TRISTE IMPRENSA! TRISTES LEITORES! Por Adalberto Franklin.

Meu professor de Introdução à Economia costuma(va) contar uma historinha de que, em apenas um ano, no século 18, morreram 50% dos alfaiates de Londres. 

Ao ouvirem essa informação, todos da turma ficavam abismados. Então o professor Kléber dizia: "Haviam dois alfaiates; morreu um". Com isso, ele queria demonstrar a relativização dos números percentuais. 

Na comunicação, muitas vezes, a maledicência e a desinformação se assentam em detalhes de interpretação controversa ou pouco perceptível ao leitor comum.

A revista Istoé acaba de cometer uma dessas investidas, numa manchete de notícia, na tentativa de colocar em dúvida a idoneidade e a imagem da deputada federal Manuela d'Ávila (PCdoB-RS), ao divulgar que em quatro anos essa parlamentar aumentou seu patrimônio em 1.200%.

Ao leitor incauto, a primeira impressão é de que a deputada cometeu irregularidades e teve enriquecimento ilícito --- exatamente o que por certo pretendia a revista. No corpo do texto, mostrava, porém, a dimensão desse aumento de patrimônio, em números absolutos, o que na verdade demonstra o contrário, a idoneidade da jovem parlamentar gaúcha, que "[...] passou de um patrimônio avaluado em R$ 14 mil em 2010 para cerca de R$ 184 mil em 2014".

Ora, ora! Em quatro anos, uma deputada federal, com vencimentos mensais líquidos acima de 20 mil reais, fora as muitas vantagens concedidas pelo Parlamento brasileiro, ter acréscimo de seu patrimônio em apenas 170 mil reais, é um atestado de honestidade. Significaria apenas que ela economizou ou investiu somente cerca de R$ 3.500,00 por mês.

Aí, a má-fé da grande imprensa brasileira, apostando na burrice e na falta de crítica do leitor. Assim se tenta construir factoides muitas vezes engolidos por quem não lê com o cérebro, mas apenas com os olhos.

Triste imprensa brasileira! Tristes leitores sem poder de análise.

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