sexta-feira, 20 de outubro de 2017

São Luís: Promotor de justiça declara que audiência da prefeitura "Não preenche os requisitos legais.

 
Foto - Jornal Vias de Fato.
A prefeitura de São Luís montou o palco nesta quarta-feira, 18 de outubro, para retomar a encenação da revisão de parte do Plano Diretor. 
O local para a atuação foi o Teatro da Cidade, antigo Cine Roxy. 
Como parte da "peça", a administração municipal tratou de colocar, no dia da audiência, placas de outdoor pela cidade, como também registrou o jornal Vias de Fato no Facebook, com o claro objetivo de fingir obedecer à exigência da publicidade, que é pré-requisito para um evento desses: 
Participação popular é uma questão mais profunda que apenas o chamamento a uma audiência, aponta promotor de justiça.
 
Foto - Jornal Vias de Fato.
A questão é que, segundo o Estatuto das Cidades, lei federal que rege a questão do Plano Diretor, e como explicou o promotor de justiça do Meio Ambiente, Fernando Barreto, durante a audiência, a exigência da participação popular é mais profunda que a farsa montada pela prefeitura:
"Não quero causar constrangimento, nem para a Mesa, nem para os senhores. Em respeito a uma Audiência Pública, as pessoas se deslocaram até aqui porque querem falar e ouvir... mas, como uma questão de responsabilidade, quero deixar registrado para os senhores, sem nenhum tipo de hostilidade, de inviabilizar uma solução consensual com o município para o que nós consideramos desconformidades que comprometem e que podem fazer com que não tenha êxito (o processo), mas eu tive a oportunidade de assistir à apresentação. E agora fiquei muito convicto com o que vou dizer para os senhores. Com todo respeito, a apresentação não tem clareza. Didaticamente, fala o que é um pedaço do Plano Diretor. O cidadão comum que deveria estar aqui para contribuir com a formação do processo, todos os cidadãos que vieram para cá, tiraram da sua noite o descanso porque querem contribuir com o processo. Eles estão sendo chamados a falar de artigos que não leram, não receberam nada", disse o promotor.

A audiência, como aconteceu ao longo das tentativas feitas em 2015, não contava com público numericamente representativo para debater mudanças de tamanho porte, que desde aquela época prefeitura e empresários tentam empurrar para a cidade: além dos militantes acionados pelo Movimento de Defesa da Ilha (que luta para ampliar a discussão sobre esse assunto), completava a plateia um grupo de empresários e seus assessores de sempre, cuja proximidade com representantes da Prefeitura é reveladora.
Discutir apenas macrozoneamento e não o Plano Diretor - que está vencido - atende a interesses de determinados grupos apenas - e não o interesse público
Vale lembrar que nunca foi pautada, desde 2015 e mesmo antes, a solução para a ilegalidade em que a administração municipal se encontra, que é debater e propor a revisão do Plano Diretor (ainda em 2013 o próprio Ministério Público já recomendava que se procedesse a revisão do Plano): sempre esteve em discussão alterar apenas o macrozoneamento ambiental, de forma a contemplar os empresários da construção civil e o setor industrial, facilitando a expulsão de comunidades inteiras de suas terras em São Luís, abrir para a implantação de indústrias hoje legalmente proibidas de atuar na cidade dado o nível de poluição que causam, e expandir o número de andares dos prédios.
 

Tais mudanças geram impactos que deveriam estar pautados na discussão, mas a prefeitura se nega a debater, o que joga o prefeito na condição de passível de processo por crime de improbidade administrativa, segundo o Estatuto das Cidades:
A tentativa de burlar a lei e revisar apenas o que interessa ao empresariado e não à cidade como um todo recebeu críticas do promotor do Meio Ambiente: 
“Se não bastasse o fato de que é uma revisão parcial, e que segundo o Estatuto das Cidades a revisão do Plano Diretor em sua integralidade venceu o prazo em agosto de 2016, portanto ela deve ser global e ela não pode ser parcial, a sua apresentação, com todo o respeito, ela não contempla os objetivos da lei”.
“Perguntar para as pessoas se elas sabem o que vai mudar, de forma clara, de forma simplificada, numa linguagem para o cidadão, porque é essa linguagem que permite que o cidadão PARTICIPE. A Audiência Pública não é para o promotor: a Audiência Pública é para as pessoas, para os cidadãos, para que eles possam contribuir”disse Fernando Barreto, que continuou:
“Então, eu quero registrar que saí mais convicto da necessidade de uma revisão desse modelo de atuação que os senhores estão tendo, porque esse conteúdo não transparece, não esclarece e não contribui”.

Promotor aponta ilegalidade da audiência realizada.
Ao final de sua intervenção, Barreto ressaltou falar como promotor de justiça, e que sua avaliação enquanto tal é de que a apresentação realizada no Teatro não tinha, por fim, validade legal:
“Deixo registrado, com minha responsabilidade como promotor de justiça, que, em termos de conteúdo legal, o conteúdo desta audiência não preenche os pressupostos legais”, disse. 
Representantes da Prefeitura e do empresariado, tal como aconteceu em 2015, pareceram não ouvir os apelos sobre a ilegalidade da encenação, o que faz do prefeito, segundo o Estatuto das Cidades, praticante de crime de improbidade administrativa – e não será a revisão parcial de um Plano Diretor vencido em sua integralidade, que servirá de disfarce para essa situação.
A situação, segundo se depreende das palavras do próprio representante do Ministério Público, somente se resolverá com um chamado à discussão profunda e na globalidade dessa questão.

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