domingo, 12 de agosto de 2018

Documentário ‘Já Vimos Esse Filme’ relaciona impeachment com histórico de golpes no Brasil.

Luís Eduardo Gomes
Filmado majoritariamente no dia da votação do impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) na Câmara de Deputados, o documentário “Já Vimos Esse Filme”, do cineasta Boca Migotto (Pra ficar na história, 2017, e Filme sobre um Bom Fim, 2015, entre outros), busca conectar este evento histórico com outros golpes pelos quais o Brasil passou ao longo de sua história, demarcando também a participação de pessoas ligadas ao Rio Grande do Sul nesses eventos. 
A obra, que não tem fins lucrativos, estreará no próximo dia 24 de agosto com exibição simultânea em salas de cinema e na internet.
Boca destaca que a ideia inicialmente proposta pelos produtores era a realização de um curta metragem a respeito do dia de votação do impeachment, mas que ele argumentou que, pelo custo ser muito semelhante, era possível fazer um longa metragem. Dessa forma, no dia 17 de abril de 2016, uma equipe cinematográfica acompanhou a votação na Câmara dos Deputados e outras quatro acompanharam os eventos de Porto Alegre: uma no Parcão, onde se concentraram os apoiadores do impeachment, outra na Praça da Matriz, ponto de concentração dos contrários, e as duas últimas na periferia e circulando pela cidade. O objetivo era capturar a atmosfera daquele dia histórico.
Ao analisar o material gravado, o cineasta ter percebido que ele precisava ser ampliado para melhor se adequar à proposta de um longa metragem. A ideia então foi aprofundar a relação do Rio Grande do Sul, não só com o episódio, mas com outros golpes de Estado pelos quais o Brasil passou. “Geralmente tem um gaúcho envolvido, de um lado ou de outro”, diz Boca, citando como exemplos Getúlio Vargas, João Goulart e os ditadores militares Costa e Silva, Médici e Geisel.
Ao fim, a equipe continuou produzindo o filme por mais um ano, realizando entrevistas que ajudam a contextualizar o processo histórico. Durante o percurso, uma primeira versão do filme foi exibida para alunos que ocuparam cursos da UFRGS, o que acabou entrando na versão final. Mais uma vez de maneira não esperada inicialmente, as filmagens se encerraram com a votação do arquivamento da denúncia contra o presidente Michel Temer (MDB), na mesma Câmara que cassou Dilma, mas com um resultado “bastante diferente”.
“Começa com a votação da Dilma e termina com a votação do Temer, isso também dá uma sensação de ciclo, de que a história vai se repetindo ciclicamente. E um País que tem sérias dificuldades de utilizar a memória como elemento de reflexão está fadado a repetir coisas graves enquanto isso não for solucionado. Estamos errando novamente em coisas que a gente já viu”, diz Boca.
O cineasta destaca ainda que as pessoas entrevistadas para o filme não foram políticos ou personagens envolvidos diretamente no impeachment, o que ajuda a diferenciar o documentário de outros filmes sobre o mesmo episódio, como “O Processo”. Foram ouvidas pessoas que estavam observando de fora, como professores, artistas, profissionais liberais, etc. A partir dessas falas, o documentário discute temas como o sistema eleitoral brasileiro, a corrupção, a operação Lava-Jato, os interesses econômicos e ideológicos, o preconceito e os papéis da grande mídia, do Poder Judiciário, do Ministério Público e das redes sociais no contexto do impeachment. “A gente tenta fazer uma análise a partir de pessoas como a gente, eu e você”, afirma.
“Já Vimos Esse Filme” estreia oficialmente em diversas plataformas digitais no próximo dia 24 de agosto, data que marca o aniversário de 64 anos de morte de Getúlio Vargas. Às 21h, será exibido de forma simultânea no Cinebancários, em Porto Alegre, na Casa da Democracia, em Curitiba, no Youtube, pelo Brasil 247 e pela Mídia Ninja.
Produzido por um coletivo interdisciplinar em defesa da soberania popular, todos os valores arrecadados na exibição de “Já Vimos Esse Filme” serão revertidos a pessoas jurídicas de natureza não comercial. De acordo com os produtores, a motivação para a realização do documentário é registrar para as gerações presentes e futuras as semelhanças entre os golpes políticos ocorridos no Brasil e a fragilidade da formação democrática da sociedade brasileira.
Ficha Técnica:
Já Vimos Esse Filme (longa-metragem, 78 minutos)
Produção: Ricardo Só de Castro e Christina Dias
Produção executiva: Glauco Urbim
Diretora de Produção: Mariana Mêmis Müller
Desenho de som e mixagem: Augusto Stern e Fernando Efron
Montagem: Drégus de Oliveira
Roteiro: Boca Migotto e Drégus Oliveira
Direção: Boca Migotto

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