terça-feira, 2 de outubro de 2012

Ruas do Sítio São Raimundo na Forquilha, são interditadas por causa da buraqueira.

Localizado no limite dos municípios de São Luís e Ribamar, o Loteamento Sítio São Raimundo, está completamente abandonado. As seis ruas do bairro estão tomadas por verdadeiras crateras. O tráfego de veículos é feito com muitas dificuldades. Moradores alegam que já não suportam mais os custos com manutenção de veículos.



Revoltados com esse abandono, moradores decidiram fazer a interdição das principais ruas que fazem a ligação das MA-201 e 202. Se fossem asfaltadas, essas ruas ajudariam a resolver o problema de engarrafamento na rotatória da Forquilha, na junção das Estradas da Maioba e de Ribamar.
Em determinados horários do dia, o engarrafamento na Estrada de Ribamar chega até depois da garagem da empresa Taguatur. Essas ruas do Sítio São Raimundo, se fossem recuperadas, ajudariam a desafogar o tráfego no sentido Maiobão/Forquilha. 
 
Quem fosse se dirigir para a região da Cohab/Cohatrac não precisaria passar pela rotatória da Forquilha, apenas utilizaria o desvio por dentro do bairro. 
 
-- Lamentavelmente, estamos aqui sem saber a quem recorrer. Pelos documentos do imóvel, estamos no município de Ribamar, mas na conta de luz consta que pertencemos a São Luís. Como estamos localizados antes da ponte do Rio Pimenta, acredito que pertencemos a São Luís. 
 
 
Aqui, no período chuvoso, é lama que não acaba mais. Agora, sem chuva, estamos sofrendo com a poeira. Meus dois filhos só vivem gripados. A quem vamos recorrer?  -- pergunta Jardel Araújo, um dos moradores do bairro.


Fonte:http://gilbertolimajornalista.blogspot.com.br/

Godofredo Viana - Arsenal de guerra seria usado no roubo de mais 350 kg de ouro no Maranhão.


Bando preso sob a acusação de assaltos a bancos no estado.
Uma operação deflagrada, na última sexta-feira (28), resultou na prisão de cinco pessoas envolvidas em assaltos no Maranhão.

A ação foi coordenada pela Superintendência Estadual de Investigações Criminais (Seic), com o apoio da Delegacia Regional de Imperatriz, a Polícia Militar de Godofredo Viana e o Serviço de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública (SSP).

O bando, segundo a Polícia, tem participação em diversos assaltos ocorridos no interior do Maranhão, principalmente, a agências bancárias e em arrombamentos a caixas eletrônicos na Região Tocantina.

Eles são suspeitos, ainda, de planejar um assalto à mineradora Aurizona, em Godofredo Viana, onde pretendiam subtrair 350 quilos de ouro condicionados na empresa.

O bando foi apresentado pelo secretário Aluísio Mendes, na tarde desta segunda-feira (1º), na sede da Secretaria de Segurança Pública.

Assaltantes
Foram presos: Ivo Sousa Silva, conhecido como “Ivo do Maranhão”, 43 anos, natural de Barra do Corda. Preso em Godofredo Viana, ele é apontado como líder do bando e de alta periculosidade.

Também é acusado de envolvimento em assaltos a agências bancárias do Maranhão, Pará e Tocantins.

José Diniz Andrade,  o “prego”, 41anos, natural de Imperatriz. Ele é proprietário de um caminhão e foi recrutado por Ivo Maranhão para realizar o transporte das armas, dos explosivos, bem como do dinheiro obtido com o roubo. Tem participação no assalto ao banco de Santa Helena (MA), em 2012.

Antônio Joel dos Santos Conceição, 22 anos, de São Mateus. Encarregado de armazenar e cuidar dos armamentos. Antônio Carlos Sousa Benta, conhecido como “Nego”, 39 anos, natural de Canarana (BA). Foi recrutado por Ivo Maranhão, sendo integrante do PCC, com antecedentes de roubo e porte de arma na cidade de São Paulo.

Gustavo Alves Feitosa, o “Gugu”, 29 anos, de Imperatriz. Também integrante do PCC, com vários antecedentes de roubo, porte de arma e receptação, nas cidades de São Paulo, Bauru, Osasco e Guarulhos.

Ivo Maranhão tem mandados de prisão expedidos pelas comarcas de Parnarama, no Maranhão; Augustinopólis, no Tocantins; e Curimatá, no Piauí, todos por assalto a agências bancárias. Além disso, cumpriu pena no estado do Ceará por assalto a carro forte e no Pará por roubo a um carregamento de ouro na Serra do Carajás. Ivo tinha sido preso em janeiro deste ano na cidade de Imperatriz, quando estava articulando assalto em agências bancárias naquela região.

Ele tem participação direta em assaltos a bancos com utilização de bananas de dinamite em várias cidades (como Cidelândia, São Pedro da Água Branca, Davinópolis, Senador La Rocque, Ribamar Fiquene e duas vezes em Amarante) e com uso de maçaricos (Porto Franco e Governador Edison Lobão).

De acordo com a polícia, tem ligações fortes fora do Nordeste, inclusive com o PCC em São Paulo. Ivo Maranhão também mantinha com seu grupo um plano extremamente meticuloso, com mapa detalhado contendo as coordenadas da mineradora que pretendiam assaltar. Após a ação delituosa, evitada pela investigação da Polícia Civil em conjunto com a Militar, o bando iria fugir por meio de uma lancha de Godofredo Viana até Turiaçu.

Ivo Sousa Silva, segundo apurou a polícia, foi beneficiado com informações repassadas pelo seu irmão Otoniel Silva Sousa, funcionário terceirizado da mineradora Aurizona pela empresa Terra Firme, com quem obteve todos os dados da empresa. Otoniel também foi detido pela Polícia com um computador contendo troca de mensagens com Ivo Maranhão sobre a ação criminosa. Ele ficou em Godofredo Viana para ser ouvido pela Polícia Civil.

Armas e munição apreendidas com o bando de assaltantes.

Material apreendido
Com o bando, foi apreendido farta quantidade de armamentos. Em poder de Ivo Maranhão, foi encontrado um rifle calibre 22, apreendido no momento da abordagem; uma agenda contendo anotações com informações sobre a mineradora, um mapa e o endereço de uma chácara no povoado Lagoa Verde, em Imperatriz.

Na chácara, onde foi preso o restante do grupo, foram apreendidos: 
34 quilos de explosivo nitropento; 
50 espoletas para detonação; 
1 rolo de cordel explosivo detonante; 
1 rolo de pavio de pólvora; 
3 fuzis; 
1 metralhadora 9 milímetros; 
2 escopetas calibre 12; 
1 rifle puma calibre 38; 
2 pistolas calibre 40; 
1 pistola 9 mm; 
1 pistola 380; 
1rifle calibre 22; e diversas munições; 
1 bloqueador de sinal de celular; 
1 rádio que escaneava a frequência da polícia; 
uma lancha e uma motocicleta.

Todos foram autuados pelos criminais de formação de quadrilha, porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, porte ilegal de explosivos e receptação de veículo.

Fonte:http://www.gazetadailha.com.br/2012/10/01/arsenal-de-guerra-seria-usado-no-roubo-de-mais-350-kg-de-ouro-no-ma/

PCC em São Paulo - Arquivos de facção criminosa chegam a 'chefes' na prisão por pen drive.

ROGÉRIO PAGNAN, AFONSO BENITES DE SÃO PAULO.
JOSMAR JOZINO DO "AGORA".

Cerca de 400 documentos apreendidos em operações policiais obtidos pela Folha revelam que a organização criminosa PCC possui ramificações em 123 das 645 cidades do Estado e tem nas ruas um total de 1.343 bandidos. 

Esse número equivale ao contingente de dois batalhões da Polícia Militar e é quase o dobro do número de homens da Rota -considerada a tropa de elite da polícia paulista. 

A facção, que está espalhada por todas as regiões do Estado, é hoje a principal suspeita de cometer uma série de ataques contra as forças policiais do Estado. Até ontem, desde o começo do ano, 73 PMs foram assassinados. 

Conforme a vasta documentação que está em um banco de dados do Ministério Público, cada um dos 1.343 criminosos é obrigado a pagar à organização uma mensalidade de R$ 600, o que dá uma renda mínima de R$ 805 mil para o PCC. 

Em troca da mensalidade, o criminoso obtém benefícios no caso de ser preso (advogado, ajuda financeira para a família) e o direito de se identificar entre criminosos como integrante do PCC. 

A organização conta ainda com o lucro obtido com a venda de drogas, cigarros contrabandeados para os presídios e assaltos. Segundo é possível aferir nos documentos, o PCC arrecada por mês cerca de R$ 6 milhões. 

Os arquivos, elaborados pelos próprios bandidos, foram apreendidos em três grandes operações policiais, já embasaram o Ministério Público em duas denúncias judiciais e norteiam a polícia na desarticulação da facção. 

Nas acusações formais, promotores de Santos pediram a prisão de 16 suspeitos de tráfico de drogas e de formação de quadrilha. 

Essa documentação mostra que os criminosos se instalaram até em cidades pequenas, como Rifaina (na região de Ribeirão Preto), que tem 3.400 habitantes. 

A capital paulista é o principal reduto do grupo, com 689 integrantes. As regiões de Campinas, com 230 membros, e de Santos, com 136, são outras em que o PCC tem um grande contingente. 

Os arquivos revelam ainda o controle empresarial da facção, que cobra metas até na venda de drogas. Há dezenas de funcionários que embalam os entorpecentes, e uma série de "diretores" que são responsáveis por gerenciar a contratação dos advogados, a comercialização de rifas e a venda dos produtos ilícitos. 

 

PEN DRIVE
Os arquivos apreendidos eram destinados aos chefes da organização como uma forma de prestar contas. Os documentos são salvos em pen drives ou chips de celular e entregues semanalmente por motoboys nas principais prisões do Estado, onde entram clandestinamente. 

"Referente às planilhas, toda semana devem mandar para o 4º, 6º PV [pavilhões da penitenciária Presidente Venceslau], as listas de empréstimos e a lista de dívidas gerais", afirma trecho do relatório assinado por um "diretor" que se identifica como Judeu, o responsável pela área financeira. 

Nos arquivos constam ainda informações sobre parte do patrimônio do grupo: 13 imóveis, 88 fuzis, 63 pistolas, 11 revólveres, oito dinamites, 67 carros (sendo três blindados), sete motos e um caminhão. Nessa relação não estão os bens dos bandidos, como armas e carros pessoais. 

O armamento que está nas planilhas fica sob a responsabilidade de alguns integrantes. Por exemplo, quando é necessário cometer um roubo, um criminoso pega um fuzil emprestado para o crime e depois o devolve. Se perder a arma, contrai uma dívida com a facção no valor do equipamento perdido. 

Em março do ano passado, um criminoso identificado como XT foi preso pela Rota sob suspeita de planejar a morte de um policial. Dias depois, na casa dele a polícia apreendeu um fuzil. Como a arma era do PCC, consta em uma das planilhas que ele contraiu uma dívida de R$ 35 mil com a facção.

 

NECESSIDADE
Para o procurador Márcio Sérgio Christino (especialista em crime organizado), embora haja o risco de apreensão por parte da polícia, o registro e controle de informações por parte dos criminosos do PCC é uma necessidade até para a subsistência da facção criminosa. 

"Não é questão de vaidade ou outra coisa. Eles precisam disso para manter o controle. O líder que está preso hoje busca o controle total do que acontece do lado de fora. Para isso, ele precisa necessariamente de uma forma de comunicação. Quanto maior a organização, maior a necessidade de informação. A comunicação é uma necessidade e, ao mesmo tempo, o ponto fraco das organizações criminosas", disse Christino.

Fonte:http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1161905-arquivos-de-faccao-criminosa-chegam-a-chefes-na-prisao-por-pen-drive.shtml

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Eric Hobsbawm ate sempre!

“É melhor ter jovens se sentindo de esquerda a jovens que sentem que a única coisa a fazer é conseguir um emprego na bolsa de valores.”
Do IHU
“Hoje, ideologicamente, eu me sinto mais em casa na América Latina, porque continua a ser uma parte do mundo onde as pessoas ainda falam em conduzir a sua política na língua antiga, na linguagem do comunismo, socialismo e marxismo dos séculos XIX e XX.”
“Eu acho que nós precisamos defender o que a maioria das pessoas pensa, que é basicamente o fornecimento de bem-estar do berço ao túmulo.”
Eric Hobsbawm: uma conversa sobre Marx, revoltas estudantis e a nova esquerda

Hampstead Heath, no frondoso norte de Londres, tem orgulho de fazer parte da história do marxismo. Era lá, aos domingos, que Karl Marx ia a pé até a casa de sua família, recitando Shakespeare e Schiller, ao longo da Parliament Hill, para uma tarde de piqueniques e poesia. Em um dia de semana, ele se juntaria a seu amigoFriedrich Engels, que morava perto, para uma caminhada rápida em torno do parque, onde os “velhos londrinos”, como eram conhecidos, refletiam sobre a Comuna de Paris, a Segunda Internacional e a natureza do capitalismo. A reportagem é de Tristram Hunt, publicada no suplemento dominical The Observer, do jornal The Guardian, 16-01-2011. A tradução é de Anne Ledur.

Hoje, em uma rua secundária que parte do parque, a ambição marxista permanece viva na casa de Eric Hobsbawm. Nascido em 1917 (em Alexandria, no Egito, então sob o protetorado britânico), ele não os conhecia pessoalmente, é claro, mas, conversando com Eric em sua arejada sala da frente, preenchida com fotos de família, honras acadêmicas e objetos culturais de toda uma vida, há quase uma sensação palpável de conexão com esses homens em sua memória.
A última vez que eu entrevistei Eric, em 2002, foi quando sua brilhante autobiografia, Tempos Interessantes – que narra a sua juventude na República de Weimar, seu amor ao jazz e a transformação do estudo da história na Grã-Bretanha – apareceu com grande sucesso. Também foi em meio a outro cíclico ataque da mídia, no rastro da publicação do livro anti-Stalin, de Martin Amis, Koba The Dread, sobre a adesão deEric ao Partido Comunista. O “professor marxista” do Daily Mail não iria procurar, como ele dizia, “a aprovação, acordo ou simpatia”, mas sim, a compreensão histórica de vida de um século XX moldado pela luta contra o fascismo.
Desde então, as coisas mudaram. A crise global do capitalismo, que causou estragos na economia mundial desde 2007, transformou os termos do debate. De repente, a crítica de Marx sobre a instabilidade do capitalismo tem desfrutado de um ressurgimento. “Ele está de volta”, gritou o The Times, no outono de 2008, quando as bolsas de valores despencaram, os bancos foram sumariamente nacionalizados e o presidente Sarkozy, da França, foi fotografado folheando Das Kapital. Até o Papa Bento XVI elogiou Marx: “grande habilidade analítica”. Marx, o grande ogro do século XX, foi reanimado pelos campus e organizou reuniões de filiais e escritórios editoriais.
Então, à luz da queda, parecia não haver melhor momento para Eric reunir seus ensaios mais célebres sobre Marx em um único volume, juntamente com um novo material sobre o marxismo. Para Hobsbawm, o dever contínuo de se envolver com Marx e seus vários legados (incluindo, neste livro, alguns bons novos capítulos sobre Gramsci) era obrigatório.
Mas Eric se modificou. Ele sofreu uma queda feia no Natal e não pôde mais escapar das limitações físicas de seus 93 anos. Mas seu humor e hospitalidade, e de sua esposa,Marlene, assim como o intelecto, a perspicácia política e a amplitude de visão continuam maravilhosamente lúcidos.
Com um exemplar bastante manuseado do Financial Times sobre a mesa de café, Eric passou ininterruptamente da classificação de Lula nas pesquisas para as dificuldades ideológicas enfrentadas pelo Partido Comunista em Bengala Ocidental, para as convulsões na Indonésia após o “crash” mundial em 1857. A sensibilidade global e a falta de paroquialismo, sempre como uma força de seu trabalho, continuam a moldar sua política e sua história.
E depois de uma hora falando de Marx, materialismo e a contínua luta pela dignidade humana em face das rajadas de livre mercado, você deixa o terraço Hobsbawm Hampstead – perto dos caminhos onde Karl e Friedrich passeavam – com a sensação de ter tido uma intensa aula com uma das grandes mentes do século XX. E alguém determinado a manter um olhar crítico sobre o XXI. Eis a entrevista.
No cerne deste livro, há um sentimento de reivindicação? Mesmo se as soluções oferecidas uma vez por Karl Marx pudessem deixar de ser relevantes, ele estava fazendo as perguntas certas sobre a natureza do capitalismo, e que o capitalismo, que emergiu nos últimos 20 anos, foi muito do que Marx estava pensando nos anos 1840?
Sim, certamente. A redescoberta de Marx nesse período de crise capitalista é porque ele previu, em 1848, muito mais do mundo moderno do que qualquer outro, o que tem atraído a atenção de um grande número de novos observadores para o seu trabalho – paradoxalmente, primeiro entre os empresários e comentaristas de negócios do que da esquerda propriamente dita. Lembro-me de perceber isso apenas por volta do 150º aniversário da publicação do Manifesto Comunista, quando, à esquerda, não estavam sendo feitos muitos planos para a sua celebração. Eu descobri, para meu espanto, que os editores da revista de voo da United Airlines disseram que queriam fazer algo sobre o Manifesto. Então, um pouco mais tarde, eu estava almoçando com [o financista] George Soros, que me perguntou: “O que você acha de Marx?” Mesmo que nós não concordássemos em muita coisa, ele me disse: “Há definitivamente algo nesse homem”.
O senhor tem a sensação de que o que as pessoas como Soros gostam de Marx é a maneira tão brilhante como ele descreveu a energia, o iconoclasmo e o potencial do capitalismo? Essa foi a parte que atraiu os executivos que voam na United Airlines?
Eu acho que é a globalização, o fato de que ele previu a globalização, de uma globalização universal, incluindo a globalização dos gostos, e de todo o resto, que os impressionou. Mas eu acho que os mais inteligentes também viram uma teoria que permitiu um tipo de desenvolvimento irregular de crise. Porque a teoria oficial nesse período [o final dos anos 1990] descartou a possibilidade de uma crise.
E essa era a linguagem de “um fim a altos e baixos” e indo além do ciclo de negócios?
Exatamente. O que aconteceu a partir da década de 1970, primeiro nas universidades, em Chicago e, eventualmente, em outros lugares, a partir de 1980, com Thatcher e Reagan, era, suponho, uma deformação patológica do princípio de livre mercado por detrás do capitalismo: a economia de puro mercado e a rejeição do estado e da ação pública, que eu acho que nenhuma economia do século XIX realmente praticou, nem mesmo os EUA. E estava em conflito com, entre outras coisas, a maneira com que o capitalismo realmente trabalhou em sua época de maior sucesso, entre 1945 e início dos anos 1970.
Por “maior sucesso”, o senhor quer dizer em termos de aumento do nível de vida nos anos do pós-guerra?
Maior sucesso na medida em que ambos tiveram lucros e garantiram algo como uma população politicamente estável e social e relativamente satisfeita. Não era o ideal, mas foi, digamos assim, um capitalismo com um rosto humano.
E o senhor acha que o interesse renovado em Marx também foi ajudado pelo fim dos estados marxista-leninista. A sombra leninista foi tirada e agora é possível retornar à natureza original dos escritos de Marx?
Com a queda da União Soviética, os capitalistas pararam de ter medo e, assim, tanto eles como nós poderíamos olhar para o problema de uma forma mais equilibrada, menos distorcida pela paixão do que antes. Mas era mais a instabilidade da economia neoliberal globalizada que eu acho que começou a tornar-se tão evidente no final do século. Você vê, em certo sentido, que a economia globalizada foi efetivamente executada pelo que se pode chamar de noroeste global [Europa Ocidental e América do Norte] e eles passaram adiante esse fundamentalismo de mercado ultrarradical. Inicialmente, parecia funcionar muito bem – pelo menos no velho noroeste – embora, desde o início, você podia ver que na periferia da economia global criaram-se terremotos, grandes tremores de terra. NaAmérica Latina, houve uma crise financeira enorme no início dos anos 80. No início de 1990, na Rússia, houve uma catástrofe econômica. E então, no final do século, houve esse quase colapso enorme e global, que veio da Rússia, à Coreia do Sul, à Indonésia e à Argentina. Isso começou a fazer as pessoas pensarem, eu acho, que havia uma instabilidade no sistema de base que elas tinham rejeitado anteriormente .
Estão dizendo que a crise que temos vivido desde 2008 em termos de América, Europa e Grã-Bretanha não é tanto uma crise do capitalismo por si só, mas do capitalismo financeiro moderno ocidental. Ao mesmo tempo, o Brasil, a Rússia, a Índia e a China – os “Bric” – estão fazendo suas economias crescer em modelos cada vez mais capitalistas. Essa é simplesmente nossa vez de sofrer as crises que eles tinham 10 anos atrás?
O aumento real dos países do “Bric” é algo que tem acontecido nos últimos 10 anos, 15 anos, no máximo. Então, pode-se dizer que era uma crise do capitalismo. Por outro lado, acho que há um risco de assumir, como neoliberais e livre negociadores fazem, que há apenas um tipo de capitalismo. O capitalismo é, se você gosta do termo, como uma família, com uma variedade de possibilidades, desde o capitalismo dirigido pelo estado, da França, ao de livre mercado, da América. É, portanto, um erro acreditar que a ascensão dos países do “Bric” é simplesmente a mesma coisa que a generalização do capitalismo ocidental. Não é. A única vez que tentaram importar fundamentalismo de livre mercado por atacado foi para a Rússia, e que se tornou uma falha absolutamente trágica.
O senhor levantou a questão das consequências políticas do “crash”. Em seu livro, o senhor deixa um insistente olhar para os textos clássicos de Marx como fornecimento de um programa político coerente, mas onde o senhor acha que o marxismo entraria como um projeto político hoje?
Eu não acredito que Marx nunca teve, por assim dizer, um projeto político. Politicamente falando, o programa específico de Marx era que a classe trabalhadora deve constituir-se em um organismo com consciência de classe e deve agir politicamente para ganhar poder. Além disso, Marx, deliberadamente deixou isso vago por sua antipatia a coisas utópicas. Paradoxalmente, eu diria que os novos partidos começaram a improvisar, fazer o que eles podiam fazer, sem nenhuma instrução eficaz, o que Marx tinha escrito – apenas algumas idéias a mais sobre a propriedade pública do que o disposto na cláusula IV, nada realmente perto o suficiente para fornecer uma orientação para partidos ou ministros. Minha opinião é que o principal modelo que os socialistas  e os comunistas do século XX tinham em mente eram as economias de guerra dirigidas pelos estados da Primeira Guerra Mundial, que não eram particularmente socialistas, mas forneceram algum tipo de orientação sobre como a socialização poderia funcionar.
O senhor não está surpreso com a falha de nenhum marxista ou esquerda social-democrata não explorar a crise dos últimos anos politicamente? Sentamos aqui há cerca de 20 anos, desde o fracasso de um dos partidos que mais admirou, o Partido Comunista na Itália. O senhor está deprimido pelo estado da esquerda no momento, na Europa e além?
Sim, claro. De fato, uma das coisas que eu estou tentando mostrar no livro é que a crise do marxismo não é só a crise do ramo revolucionário do marxismo, mas do ramo social-democrata também. A nova situação na economia globalizada matou não só marxismo-leninismo, mas também o reformismo social-democrata – que era essencialmente a classe trabalhadora exercendo pressão sobre seus estados nacionais. Mas com a globalização, a capacidade dos Estados para responder a essa pressão efetivamente diminuiu. E assim a esquerda recuou e sugeriu: “Olha, os capitalistas estão fazendo tudo certo, tudo o que precisamos é deixá-los fazer o máximo de lucro e ver se teremos a nossa parte.”
Isso funcionou quando parte dessa divisão tomou a forma de criar estados de bem-estar, mas a partir da década de 1970, isso já não funcionava, e o que você tinha de fazer era, na verdade, o que Blair e Brown fizeram: deixá-los fazer o máximo de dinheiro possível e esperar que o suficiente pingasse para baixo para tornar o nosso povo melhor.
Então, havia a barganha faustiana. Durante os bons tempos, se os lucros fossem saudáveis e os investimentos pudessem ser assegurados para a educação e a saúde, não tínhamos muitas perguntas?
Sim, desde que o padrão de vida melhorasse.
E agora, com os lucros caindo, estamos lutando para obter respostas?
Agora que nós estamos indo para o outro caminho com países ocidentais onde o crescimento econômico é relativamente estático, mesmo em declínio, então a questão das reformas se torna muito mais urgente novamente.
O senhor vê como parte do problema, em termos de esquerda, o fim de uma consciência e uma classe trabalhadora de massa identificável, que tradicionalmente era essencial para a política social-democrata?
Historicamente, é verdade. Foi em volta de partidos da classe trabalhadora que os governos social-democráticos e as reformas se cristalizaram. Esses partidos nunca foram, ou raramente, totalmente classe trabalhadora. Eles foram, em certa medida, sempre alianças: alianças com certos tipos de intelectuais liberais e de esquerda, com minorias religiosas e culturais, e possivelmente com muitos países com diferentes tipos de trabalhadores. Com exceção dos Estados Unidos, a classe trabalhadora permaneceu um bloco maciço, reconhecível por um longo tempo – certamente bem até a década de 1970. Eu acho que a rapidez de desindustrialização no país desempenhou o inferno, não só com o tamanho, mas também, com a consciência da classe trabalhadora. E não há nenhum país hoje em que a classe industrial em si é suficientemente forte.
O que ainda é possível é que as formas da classe trabalhadora, o esqueleto de movimentos sociais mais amplos mudem. Um bom exemplo disso, à esquerda, está no Brasil, que tem um caso clássico de um partido trabalhista, o Partido dos Trabalhadores, do final do século, com base em uma aliança de sindicatos, trabalhadores em geral, pobres, intelectuais, ideólogos e tipos variados de esquerdistas, que produziu uma notável coalizão governante. E você não pode dizer que é mal-sucedida, após oito anos de governo com um presidente que sai com 80% de índice de aprovação. Hoje, ideologicamente, eu me sinto mais em casa na América Latina, porque continua a ser uma parte do mundo onde as pessoas ainda falam em conduzir a sua política na língua antiga, na linguagem do comunismo, socialismo e marxismo dos séculos XIX e XX.
Em termos de partidos marxistas, algo que se destaca em seu trabalho é o papel dos intelectuais. Hoje, vemos uma grande euforia nos campus, como aconteceu com você, em Birkbeck, com reuniões e comícios. E se olharmos para as obras de Naomi Klein e David Harvey, ou o desempenho de Slavoj Zizek, não há entusiasmo. O senhor está animado com esses intelectuais do marxismo hoje?
Eu não tenho certeza se houve uma grande mudança, mas não há dúvida: durante os cortes do atual governo, haverá uma radicalização dos estudantes. Isso é uma coisa positiva. No lado negativo… se você olhar para o última radicalização massiva de estudantes, em 68, não chegou a ser tanto assim. No entanto, como eu pensei e continuo a pensar, é melhor ter jovens se sentindo de esquerda a jovens que sentem que a única coisa a fazer é conseguir um emprego na bolsa de valores.
E o senhor acha que homens como Harvey e Zizek desempenham uma espécie de papel útil nisso?
Eu suponho que Zizek é descrito com justiça como um performer. Ele tem esse elemento de provocação, que é muito característico, e ajuda a interessar as pessoas, mas eu não estou certo de que as pessoas que estão lendo Zizek estão muito perto de repensar os problemas da esquerda.
Deixe-me passar do oeste para o leste. Uma das questões urgentes que o senhor pergunta nesse livro é se o Partido Comunista Chinês pode desenvolver e responder ao seu novo lugar no cenário global.
Esse é um grande mistério. O comunismo se foi, mas um importante elemento do comunismo na Ásia permanece, ou seja, o Partido Comunista dirigindo a sociedade chinesa. Como isso funciona? Na China há, penso eu, um maior grau de consciência do potencial de instabilidade da situação. Há provavelmente uma tendência a fornecer mais espaço de manobra para um rápido crescimento da classe média intelectual e setores de educação da população, que, afinal, é medido em dezenas, talvez centenas de milhões. Também é verdade que o Partido Comunista na China parece estar contratando uma liderança abundantemente tecnocrática.
Mas como você junta tudo isso, eu não sei. A única coisa que eu acho que é possível com esta rápida industrialização é o crescimento dos movimentos trabalhistas. Ainda não se sabe até que ponto o PCC poderá encontrar espaço para as organizações trabalhistas ou se irá considerá-las inaceitáveis, assim como considerou as demonstrações na Praça Tiananmen.
Vamos falar sobre política aqui na Grã-Bretanha para obter o seu sentido da coalizão. Parece-me que há um ar de 1930 em termos de ortodoxia fiscal, cortes de gastos e desigualdades de renda, com David Cameron como uma figura quase como Stanley Baldwin. Qual é a sua leitura disso?
Por trás de vários cortes sendo sugeridos, com a justificativa de se livrar do déficit, parece claramente estar uma sistemática e ideológica exigência para a desconstrução, a semiprivatização dos antigos arranjos – seja o sistema de pensões, o sistema de bem-estar social, o sistema escolar, ou mesmo o sistema de saúde. Essas coisas, na maioria dos casos, não foram na verdade dispostas em qualquer um dos manifestos, nem no Conservador, nem no Liberal e, olhando de fora, esse é um governo muito mais radicalmente de direita do que parecia à primeira vista.
E qual o senhor acha que deveria ser a resposta do Partido Trabalhista?
O Partido Trabalhista, em geral, não foi uma oposição muito eficaz desde as eleições, em parte porque passou meses e meses elegendo seu novo líder. Acho que o Partido Trabalhista deveria, por um lado, ter pressionado muito mais nos últimos 13 anos. O período não foi do colapso ao caos – na verdade, a situação melhorou e, em particular, em áreas como escolas, hospitais e uma variedade de outros avanços culturais -, então, a ideia de que, de alguma forma ou outra, tudo precisa ser retirado e moído a pó não é válida. Eu acho que nós precisamos defender o que a maioria das pessoas pensa, que é basicamente o fornecimento de bem-estar do berço ao túmulo.
O senhor conheceu Ralph Miliband e, como família Miliband, são velhos amigos. O que o senhor acha que Ralph fez da disputa entre seus filhos e o resultado de Ed, liderando o partido?
Bem, como um pai, ele obviamente não poderia deixar de estar um pouco orgulhoso. Ele certamente seria muito mais à esquerda do que seus dois filhos. Acho que Ralph estava realmente decidido com a demissão do Partido Trabalhista e da via parlamentar – e esperando que, de alguma forma, fosse possível que um partido socialista adequado pudesse surgir. Quando Ralphfinalmente se reconciliou com o Partido Trabalhista, foi no menor período de vida útil, ou seja, no período Bennite, quando ele realmente não fez muito. No entanto, acho que Ralph esperava por algo muito mais radical do que seus filhos parecem fazer.
O título de seu novo livro é How to Change the World. O senhor escreve, no último parágrafo, que “a superação do capitalismo ainda soa plausível para mim”. É a esperança intacta que o mantém trabalhando, escrevendo e pensando até hoje?
Não há coisa como a esperança intacta nos dias de hoje. How to Change the World é um relato do que o marxismo fundamentalmente fez no século XX, em parte através dos partidos social-democratas, que não foram diretamente derivados de Marx, e de outros partidos – Partido Trabalhista, partidos operários, e assim por diante -, que permanecem como governo ou potencialmente de governo em todos os lugares. E, segundo, através da Revolução Russa e todas as suas consequências.
O legado de Karl Marx, um profeta desarmado inspirando mudanças importantes, é inegável. Não estou dizendo deliberadamente que não há qualquer perspectiva equivalente agora. O que estou dizendo é que os problemas básicos do século XXI exigem soluções que nem o mercado puro, nem a democracia liberal pura podem lidar adequadamente. E, nessa medida, uma combinação diferente, uma mistura diferente de público e privado, da ação do Estado, e controle, e liberdade teria de ser trabalhada.
Como você vai chamar, eu não sei. Mas pode muito bem deixar de ser capitalismo, certamente não no sentido em que o conhecemos nesse país ou nos Estados Unidos.

Fonte:http://www.outroladodanoticia.com.br/inicial/42207-eric-hobsbawm-ate-sempre.html

Dep.Vicentinho: Nota à imprensa e à sociedade.

Com referência a matéria intitulada "STF autoriza abertura de nova fase nas investigações" do Jornal Folha de São Paulo de hoje, Domingo, 30 de Setembro de 2012, em que sou citado, esclareço que : Em 2003, dois anos antes da denúncia do chamado mensalão, na condição de pré-candidato a prefeito de São Bernardo do Campo, eu procurei ajuda para a minha campanha, ao meu Partido dos Trabalhadores, através do então tesoureiro nacional Delúbio Soares, dada a importância nacional do pleito. 

No ano seguinte, o Delúbio me informou, que nos daria uma empresa de propaganda e marketing. O que aconteceu na nossa campanha em 2004, um ano antes da denúncia do chamado mensalão. Inclusive, eu fiquei muito agradecido ao meu Partido, já que nós tínhamos dificuldades de contratar uma agência dessa natureza.  Para nós se tratava de uma empresa idônea.  Em 2005, ocorreu a denúncia do chamado mensalão. Foi neste ano  que constatamos, pela grande mídia, que o Sr. Marcos Valério, proprietário da citada empresa de comunicação, estava sendo acusado de operador do chamado mensalão.

Passados esses anos e diante da matéria, afirmo que esse Sr. Nélio José Batista Costa, eu não conheço, portanto, nunca foi meu assessor, nunca trabalhou comigo,  nem nunca o deleguei a nada. Se esse cidadão e outros membros receberam pagamentos da citada  empresa eu não tenho conhecimento, já que não  não paguei nem recebi, muito menos a minha assessoria. Diante da abertura do inquérito, eu reafirmo todo apoio às apurações e colaborarei para que a verdade seja a vitoriosa. 

Mais ainda, eu entregarei, de livre e espontânea vontade, a autorização para a quebra dos meus sigilos fiscais, telefônicos e bancários de todos os tempos. Eu reafirmo o meu compromisso de vida e minha luta em defesa da dignidade humana, pela ética na política, pelos direitos dos trabalhadores, contra todo tipo de discriminação e pela transformação social que o nosso País vive. Para o bem da verdade, eu solicito a divulgação dessa mensagem.

 Atenciosamente, Vicente Paulo da Silva, 
 Deputado Federal Vicentinho.     

Fonte:http://encontrosp.blogspot.com.br/

Thomas de Toledo: Hobsbawm, um historiador de princípios.

 Salve Mestre Hobsbawm!
 
Em sua carreira, Hobsbawm jamais deixou de lado seus princípios. Compreendia que o discurso histórico e historiográfico de forma alguma é neutro, e por isto foi também um militante político, contribuindo como poucos com as lutas sociais de seu tempo. Hobsbawn era marxista, e mesmo em tempos de debacle jamais negou suas raízes. Ao contrário, aperfeiçoou-as, pois as fundamentava em um método que era o materialismo dialético. Este método consiste em compreender as transformações históricas como produtos das contradições concretas (por isto dialético) da realidade concreta (por isto materialista). Assim, suas análises conseguiam ser profundas e sutis, sempre se baseando na verdade histórica.

Hobsbawm esteve entre os grandes historiadores marxistas britânicos como Perry Anderson, E. P. Tompsom e Christopher Hill, que sabiamente enfrentaram no debate acadêmico as correntes historiográficas fragmentadoras como a Nova História. Porém, dentre todos os citados, Hobsbawm destacou-se por ter se colocado o desafio de escrever a macro-história de nosso tempo, demonstrando uma visão da totalidade, sem negar suas contradições e o seu ponto-de-vista de um britânico socialista. Era, dessa forma, um historiador de “eras”.

Dentre as obras de Hobsbawm, destacam-se as quatro “eras”: ‘A Era das Revoluções’ (1789-1848), ‘A Era do Capital’ (1848-1875), a ‘Era das Revoluções’ (1875-1914) e a ‘Era dos Extremos’ (1914-1991). Na primeira, compreendeu o processo que levou às mais radicais transformações que até então o mundo presenciara – sua dupla revolução: a industrial e a francesa. No segundo, entendeu o processo de consolidação do capitalismo como sistema econômico hegemônico no planeta. No terceiro, percebeu que a metamorfose do capitalismo concorrencial para o capitalismo monopolista levaria a uma nova fase deste sistema: o imperialismo. No quarto, compreendeu que a contradição entre tais impérios levou o mundo a uma guerra de duas etapas (1ª e 2ª Guerras), e que seu desfecho foi a disputa de dois projetos distintos de sociedade: capitalismo e socialismo. Conclui, porém, que a experiência histórica do socialismo serviu como precioso ensinamento para experiências futuras, e que a luta dos povos para superar a exploração do homem pelo homem estava apenas no começo.

Esta sede revolucionária fica patente em seu último livro: “Como mudar o mundo”, mas também em sua autobiografia “Tempos interessantes”. Dentre suas obras importantes, poderia também incluir “Nações e Nacionalismo desde 1780” e “A invenção das tradições”, no quais destrinchou o fenômeno da nação e do nacionalismo como produtos históricos. Finalmente em “Globalização, democracia e terrorismo”, Hobsbawm já começou a apontar para os desafios do século 21.

Registro, portanto, esta homenagem a alguém que foi sem dúvida um dos maiores historiadores não apenas de nosso tempo, mas de toda a história. A despeito de suas posições políticas claras, em todos os meios, acadêmicos ou não, Hobsbawm fora sempre respeitado. A ciência da História perde um grande investigador, mas seu legado de historiador e militante fica para todos aqueles que ainda acreditam que há “como mudar o mundo”.

*Historiador pela USP, mestre em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp e secretário-geral do Cebrapaz.

FONTE:http://blogdocappacete.blogspot.com.br/2012/10/thomas-de-toledo-hobsbawm-um.html

Eric Hobsbawn e as ideias de Marx no século 21.

publicado em 1 de outubro de 2012 às 13:32
Eric Hobsbawm: A crise do capitalismo e a atualidade de Marx

Ter, 21 de Outubro de 2008 10:52

Marcello Musto: Professor Hobsbawm, duas décadas depois de 1989, quando foi apressadamente relegado ao esquecimento, Karl Marx regressou ao centro das atenções. Livre do papel de intrumentum regni que lhe foi atribuído na União Soviética e das ataduras do “marxismo-leninismo”, não só tem recebido atenção intelectual pela nova publicação de sua obra, como também tem sido objeto de crescente interesse.

Em 2003, a revista francesa Nouvel Observateur dedicou um número especial a Marx, com um título provocador: “O pensador do terceiro milênio?”. Um ano depois, na Alemanha, em uma pesquisa organizada pela companhia de televisão ZDF para estabelecer quem eram os alemães mais importantes de todos os tempos, mais de 500 mil espectadores votaram em Karl Marx, que obteve o terceiro lugar na classificação geral e o primeiro na categoria de “relevância atual”.

Em 2005, o semanário alemão Der Spiegel publicou uma matéria especial que tinha como título “Ein Gespenst Kehrt zurük” (A volta de um espectro), enquanto os ouvintes do programa “In Our Time” da rádio 4, da BBC, votavam em Marx como o maior filósofo de todos os tempos. Em uma conversa com Jacques Attali, recentemente publicada, você disse que, paradoxalmente, “são os capitalistas, mais que outros, que estão redescobrindo Marx” e falou também de seu assombro ao ouvir da boca do homem de negócios e político liberal George Soros a seguinte frase: “Ando lendo Marx e há muitas coisas interessantes no que ele diz”.

Ainda que seja débil e mesmo vago, quais são as razões para esse renascimento de Marx? É possível que sua obra seja considerada como de interesse só de especialistas e intelectuais, para ser apresentada em cursos universitários como um grande clássico do pensamento moderno que não deveria ser esquecido? Ou poderá surgir no futuro uma nova “demanda de Marx”, do ponto de vista político?

Eric Hobsbawm: Há um indiscutível renascimento do interesse público por Marx no mundo capitalista, com exceção, provavelmente, dos novos membros da União Européia, do leste europeu. Este renascimento foi provavelmente acelerado pelo fato de que o 150° aniversário da publicação do Manifesto Comunista coincidiu com uma crise econômica internacional particularmente dramática em um período de uma ultra-rápida globalização do livre-mercado.

Marx previu a natureza da economia mundial no início do século XXI, com base na análise da “sociedade burguesa”, cento e cinqüenta anos antes. Não é surpreendente que os capitalistas inteligentes, especialmente no setor financeiro globalizado, fiquem impressionados com Marx, já que eles são necessariamente mais conscientes que outros sobre a natureza e as instabilidades da economia capitalista na qual eles operam.

A maioria da esquerda intelectual já não sabe o que fazer com Marx. Ela foi desmoralizada pelo colapso do projeto social-democrata na maioria dos estados do Atlântico Norte, nos anos 1980, e pela conversão massiva dos governos nacionais à ideologia do livre mercado, assim como pelo colapso dos sistemas políticos e econômicos que afirmavam ser inspirados por Marx e Lênin.

Os assim chamados “novos movimentos sociais”, como o feminismo, tampouco tiveram uma conexão lógica com o anti-capitalismpo (ainda que, individualmente, muitos de seus membros possam estar alinhados com ele) ou questionaram a crença no progresso sem fim do controle humano sobre a natureza que tanto o capitalismo como o socialismo tradicional compartilharam. Ao mesmo tempo, o “proletariado”, dividido e diminuído, deixou de ser crível como agente histórico da transformação social preconizada por Marx.

Devemos levar em conta também que, desde 1968, os mais proeminentes movimentos radicais preferiram a ação direta não necessariamente baseada em muitas leituras e análises teóricas. Claro, isso não significa que Marx tenha deixado de ser considerado como um grande clássico e pensador, ainda que, por razões políticas, especialmente em países como França e Itália, que já tiveram poderosos Partidos Comunistas, tenha havido uma apaixonada ofensiva intelectual contra Marx e as análises marxistas, que provavelmente atingiu seu ápice nos anos oitenta e noventa. Há sinais agora de que a água retomará seu nível.

Marcello Musto: Ao longo de sua vida, Marx foi um agudo e incansável investigador, que percebeu e analisou melhor do que ninguém em seu tempo o desenvolvimento do capitalismo em escala mundial. Ele entendeu que o nascimento de uma economia internacional globalizada era inerente ao modo capitalista de produção e previu que este processo geraria não somente o crescimento e prosperidade alardeados por políticos e teóricos liberais, mas também violentos conflitos, crises econômicas e injustiça social generalizada.

Na última década, vimos a crise financeira do leste asiático, que começou no verão de 1997; a crise econômica Argentina de 1999-2002 e, sobretudo, a crise dos empréstimos hipotecários que começou nos Estados Unidos em 2006 e agora tornou-se a maior crise financeira do pós-guerra. É correto dizer, então, que o retorno do interesse pela obra de Marx está baseado na crise da sociedade capitalista e na capacidade dele ajudar a explicar as profundas contradições do mundo atual?

Eric Hobsbawm: Se a política da esquerda no futuro será inspirada uma vez mais nas análises de Marx, como ocorreu com os velhos movimentos socialistas e comunistas, isso dependerá do que vai acontecer no mundo capitalista. Isso se aplica não somente a Marx, mas à esquerda considerada como um projeto e uma ideologia política coerente.

Posto que, como você diz corretamente, a recuperação do interesse por Marx está consideravelmente – eu diria, principalmente – baseado na atual crise da sociedade capitalista, a perspectiva é mais promissora do que foi nos anos noventa. A atual crise financeira mundial, que pode transformar-se em uma grande depressão econômica nos EUA, dramatiza o fracasso da teologia do livre mercado global descontrolado e obriga, inclusive o governo norte-americano, a escolher ações públicas esquecidas desde os anos trinta.

As pressões políticas já estão debilitando o compromisso dos governos neoliberais em torno de uma globalização descontrolada, ilimitada e desregulada. Em alguns casos, como a China, as vastas desigualdades e injustiças causadas por uma transição geral a uma economia de livre mercado, já coloca problemas importantes para a estabilidade social e mesmo dúvidas nos altos escalões de governo.

É claro que qualquer “retorno a Marx” será essencialmente um retorno à análise de Marx sobre o capitalismo e seu lugar na evolução histórica da humanidade – incluindo, sobretudo, suas análises sobre a instabilidade central do desenvolvimento capitalista que procede por meio de crises econômicas auto-geradas com dimensões políticas e sociais. Nenhum marxista poderia acreditar que, como argumentaram os ideólogos neoliberais em 1989, o capitalismo liberal havia triunfado para sempre, que a história tinha chegado ao fim ou que qualquer sistema de relações humanas possa ser definitivo para todo o sempre.

Marcello Musto: Você não acha que, se as forças políticas e intelectuais da esquerda internacional, que se questionam sobre o que poderia ser o socialismo do século XXI, renunciarem às idéias de Marx, estarão perdendo um guia fundamental para o exame e a transformação da realidade atual?

Eric Hobsbawm: Nenhum socialista pode renunciar às idéias de Marx, na medida que sua crença em que o capitalismo deve ser sucedido por outra forma de sociedade está baseada, não na esperança ou na vontade, mas sim em uma análise séria do desenvolvimento histórico, particularmente da era capitalista. Sua previsão de que o capitalismo seria substituído por um sistema administrado ou planejado socialmente parece razoável, ainda que certamente ele tenha subestimado os elementos de mercado que sobreviveriam em algum sistema pós-capitalista.

Considerando que Marx, deliberadamente, absteve-se de especular acerca do futuro, não pode ser responsabilizado pelas formas específicas em que as economias “socialistas” foram organizadas sob o chamado “socialismo realmente existente”. Quanto aos objetivos do socialismo, Marx não foi o único pensador que queria uma sociedade sem exploração e alienação, em que os seres humanos pudessem realizar plenamente suas potencialidades, mas foi o que expressou essa idéia com maior força e suas palavras mantêm seu poder de inspiração.

No entanto, Marx não regressará como uma inspiração política para a esquerda até que se compreenda que seus escritos não devem ser tratados como programas políticos, autoritariamente ou de outra maneira, nem como descrições de uma situação real do mundo capitalista de hoje, mas sim como um caminho para entender a natureza do desenvolvimento capitalista.

Tampouco podemos ou devemos esquecer que ele não conseguiu realizar uma apresentação bem planejada, coerente e completa de suas idéias, apesar das tentativas de Engels e outros de construir, a partir dos manuscritos de Marx, um volume II e III de “O Capital”. Como mostram os “Grundrisse”, aliás. Inclusive, um Capital completo teria conformado apenas uma parte do próprio plano original de Marx, talvez excessivamente ambicioso.

Por outro lado, Marx não regressará à esquerda até que a tendência atual entre os ativistas radicais de converter o anti-capitalismo em anti-globalização seja abandonada. A globalização existe e, salvo um colapso da sociedade humana, é irreversível. Marx reconheceu isso como um fato e, como um internacionalista, deu as boas vindas, teoricamente. O que ele criticou e o que nós devemos criticar é o tipo de globalização produzida pelo capitalismo.

Marcello Musto: Um dos escritos de Marx que suscitaram o maior interesse entre os novos leitores e comentadores são os “Grundrisse”. Escritos entre 1857 e 1858, os “Grundrisse” são o primeiro rascunho da crítica da economia política de Marx e, portanto, também o trabalho inicial preparatório do Capital, contendo numerosas reflexões sobre temas que Marx não desenvolveu em nenhuma outra parte de sua criação inacabada.

Por que, em sua opinião, estes manuscritos da obra de Marx, continuam provocando mais debate que qualquer outro texto, apesar do fato dele tê-los escrito somente para resumir os fundamentos de sua crítica da economia política? Qual é a razão de seu persistente interesse?

Eric Hobsbawm: Desde o meu ponto de vista, os “Grundrisse” provocaram um impacto internacional tão grande na cena marxista intelectual por duas razões relacionadas. Eles permaneceram virtualmente não publicados antes dos anos cinqüenta e, como você diz, contendo uma massa de reflexões sobre assuntos que Marx não desenvolveu em nenhuma outra parte. Não fizeram parte do largamente dogmatizado corpus do marxismo ortodoxo no mundo do socialismo soviético. Mas não podiam simplesmente ser descartados.

Puderam, portanto, ser usados por marxistas que queriam criticar ortodoxamente ou ampliar o alcance da análise marxista mediante o apelo a um texto que não podia ser acusado de herético ou anti-marxista. Assim, as edições dos anos setenta e oitenta, antes da queda do Muro de Berlim, seguiram provocando debate, fundamentalmente porque nestes escritos Marx coloca problemas importantes que não foram considerados no “Capital”, como por exemplo as questões assinaladas em meu prefácio ao volume de ensaios que você organizou (Karl Marx’s Grundrisse. Foundations of the Critique of Political Economy 150 Years Later, editado por M. Musto, Londres-Nueva York, Routledge, 2008).

Marcello Musto: No prefácio deste livro, escrito por vários especialistas internacionais para comemorar o 150° aniversário de sua composição, você escreveu: “Talvez este seja o momento correto para retornar ao estudo dos “Grundrisse”, menos constrangidos pelas considerações temporais das políticas de esquerda entre a denúncia de Stalin, feita por Nikita Khruschev, e a queda de Mikhail Gorbachev”.

Além disso, para destacar o enorme valor deste texto, você diz que os “Grundrisse” “trazem análise e compreensão, por exemplo, da tecnologia, o que leva o tratamento de Marx do capitalismo para além do século XIX, para a era de uma sociedade onde a produção não requer já mão-de-obra massiva, para a era da automatização, do potencial de tempo livre e das transformações do fenômeno da alienação sob tais circunstâncias.

Este é o único texto que vai, de alguma maneira, mais além dos próprios indícios do futuro comunista apontados por Marx na “Ideologia Alemã”. Em poucas palavras, esse texto tem sido descrito corretamente como o pensamento de Marx em toda sua riqueza. Assim, qual poderia ser o resultado da releitura dos “Grundrisse” hoje?

Eric Hobsbawm: Não há, provavelmente, mais do que um punhado de editores e tradutores que tenham tido um pleno conhecimento desta grande e notoriamente difícil massa de textos. Mas uma releitura ou leitura deles hoje pode ajudar-nos a repensar Marx: a distinguir o geral na análise do capitalismo de Marx daquilo que foi específico da situação da sociedade burguesa na metade do século XIX. Não podemos prever que conclusões podem surgir desta análise. Provavelmente, somente podemos dizer que certamente não levarão a acordos unânimes.

Marcello Musto: Para terminar, uma pergunta final. Por que é importante ler Marx hoje?

Eric Hobsbawm: Para qualquer interessado nas idéias, seja um estudante universitário ou não, é patentemente claro que Marx é e permanecerá sendo uma das grandes mentes filosóficas, um dos grandes analistas econômicos do século XIX e, em sua máxima expressão, um mestre de uma prosa apaixonada.

Também é importante ler Marx porque o mundo no qual vivemos hoje não pode ser entendido sem levar em conta a influência que os escritos deste homem tiveram sobre o século XX. E, finalmente, deveria ser lido porque, como ele mesmo escreveu, o mundo não pode ser transformado de maneira efetiva se não for entendido. Marx permanece sendo um soberbo pensador para a compreensão do mundo e dos problemas que devemos enfrentar.

[Tradução para Sin Permiso (inglês-espanhol): Gabriel Vargas Lozano]

[Tradução para Carta Maior (espanhol-português): Marco Aurélio Weissheimer]

Eric Hobsbawm é considerado um dos maiores historiadores vivos. É presidente do Birbeck College (London University) e professor emérito da New School for Social Research (Nova Iorque). Entre suas muitas obras, encontra-se a trilogia acerca do “longo século XIX”: “A Era da Revolução: Europa 1789-1848″ (1962); “A Era do Capital: 1848-1874″ (1975); “A Era do Império: 1875-1914 (1987) e o livro “A Era dos Extremos: o breve século XX, 1914-1991 (1994), todos traduzidos em vários idiomas.

FONTE:http://www.viomundo.com.br/politica/eric-hobsbawn-e-as-ideias-de-marx-no-seculo-21.html