A maior operação já feita
contra políticos no Brasil foi objeto de sigilo obsessivo por parte de seus
participantes na Polícia Federal e no Ministério Público Federal.
Rodrigo Janot, foi um dos
que levantou de madrugada para acompanhar a preleção. Os últimos detalhes da
Operação Politeia, que faz referência à cidade sem corrupção da República
totalitária propugnada por Platão, foram alinhavados para uma plateia de delegados
e procuradores às 4h30 do dia de sua execução – terça feira passada, 14 de julho.
Foram 53 mandados de busca e apreensão em seis
Estados... Só em Brasília, 80 investigadores ouviam na alta madrugada as
orientações e endereços dos chamados alvos, os personagens que sofreriam as
batidas. Entre eles, notórios
personagens do mundo político, como os senadores Fernando Collor (PTB-AL), Ciro
Nogueira (PP-PI) e Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE).
O briefing, reunião que
antecede as operações, é o momento em que a maioria dos policiais federais e
procuradores descobre o motivo de sua convocação. Para evitar vazamentos
prévios, no dia anterior eles são avisados apenas que devem se apresentar no
horário e local determinados. Na Politeia, às 19h de segunda feira (13), ainda havia
delegados recebendo telefonemas.
"A adrenalina é
gigante. Uma parte não dorme e vai virado. A outra dorme mal, com medo de
perder a hora e imaginando o dia seguinte", resumiu um investigador
presente à reunião, que pediu anonimato à Folha.
PREPARAÇÃO
- Na
terça, o delegado responsável pela ação abriu o briefing projetando slides. A apresentação trazia
dados como o nome da operação, a quantidade de mandados, os alvos e até a
vestimenta adequada: em nome da discrição, agentes deveriam estar de terno, em
vez da tradicional roupa preta com símbolo da PF. O delegado frisou:
"Nada pode dar errado".
Qualquer deslize ou
eventual exagero na abordagem abriria espaço para os suspeitos entrarem com
pedido de nulidade da operação.
O procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, foi um dos que levantou de madrugada para acompanhar
a preleção. Pediu a palavra, passou uma mensagem de incentivo e deixou o
auditório por volta das 4h50.
PASTA
- Às
5h15, em Brasília, um comboio com 16 carros partiu rumo aos endereços em que
deveria apreender veículos, valores em espécie, documentos e mídias.
Cada equipe, que contou em
média com um delegado, três agentes e um procurador, recebeu uma pasta com os
mandados a serem cumpridos. Haviam sido incluídos detalhes dos imóveis que
deveriam visitar, além de uma foto do investigado.
O trabalho de inteligência
mapeia as características do local e faz uma espécie de planta baixa. Com isso,
a equipe sabe, por exemplo, se vai encontrar seguranças, armados ou não, ou até
cachorros pouco amistosos guardando o imóvel.
RISCO
DE CONFRONTO - No caso da Politeia, os investigadores
anteviram risco de tiroteio numa diligência cumprida na Bahia. O dono da casa
era um ex-policial. O confronto não ocorreu.
Na emblemática Casa da
Dinda, residência de Collor em Brasília, o contratempo foi outro. A mulher do
senador, inconformada com a ação, perguntava se os investigadores estavam
filmando as buscas. "Vocês não podem violar a nossa privacidade",
justificava ela.
A operação terminou cerca
de 17 horas depois, com a última diligência concluída às 21h30. O balanço geral registrou
a apreensão de oito veículos, cerca de R$ 4 milhões, joias, obras de arte,
relógios, mídias e parte do universo político apreensivo com a possibilidade
de, em algum momento, ver o dia começar antes das 6h.
Fonte: Por Gabriel
Mascarenhas, coluna Poder - 19/07/2015.
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