quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Governo reprova convênios feitos com 27 prefeituras no São João; veja a relação.

Segundo matéria publicada originalmente no blog do Luis Pablo, e aqui reproduzida. "27 (Vinte e sete) prefeituras tiveram seus convênios referente ao São João 2016 reprovados pelo governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Cultura e Turismo – SECTUR.
Após análise feita pela pasta, foi constatado irregularidades devido a não apresentação das prestações de contas, o que configurou prejuízo ao Erário, e por isso todas as cidades foram consideradas inadimplentes.
As Prefeituras terão que devolver os valores repassados ao erário pela via administrativa ou mediante Tomada de Contas Especial, segundo informações disponíveis no Diário Oficial do dia 14 deste mês.
Os valores variam de R$ 103 a 324 mil. Entre as Prefeituras que tiveram suas contas reprovadas está a Prefeitura de Tuntum. Administrada pelo aliado de Flávio Dino, Cleomar Tema, o mesmo também não soube explicar o que fez com os R$ 309 mil recebidos para a realização do São João. (reveja aqui)
Abaixo confira a relação das prefeituras que foram reprovadas:
Prefeitura Municipal de Presidente Vargas/MA
R$ 206.000,00 (duzentos e seis mil reais)
Prefeitura Municipal de Buritirana/MA
R$ 144.200,00 (cento e quarenta e quatro mil e duzentos reais)
Prefeitura Municipal de Cidelândia/MA
R$ 324.450,00 (trezentos e vinte quatro mil e quatrocentos e cinquenta reais)
Prefeitura Municipal de Riachão/MA
R$ 154.500,00 (cento e cinquenta e quatro mil e quinhentos reais)
Prefeitura Municipal de Vila Nova dos Martírios/MA
R$ 206.000,00 (duzentos e seis mil reais)
Prefeitura Municipal de Maracaçumé/MA
R$ 206.000,00 (duzentos e seis mil reais)
Prefeitura Municipal de Santo Antônio dos Lopes/MA
R$ 206.000,00 (duzentos e seis mil reais)
Prefeitura Municipal de Gonçalves Dias/MA
R$ 136.500,00 (cento e trinta e seis mil e quinhentos reais)
Prefeitura Municipal de Campestre/MA
R$ 123.600,00 (cento e vinte e três mil e seis centos reais)
Prefeitura Municipal de Ribamar Fiquene/MA
R$ 206.000,00 (duzentos e seis mil reais)
Prefeitura Municipal de Vitória do Mearim/MA
R$ 103.000,00 (cento e três mil reais)
Prefeitura Municipal de Porto Franco/MA
R$ 103.000,00 (cento e três mil reais)
Prefeitura Municipal de Afonso Cunha/MA
R$ 175.100,00 (cento e setenta e cinco mil e cem reais)
Prefeitura Municipal de São Domingos do Maranhão/MA
R$ 247.200,00 (duzentos e quarenta e sete mil e duzentos reais)
Prefeitura Municipal de Duque Bacelar/MA
R$ 309.000,00 (trezentos e nove mil reais)
Prefeitura Municipal de Anapurus/MA
R$ 206.000,00 (duzentos e seis mil reais)
Prefeitura Municipal de São Raimundo das Mangabeiras/MA
R$ 206.000,00 (duzentos e seis mil reais)
Prefeitura Municipal de Olinda Nova do Maranhão/MA
R$ 206.000,00 (duzentos e seis mil reais)
Prefeitura Municipal de Estreito/MA
R$ 194.815,00 (cento e noventa e quatro mil e oitocentos e quinze reais)
Prefeitura Municipal de Buriti Bravo/MA
R$ 154.500,00 (trezentos e vinte quatro mil e quatrocentos e cinquenta reais)
Prefeitura Municipal de Esperantinópolis/MA
R$ 103.000,00 (cento e três mil reais)
Prefeitura Municipal de Lima Campos/MA
R$ 103.900,00 (cento e três mil e novecentos reais)
Prefeitura Municipal de São Mateus/MA
R$ 309.000,00 (trezentos e nove mil reais)
Prefeitura Municipal de Mirinzal/MA
R$ 103.000,00 (cento e três mil reais)
Prefeitura Municipal de Carolina/MA
R$ 103.000,00 (cento e três mil reais)
Prefeitura Municipal de Nova Iorque/MA
R$ 103.000,00 (cento e três mil reais)
Prefeitura Municipal de Apicum-Açu/MA
R$ 206.004,00 (duzentos e seis mil e quatro reais)."

De volta ao futuro: da URSS ao Século Eurasiano, por Pepe Escobar.

De volta ao futuro: da URSS ao Século Eurasiano
Artigo de Pepe Escobar.
Um quarto de século atrás, na noite de 25/12/1991, a bandeira vermelha foi retirada do mastro na cúpula do Kremlin – e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, URSS, deixou de existir.
Pode-se dizer que o evento que o presidente Putin descreveria adiante, em 2005, como "a maior catástrofe geopolítica do século 20" seria também a mais ampla queda de império de toda a história moderna.
Muito além dos arquivos históricos do marxismo-leninismo repentinamente sitiados pelos signos do consumo os mais claros e reluzentes, o que aconteceu no plano pessoal humano foi o "drama real" (outra vez, palavras de Putin) de milhões de russos repentinamente despejados da Federação, dispersos entre 12 novas repúblicas espalhadas pela Eurásia. Num flash o mundo ficou unipolar; sumiu uma modalidade do autoritarismo para beneficiar outra, apoiada em dois pilares: a OTAN, impulsionada para o papel de Robocop global; e o exorbitante privilégio de imprimir o dólar norte-americano, como moeda fiat.
Ofegantes funcionários neo-Hegelianos do Império correram a anunciar o fim da História. Para euforia incontida dos neoconservadores, aquele momento parecia apagar para sempre o veredito de Paul Kennedy, historiador de Yale, em Ascensão e Queda das Grandes Potências, que disse, em 1997, que o império global norte-americano, como todos os impérios antes dele, estava já em declínio. Todos lembram o dia 25/12/1991. Permitam um rápido interlúdio pessoal.
Naquela fatídica noite de inverno, eu estava em Varanasi, junto ao rio Ganges, imerso em assuntos muito mais espirituais. Com o pé na estrada sem pouso certo, por todo o Sudeste Asiático, dali para a Índia, Nepal e a florescente China, muito antes da era da conexão instantânea 24 horas/dia, sete dias por semana, só percebi a enormidade do que havia acontecido depois que, viajando de Pequim pela Trans-Siberiana, cheguei afinal à Moscou já privada da URSS, mais de dois meses depois do fato. Foi aquela viagem que me fez deixar o Ocidente, para conhecer e aprender a Ásia por dentro, para acompanhar o que adiante eu chamaria de O Século Eurasiano.
Os anos 1990s à go-go foram tempos inebriantes. Bill Clinton implantou saltitante a doutrina neoconservadora de Wolfowitz. A Rússia foi estuprada por uma gangue de oligarcas operados pelo Ocidente por controle remoto. A OTAN revelou progressivamente seu papel profundo, criada, como Lord Ismay formulara, para "manter os americanos dentro, os russos fora e os alemães por baixo."
Afinal, desde que o Dr. Zbigniew "Grande Tabuleiro de Xadrez" Brzezinski levou David Rockefeller a instalar a Comissão Trilateral em 1973, o Grande Quadro sempre foi dar cobertura ao poder dos EUA para continuar a mandar em todos os demais estados nacionais, dando forma, assim, ao que se chamava "governança global". Adiante, tudo isso foi expandido, logo nos primeiros anos do novo milênio, mediante a Teoria da Dominação de Pleno Espectro do Pentágono.
Vladimir Putin já estreara, em 2000, no palco geopolítico. Há três anos, Mikhail Gorbachev declarou e destacou que Putin "salvou a Rússia de ser desintegrada". Na verdade, fez também muitas outras coisas, todas engenharia dele. 25 anos depois da queda da URSS, Putin é o rei geopolítico fazedor de reis, primeiro e único; é o grande desconstrutor do mito de cercava a tal "democracia" liberal ocidental – seja a variedade neoconservadora, ou a neoliberal conservadora, ou a variedade "imperialista humanitária"; e é de pleno direito o esmagador-em-chefe do Mito Mãe de Todos os Mitos Geopolíticos: o mito de que a dominação por uma superpotência unipolar teria sido dádiva divina aos EUA, que seriam perenemente excepcionais.
Pentágono vs. Pentágono
A crise financeira de 2008 provocada pelo capitalismo de cassino plus a "firmeza" norte-americana no intuito de refazer o chamado Oriente Médio Expandido mediante guerras escolhidas, mudança de regime e operações clandestinas e/ou sob falsa bandeira fracassaram miseravelmente. Enquanto esperamos pelo raiar da era Trump – e fica aqui um ponto de interrogação geopolítico de dimensões quase intergalácticas –, só há, de certo, que o Partido da Guerra do estado profundo dos EUA não admitirá derrota. E o quebra-cabeça geopolítico chave a ser resolvido é como as estridentes tensões internas norte-americanas lidarão com a questão da progressiva integração da Eurásia: Rússia, China e Irã. Ponto chave a observar será o papel chave do Chefe do Estado-maior das Forças Norte-americanas Joseph "Joe, o Brigador" [ing. Fighting Joe"] Dunford, e como interpretará a Estratégia Militar Nacional dos EUA [ing. US National Military Strategy]. A parte crucial da estratégia é um anexo de cinco partes, em que se detalham as ameaças existenciais mais altas contra os EUA. Em pentagonês, são "quatro 'mais' uma": Rússia, China, Irã, Coreia do Norte e (a "'mais' uma"), as OEVs (Organizações Extremistas Violentas [ing. "VEOs" —violent extremist organizations].

O próprio Pentágono está dividido. Para a Estratégia Militar Nacional e para o "Joe Brigador", a maior e mais alta ameaça é a Rússia. Para Mattis "Cachorro Louco", novo comandante do Pentágono, é o Irã. Para muitos oficiais do Comando do Estado-maior, a maior e mais grave ameaça contra os EUA vem hoje das OEVs, especialmente do ISIS/ISIL/Daech. Assim sendo, a questão crucial é quem Trump realmente ouvirá. 

Putin acertou o olho do alvo, quando falou no Quartel-general do Ministério da Defesa da Rússia em Moscou, antes dos feriados de fim de ano: "Podemos dizer com perfeita certeza: hoje, somos mais fortes que qualquer potencial agressor". E repetiu: "Qualquer um." Isso, depois que o ministro da Defesa Sergei Shoigu ter destacado que a Rússia "pela primeira vez em nossa história" completou a proteção de toda a extensa fronteira russa, com sistemas antimísseis de alerta rápido. Deve-se esperar que o Pentágono processe com extrema seriedade essa informação. Significa, na essência, que antes de os S-500s estarem plenamente desenvolvidos e montados, Moscou era obrigada a exercitar prudência extrema. Agora, o espaço aéreo russo parece estar efetivamente vedado. Putin nunca pôde admitir publicamente que a Rússia é hoje a mais forte potência militar do mundo, antes de a instalação dos S-500s estar completada. 

Todos os mísseis ofensivos dos EUA e aeronaves stealth são hoje perfeitamente inúteis. E até aí nem falamos dos silenciosos submarinos russos armados com armas nucleares.

A frase de Putin, de admissão explícita, é muito surpreendente, porque ocultar a própria força é traço inscrito, pode-se dizer, na natureza da estratégia dos russos. Mas na nova configuração geopolítica, talvez como um preâmbulo à pós-Guerra Fria 2.0, o fator mais importante passou a ser enviar "mensagem" preventiva, a mais clara possível, ao Pentágono.

Na conferência com a imprensa de final de ano, Putin também disse que "o que temos, entre Rússia e China é mais que apenas uma parceria estratégica." Outra mensagem sutil, mas claríssima, dirigida a muitos atores, dentro ou em torno do estado profundo dos EUA, Brzezinski incluído, ou internos ou laterais em relação ao governo Trump – dedicado às táticas de sempre, de Dividir para Governar, para jogar Rússia contra a China. O que realmente importa é que os três atores cruciais na Eurásia, Rússia, China e Irã, já estão coligados numa política de defesa mútua. Assim sendo, delírios que o Pentágono acalente de atacar o Irã dão instantaneamente em setor absolutamente protegido. 


Talvez estejamos nos aproximando de uma possível configuração geopolítica na qual não seria descabido esperar alguma espécie de Grande Barganha que envolva os EUA e os três nodos chaves da integração da Eurásia: uma espécie de Interregnum Détente antes que extensa Guerra Fria 2.0, instigada pelo estado profundo dos EUA, novamente se alastre pelo mundo. 


Passaram-se apenas 25 anos. Não foi o fim da história. Foi, mais, o preâmbulo de um novo drama histórico. Preparem-se, porque o grosso da ação começa agora.*****

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

19 brasileiros estão desaparecidos em alto mar, desde 6 de novembro quando clandestinamente deixaram as Bahamas rumo à Flórida (EUA).

Foto - Sputnik.

Matéria publicado pela agencia de notícias Sputnik Brasil, traz a publicação da OAB: "É grave a inação do Governo em relação aos brasileiros desaparecidos nas Bahamas."

Estão desaparecidos desde 6 de novembro um grupo de 19 brasileiros que deixou as Bahamas rumo à Flórida para tentar entrar nos EUA, supostamente de forma clandestina. Por que só agora o Governo brasileiro está agindo?

Os brasileiros estariam em um barco, na companhia de dezenas de pessoas de outras nacionalidades. A Guarda Costeira americana tem feito buscas na região, mas até o momento nada foi encontrado. Para o advogado Marcelo Chalreo, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Estado do Rio de Janeiro, o quadro é muito grave por pelo menos dois aspectos:

"Esta é uma situação deplorável que acontece no mundo inteiro", diz Chalreo. "E obviamente, como em toda situação dessa natureza, atinge as pessoas mais pobres e mais necessitadas. É lastimável que isso tenha acontecido com um grupo de brasileiros, 19 brasileiros que estão desaparecidos há quase 60 dias, aparentemente tentando entrar nos Estados Unidos da América do Norte de forma ilegal. E lamentável também é o fato de que as notícias que nos chegam dão conta de que já havia comunicações com o Governo brasileiro sobre o desaparecimento dessas pessoas e não houve qualquer ação, nenhuma intervenção por parte do Governo. Se isso for confirmado, é uma situação muito grave essa inação."

Para o Dr. Marcelo Chalreo, só Brasília tem a resposta para a questão da demora na adoção de providências pelo Governo: "Essa é uma pergunta que tem de ser respondida pelo ministro da Justiça [Alexandre de Moraes]. O ministro da Justiça deve vir a público para dizer o porquê da demora e o porquê da inação. É realmente espantoso saber que o Governo brasileiro não tomou nenhuma medida até o momento. Há que se perguntar à Chancelaria e ao Ministério da Justiça o porquê dessa demora em tomar providências em relação a um fato tão grave, que diz respeito a 19 vidas humanas."

Link original desta matéria: https://br.sputniknews.com/opiniao/201612267287288-oab-inacao-governo-brasileiros-desaparecidos-bahamas/

Um texto para quem detesta política (por Luciano Pires Hannecker).

Quero abordar de maneira objetiva as intenções veladas e obscuras do contexto político. Tudo aquilo que o cidadão comum não fica sabendo, por viver trabalhando, não consegue entender os reais motivos de algumas ações políticas.
Primeiramente, os cidadãos e as cidadãs, enojados de tanta fraude e falcatrua na política, acaba por se despolitizar, escolhendo o caminho da alienação política. Esta atitude leva ao desinteresse total do mundo político, mesmo sabendo que todas as decisões políticas afetam a todos, direta ou indiretamente.
Por consequência, estes cidadãos na hora de votar, votam nulo ou votam em qualquer candidato, abrindo a margem para dois efeitos.
O primeiro, demonstra apenas descontentamento, que na maioria das vezes, abre espaço para o político “erva daninha”, aquele que está em todos os lugares na mídia, se elege, mas não tem nada de bom.
O segundo efeito, demonstra o sentimento do “tanto faz”, “ os políticos são todos iguais”, então o cidadão não pensa, quem mais sai na mídia, acaba levando o seu voto. Esta atitude é a mais perigosa, pois coloca todos os políticos em igualdade.
Para este cidadão, tanto faz ser Leonel Brizola ou Fernando Collor, Olívio Dutra ou Antônio Britto, é um verdadeiro absurdo!!!
Este mesmo cidadão por ser discrente com a política e, em meio a tantas siglas partidárias, se vê totalmente perdido. É PP, PSDB, PMDB, PSB, em fim, uma lista longa de partidos políticos.
O cidadão despolizado, não sabe que em meio a tantos partidos, existe apenas uma verdade. Qual? A classe dominante e a classe dominada. Esta máxima advinda do gênio Karl Marx , um dos maiores pensadores de todos os tempos. Certamente, esta dedução não viria da “ilustre” Margaret Thatcher citada recentemente pelo Sartori do PMDB.
Bem, continuando, você cidadão que não gosta de política, deve ficar atento, e compreender que alguns partidos fazem política para a classe dominante e outros para a classes dominada.
Partidos de direita, fazem política para atender a classe dominante, e os partidos de esquerda tendenciam a representarem a classe dominada.
Mas quem são as classes dominante e dominada?
Classe dominante: são os banqueirosgrandes industriais, rede globo, grupo RBS, estes tem grande influência econômica e política.
Classe dominada: são os micros, pequenos e médios empresários, profissionais liberais, funcionários públicos e todos os demais trabalhadores e trabalhadoras.
De posse desta informação básica, o cidadão despolitizado, poderá identificar-se em qual classe pertence, e assim, realizar a sua escolha partidária. Sempre alguém tentará argumentar que isso é rotular. Como exemplo:
– Ou é “gremista ou colorado”, ou é “maragato ou é chimango”. Neste contexto, faço a seguinte pergunta:
– Se você é gaúcho, nasceu e vive em Porto Alegre, salvo exceção, será gremista ou colorado, não é verdade?
Nesta convicção, vimos que a política do PMDB de Sartori encanta os olhos e os ouvidos com o discurso do “Estado mínimo”, dando a idéia de que o essencial é a saúde, segurança e educação, mas, não sabe o cidadão que em verdade, a sociedade necessita de um “Estado forte”, com várias fontes de arrecadação, com estatais produtivas, que lucram e repassam este lucro para o próprio Estado, enquanto as privadas farão remessas de lucro para as suas matrizes no exterior.
Na idéia do Estado mínimo, o cidadão pensa que será “desonerado” de impostos. Pura armadilha!!! O Estado continuará receber a sua larga parcela.
Como exemplo perverso de política, o atual governo federal (PMDB), está retirando das escolas públicas, os professores de História, Geografia e outras disciplinas, e aí cabe outra pergunta:
– Quem tiver as mínimas condições econômicas deixará o seu filho em uma escola pública? Certamente, você irá apertar mais os sapatos para pagar uma escola particular.
Mais uma vez, iremos para o ente privado da educação, onde o grande empresariado do ramo, ganhará com a “ falência do Estado”.
Outro exemplo, é a malha ferroviária do Brasil, o qual, em uma “suposta falência” do Estado, foi privatizada acabando de vez com o sistema ferroviário do nosso país. Quem ganhou com esta privatização? A sociedade ou grupo de grandes empresários?
Quem ganha com a teoria do caus econômico? Isso explica um pouco a teoria do “quanto pior melhor”, implantado pelo PMDB e seus apoiadores.
Quem sai ganhando com a desmonte do Estado? Fica a pergunta para a sociedade trabalhadora responder.
Por último, cabe a seguinte informação:
Quem já ajudou em vários “processos” de privatizações no Brasil (venda de bens públicos), e adora uma negociação de venda, é o ilustre detento EDUARDO CUNHA . Por que será?
Enquanto a nossa sociedade não se atentar destes fatos, não lutar em defender o que é seu e seus direitos, seremos sempre um país de terceiro mundo.
Se não nos interessarmos pelo que é nosso, outros países nos tomarão!
.oOo.
Luciano Pires Hannecker é advogado.

sábado, 24 de dezembro de 2016

Guerra da Síria. Texto 2. Quem são os “rebeldes” que lutam na Síria?

Foto Failaq al-Sham
A Frente Islâmica é uma frente dominada por grupos salafistas e compostas por islamistas patrocinados por diversos países, alguns mais radicais do que outros, incluindo o que era a principal brigada de Aleppo e a mais famosa do “Exército Sírio Livre”, a Brigada Tawhid. A ideologia dos grupos apoiados pelo sauditas é uma corrente religiosa salafista (“fundamentalista”) do wahabismo, uma forma ultra-estrita e purista de Islã conforme pregado e praticado na Arábia Saudita, com uma ênfase especial na condenação dos “infiéis”, dos “hereges”(xiitas) e dos “hipócritas”; sunitas que fazem más práticas, não-ortodoxas, inovações e idolatria.

O Failaq al-Sham (Legião do Sham) é a principal força armada dirigida pela Irmandade Muçulmana na Síria (mas não a única) e pode ser chamado de um dos grupos favoritos da Turquia (que na prática se tornou o “centro” da Irmandade Muçulmana). Recebem armas, dinheiro e tropas da Turquia, inclusive participando de uma ofensiva conjunta (Operação Jaraboulos) com o exército turco contra a milicias curdas do YPG em agosto de 2016. 

Também podemos dizer que são os “favoritos” dos árabes no Brasil que armam as manifestações pro-rebeldes ao lado do PSTU, eles mesmos amantes do Erdogan como líder de um “renascimento islâmico” e próximos, quando não membros, da Irmandade Muçulmana. A Legião foi responsável pela formação de uma coalizão com outros grupos islamistas de Aleppo (muitos provenientes do ELS e também ligados à Irmandade como o Jaysh Al-Sunna). 

Eles também fazem parte do “Exército da Conquista” criado pelo Jabhat al-Nusra. Possuem cerca de 4 mil combatentes, poucos se comparados com a franquia dos sauditas, mas com a importância exagerada devido a seus apoios políticos.

A Irmandade Muçulmana não é um grupo propriamente salafista, ainda que use “salafi” para se referir a si mesmo. É um grupo que assume algumas roupagens mais “modernas”, além de ser um dos precursores ideológicos e práticos do Islamismo político e do jihadismo, com uma longa experiência de oposição ao nacionalismo árabe. O grupo tenta passar uma imagem de “moderação” (talvez devido a suas origens notavelmente burguesas), imagem que foi desmoralizada não só por causa das campanhas terroristas que conduziu (especialmente na Síria) mas agora por inter-secções ideológicos e práticas até com o Daesh

Frequentemente apresentam noções ultra-conservadoras de estabelecimento da Sharia, quando não abertamente sectárias. Têm sua própria ideia de conservação da pureza do Islã com a influência de interpretes contemporâneos da religião e outros movimentos políticos (especialmente do ocidente). 

estratégia de seu fundador egípicio para alcançar o ideal da unificação da comunidade dos fiéis (Ummah) é primeiro promover a islamização da sociedade “por baixo”, garantindo a supremacia dos valores tradicionais num processo gradual que culminaria na tomada do poder de uma forma ou de outra. 

Posteriormente passariam por outro grande ideólogo, Sayyid Qutb, que promoveria uma nova radicalização. Para Qutb o mundo muçulmano estava em ruínas, todos viviam em apostasia e a Irmandade Muçulmana precisaria ser um enclave ou refúgio de resistência dos verdadeiros crentes, onde formariam um núcleo sólido para a tomada do poder. Atualmente eles têm Erdogan como patrocinador e referência do “possível” – de certa forma é o mais próximo do “novo Califa” capaz de realizar a tal reunificação da Ummah. 

Eles também possuem representação parlamentar em alguns países, tiveram um breve período de poder no Egito com Mohamed Morsi, aumentam seu poder liderando a coalização do governo na Tunísia e foram historicamente instrumentalizados por regimes como o da monarquia marroquina (nas manifestações pro-rebeldes do PSTU em São Paulo sempre há entre os organizadores um senhor marroquino notável por suas loas ao regime daquele país).

Segundo Alain Gresh, “Uma poderosa onda islamita composta por uma aliança entre a Irmandade Muçulmana, salafistas e os emires do Golfo parece varrer o mundo árabe”. 

Apesar da aliança momentânea no atual contexto do Oriente Médio (não só na Síria – o massacre das bombas anglo-americanas lançadas no Iêmen pela monarquia saudita, ignorado por um PSTU conivente, foi iniciado entre outras razões para proteger a ordem dominada pela Irmandade que foi estabelecida naquele país em 2011), a Irmandade Muçulmana e o wahabismo saudita são duas correntes concorrentes na ascensão do islamismo político  – para wahabitas e salafistas em geral, a Irmandade é muito “inovadora” (termo pejorativo, referente à introdução de inovações na ortodoxia religiosa); para a Irmandade os apoiadores da casa dos Saud apoiam um regime degenerado e vendido aos Estados Unidos, que não é suficientemente puro e traiu a comunidade (vide Palestina; essa diferença ideológica não impediu os sauditas de patrocinarem eventualmente grupos ligados à Irmandade) – ainda assim o wahabismo oferece uma opção mais cruamente reacionária e estrita do ponto de vista ideológico e religioso.

Por último foi citado o grupo Jabhat al-Nusra, notável franquia da Al Qaeda na Síria, com a ideologia própria da organização, uma forma mais radical de salafismo wahabita misturado com uma concepção própria de jhadismo (de Bin Laden e principalmente o egípcio Al Zahawiri, influenciada pela obra dos ideológos da Irmandade Muçulmana e com o componente “revolucionário ativista” distinto dos ultra-reacionários wahabitas ligados ideologicamente a Arábia Saudita – “ideologicamente” porque do ponto de vista material todos esses grupos tem vínculos com o regime saudita). 

Apesar da maioria dos grupos possuir estrangeiros, é um dos mais notáveis pela presença de jihadistas do exterior e militarmente um dos grupos mais sólidos e disciplinados, com 15 mil soldados. Muitos atribuem seu crescimento ao que seria sua estratégia política de aliar a “moderados” e permitir que eles assumissem a frente. Também fundaram uma das principais frentes islamistas anti governo do país, o Exército da Conquista (Jaish al-Fatah), que inclui grupos ditos moderados e, como dissemos, a Legião do Sham, controlando assim um dos maiores contingentes do conflito.

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Foto - Logotipo de Jaish al-Islam
– Segundo o autor, porém, esses grupos não são dominantes em Ghouta Oriental, e sim grupos supostamente mais “regionais” ou pelo menos de menor envergadura internacional. Não é incomum o PSTU argumentar que existem “grupos pagos por estrangeiros na revolução Síria para liquidá-la”, ao mesmo tempo que são ambíguos e defendem esses grupos na aliança anti-Assad – mas seriam esses grupos de Ghouta os “verdadeiros revolucionários”?

Lund os nomeia: “um grupo maior de salafistas conhecidos como Exército do Islã [Jaish al-Islam], os islamistas não-salafistas do Ajnad al-Sham, a facção auto-declarada do Exército Livre Sírio chamada de Failaq al-Rahman, e grupos locais com política oportunista e ideologia incerta, como o Fajr al-Umma e a coalizão conhecida como Exército da Umma”.

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Foto - Logo de Ajnad al-Sham
Lund nesse momento aparentemente quer rebaixar o caráter do Jaish al-Islam, que é ao lado do Ahrar al-Sham o principal grupo apoiado pelos sauditas e berço de um dos líderes da Frente Islâmica, aquele mesmo das declarações anti-xiitas, Zahran Alloush – um dos maiores líderes da “revolução síria”. Possui entre 17 e 25 mil soldados.

O Ajnad al-Sham (Soldados do Levante) se chama “União Islâmica Ajnad al-Sham” e já se aliaram em comandos conjuntos com o Jabhat al-Nusra, bem como com a Frente Islãmica e a Legião do Sham, além da proximidade especial com o Jaish al-Islam. Possui entre 2 mil e 3 mil soldados. Possui vínculos com o Qatar (portanto, vínculos mais fortes com o ocidente).

A Legião al-Rahman é comandada por um ex capitão do exército, também possui uma ideologia de corte islamista e foi recipiendário de ajuda americana na forma de lança mísseis anti-tanque TOW. É um grupo em decadência.

O exército da Ummah era uma coalizão de mais de 20 grupelhos próximos do banditismo que foi na prática eliminada pelo Jaish al-Islam. O aparecimento de grupos de caráter criminoso muito despolitizado foi comum no início da “revolução” e em geral eles foram suprimidos ou centralizados por fundamentaistas. O grupo identificado como Fajr al-Umma não deve ser muito diferente, mesmo que faltem informações a respeito do mesmo, a não ser sobre seu processo de conflitos e fagocitações pelo Jaish al-Islam.

– No parágrafo seguinte Lund vai descrever o caráter fundamental da liderança de Aloush e a ascensão da supremacia do Jaish al-Islam sobre os outros grupos, que foram obrigados a aderir a instituições militares e jurídicas deste grupo. Aloush conquistou um feito militar e politico para os “revolucionários” ao unificar os diversos grupos de Ghouta Oriental sob a égide de seu exército. “Apesar de ser criticado pelos seus métodos autocráticos, Aloush ascendeu a imagem como um dos poucos construtores de estado [state-builders] da insurgência”.

De fato, Aloush servia como um bom argumento contra aqueles que esperavam um “caos líbio” na Síria, ao criar uma ordem política sob seu domínio. Depois de dizer isso, Lund justifica: “Por mais de cinco anos a oposição síria falhou em oferecer qualquer alternativa viável ao governo que procura derrubar.” 

Os projetos que apareceram para além de Assad, segundo ele, foi o de Rojava e do Daesh. Ele diz que estes dois projetos são eles mesmos incapazes de se espalhar por toda Síria ou mesmo de conquistar a confiança da insurgência árabe sunita (bom, eu não sei se concordo totalmente isso quando vários “rebeldes” passam para o lado do Daesh).

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Adicionar legenda
“Enquanto os vários grupos rebeldes criaram conselhos militares, coalizões e lideranças concorrentes no exílio, eles falharam em criar estruturas de governo de nível de base efetivas acima de divisões faccionais e que se imponham a população. Em Ghouta Oriental, em 2014-15 apareceu uma exceção a essa regra sob a direção do Exército Islâmico.”

– Em outro momento do texto o autor fala dos contatos de comandantes “rebeldes” em Ghouta Oriental com comandantes do exército sírio e um mercado de contrabando particularmente agitado. Essa economia política do contrabando erodiu a base de Aloush, que morreu em dezembro de 2015 abrindo espaço para o conflito entre as facções menores mas não tão pequenas assim, confiantes com a morte do caudilho salafista, com o dinheiro de patrocinadores externos e o controle de redes de contrabando.

– Finalizando, Lund descreve o cenário de Ghouta Oriental em 2016 como um dominado pelo confronto de facções, o avanço do Exército Árabe Sírio e a imposição de um cessar-fogo que inicia a destruição do enclave “rebelde”. O autor parece lamentar a queda da “experiência única de unidade rebelde”, a grande derrota para a insurgência e se pergunta sobre lições acerca de construção de Estado e insurgências divididas em facções.

Fontes:

Guerra da Síria. Texto 1. Quem são os “rebeldes” que lutam na Síria?

Em meio à discussão acerca dos recentes acontecimentos na Síria e mais especificamente em Aleppo, é notável a confusão das pessoas em relação à identidade dos auto-proclamados revolucionários que combatem o governo sírio e seu presidente, Bashar Al-Assad. Quase seis anos se passaram desde o início da guerra, e imprensa e público parecem não terem entendido (ou talvez se esqueceram) de quem são os rebeldes. Muitas pessoas pegaram carona na comoção pública e não têm ideia do que de fato ocorre na Síria, enquanto que mesmo os apoiadores comprometidos da “Revolução Síria” demonstram eventualmente desconhecimento ou ambiguidade em relação aos grupos armados anti-governo.


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Foto - Revista Opera.
O principal partido político no Brasil que presta solidariedade a esses grupos é o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), partido de origem argentina, seguindo uma linhagem trotskista-morenista (Nahuel Moreno) e que foi corrente do PT nos anos 90. Entre suas lideranças e notáveis está o seu candidato presidencial, Zé Maria, que figurou como um grande sindicalista nos anos 80. O partido recentemente passou por um racha que o debilitou e deu origem à organização “MAIS”(Movimento por uma Alternativa Independente e Socialista). 

Apesar desse revés, o PSTU ainda faz parte e na prática dirige uma organização chamada de Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (LIT-QI ou LIT-CI usando o espanhol do berço argentino), que também produz textos defendendo a “Revolução Síria” e atacando os “stalinistas” da esquerda que não compartilham desta posição.

O PSTU é frequentemente acusado de adotar as mesmas posições do imperialismo norte-americano por, como nesse caso, coincidir no chamado pela queda do “regime ditatorial do tirano Bashar al-Assad”, assim como presta solidariedade aos mesmos grupos armados pelos imperialismo. 

Sua posição é ainda menos incidental a partir do momento em que compreendemos que ela se dá num quadro de relações com elementos da Irmandade Muçulmana que atuam no Brasil na comunidade islâmica, contato que (até onde nós reles mortais podemos cogitar) foi provavelmente iniciado em movimentos de solidariedade à Palestina (as mentes mais ousadas ou melhor informadas dos bastidores podem ir mais longe). 

Dentro da esquerda a organização tem passado maus bocados por conta disso e se esforça para defender uma pluralidade de grupos armados que são majoritariamente formados por “radicais islâmicos” (as aspas não tornam a identificação menos verdadeira, mas é do nosso interesse especificar quem é quem – quem é Irmandade Muçulmana, quem é salafista, quem é Al Qaeda).

No intuito de trazer um pouco mais de esclarecimento a esse debate e às acusações presentes nele, bem como retirar a cortina de fumaça sob os grupos armados, quero compartilhar a leitura de um relatório publicado por Aron Lund no site do Think Tank “The Century Foundation“.

É importante antes estabelecer duas coisas: eu mesmo me situo no campo crítico à posição do PSTU, campo que considera a posição justa aquela anti-imperialista de se opor a uma agressão promovida pelos Estados Unidos e seus lacaios regionais (Arábia Saudita, Turquia, Israel, monarquias do golfo) contra a Síria através de grupos radicais que colocam em risco não só a independência, mas também o secularismo e a diversidade étnico-religiosa daquele país. 

Em segundo lugar, no entanto e a despeito da minha posição, estou utilizando aqui uma fonte ocidental que eu poderia caracterizar a partir de minha posição, no pior dos epítetos, como um dos principais propagandistas do imperialismo, membro do programa para Oriente Médio da Carnegie Endowment for International Peace (I.E. um promotor de revoluções laranjas e regime change), “especialista” responsável por grande parte do discurso contrário ao governo sírio na esquerda ocidental, pela promoção da “revolução” e do intervencionismo. O Think Tank TCF cabe nessa descrição, sendo ele um dos mais antigos produtores do discurso “liberal progressista” nos Estados Unidos, que tem como mote “progressismo, democracia, sociedade aberta e livre mercado”.

Dito isso, não quero atribuir uma legitimidade superior a eles por serem ocidentais ou definirem o discurso da esquerda liberal no ocidente, eu poderia muito bem usar fontes simpáticas ao regime, mas esclareço que este não é o caso. Não quero alimentar ilusões de que estas figuras são “mais neutras”, mas somente demonstrar algumas coisas utilizando uma fonte ocidental contrária a Bashar Al-Assad e que alimenta não só o discurso de uma grande parcela da esquerda como da própria mídia em geral (principalmente publicações como o The Guardian, The New York Times e The Huffington Post). 

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O relatório mesmo é parte de um trabalho mais amplo financiado pela Corporação Carnegie de Nova York. Reforçando que não atribuo legitimidade especial alguma a essas fontes, observo que muito do que será dito aqui são fatos bem conhecidos e tudo que faremos aqui é um certo choque de realidade para os esquecidos ou ignorantes, resumindo o texto de Lund e eventualmente fazendo pontuações críticas.

Para evitar as dificuldades da boa escrita em prosa dissertativa direta e fluída, vamos garantir clareza através de pontos:

– No primeiro parágrafo já é estabelecido que a maioria da população vive sob áreas controladas pelo governo Bashar al-Assad, o que é importante, para qualquer um de considerações humanitárias, saber. 

Acrescento que boa parte da Síria está em condições mais próximas da normalidade civil do que propriamente da guerra. Fiel à cartilha discursiva ocidental, Lund também se refere ao partido de Assad (o Ba’ath) como “russian backed and iranian backed”, ou seja, “apoiado” ou “segurado” por russos e iranianos.

A Rússia e o Irã, como sabemos, de fato apoiam Assad, mas isso não muda que o partido tenha um ampla base de militantes e funcionários construída num período superior a 30 anos (superior a 50 se contarmos toda a história do partido). 

Esse tipo de discurso tenta sugerir uma falta de independência de um partido que surgiu sozinho na história síria e não como criação artificial ou recente dos países citados. São aliados e não patrões.

– No segundo parágrafo Lund é um pouco escorregadio ao falar de “milícias xiitas islamistas aliadas de Assad” contra “facções rebeldes árabes sunitas”. 

Temos uma tendência possivelmente desonesta de exagerar o papel politico das milícias xiitas (que no Iraque, na Síria e no Líbano combatem o “Estado Islâmico”, que daqui pra frente será referido como “DAESH”) de rebaixar o caráter islamista das facções rebeldes (esse segundo elemento da tendência será contido no restante do texto, como veremos). 

Além disso, há o perigo de tratar o conflito sírio como um conflito sectário, no molde racista-ocidental/orientalista de “xiitas e sunitas sempre se mataram, árabes são loucos sectários”, quando a maioria do também citado Exército Árabe Sírio (com “de Assad” no final) é formada por combatentes sunitas, existindo sunitas no alto escalão do Estado e do exército. Recusem qualquer sugestão em suas mentes que as origens do conflito estão em meras “diferenças religiosas”, um acerto de contas religioso ou coisa do tipo, porque é daí para a “solução” de que os “pobres selvagens” precisam da intervenção de uma terceira parte, o nobre cavaleiro branco com seu fardo civilizatório.

No mesmo parágrafo Lund observa que “muitas” das “facções rebeldes sunitas” recebem apoio da Arábia Saudita, do Qatar, da Turquia ou dos Estados Unidos. Esse apoio não é irrelevante ou minoritário como às vezes militantes do PSTU querem fazer parecer, e todos estes fazem parte de uma mesma “frente revolucionária”.

– Ainda no segundo parágrafo Lund coloca que “o governo parece estar consolidando suas posições em áreas chave”. Mais para frente, menciona que a queda de Aleppo Oriental é uma grande derrota estratégica e simbólica para a insurgência, “muitos de seus apoiadores devem acabar concluindo que eles foram derrotados”, isto é, enquanto “Revolução Síria”. O texto, porém, será sobre Ghouta Oriental.

– “O norte da Síria é dominado por facções islamistas como, o Failaq al-Sham da Irmandade Muçulmana, e o grupo ligado com a Al Qaeda, Jabhat Al-Nusra (que se renomeu Fateh al-Sham em julho de 2016 e diz ter cortado vínculos com a Al Qaeda).”

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Devo fazer algumas observações próprias: o Ahrar Al-Sham é um grupo radical wahabita, estrito, “fundamentalista”, apoiado pela Arábia Saudita e pela Turquia, mas é o grupo favorito especificamente dos sauditas, recebendo voluntários, armas, treinamento e dinheiro, além de santuário nas terras da dinastia Saud e lobby diplomático através desse país. Este grupo possui cerca de 20 mil soldados e era um dos que controlava Aleppo. São provavelmente o componente principal de uma frente com outros grupos chamada de “Frente Islâmica”, que conta com até 70 mil combatentes e cujo líder Zarhan Aloush declarou que “limparia a Síria” de xiitas e alawitas.

Este texto continua......

Leia Mais: Guerra da Síria. Texto 2. Quem são os “rebeldes” que lutam na Síria? http://maranauta.blogspot.com.br/2016/12/guerra-da-siria-texto-2-quem-sao-os.html