segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Guerra no crime: Governo começa a isolar em São Paulo presos de facções do Rio de Janeiro.


Caramante
A Penitenciária 1 de Presidente Venceslau, no oeste do Estado de SP, começou a receber presos ligados aos grupos criminosos do Rio de Janeiro.

23/10/16 por Josmar Jozino.

Ao menos 87 detentos foram transferidos sexta-feira (21/10) para a Penitenciária 1 de Presidente Venceslau, no oeste do Estado de SP. Eles são do CV (Comando Vermelho) e do TC (Terceiro Comando). O clima é tenso nos presídios de São Paulo. Principalmente na Penitenciária 1 de Presidente Venceslau, a P1, no oeste do Estado, para onde a gestão de Geraldo Alckmim (PSDB) começou a transferir, na última sexta-feira (21/10), presos de facções do Rio de Janeiro.

Ao menos 87 detentos foram removidos para a unidade. Muitos são do CV (Comando Vermelho) e do TC (Terceiro Comando). O último grupo é dissidente do primeiro. Ambos são inimigos.

A SAP (Secretaria Estadual da Administração Penitenciária) não confirma nem desmente as remoções. Em nota enviada à Ponte Jornalismo, a pasta estadual garante que o “sistema penitenciário paulista opera dentro dos padrões de normalidade e segurança”.

Funcionários do sistema prisional afirmam que a SAP agiu rápido e corretamente ao isolar na P1 de Venceslau os presos de facções do Rio de Janeiro. Mas confirmam que o clima é realmente tenso em várias prisões paulistas.

Os presos removidos para a P1 de Venceslau são procedentes de diversos presídios de São Paulo. Estão em celas individuais. Mas não se entendem. Mesmo separados no Pavilhão 1, eles vêm trocando hostilidades e ameaças.

Os outros presos que estavam nesse mesmo pavilhão foram levados para a Penitenciária de Tupi Paulista, também no interior de São Paulo e considerada um barril de pólvora. Pode explodir a qualquer momento.

Agora passaram a cumprir pena lá detentos de diversas facções, como TCC (Terceiro Comando da Capital)ADA (Amigos dos Amigos), Cerol Fininho, SS (Seita Satânica), CRBC (Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade), Guerreiros do Inferno, entre outras. Todas são inimigas do PCC (Primeiro Comando da Capital).

No pavilhão 2 da P1 de Presidente Venceslau estão os presos neutros, que não pertencem a nenhum grupo criminoso. O pavilhão 3 está em reforma e o pavilhão 4 abriga os integrantes do PCC.

A tensão na P1 de Venceslau aumentou na madrugada de sexta-feira. Um detento, procedente de um presídio federal, desembarcou na unidade na calada da noite, escoltado por agentes federais. Chegou à região em um helicóptero.

O preso ficou escondido na inclusão. Há informações de que ele veio fazer uma delação. Não se sabe ainda se é premiada. O presidiário já foi ouvido e mandado de volta para o presídio federal. Dizem que ele veio delatar autoridades e ex parceiros de crime.

A SAP também nega a apreensão de uma carta  de quatro páginas, escrita à caneta com erros de português, nas unidades subordinadas à pasta.

Agentes penitenciários, no entanto, insistem em dizer que cópias da correspondência foram encontradas em presídios de Guarulhos, na Grande São Paulo, Pinheiros, zona oeste da capital e também em Mongaguá, na Baixada Santista, dominados pelo PCC. A carta indica que a organização declarou mesmo guerra aos seus inimigos.

A correspondência, intitulada “Salve Geral”, não revela os nomes dos rivais, mas deixa claro que o PCC vai agir com violência contra as facções que têm matado seus integrantes nas prisões e nas ruas e tomado seus pontos de drogas.

Um trecho da carta traz a seguinte mensagem: “Não nos compactuamos de alguma patifaria que tem crescido nos estados onde uma facção ou outras sem ética tem tomado lojas, morros ou favelas de pessoas que são do crime”.

Lojas na linguagem do PCC significam pontos de droga que pertencem à organização criminosa. Morros e favelas são territórios onde a facção controla o tráfico de entorpecentes.

Na mesma página, algumas linhas adiante, aparece a seguinte advertência: “Contra esses vai toda a nossa fúria. Deixamos claro que respeitaremos aqueles que merecem o respeito do crime”.

Logo na primeira página da carta, o PCC menciona que facções de oposição ao grupo estão matando inocentes nos estados em protesto e por inveja ao crescimento e a expansão da organização criminosa no país.

E cita como exemplos o caso de uma criança de dois anos morta a tiros na Bahia; de uma senhora tetraplégica executada no Mato Grosso porque era mãe de um criminoso; de assassinatos de irmãos de integrantes do PCC no Maranhão.

Em nenhum momento a correspondência menciona o nome do CV. Porém, os relatos da carta coincidem com a informação dada à Ponte Jornalismo na última terça-feira por uma fonte do MPE (Ministério Público Estadual).

Segundo essa fonte, desde o ano passado o PCC está em conflito com o CV porque o grupo de Rio de Janeiro fez alianças com facções inimigas do grupo paulista em estados do Norte e Nordeste e também no Mato Grosso e em Santa Catarina. Em presídios da região Norte já morreram ao menos 22 detentos nos últimos dias.

A fonte disse ainda que o PCC mandou rastrear os integrantes do CV presos nas penitenciárias de São Paulo. Segundo o MPE, eles são cerca de 200 a 300, mas ainda convivem pacificamente com os integrantes do grupo paulista. Uma parte já está na P1 de Venceslau.


LEIA MAIS:


2 - Brasil. Rebelião em presídio de Roraima deixa 25 mortos. http://maranauta. blogspot.com.br/2016/10/brasil-rebeliao-em-presidio-de-roraima.html


Lula e o ajuste fiscal. Dilma caiu pela incapacidade de reduzir gastos sociais na escala e intensidade que a elite deseja.

23/10/2016  - Júlio Miragaya, O Globo
Se perguntassem ao povo qual deve ser a principal preocupação do governo Temer, a maioria certamente responderia: educação, saúde, retomar o crescimento econômico para gerar emprego ou acabar com a corrupção. Mas não é o que pensam 199 entre os mil maiores empresários brasileiros, segundo o que foi constatado em enquete do jornal “Valor Econômico”. Somente 2% responderam que a principal preocupação do governo deva ser o combate à corrupção.
Já educação e crescimento econômico mereceram a atenção de apenas 1%. E o que os principais empresários do país esperam do governo Temer? Segundo a enquete, aprovar a PEC 241, que congela os gastos em saúde e educação (47%), e as reformas previdenciária (22%) e trabalhista (10%). Em síntese, 80% defendem que Temer deve cortar gastos e direitos sociais, que consideram excessivos.
Por fim, 13% clamam pela redução da taxa de juros, e 4% esperam uma política cambial mais afeita aos interesses da indústria nacional, revelando que ainda há alguma lucidez em parte de nossa elite econômica. No Brasil, embora os ganhos de capital deem uma contribuição menor para a carga tributária (28%, contra 72% advindos do imposto sobre o consumo e renda do trabalho), são os ricos que mais dela reclamam.
Se queixam de o Estado destinar R$ 27 bilhões anuais a 40 milhões de miseráveis atendidos pelo Bolsa Família, mas se locupletam com os R$ 500 bilhões anuais que embolsam na forma de juros da dívida pública, além de centenas de bilhões na forma de subsídio, isenção, desoneração e sonegação. A enquete do “Valor” explica muito do que se passa hoje no Brasil.
Dilma não foi deposta pelas supostas “pedaladas”, tampouco por corrupção e muito menos pela propalada gastança. O real motivo foi a sua incapacidade de promover o ajuste fiscal na escala e intensidade que a elite deseja, reduzindo gastos sociais para preservar a apropriação do Orçamento público pelos ricos. Ela até tentou com Joaquim Levy, mas sua base social se rebelou; titubeou, e aí não teve perdão.
O roteiro elaborado pela elite econômica prevê que o governo Temer, impopular e destituído de legitimidade, deva cumprir este papel. Haverá reação dos movimentos sociais e sindicais, mas o grande obstáculo se chama Lula, que já lidera as pesquisas para presidente em 2018, encarnando a resistência popular ao ajuste fiscal, e que, em 2003, combateu a crise ampliando os direitos sociais, diferentemente do que hoje se propõe.

CIMI denuncia: Portaria de ministro de Temer golpeia saúde indígena e pode aumentar mortes.

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por Conceição Lemes
O golpe, que derrubou a presidenta Dilma Rousseff em 31 de agosto de 2016, chega à área de saúde indígena.
No dia 17 de outubro, o ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP-PR), publicou no Diário Oficial da União a portaria n° 1.907, revogando a n° 475, de 16 de março de 2011.
Ela retira do secretário da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) competências quanto à gestão orçamentária e financeira relativa à política pública de atenção à saúde dos povos indígenas.
Em consequência, os coordenadores dos 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DESEIs) ficam impedidos de praticar atos de gestão.
Ou seja,  não podem mais, por exemplo, ordenar despesas, fazer contratos e licitações. Sequer podem autorizar diárias e requisitar serviço de passagens e transporte por qualquer via ou meio, de pessoas e bagagens.
Na prática,  como atuam diretamente nas aldeias, os povos indígenas estarão submetidos a decisões centralizadas em Brasília.
Assim, se o coordenador de um DESEI tiver de comprar combustível para buscar (de barco, avião ou carro) um indígena em alguma aldeia, ele terá pedir ao ministro e aguardar a resposta.
A decisão de Ricardo Barros afeta diretamente o princípio da descentralização, um dos requisitos fundamentais para o atendimento diferenciado de saúde.
Além disso, ele não consultou as populações indígenas, desrespeitando a Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que estabelece no artigo 6º:
(…) Ao aplicar as disposições da presente Convenção, os governos deverão: a) consultar os povos interessados, mediante procedimentos apropriados e, em particular, por meio de suas instituições representativas, sempre que se tenham em vista medidas legislativas ou administrativas que possam afetá-los diretamente.
 Cleber Buzatto, secretário-executivo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), alerta:
1. A centralização causará mais atrasos na execução da atenção à saúde indígena.
2. Aumentará a vulnerabilidade dos povos indígenas, além de retirar o controle social e aumentar a possibilidade de corrupção, desvios.
Lideranças indígenas e indigenistas repudiam a portaria do ministro do governo Michel Temer e pedem a sua imediata revogação.
Em nota contudente (na íntegra, ao final; os negritos são nossos), divulgada  na sexta-feira (21/10), o Cimi denuncia:
A Portaria 1907/16, mais do que tirar os recursos financeiros dos distritos, rompe com a perspectiva de que a política de atenção à saúde seja efetivamente implementada a partir das necessidades, realidades e modo de ser de cada povo, tendo eles como sujeitos e protagonistas.
Com a Portaria em questão, haverá ainda mais dificuldade e lentidão na aplicação de recursos em ações de atenção à saúde dos indígenas em suas comunidades, o que poderá significar o aumento do número de mortes por falta de assistência e de medicamentos.
A Portaria 1907/2016 constitui-se num verdadeiro golpe aos direitos indígenas, visto ter sido editada nas sombras, sem ouvir e consultar os povos e organizações indígenas, sem levar em conta a legislação indigenista e a Convenção 169 da OIT.
Quando um governo age nas sombras, há sempre que se suspeitar sobre quais as reais finalidades de suas ações.
Também na sexta-feira, 21, o Fórum de Presidentes de Conselhos Distritais de Saúde Indígena (FPCondisi) divulgou nota pública (na íntegra, ao final; o negritos são nossos).
Endereçada aos ministros da Casa Civil e da Saúde, aos presidentes do Supremo Tribunal Federal (STF), Ministério Público Federal (MPF), Senado e Câmara dos Deputados, a nota chama a atenção para as consequências, caso a portaria não seja revogada:
(…) acarretará o desmonte da estrutura organizacional e funcionamento do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (…)
(…)
d) Na prática, se essas medidas burocráticas não forem revogadas, todos os documentos de processos relativos às ações de saneamento, edificações e atenção à saúde indígena afetas a gestão da SESAI/DSEI, que impliquem no dispêndio de recursos orçamentários e financeiros deverão ser autorizados pelo Ministro de Estado da Saúde, o que com certeza, retardará a execução das ações e serviços prestados aos povos que vivem nas mais de 670 Terras Indígenas existentes no Brasil.
Considerando o estilo truculento de Ricardo Barros, dificilmente a portaria será revogada.
Aguardemos.
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Nota do Cimi: Governo Temer Golpeia Saúde Indígena
O Cimi repudia a publicação, neste 17 de outubro de 2016, da Portaria de número 1.907, pelo governo Temer, na pessoa do ministro da Saúde, Ricardo Barros.
Ao revogar a Portaria 475, de 16 de março de 2011, o Ministro retira competências atribuídas ao Secretário de Saúde Indígena, da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), órgão ligado ao próprio Ministério da Saúde, no que se refere à gestão orçamentária e financeira relativa à política pública de atenção à saúde dos povos indígenas.
Em respeito ao princípio da descentralização, por meio da Portaria 33/13, o Secretário da SESAI substabelecia poderes de gestão aos coordenadores dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dseis), o que restou prejudicado pelo ato do Ministro da Saúde.
Como consequência das absurdas mudanças, o atual Secretário da SESAI, Rodrigo Sergio Garcia Rodrigues, editou o memorando-circular de número 76/GAB/SESAI/MS para informar que, a partir do dia 18 de outubro, os coordenadores dos DSEIs estão impedidos de exercer as funções que lhes eram delegadas.
Ficam, assim, impedidos de praticar atos de gestão, tais como, emitir n otas e créditos de empenho, anulação de recursos orçamentários, ordenar a realização de despesas e conceder suprimento de fundos; conceder diárias; requisitar em objeto de serviço de passagens e transporte por qualquer via ou meio, de pessoas e bagagens, devendo, inclusive, suspender todos os pregões que estão em andamento, adjudicados ou homologados e submete-los ao gabinete da SESAI.
Com essa medida, o ministro da Saúde burocratiza e inviabiliza as ações e serviços no âmbito dos DSEIs, pois a administração de todo o subsistema será centralizada em Brasília.
Com isso, rompe-se com a perspectiva da autonomia administrativa e financeira dos distritos, impossibilita o controle social e a participação indígena no planejamento, elaboração e execução dos orçamentos dentro de um plano distrital.
A Portaria 1907/16, mais do que tirar os recursos financeiros dos distritos, rompe com a perspectiva de que a política de atenção à saúde seja efetivamente implementada a partir das necessidades, realidades e modo de ser de cada povo, tendo eles como sujeitos e protagonistas.
Com a Portaria em questão, haverá ainda mais dificuldade e lentidão na aplicação de recursos em ações de atenção à saúde dos indígenas em suas comunidades, o que poderá significar o aumento do número de mortes por falta de assistência e de medicamentos.
Na avaliação do Cimi, a Portaria 1907/2016 constitui-se num verdadeiro golpe aos direitos indígenas, visto ter sido editada nas sombras, sem ouvir e consultar os povos e organizações indígenas, sem levar em conta a legislação indigenista e a Convenção 169 da OIT.
Quando um governo age nas sombras, há sempre que se suspeitar sobre quais as reais finalidades de suas ações.
O Cimi se posiciona veementemente contra a Portaria 1907/2016 e entende que a mesma deva ser imediatamente revogada.
Brasília, 21 de outubro de 2016
Cimi- Conselho Indigenista Missionário
*****
Nota pública  do Fórum de Presidentes de Conselhos Distritais de Saúde Indígena (FPCondisi)
A Casa Civil da Presidência da República
ELISEU PADILHA
Ao Ministro de Estado da Saúde
RICARDO BARROS
Ao Secretário Especial de Saúde Indígena
RODRIGO RODRIGUES
Ao Supremo Tribunal Federal
CARMEN LÚCIA
Ao Ministério Público Federal
LUCIANO MAIA
Ao Presidente do Senado Federal
RENAN CALHEIROS
Ao Presidente da Câmara Federal
RODRIGO MAIA
1. Considerando que a criação da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) foi fruto de uma grande mobilização do movimento indígena em todo o país, visando o reconhecimento da saúde indígena como uma política pública;
2. Considerando que em 2010, foi assinada a Medida Provisória (MP) 483/2010, transferindo a competência da saúde indígena para o Ministério da Saúde, por meio da nova Secretaria Especial de Saúde Indígena, que por sua vez, resultou de um esforço iniciado em janeiro de 2009, com a criação do Grupo de Trabalho (GT) de Saúde Indígena. Durante esse período, o GT visitou várias comunidades indígenas, Casas de Saúde Indígena (CASAI), Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI), Polos Base de Saúde Indígena (PBSI) e realizou quatro seminários regionais, ouvindo os anseios das comunidades indígenas e verificando de perto as condições reais de vida dessas populações;
3. Considerando que a mencionada MP representou o esforço coletivo do governo e dos povos indígenas brasileiros, com a autorização da criação de estrutura, cargos e a transferência da saúde indígena da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) para a SESAI, vinculada diretamente ao Ministério da Saúde, com recursos próprios garantidos no orçamento da União. A autonomia dos Distritos foi aprovada pela 4ª Conferência Nacional de Saúde Indígena, realizada em 2006 e concretizada no ano de 2009;
4. Considerando que o Fórum de Presidentes de Conselhos Distritais de Saúde Indígena – FPCONDISI foi constituído pela Portaria Ministerial nº 644, de 27 de março de 2006 e tendo em vista o disposto na Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990 e na Lei nº 9.836, de 23 de setembro de 1999 do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena, que asseguram a participação do controle social no acompanhamento e fiscalização no cumprimento das ações de gestão do Sistema Único de Saúde – SUS;
5. Considerando que o FPCONDISI é representado pelos 34 Presidentes de Conselhos Distritais de Saúde Indígena (CONDISI) na área de abrangência da saúde indígena de todo o país, resolve:
a) Manifestar apoio às notas públicas emitidas pelas Organizações Indígenas e Indigenistas em repúdio à emissão da Portaria nº 1.907, de 17 de outubro de 2016, do Ministério da Saúde que revoga a delegação de competências ao Secretário Especial de Saúde Indígena, em atuar como ordenador de despesas no que se refere aos atos de gestão orçamentária e financeira, à conta dos recursos provisionados à SESAI, para custeio das ações de saneamento, edificações e atenção à saúde efetuada pelos DSEI.
b) Caso não seja revogada a mencionada Portaria, acarretará o desmonte da estrutura organizacional e funcionamento do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena no âmbito da SESAI e dos 34 DSEI, instituídos pela Lei nº 9.836, de 23 de setembro de 1999, mais conhecida como Lei Arouca, com grave ameaça à garantia de direitos dos povos indígenas do Brasil, a assistência à saúde.
c) Ato este que se constitui ilegítimo por atentar à característica descentralizadora do Sistema Único de Saúde – SUS, e por não ter havido consulta às populações, suas organizações, fóruns deliberativos e instâncias de controle social da saúde indígena. Além disso, desrespeita ao previsto na Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho – OIT, sobre os povos indígenas e tribais, recepcionada pelo nosso ordenamento jurídico, que estabelece no Artigo 6º:
1. Ao aplicar as disposições da presente Convenção, os governos deverão: a) consultar os povos interessados, mediante procedimentos apropriados e, em particular, por meio de suas instituições representativas, sempre que se tenham em vista medidas legislativas ou administrativas que possam afetá-los diretamente;
2. As consultas realizadas na aplicação desta Convenção deverão ser feitas de boa-fé e de maneira apropriada às circunstâncias, com o objetivo de alcançar um acordo ou consentimento acerca das medidas propostas.
d) Na prática, se essas medidas burocráticas não forem revogadas, todos os documentos de processos relativos às ações de saneamento, edificações e atenção à saúde indígena afetas a gestão da SESAI/DSEI, que impliquem no dispêndio de recursos orçamentários e financeiros deverão ser autorizados pelo Ministro de Estado da Saúde, o que com certeza, retardará a execução das ações e serviços prestados aos povos que vivem nas mais de 670 Terras Indígenas existentes no Brasil.
6. Desse modo, solicitamos a compreensão das autoridades governamentais do país, no sentido que tal medida seja revogada com maior brevidade possível, para que não haja prejuízo às ações desenvolvidas pela SESAI/DSEI.
Brasília-DF, 21 de outubro de 2016.
CLEYTON MARTINS OLIVEIRA JAVAÉ
Coordenador Executivo do FPCONDISI
MARIA LUCILENE MARTINS SANTOS
1ª Coordenadora Adjunta do FPCONDISI
ERIVELTO FERNANDES DO NASCIMENTO
2º Coordenador do FPCONDISI

domingo, 23 de outubro de 2016

Guerra no crime: PCC começou a rastrear os membros do Comando Vermelho em São Paulo.


Foto: André Porto. Facções criminosas PCC (Primeiro Comando da Capital), de São Paulo, e CV (Comando Vermelho), do Rio, estão em processo de separação. 





Por Josmar Jozino, especial para a Ponte Jornalismo*

O Ministério Público de São Paulo apurou que o conflito entre as organizações criminosas começou em 2015, quando presos do CV em Roraima, Rondônia e no Acre se aliaram à facção FDN (Família do Norte) e a outros grupos rivais ao PCC. 

Como consequência a liderança da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) começou a fazer um mapeamento nos presídios paulistas para saber quantos integrantes do CV (Comando Vermelho) estão presos no estado de São Paulo.

O “salve” (recado) transmitindo a ordem para a realização do mapeamento foi captado por setores de inteligência das forças de segurança de São Paulo. A informação foi confirmada à Ponte por uma fonte do MPE (Ministério Público Estadual) que investiga a facção criminosa paulista, a maior do País.

Segundo o MPE, há cerca de 200 a 300 integrantes do CV espalhados em penitenciárias paulistas dominadas pelo PCC. Todos os integrantes da facção criminosa fluminense, a segunda maior do Brasil,  podem ser transferidos para unidades prisionais neutras, onde não há grupos rivais, se houver necessidade. O governo está em alerta.

A decisão do PCC em mapear os integrantes do CV presos no estado foi tomada após as rebeliões registradas na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, em Boa Vista (RR), e na Penitenciária Ênio dos Santos Ribeiro, em Porto Velho (RO). Os motins deixaram saldo de 18 mortos.

Segundo o governo de Roraima, no presídio de Boa Vista os 10 detentos assassinados eram do CV, entre eles Valdenei de Alencar, conhecido como “Vida Loka” e apontado como chefe do grupo no estado. Sete dos 10 corpos encontrados estavam carbonizados e dois, decapitados. No presídio de Porto Velho, oito presos foram mortos por asfixia e 22 ficaram feridos. Dois deles estavam em estado grave.

O MPE garante que aqui no estado a convivência entre integrantes do PCC e do CV ainda é pacífica. No Rio de Janeiro há confirmação de que os presos do PCC naquele estado já pediram seguro transferência para celas isoladas.

O MPE paulista apurou que o conflito entre as duas maiores organizações criminosas do país teve início no ano passado, quando presos do CV em Roraima, Rondônia e no Acre se aliaram à facção FDN (Família do Norte) e a outros grupos rivais ao PCC.

Em presídios do Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Alagoas, no Nordeste, os presos do PCC foram orientados pela liderança de São Paulo a pedir transferência para unidades prisionais onde a facção paulista tem maioria,  tem vantagem numérica.

Ainda segundo o MPE paulista, a chance de ocorrer uma briga sangrenta entre integrantes do PCC e CV é grande em penitenciárias do Mato Grosso. Já no vizinho estado do Mato Grosso do Sul, a convivência por enquanto é amigável.

No ano passado, detentos do PCC recolhidos em presídios das regiões Norte e Nordeste enviaram cartas à cúpula da organização, presa na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no oeste paulista, relatando que corriam riscos na cadeia por causa da coligação do CV com outros grupos rivais e que uma guerra seria inevitável. Por isso foram orientados a ir para unidades onde são maioria.

Os membros do CV no Norte e Nordeste também mandaram relatórios aos chefes da facção fluminense, informando que a paz com o PCC estaria perto do fim naquelas regiões e que poderiam agir com violência, porque os paulistas não concordavam com suas alianças.

Desde sua criação, em 31 de agosto de agosto de 1993,  no anexo da Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté (interior de SP), o PCC buscou uma coligação com o CV.  O grupo paulista até adotou em seu estatuto o lema do grupo do Rio: Paz, Justiça e Liberdade.

Além de membros do CV, presídios paulistas também abrigam detentos de outra facção criminosa do Rio de Janeiro. Nas penitenciárias de Presidente Prudente e Tupi Paulista, estão presos integrantes da ADA (Amigos dos Amigos).

Já a Penitenciária 1 de Presidente Venceslau é destinada aos presos que cumprem castigo. Lá estão detentos da SS (Seita Satânica), Cerol Fino, ADA e CRBC (Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade), todos inimigos do PCC.

Esses presos ficam em celas individuais no pavilhão 1. Os pavilhões 2 e 3 estão em reforma. Já os presos do PCC ficam no pavilhão 4. Se houver uma rebelião no presídio, uma carnificina será inevitável.

*Josmar Jozino é repórter policial há 32 anos. Produz reportagens sobre o crime organizado há 20 anos e é um dos maiores conhecedores do assunto no Brasil. É autor de três livros sobre o tema: “Cobras e Lagartos – A vida íntima e perversa nas prisões brasileiras. Quem manda e quem obedece no partido do crime” (2005), que narra o nascimento do PCC; “Casadas com o Crime” (2008), uma trajetória das mulheres que passaram boa parte de suas vidas presas, seja como visitantes de maridos, filhos ou filhas, seja na condição de encarceradas; “Xeque Mate – O Tribunal do crime e os letais boinas pretas. Guerra sem fim” (2012), uma reportagem investigativa sobre os enfrentamentos entre a Rota, da PM de SP, e membros do PCC.

Leia mais:




Link: http://ponte.org/guerra-no-crime-pcc-comecou-hoje-a-rastrear-os-membros-do-cv-em-sao-paulo/

Povos indígenas. Massacre sem fim.

Foto: Gabriel Bicho / Mídia NINJA
Plataforma virtual faz mapeamento georreferenciado de assassinatos de indígenas no Brasil. No AM foram 60.
Foi lançada na ultima terça-feira (11) a plataforma Cartografia dos Ataques Contra o Povo Indígena (CACI) que registrou 60 assassinatos de indígenas, entre 1985 e 2015, no Amazonas. O projeto foi desenvolvido pela Fundação Rosa Luxemburgo, em parceria com Armazém Memória e InfoAmazonia.
No mapeamento, destaca-se o massacre de 14 indígenas no Vale do Javari, terra indígena regulamentada e localizada no sudoeste do Amazonas, que abrange os municípios de Atalaia do Norte, Benjamin Constant, Jutaí e São Paulo de Olivença e ocupada pelos povos Kulina Páno, Matis e Matses. 
De acordo com o estudo, 13 das vítimas (entre adultos, adolescentes e crianças) foram assassinadas na mesma ocasião, em 1989. Relato de um sobrevivente dá conta de que as crianças brincavam na área da aldeia quando os acusados, um madeireiro e 20 homens a ele subordinados, começaram a atirar. Aos indígenas só restou correr.
Em 1993, na terra indígena Kulina do Médio Juruá – municípios de Eirunepé, Ipixuna, Envira (AM) e Tarauacá (AC), Saulo de Souza Cunha foi assassinado por enforcamento como resultado de uma vingança. José Thomé foi morto a pauladas, em 1996, na área do Caititu, no município de Lábrea, no sul do estado. Ainda foi aberto um inquérito policial para apurar o caso, mas a investigação não foi adiante por falta de provas. Em ambos os casos, o acusado é não indígena.
Dos casos mais recentes, uma adolescente Tikuna, de identidade desconhecida, estuprada e espancada até a morte, em 2014, na terra indígena Évare I, município de São Paulo de Olivença. Um dos acusados foi preso.
Estes e outras centenas de casos foram registrados nos relatórios A violência contra os povos indígenas no Brasil, 1994 e 1996 e entre 2003 e 2015, elaborados pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI), e Conflitos no Campo, publicados entre 1985 e 2015, pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), utilizados como base do projeto.
Foto: Andrés Pascal.
“Não é um levantamento completo. Infelizmente, o número de assassinatos no período é muito maior do que os registrados pelas duas organizações. Mas trata-se de uma base sólida que, por si só, é um registro histórico que pode servir como ponto de partida para pesquisas e análises aprofundadas”, explica Daniel Santini, coordenador de projetos da Fundação Rosa Luxemburgo, no texto de apresentação da plataforma.
De acordo com Santini, “é a primeira vez que as informações foram sistematizadas e georreferenciadas em uma visualização que permite olhar os casos em sua dimensão territorial”. A plataforma mapeou e sistematizou dados de 947 casos em todo o Brasil e se apresenta como um “primeiro passo em uma tentativa de mobilizar um grupo de atores para reunir, sistematizar e visibilizar informações sobre assassinatos de indígenas, tema que nem sempre ganha a atenção que merece”, enfatiza.
Num país que massacra os indígenas, o registro e a divulgação de casos como estes é crucial para manter viva a luta por dias melhores e mais justos com nossos povos nativos e não se deixar esquecer apesar da “dor”, representada em Guarany pela palavra Caci.

Lula é vítima de Lawfare? Mas o que é isso?

 Wagner Francesco*

Lula vtima de Lawfare Mas o que isso
www.http://zelmar.blogspot.com.br/
Os advogados do Lula deram (mais) um argumento para rebater as denúncias contra seu cliente: segundo eles, 
"Lula é vítima de ‘Lawfare’.

Mas o que é Lawfare? A grosso modo, é uma guerra travada por meio da manipulação das leis para atingir alguém que foi eleito como inimigo político. É o uso (muitas vezes) abusivo da lei como uma arma de guerra. É a estratégia de utilizar - ou abusar - do direito como um substituto de tradicionais métodos militares para obter sucesso em um conflito.

Ora, numa democracia é necessário que a lei seja obedecida; o Estado, dessa forma, se vale do uso da lei para atacar aqueles/aquilo que considera como inimigo. 

Desenhando: dar um ar de legalidade aos abusos. Sabe quando alguém diz que apesar do impeachment ter seguido os trâmites legais, ainda assim ele foi golpe? Tipo quando o diabo, para tentar Jesus, usou as palavras de Deus? Pois, quem defende isso defende que houve, no Brasil, uma Lawfare e que Dilma saiu derrotada...

Segundo os advogados do Lula, há a prática de Lawfare, pois, para deslegitimar o ex-presidente, há manipulação do sistema legal, abuso de direito, tentativa de influenciar a opinião pública, judicialização da política e promoção de desilusão popular. Isso porque uma"guerra legal" parte da ideia de que um grupo político vai tentar usar a lei para impedir ou punir a ação de outro grupo político - e esse argumento é usado pela defesa do Lula para passar a impressão de que a atuação do Ministério Público não é só jurídica, mas política também.

Resumo: os advogados do Lula argumentam que nas urnas ninguém o vence, então seus opositores se valem da Lawfare, que é uma guerra jurídica, para derrubá-lo politicamente.

Não caindo no mérito sobre se os advogados do Lula têm razão ou não, o fato é que o uso da lawfare é mais eficiente e menos cansativo que ganhar uma eleição. Nada melhor que derrubar um opositor usando uma via mais destrutiva: de forma legal - ainda que camuflada.

O que posso afirmar é que a Lawfare é inerentemente negativa. Não é uma coisa boa. É o oposto da busca pela justiça, pois, por meio de apresentação de processos judiciais frívolos e do mau uso de processos legais, intimida e frustra os adversários. E ganha uma Lawfare quem tem mais poder: político e econômico - e essa guerra nunca foi novidade num cenário internacional. Se chegou ou não ao Brasil devemos, sim, discutir: mas de repente pode ser só um jus esperniandi...
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Theologian and Paralegal * Nascido no interior da Bahia, Conceição do Coité, Teólogo e Acadêmico de Direito. Pesquiso nas áreas do Direito Penal e Processo Penal.
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