Audiência pública da Comissão de Educação reuniu especialistas para debater violência nas escolas públicas e possíveis soluções a serem adotada. |
Especialistas em educação fizeram um
alerta nesta quinta-feira (23) sobre os diversos tipos de violência em sala de
aula, que envolvem agressão contra professores, preconceito contra alunos,
cobrança excessiva por alto desempenho escolar e ausência de diálogo entre
escola e comunidade. O assunto foi discutido em audiência pública da Comissão
de Educação da Câmara.
Em 57,5% das escolas públicas
brasileiras, ao menos 2 professores relataram ter sofrido algum tipo de
violência, na maioria, agressão verbal. Os dados são da pesquisa Prova Brasil
que entrevistou diretores, alunos e professores do 5º e 9º anos do ensino fundamental
em 2015.
"Chama muita atenção que esse
percentual em 2013 era de 52%”, observou Caio Callegari, representante do
movimento Todos pela Educação. Segundo ele, em um estudo realizado pela
instituição em 2016, com 1500 jovens de 15 a 19 anos, a segurança no ambiente
escolar foi apontada como o maior atrativo da escola, atrás da acessibilidade e
da infraestrutura, sobretudo pelos alunos do Centro-oeste, Sul e Nordeste.
O mesmo estudo mostrou que a falta de
segurança preocupa a maioria dos estudantes no Sul, Sudeste e Norte. "Uma
parte do quebra-cabeça é a falta de integração entre as famílias e a comunidade
com a escola. Têm de trazê-las para o debate, porque (a violência) é um
problema que existe fora da escola. Não dá para fazer um trabalho em que a escola
olhe só para o próprio umbigo", afirmou.
Callegari citou uma política pública
bem-sucedida de integração da comunidade com a escola aplicada em Taboão da
Serra (SP). "Ao levar os professores para a casa dos estudantes, para que
eles conversassem com as famílias, e ao trazer as famílias para dentro da
escola, para participar efetivamente das decisões escolares, o resultado foi a
resolução de muitos conflitos domésticos e também de conflitos dentro da
escola”, relatou.
A necessidade de reunir educadores e
familiares em torno de assuntos polêmicos, como orientação sexual, foi
destacada pela deputada Pollyana Gama (PPS/SP), que solicitou a audiência. Ela
falou sobre sua experiência como professora. “Era importante ouvir essas
famílias antes mesmo de apresentar o conteúdo na sala de aula. É algo que
sempre orientei, ainda mais num momento em que a gente tem ainda muitos tabus a
serem vencidos”, opinou.
Alto
rendimento e discriminação
Já
a representante do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Ângela Soligo, destacou
o incentivo ao uso indiscriminado de remédios para aumento da performance
escolar, como exemplo de violência contra crianças e adolescentes.
“No Brasil, o uso de Ritalina
(psicoativo de tarja preta), só é menor do que nos Estados Unidos e o crescimento
é exponencial: em dez anos nós tivemos um crescimento do consumo de mais de
700%. E muito desse consumo é aplicado no ambiente escolar”, alertou.
Segundo a pesquisa “Violência e
Preconceitos na Escola” realizada pelo CFP entre 2013 e 2015, os alvos da
violência são aqueles que sofrem preconceito dos colegas, professores e
administração escolar.
“Verificamos, em especial, a presença
de preconceitos racial, de gênero, de orientação sexual e, no Norte, contra os
indígenas”, disse Ângela Soligo. “Uma outra coisa é a presença de todas as
formas de violência: física, verbal, isolamento e descriminação”, continuou.
Ainda segundo a psicóloga, os alunos
denunciam a ausência de diálogo com a direção das escolas e os coordenadores
pedagógicos, o que, em sua visão, resulta em uma política de “silenciamento”.
"Eles querem ser ouvidos (os estudantes) e denunciam a omissão da
escola", assinalou a especialista.
Reportagem
- Emanuelle Brasil - Edição
- Geórgia Moraes.
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