido, nada justifica a forma como ele foi assassinado, porque, por mais que a maioria da sociedade pense o contrário, todo criminoso tem direito a defesa.
 
E o que tem acontecido é que os jovens negros e pobres da periferia, tendo cometido crimes ou não, estão sendo julgados e condenados a pena de morte nas ruas sem direito a defesa.
 
O mapa da Violência no Brasil mostra em estatísticas que a maioria das vitimas de morte por letalidade são jovens, negros, oriundos da periferia. E quem mais mata é o braço armado do Estado.
 
Que a segurança Privada e patrimonial da UFMA é, como há tempos se sabe, despreparada para ocupar aquele espaço. Homens e mulheres, sem o menor preparo, andam armados naquele espaço, intimidando a todos que o frequentam com os seus modos truculentos, principalmente as pessoas que moram nas comunidades que circulam a Universidade (Vila Bacanga, Sá Viana, Jambeiro e Vila Embratel).
 
Não é de hoje que ocorrências de violências acontecem, e todos nós, que já sofremos ou nos sentimos intimidados pela segurança da UFMA, sabíamos que uma tragédia dessas ia acontecer mais cedo ou mais tarde.
 
O mais irônico dessa crônica de uma morte anunciada, é que o slogan da UFMA é "A Universidade que cresce com inclusão e Justiça Social". Mas a verdade é que há anos a sua política para com as comunidades é de desrespeito, preconceito e violência.
 
É negado a livre circulação em um espaço que é público. Esse jovem já havia morrido socialmente, no momento em que decretaram que, por ser negro e pobre ele não era digno de frequentar aquele espaço.
 
Texto da autoria de Flávia Gerusa, está publicado no facebook.
 
Link Matéria relacionada:UFMA - Homicídio é registrado dentro da Cidade Universitária nesta madrugada.http://maranauta.blogspot.com.br/2014/06/ufma-homicidio-e-registrado-dentro-da.html

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