domingo, 21 de julho de 2013

Morreu afogado o jovem Junior Torres, ele era filho do pastor Heraildo Torres da Igreja Assembléia de Deus de Santa Luzia.

Foto: Facebook
O corpo de Heraildo Torres Júnior, mais conhecido como Júnior Torres, ele era filho do pastor Heraildo Torres da Igreja Assembléia de Deus de Santa Luzia - MA.
O jovem morreu afogado na manhã de hoje (21), por volta das 12h00, no trecho do Rio Pindaré que corta o município de Tufilândia - MA. 


O acidente aconteceu em um passeio da Igreja Assembléia de Deus que fica localizada na Av. Newton Bello, os jovens da igreja foram passar o dia no município de Tufilândia, as margens do rio, para um dia de lazer.

Segundo informações, Júnior Torres desapareceu ao tentar atravessar o rio nadando. O mesmo ainda teria pedido ajuda, mais afundou e desapareceu. 
O corpo foi encontrado no fim da tarde e está sendo conduzido para o município de Santa Luzia. Possivelmente o jovem será velado no templo da Igreja Assembléia de Deus localizado na Av. Newton Bello, igreja na qual o jovem se congregava.
Link's desta matéria:

1 -  http://www.oblogueiroluziense.com.br/2013/07/corpo-de-jovem-que-se-afogou-no-rio.html

2 - http://www.folhaluziense.com.br/2013/07/filho-de-pastor-de-santa-luzia.html

Transporte publico gratuito. Um Brasil sem catracas - Tarifa zero.

 
Por Silvio Caccia Bava, no jornal Le Monde Diplomatique - 
(http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=1449):


O passe livre proposto pelo Movimento Passe Livre (MPL) é possível, mas implica grandes mudanças no modelo de financiamento e gestão dos transportes coletivos. 
Já houve um momento, no início dos anos 1990, no governo da prefeita Luiza Erundina, em que o passe livre foi colocado como uma alternativa na cidade de São Paulo, projeto denominado na época de Tarifa Zero. 
A proposta era que os recursos para tanto viriam da introdução de um IPTU progressivo. Os imóveis com até 50 metros quadrados continuariam isentos de impostos e os imóveis maiores e em zonas mais nobres da cidade pagariam mais. O projeto esbarrou na objeção da maioria dos vereadores da Câmara Municipal, ecoando a resistência de nossas elites a políticas redistributivas. 
Outras iniciativas deram certo. Agudos, no interior do estado de São Paulo, pratica a catraca livre há dez anos. Outras duas cidades do Paraná – Ivaiporã e Pitanga – também adotaram a mesma política. Em todos esses casos o financiamento do transporte público é feito com os recursos dos impostos de todos os contribuintes.

Outra iniciativa do início dos anos 1990 foi a criação da Taxa Transporte, à semelhança de um tributo introduzido na região metropolitana de Paris, que incide sobre as grandes empresas que demandam do serviço público a mobilização de recursos adicionais para atender à chegada e saída de seus funcionários em grande número e em um horário determinado. 
Essa taxa foi aprovada como lei em Campinas, em um acordo com os empresários de ônibus de que ela seria destinada unicamente a melhorar a infraestrutura dos transportes públicos, como a construção de corredores e sinalização. Mas a Fiesp se mobilizou e entrou com uma ação alegando a inconstitucionalidade da taxa, conseguiu uma liminar suspensiva, e o assunto morreu. Seu argumento é de que os empresários não aceitam mais taxas para pagar.

Com a predominância das políticas neoliberais, a partir dos anos 1990, as empresas públicas de transporte, como a CMTC em São Paulo, foram desativadas e abriram espaço para a exploração comercial desses serviços por empresas privadas. Os governos municipais perderam a capacidade de intervir nas empresas que não estivessem cumprindo seus contratos de concessão e abriram mão também de controlar os custos operacionais. Quanto à capacidade de exercerem a fiscalização desse serviço, o próprio peso e importância dos empresários do setor inibem uma atuação pública republicana. A concentração do capital também impactou esse setor e hoje, dos 14 mil ônibus em circulação na cidade, praticamente a metade é de apenas dois empresários.

Aqui no Brasil quem paga a conta dos transportes coletivos é o usuário, por meio da tarifa. O governo de São Paulo subsidia 20% desse custo, 70% quem paga é quem toma o ônibus, os 10% restantes pagam os empresários por meio da concessão do vale-transporte para seus funcionários.

Essa equação de “quem usa é só quem paga” é perversa porque exclui um terço dos cidadãos das regiões metropolitanas, que não têm recursos para arcar com o preço da tarifa. Estes andam a pé, alguns poucos de bicicleta. Esse modelo consagra a ideia de que o transporte público é uma mercadoria, não um direito. Só tem acesso a ele quem paga. E as empresas que o operam têm de ser lucrativas.

Mesmo no caso das gratuidades (idosos, pessoas com necessidades especiais, meia tarifa para estudantes), que são uma conquista social a ser mantida, seus custos, em vez de serem pagos por todos os contribuintes, são repassados para a tarifa. Quem paga as gratuidades é o mais pobre, é o usuário do transporte coletivo, não todos os cidadãos.

Se tomarmos como referência tanto os Estados Unidos quanto os países europeus, a equação é outra: mais de 70% do custo dos transportes coletivos é pago pelo contribuinte, e a tarifa cobre, no máximo, 30%.

Existem outros modelos de financiamento do transporte público, e eles precisam ser considerados na formulação de uma nova política para a melhoria da mobilidade. Há uma compreensão crescente de que precisamos evitar que nossas cidades parem, poluídas e congestionadas por automóveis. A equação é melhorar o transporte público e inibir a circulação dos automóveis. Dessa lógica surge a proposta de uma inversão maciça de recursos na melhoria dos transportes coletivos, combinada com a taxação sobre a circulação dos automóveis.

Há iniciativas possíveis com impactos a curto prazo. Em São Paulo, por exemplo, a criação de 180 quilômetros de novos corredores de ônibus com duas faixas por sentido substituiria 3,7 milhões de viagens diárias por automóvel. Esses corredores contribuem significativamente para o alívio do tráfego, a elevação da velocidade de deslocamento e a redução da poluição.

A discussão sobre as possibilidades de financiamento de uma radical mudança nas políticas de mobilidade urbana, passando a priorizar o transporte coletivo visando transformá-lo em um bem comum, explora várias alternativas. Começa por questionar a distribuição dos recursos públicos no pacto federativo. Hoje, 60% dos impostos ficam nas mãos do governo federal, 18% vão para os municípios e 22% para os governos estaduais. Na Suécia, por exemplo, a relação é inversa: 70% para os municípios, 30% para o governo central. Os governos locais demandam uma parcela maior dos recursos.

Outra proposta para viabilizar essa política é a criação de uma Cide-Combustíveis municipal, contribuição incidente sobre a comercialização de gasolina, diesel e álcool etílico combustível. Pode ser uma fonte de recursos complementar para operar essas mudanças nas políticas de mobilidade. Outras isenções de impostos podem também colaborar para isso, como sobre os combustíveis consumidos pelos ônibus, que correspondem hoje a 20% do custo da tarifa.

Mas o mais intrigante é como certas fontes de recursos assegurados, que poderiam orientar-se para financiar novas políticas de mobilidade, são desprezadas. Estima-se que um terço dos automóveis que circulam em São Paulo esteja com o IPVA atrasado, o que leva também ao acúmulo de multas sem pagamento. O IPVA é um tributo dividido meio a meio entre o governo do estado e o município. Quem o recolhe é o estado, que repassa ao município sua quota-parte. Esses tributos atrasados, somados a uma estimativa de multas a pagar, podem chegar a mais de R$ 7 bilhões. Por que estado e município não entram em acordo para intensificar a cobrança desses impostos e os vinculam a um projeto comum de investimentos nos transportes públicos?

O passe livre, ou tarifa zero, é possível. Trata-se de transferir o custo dos serviços públicos de transporte para a conta da sociedade como um todo, não do usuário; desmercantilizar esse serviço público, transformá-lo em bem público à disposição de todos.

Daí a dizer que ele vai ser introduzido, eu não diria. Há muitas forças que se opõem. No entanto, as últimas semanas me fizeram mudar de opinião, ficar em dúvida. Já não acho mais impossível que os movimentos de massa imponham a catraca livre. De toda forma, a construção do welfare state só foi possível pela pressão das massas, e é o que estamos vendo nas ruas das principais cidades.

Recife. Reunião da SBPC começa hoje com mais de 250 atividades.

Heloisa Cristaldo - Repórter da Agência Brasil.
Brasília – Começa hoje (21), no Recife, a 65º Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Com o tema central Ciência para o Novo Brasil, o encontro tem o objetivo de popularizar e valorizar a produção científica nacional e inseri-la no cotidiano dos cidadãos.

A sessão de abertura está marcada para as 19h na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde ocorrerá todo o evento. 

Na manhã desta segunda-feira (22), o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Marco Antonio Raupp, participa da conferência Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação: Trajetória Recente e desafios.

O encontro vai até a próxima sexta-feira (26) e terá 266 atividades, com a participação de pesquisadores brasileiros e estrangeiros e gestores da área de ciência e tecnologia. A reunião contará com 82 conferências, 87 mesas-redondas, 60 minicursos, 16 encontros, nove sessões especiais, seis simpósios e seis assembleias.

Entre os participantes da reunião estará o pesquisador alemão Ulrich Glasmacher, da Universidade de Heidelberg. Ele fará uma conferência sobre mudanças climáticas na terça-feira (23).

O evento terá conferências com os temas Impactos das Células-Tronco no Tratamento da Insuficiência Renal Aguda; Amazônia Azul - A Governança Necessária; Novas Oportunidades para a Inovação em Fármacos; Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação: Trajetória Recente e Novos Desafios; e Impacto e Avaliação da Pesquisa. A programação completa da reunião está na página da SBPC.

Com o evento, serão realizadas também a SBPC Jovem, a SBPC Cultural, a ExpoT&C e a SBPC Mirim. Entre as atrações está o Circo da Ciência, projeto que faz parte da Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciência (ABCMC). O circo vai apresentar experimentos de física, como alavancas, projetos de ilusão de ótica e a maquete de uma hidrelétrica em funcionamento.

A reunião da SBPC é realizada desde 1948, com a participação de representantes de sociedades científicas, autoridades e gestores do Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia. O objetivo é difundir os avanços da ciência e debater políticas públicas para área.

Edição: Juliana Andrade. Todo conteúdo deste site está publicado sob a Licença Creative Commons Atribuição 3.0 Brasil. Para reproduzir a matéria, é necessário apenas dar crédito à Agência Brasil

Link desta matéria:  http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-07-21/reuniao-da-sbpc-comeca-hoje-com-mais-de-250-atividades

sábado, 20 de julho de 2013

AfroReggae encerra atividades no Complexo do Alemão.

Isabela Vieira - Repórter da Agência Brasil.

Rio de Janeiro - A organização não governamental (ONG) AfroReggae decidiu hoje (20) encerrar as atividades no Complexo do Alemão, zona norte do Rio, depois de sofrer ameaças de traficantes. 

O anúncio foi feito menos de uma semana depois do incêndio que destruiu a sede da ONG na comunidade. 

A ação ocorreu terça-feira (16) e é investigada pela Polícia Civil.

O coordenador da organização, José Júnior, disse que foi informado das ameaças por um líder comunitário, que passou a mensagem do tráfico de drogas. A comunidade conta com uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). 

Na opinião de Júnior, se o grupo decidisse permanecer os criminosos poderiam atacar a instituição com bombas, o que implicaria também riscos para os funcionários ou usuários dos projetos do AfroReggae.

“Recebemos ameaças de morte, disseram que ia matar a gente, pessoas inocentes, iam [jogar] bomba”, revelou o coordenador. “A gente não pode colocar ninguém em risco, por isso, decidimos fechar as portas”, completou. 

Segundo ele, depois do aviso do líder comunitário, moradores do Alemão confirmaram as ameaças dos traficantes, o que deixou a instituição sem saída.

O AfroReggae está há 12 anos no Alemão onde atendia a 350 jovens, com aulas de percussão, grafite, música e teatro, um esforço para manter jovens longe do tráfico de drogas e oferecer possibilidades de capacitação profissional e valorização.

Para a organização, o pastor Marcos Pereira, preso por estuprar fiéis, é um dos chefes do tráfico de drogas na favela e está por trás das ameaças e ataques ao AfroReggae. “Ele é um dos líderes do crime no Rio”, disse Júnior.

Edição: José Romildo
Todo o conteúdo deste site está publicado sob a Licença Creative Commons Atribuição 3.0 Brasil. É necessário apenas dar crédito à Agência Brasil 


Link desta matéria: http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-07-20/afroreggae-encerra-atividades-no-complexo-do-alemao

A resistência ao programa Mais Médicos, por Eliane Brum.


A resistência ao projeto que obrigará os estudantes de medicina a trabalhar dois anos no SUS expõe a fratura social do Brasil.

ELIANE BRUM.

O programa “Mais Médicos”, lançado pela presidente Dilma Rousseff, não vai resolver o problema do Sistema Único de Saúde (SUS). Mas pode, sim, ser parte da solução. Ou alguém realmente acredita que colocar mais médicos nos lugares carentes do Brasil pode fazer mal para a população? Sério que, de boa fé, alguém acredita nisso? 

A veemência dos protestos contra o projeto de ampliar o curso de medicina de seis para oito anos e tornar esses dois últimos anos um trabalho remunerado para o SUS revela muito. 

Especialmente o quanto é abissal a fratura social no Brasil. E o quanto a parte mais rica é cega para a possibilidade de fazer a sua parte para diminuir uma desigualdade que deveria nos envergonhar todos os dias – e que, no caso da saúde, mata os mais frágeis e os mais pobres.

Para resolver o problema do SUS é preciso assumir, de fato, o compromisso com a saúde pública gratuita e universal. O que significa investir muito mais recursos. 

Em 2011, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil gastou US$ 477 per capita em saúde. Menos do que vizinhos como Uruguai (US$ 817,8) e Argentina (US$ 869,4), por exemplo. E quase seis vezes menos do que o Reino Unido (US$ 2.747), cujo sistema de saúde tem sido apresentado como referência do projeto do governo. 

Hoje, falta dinheiro e falta gestão eficiente. Sem dinheiro e sem eficiência, duas obviedades, não se constrói um sistema decente. Mas, para investir mais dinheiro no SUS, é preciso tocar também em questões sensíveis, como o financiamento da saúde privada. Falta dinheiro no SUS também – mas não só – porque o Estado tem subsidiado a saúde dos mais ricos via renúncia fiscal. 

Um recente estudo do IPEA (leia aqui) mostrou que, em 2011, último ano avaliado, quase R$ 16 bilhões de reais deixaram de ser arrecadados pelo governo, por dedução no imposto de renda de pessoas físicas e jurídicas e desoneração fiscal da indústria farmacêutica e de hospitais filantrópicos. 

O que é, de fato, renúncia fiscal? Um pagamento feito pelo Estado: ele não desembolsa, mas paga, ao deixar de receber. Assim, quase R$ 16 bilhões, o equivalente a 22,5% do gasto público federal em saúde, deixaram de ser investidos no SUS para serem transferidos para o setor privado, numa espécie de distribuição de renda para o topo da pirâmide. 

Para ter uma ideia do impacto, é mais do que os R$ 13 bilhões que o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirma que o governo está investindo em unidades básicas de saúde, pronto-atendimento e hospitais. Não é a toa que, entre 2003 e 2011, o faturamento do mercado dos planos de saúde quase dobrou e o lucro líquido cresceu mais de duas vezes e meia acima da inflação. 

O governo tem estimulado a população – e também os empregadores – a investir em saúde privada. Um plano de saúde privado tornou-se uma marca de ascensão social. A “classe C” ou “nova classe média” tem sido vítima de planos de saúde mequetrefes que, na hora de maior necessidade, deixam as pessoas desprotegidas. 

Como muitos já sentiram na pele, quando a coisa realmente aperta, quando a doença é séria e requer recursos  e intervenções de ponta, quem vai resolver não é a rede privada, mas o SUS, porque uma parte significativa dos planos não cobre os exames e tratamentos mais caros.  

Para que a solução seja estrutural – e não cosmética – é preciso acabar com as distorções e fortalecer o SUS. Sem dinheiro, o SUS vai sendo sucateado e se torna o destino apenas dos mais pobres e com menos instrumentos para reivindicar seus direitos. 

Assustada com a precarização do SUS, a classe média se sacrifica para pagar um plano privado, que tem sempre muitas letras miúdas. Os trabalhadores organizados incluem saúde privada na pauta sindical, afastando-se da luta do SUS. 

Quem tem mais poder de pressão para pressionar o Estado por saúde pública de qualidade, portanto, encontra saídas individuais – que muitas vezes vão se mostrar pífias na hora da urgência – ou saídas coletivas, mas para grupos específicos, no caso dos empregados com planos empresariais. 

Enquanto sobrar distorções e faltar dinheiro, o SUS não vai melhorar. Não vai mesmo. Neste sentido, tem razão quem afirma que o programa “Mais Médicos” é demagogia. Mas apenas em parte.

Acrescentar dois anos ao curso de medicina e tornar esses dois últimos anos um trabalho remunerado no SUS, uma das mudanças previstas para iniciar em 2015, pode ser um aprendizado. E rico. Não só da prática médica como da realidade do país e da sua população, o que não pode fazer mal a alguém que pretenda ser um bom médico. Para que isso funcione, tanto como formação quanto como atendimento de qualidade à população, é preciso que exista de fato a supervisão dos professores e das faculdades. E essa é uma boa causa para as entidades corporativas e para as escolas de medicina.  

Hoje, um dos problemas do SUS é a fragilidade da atenção básica: o que poderia ser resolvido nos postos de saúde ou pelo médico de família e que consiste em cerca de 90% dos casos acaba indo sobrecarregar os hospitais, que deveriam ser acionados apenas para os casos mais graves. 

A distorção provoca problemas de atendimento de uma ponta a outra do sistema. Por outro lado, entre os avanços mais significativos do SUS está o Programa Saúde da Família (PSF), um dos principais responsáveis, junto com o Bolsa Família, pela redução da mortalidade infantil no país. Mas faltam médicos para esse programa. A atuação dos estudantes de medicina poderá fazer uma enorme diferença. E isso não é pouco num país em que os filhos dos pobres ainda morrem de diarreia e de doenças já erradicadas nos países desenvolvidos. 

A obrigatoriedade de trabalhar dois anos no SUS tem sido considerada por alguns setores, como as entidades corporativas, uma violação dos direitos individuais do estudante de medicina. Será que não poderia ser vista, além de um aprendizado, também como uma contrapartida, especialmente para quem estudou em universidades públicas ou foi beneficiado com bolsas do Prouni? O Estado, o que equivale a dizer toda a população brasileira, incluindo os que hoje não têm acesso à saúde pela precariedade do SUS, financia os estudos desses estudantes. 

Não seria lógico e mesmo ético que, ao final do curso, os estudantes devolvessem uma mínima parte desse investimento à sociedade? Para os estudantes das escolas privadas, o projeto prevê a liberação do pagamento das mensalidades nestes dois últimos anos. Mas sempre vale a pena lembrar que também há financiamento público das particulares, na forma de uma série de mecanismos, como renúncia fiscal para as filantrópicas e para as que aderiram ao Prouni.

Os estudantes de medicina serão remunerados pelo trabalho e pelo aprendizado. O valor mensal da bolsa ainda não está definido, mas a imprensa divulgou que será algo entre R$ 3 mil e R$ 8 mil. Ainda que seja o menor valor, que outra categoria no Brasil pode sonhar em ganhar isso antes mesmo de se formar? E mesmo depois de formado? Por que, então, uma resistência tão grande? 

Por causa do abismo. A maioria dos estudantes de medicina vem das classes mais abastadas, como mostrou a Folha de S. Paulo de 13/7: na Unesp (Universidade Estadual Paulista), apenas 2% cursaram colégio público, contra 40% no geral; na USP (Universidade de São Paulo), 20% dos estudantes têm renda familiar superior a R$ 20 mil, não há negros na turma que ingressou em 2013. Historicamente, a elite brasileira não se vê como parte da construção de um país mais igualitário.

Pelos motivos óbvios – e porque está acostumada a receber, não a dar. Assim, ter seus estudos financiados pelo conjunto da população brasileira é interpretado como parte dos seus direitos – não como algo que pressupõe também um dever ou uma contrapartida. Dever e contrapartida, como se sabe, são para os outros.

Não fosse esse olhar sobre si e sobre seu lugar no país, seria plausível que trabalhar os dois últimos anos do curso no SUS pudesse ser uma boa notícia para quem escolheu ser médico. Fosse até desejável. 

Primeiro, porque está ajudando a levar saúde a uma população que não tem. E, neste sentido, pode fazer a diferença, algumas vezes entre viver e morrer. 

Segundo, por participar da construção de um país mais justo, o que implica deveres ainda maiores a quem recebeu mais. Receber mais – melhores escolas, melhor saúde, melhores oportunidades – não significa que tenha de continuar recebendo mais, mas que precisa dar mais, já que a responsabilidade com quem recebeu menos se torna ainda maior. 

Terceiro, porque é inestimável a oportunidade de conhecer as dores, as necessidades e as aspirações das porções mais carentes do Brasil, não só pelo aprendizado médico em si, mas pelo que essa população pode ensinar sobre um outro viver. 

Tornar-se médico – e não apenas um técnico em medicina – não passa pela capacidade de escutar o outro como alguém que tem algo a dizer não apenas sobre seus sintomas, mas sobre uma visão de mundo singular e uma interpretação complexa da vida? 

Ao ler a maioria das críticas sobre o programa, o que chama a atenção é a impossibilidade de seus autores se verem como parte da construção de um SUS mais forte e eficiente, o que significa ser parte da construção de um Brasil melhor para todos – e não só para uma minoria. 

No geral, o que se revela nitidamente é um olhar de fora, como se tudo tivesse que estar pronto, em perfeitas condições, para que só então o médico atuasse. Mas é no embate cotidiano, no reconhecimento das carências e na pressão por mudanças que o SUS será fortalecido, como tem mostrado em sua prática uma parcela dos médicos tachada – às vezes pejorativamente – como idealista. 

Nesse sentido, também os estudantes de medicina e seus professores farão uma enorme diferença ao estar no palco onde esse embate é travado. Ao estar presentes – promovendo saúde, denunciando distorções e pressionando por qualidade – mais do que hoje. 

Acredito que a vida da maioria só muda quando os Brasis se aproximam e se misturam. Tenho esperança de que esse programa – se bem executado, o que só pode acontecer com a adesão e o compromisso de todos os envolvidos – possa ser inscrito nesse gesto. O conjunto de medidas do “Mais médicos”, que inclui também a atuação de profissionais estrangeiros em áreas carentes, já promoveu pelo menos um impacto positivo: colocou o SUS no centro da pauta nacional. 

Seria tão importante que os protagonistas desse debate superassem a polarização inicial entre governo e entidades médicas para fazer uma discussão séria, com a participação da população, que pudesse resultar no acesso real da maioria a um sistema de saúde com qualidade. E seria uma pena que essa oportunidade fosse perdida por interesses imediatos e menos nobres, tanto de um lado quanto de outro. 

É grande o debate sobre se faltam profissionais ou se eles estão mal distribuídos. O que me parece é que não faltam doutores no Brasil – o que falta são médicos. 

São muitos os doutores que ainda nem sequer se formaram, mas já assumiram o título e o encarnam num sentido profundo. 

O SUS terá mais chance quando existirem menos doutores e mais médicos trilhando o mapa do Brasil. 

Link desta matéria:

Importação de médicos: fatos que a imprensa omitiu.

A má informação atrapalhou o debate sobre a importação de médicos estrangeiros. Conheça fatos vitais que não foram transmitidos aos brasileiros


Há um problema dramático de má comunicação na questão de importação de médicos.

Não vamos nem falar no lastimável comportamento dos médicos e suas associações, agarrados a um corporativismo ululante, egoísta e desinformado.

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Estudantes americanos formados em Cuba (Reprodução: Diário do Centro do Mundo)
Uma boa frase estava circulando ontem no Twitter: “Esses caras não saem da Paulista nem para fazer protestos.”

Vamos nos centrar, especificamente, na maneira como a decisão de trazer médicos de fora foi apresentada pelo governo aos brasileiros.

Subitamente, pouco tempo atrás, a sociedade soube que havia vontade de trazer 6 000 médicos cubanos para atuar nos lugares remotos que não atraem os médicos brasileiros.

Na boataria que nasceu, houve gente que acreditou no rumor de que poderia ser o embrião de uma revolução comunista promovida por guerrilheiros cubanos disfarçados de médicos.

Faltou ao governo esclarecer, de início, duas coisas:

1) A medicina cubana é reconhecida mundialmente pela excelência, ao contrário da brasileira, ineficiente e mercantilizada.

A medicina cubana tem um caráter preventivo, e é altamente eficiente: a expectativa de vida em Cuba é comparável à dos países mais desenvolvidos do mundo.

“Basta ver as estatísticas de Cuba para avaliar sua medicina”, disse um médico inglês que mais de uma vez esteve na ilha para estudar o modelo cubano.

Num momento em que reformulava seu mitológico sistema de saúde, o NHS, a Inglaterra mandou uma equipe a Cuba para ver o poderia aprender com o jeito cubano de cuidar da saúde.

Hoje, a saúde pública britânica é, como a de Cuba, focada na prevenção.

2) Outros países altamente desenvolvidos importam médicos quando eles são necessários para a saúde pública.

Isso quer dizer o seguinte: o Brasil estava apenas copiando uma boa prática.

Cerca de 40% dos quase 235 mil médicos registrados no Reino Unido são estrangeiros. A Índia é o principal fornecedor para os ingleses, com 25 mil profissionais.

Os Estados Unidos também são grandes importadores. 

A cota de profissionais estrangeiros entre os americanos ultrapassa de 25%.

Também a Noruega vai atrás de médicos no exterior. “O programa de importação de médicos da Noruega é considerado um exemplo”, notou o site alemão DW numa recente reportagem sobre o tema.

Cuba, neste quadro, é um tradicional exportador de médicos. Há ou já houve médicos cubanos em 108 países.

A medicina cubana tem relevância internacional também na área de remédios.

Nos anos 90, Cuba se tornou o primeiro país a desenvolver e comercializar a vacina contra a meningite B.

Depois, Cuba criou vacinas contra a hepatite B, fornecidas para 30 países, entre eles China, Índia e Rússia.

O debate no Brasil sobre a importação de médicos estrangeiros – cubanos e de outros países – acabou prejudicado pela falta de informações vitais do governo, pela cobertura míope da mídia e pela reação histérica dos médicos brasileiros.

Resta torcer que a saúde pública brasileira não termine como a grande derrotada na polêmica.

Mulher Norueguesa é condenada por ter sido estuprada em Dubai.

presa

Quatro meses após ter feito a denúncia de que havia sido estuprada em Dubai, nos Emirados Árabes, a norueguesa Marte Deborah Dalelv foi condenada a 16 meses de prisão pelo fato.
 
De acordo com as leis locais, um estuprador só pode ser condenado se confessar o crime ou se for visto praticando o estupro por quatro testemunhas homens. 

Como denunciou o abuso, Marte foi condenada por fazer sexo fora do casamento e perjúrio. Ela ainda foi considerada culpada por ter ingerido bebida alcóolica na noite em que sofreu o estupro. Nos Emirados Árabes também é proibido beber.


“A sentença em Dubai a uma norueguesa que denunciou um estupro é contrária ao nosso sentido da justiça. Daremos a ela apoio no processo de apelação”, disse Espen Barth Eide, o ministro das Relações Exteriores norueguês, em sua conta no Twitter.


Segundo informações do site norueguês VG.no, no dia em que fez a denúncia, Marte ainda foi alvo de gozações das autoridades, que teriam perguntado a ela se”estava fazendo a denúncia por não ter gostado do sexo”.