Tubulação de gás de xisto na Pennsylvania, nos Estados Unidos. Foto: Flickr/Max Phillips |
O fraturamento hidráulico para extração
de gás de xisto, também conhecido como “fracking”, produz energia mais limpa do
que petróleo e carvão, mas não necessariamente traz benefícios aos países mais
pobres do mundo, disseram
especialistas da ONU na quinta-feira (24).
Um novo relatório da Conferência das
Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) descreve o gás natural
como um “combustível-ponte” útil para os Estados que pretendem avançar para
fontes de energia renováveis mais sustentáveis.
Uma das vantagens é que o xisto emite
cerca de 40% menos dióxido de carbono por unidade de energia produzida do que o
carvão. Também pode ser armazenado e utilizado quando necessário de forma mais
eficiente do que a energia gerada através de fontes renováveis, como o vento.
Contudo, o gás natural também possui
desvantagens. Seu principal componente, o metano, tem um potencial de
aquecimento global 28 vezes maior do que o dióxido de carbono encontrado em
outros combustíveis fósseis.
O relatório afirma que o gás deve
contribuir para promover uma transição suave entre o atual modelo econômico,
baseado em combustíveis fósseis, para uma economia de baixo carbono, com o
objetivo de atender o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 7 em 2030. O ODS
7 prevê o acesso à energia sustentável e moderna para todos.
Segundo a pesquisa, pouco conhecimento
geológico e hidrológico e a falta de uma regulamentação adequada podem
representar grandes obstáculos à fraturação hidráulica como método de extração
do gás de xisto.
Janvier Nkurunziza, chefe da Seção de
Pesquisa e Análise de Commodities da UNCTAD, disse que o relatório “não estava
dizendo se o fracking é bom ou ruim”.
Segundo ele, isso é algo que somente
governos podem dizer, com base em variáveis incluindo sua capacidade de
investimento e possível contaminação de fontes de água subterrâneas.
“Se é realmente bom ou ruim, isso
depende de vários fatores que analisamos neste relatório. Por exemplo:
geologia, fontes de água; se você está aumentando seu estresse hídrico usando
muita água, infraestrutura e assim por diante”, disse Nkurunziza.
“Não estamos dizendo que é bom ou ruim,
apenas olhe as condições e a região onde você quer explorar este recurso, e
então você será capaz de determinar se pode fazer isso ou não”, acrescentou.
Citando dados da Administração de
Informação sobre Energia dos Estados Unidos (EIA, sigla em inglês), o relatório
da UNCTAD indica que o mundo ainda tem cerca de 60 anos restantes de gás de
xisto antes que o recurso esgote.
Cerca de metade dos 215 trilhões de
metros cúbicos que esse total representa está em Argélia, Argentina, Canadá,
China e Estados Unidos – embora os EUA sejam o maior produtor mundial de gás de
xisto, com 87% da produção total.
“Os EUA são uma exceção”, afirmou
Nkurunziza, observando que nenhum outro país tem os enormes investimentos
necessários para financiar a exploração de gás de xisto em tal escala.
Graças a essa força financeira, o
gigante norte-americano também se tornou um exportador líquido de gás natural
em julho do ano passado, enquanto o enorme comprometimento do país com as
instalações de liquefação também o colocou na posição de terceiro maior estoque
de energia do mundo, depois de Austrália e Qatar, entre agora e 2020.
Outros fatores, como a propriedade de
terra, também explicam o domínio dos EUA na exploração de gás de xisto, disse
Nkurunziza, destacando que nos EUA, “se você quiser usar sua terra para
fraturação hidráulica, essa é uma escolha que só depende de você”.
O funcionário da UNCTAD acrescentou que
a maior economia do mundo também tem a “tecnologia mais avançada disponível”
para que o fracking aconteça, junto com um sistema financeiro altamente
flexível, capaz de resistir aos altos e baixos das mudanças nos preços das
commodities.
“Nos EUA, às vezes, quando os preços
caem, param (de investir) no fraturamento hidráulico, e quando aumentam, voltam
a investir na atividade. É muito flexível”, observou.
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